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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4227 Data: 10 de
julho de 2013
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O SABADOIDO E O ARRAIAL DA DONA ZITA
2ª PARTE
Quando tomei o meu lugar na sessão do
Sabadoido, havia quorum, não houve necessidade de o cavalo, que fica perto do
Claudio, representar algum ausente.
Luca se manifestava sobre a tradicional
festa junina da Dona Zita falando da sua mulher.
-Glória anotou cinquenta ausências.
E prosseguiu:
-Ela tem uma memória invejável para
isso: anota os presentes e os ausentes.
Será que ela notou minha ausência?... A
última vez que fui à sua festa o cachorro era o Leão, que sucedeu o Chéri
(assassinado) e agora é a Pelinha. - enquanto eu pensava nisso, sem me
manifestar, falava-se das proezas da comilona Pelinha no meio dos convidados.
-A festa estava boa. -comentou minha
cunhada.
-Ano passado até fila para ir ao
banheiro havia, por isso não fui este ano. - disse o meu irmão.
-O Vagner sempre vai. - frisou o Luca.
-É claro. - afirmou o Vagner com um
sorriso.
-A dança da quadrilha foi muito divertida.
- comentou a Gina.
-A graça é que tudo é improvisado, não
existe ensaio. Com os erros, fica mais interessante. - disse o Luca.
-Com menos gente, houve espaço para as
brincadeiras e ficou melhor. - imaginei.
-A Glória, como foi professora, já tem
cancha e paciência para elaborar aquelas tabelas com jogos. - assinalou o Luca.
Claudio interrompeu para perguntar ao
Luca se ia tomar Ypióca, que agora tem o John Travolta como garoto propaganda,
ele confirmou com a cabeça e o Claudio foi à cozinha pegar a bebida. Gina ainda
proseou com o Vagner e o Luca sobre aquela noite festiva e, depois que o seu
marido retornou com dois copos, foi a vez de ela fazer o mesmo caminho que fora
feito minutos antes pelo marido.
E o tema da conversa mudou
drasticamente para a incursão da polícia na favela da Maré.
-Você sabe, Claudiomiro, como essa
gente foi morta pela polícia?
-A facada.
-Isso; a polícia pegava os suspeitos e
torturava com furos de faca.
E, com gestos truculentos, Luca intentou
reproduzir a ação dos policias, gesticulando com uma imaginária faca que ia e
vinha.
-”Vai falar? Não vai falar, não?...”
E prosseguiu na sua narrativa:
-Morria um e passavam a esfaquear
outro. Assim, vários foram mortos a facada, inclusive inocentes.
-É uma barbárie. - comentei.
-E o pessoal que não sai da frente da
casa do Cabral. - disse o Vagner.
-A polícia dele jogou todo o estoque de
gás em cima dos manifestantes. - disseram.
-Os vizinhos não querem o governador
morando lá. - repercutiu o Luca uma notícia que estava na mídia.
-Li que o General Leônidas Pires
Gonçalves, ministro do Exército, no governo Sarney, que é vizinho do Cabral, disse
que não se opõe aos manifestantes, apenas lamenta a dificuldade que tem para
transitar por aquele trecho da Delfim Moreira.
Às minhas palavras, Cláudio afirmou
que, de Sérgio Cabral, só tinha consideração pelo pai.
Todos nós concordamos com ele.
-Quando eu levo o Carlinhos para casa,
o rádio do meu carro está sintonizado na Roquette Pinto no programa dele sobre música
popular brasileira. - disse o Luca.
E o assunto passou abruptamente para o
Torneio de Wimbledon.
-Sem poder jogar pingue-pongue, ligo a
televisão e assisto ao tênis. Vi as quatro horas e pouco do jogo do Djokovik
contra o Del Potro.
-Vi pouco mais de uma hora desse jogo.
- disse o Claudio.
-Que canseira que o argentino deu no
“Djoko”, Claudiomiro! - exclamou.
-De todos os tenistas de hoje, da
Argentina, ele é o melhor. - afirmou meu irmão.
-Ele até venceu o Roger Federer, numa
final do US Open, mas depois ficou com o joelho avariado.- interferi na
conversa apesar de nada ter visto desse torneio de 2013.
Luca, que colocou o tênis entre seus
esportes prediletos, fez avaliações técnicas.
-Carlinhos a quadra de grama é lenta,
por isso, Juan Martin Del Potro, que tem 1,98m de altura, muitas vezes tem de
se abaixar para rebater as bolas o que força o seu joelho problemático. Por
outro lado, com esse tamanho, ele tem mais facilidade para sacar.
-O Andy Murray não tem bola para ganhar
do Djokovic, não. - previu o Claudio a decisão masculina de Wimbledon.
-Não ganha do Djoko, não. - concordou o
Luca.
E passaram para as tenistas.
-A alemãzinha está jogando muito;
venceu a Serena Williams, o que ninguém esperava.
-Ela é uma surpresa e vai ganhar esse torneio.
- ativou meu irmão de novo a sua bola de cristal.
-A alemãzinha, como veio de baixo, só
pegou fera. - frisou o Luca.
-O Guga, quando se tornou campeão de
Roland Garros, pela primeira vez, veio, desde o início, derrotando os melhores
do ranking. - intervim.
-Também acho, Claudiomiro, que ela será
campeã.
Dizendo isso, pegou o celular e
telefonou para a Glória para saber como estava o andamento da final feminina,
transmitida pela Sport TV. Fizemos silêncio e aguardamos as informações:
-Xi, Claudiomiro, a Bartoli está ganhando
por um set a zero.
-A alemã ainda pode virar o jogo sobre
a francesa. - mostraram-se os dois otimistas.
-Se a Monica Seles não tivesse sido
esfaqueada por um maluco, seria a melhor tenista do mundo. - reportou-se meu
irmão ao tênis dos anos 90.
-Ela era de onde, Claudiomiro?
-Da Sérvia. - respondeu com uma
precisão metronômica.
-E como foi a Maria Sharapova em
Wimbledon? - atualizei as informações sobre esse esporte com essa pergunta.
-Ela joga muito, mas não ganha uma da
Serena Williams. - respondeu-me o Luca.
-Maria Sharapova é um exemplo de vida.
Iniciou-se no tênis desde novinha, na Rússia, e seus pais a levaram para
desenvolver seu potencial nos Estados Unidos. Como eram pobres, o pai dela até
trabalhou como faxineiro. - retransmiti a informação que ouvira de um
comentarista da ESPN dada enquanto ela atuava em mais uma partida.
Esgotado o assunto tênis, o Luca se
reportou a uma entrevista do Sílvio Santos.
-Ele não gosta de dar entrevistas.
-Pois é, Claudiomiro, mas ele deu.
Perguntou aos repórteres por que eles não entrevistavam um cientista, alguém de
importância. Quando lhe perguntaram o que ele era, respondeu que sempre foi um
vendedor, desde que trabalhava na sua banquinha de camelô até hoje, quando vende
os produtos Jequiti.
-E no mundo todo. - frisou o Vagner.
-Sobre o Banco Pan Americano, disse que
pulou fora antes do tempo.
E, num clima de descontração, o
Sabadoido chegou ao seu final, mas, antes, o Luca me entregou mais um presente
da Rosa Grieco: um livro do zoólogo Desmond Morris, “A Fauna Humana”. (*)
(*) Qualquer
dia, o redator escreverá a paródia “A Flora Humana”, com um capítulo especial
sobre a farinha e seus benefícios literários.
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