--------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4221 Data: 02 de
julho de 2013
----------------------------------------------------------------
O TRIO DO RÁDIO MEMÓRIA RIDES AGAIN
Anunciaram produção e apresentação de
Jonas Vieira e Sérgio Fortes, mas lá estava também o Dieckmann que, dessa vez,
não deu início aos trabalhos, afinal, tem de respeitar as muitas décadas de
microfone que tem o Jonas Vieira.
Depois de comunicar a presença do
convidado das sextas-feiras, provocando risos, pois era domingo, solicitou a
primeira música ao Sérgio Fortes. E foi Wien, Du Stadt Meiner Traüme
(Viena, Cidade dos Meus Sonhos). Sérgio Fortes não falou alemão, foi ainda mais
ousado, pronunciando uma palavra polonesa, língua em que cada vogal é
acompanhada por dez consoantes, quando disse o nome do compositor: Rudolfo
Sieczynski. Antes, comentou:
-Essas operetas são lindíssimas, há uma
gravação de 1932, com o Francisco Alves com a Orquestra Copacabana,
E quando expressou a sua luta inglória
para encontrar tal gravação, Dieckmann testemunhou a seu favor:
-Na falta da Orquestra Copacabana,
vamos ouvir a Orquestra Filarmônica de Londres.
Fosse o regente Georg Solti e a ironia
estaria completa.
Conheço outra gravação, com André Kostelanetz. - interveio o titular do programa,
enquanto o Sérgio Fortes prometia continuar em busca da gravação perdida.
Soada a última nota, Jonas Vieira
chamou o Dieckmann à responsabilidade:
-E você?
Sempre enfático nesses momentos,
Dieckmann disse que trouxe a música que o mais fez dançar em sua vida: Take
The A Train, de Duke Ellington.
Fizeram
observações sobre o incomensurável talento do compositor, e logo a voz do
Dieckmann predominou:
-Eu vi essa gravação no you tube.
Sensacional!... A turma estava numa descontração total dentro do trem...
-Vamos à música. - voltou-se o Jonas
Vieira para o Marco, que substituía o Peter das carrapetas.
Bem, o Duke Ellington detinha a
maestria de compor vários arranjos para uma mesma composição, assim, parecia
que este redator, que tantas vezes ouviu Take The A Trian, chegar a
sentir que a ouvia pela primeira vez. Os acordes iniciais nos levam para dentro
de um trem, seguem-se vozes masculinas e femininas e, pouco depois, o piano de
Duke Ellington reina absoluto.
Cabe aqui citar, para que a justiça
prevaleça, o seu parceiro Billy Strayhorn, a alma gêmea de Duke Ellington,
musicalmente falando. Dono de um talento extraordinário, Billy Strayhorn ficou
à sombra porque, segundo seus biógrafos, era homossexual assumido numa época em
que a homofobia era a regra.
-Todos os quatro estávamos aqui
rebolando. - informou o Dieckmann tão logo desembarcaram do trem.
Quem seria essa quarta pessoa?... O
Peter das carrapetas?... - não esclareceu. (*)
Jonas Vieira passou a falar de um
ouvinte assíduo do Rádio Memória de Belo Horizonte, que até grava todos os
programas. Sérgio Fortes, aproveitando o gancho, aludiu a um amigo que escuta o
Rádio Memória em
Nova York. Dieckmann o interrompeu para nomear também o
Biscoito Molhado, mas até o redator deste periódico que, diria o Ibrahim Sued,
sai diariamente às segundas, quartas e sextas-feiras, queria saber mais desse
ouvinte de Nova York e Sérgio satisfez a nossa curiosidade.
-Trata-se do Doutor Irany, professor
universitário, tricolor louco...
Cercado por inimigos, vascaíno e
flamenguista, abriu os flancos:
-Mas tricolor louco é uma redundância,
Sérgio. - atacou o Dieckmann seguido pelo Jonas Vieira.
Sem acusar o golpe, foi adiante:
-Trabalhamos junto no Banco Multiplic.
A essas palavras do Sérgio Fortes,
reportei-me ao meu tempo de investidor da Bolsa de Valores, quando o dono do
Banco Multiplic, através de uma engenharia financeira, conseguiu que o
manipulador Nagi Nahas não quebrasse a Bolsa, mas anos depois, em 1989, não
teve engenharia que desse jeito e o libanês quebrou a Bolsa de Valores do Rio
de Janeiro.
Bem, o que importa, agora e quase
sempre, é a música.
Jonas Vieira, como bom anfitrião,
deixou para si a terceira escolha. Reportou-se, então, a um cantor que marcou
época. Antes de nomeá-lo, disse que ele era extremamente versátil, sempre à
vontade em qualquer gênero musical, passando do country para a balada e
até o jazz. Tratava-se de Frankie Laine.
A gravação que indicou era um jazz, That Old Feeling, com a orquestra de
Buck Clayton.
Enquanto ele falava, eu revolvia a
minha memória dos anos 60, quando ouvia muitas baladas e músicas de cowboy com
o Frankie Laine, mas nada de jazzístico. Era recompensado agora com “Aquele
Velho Sentimento”, interpretados pela sua voz estilosa e a magnífica orquestra
de Buck Clayton.
-Que privilégio, ouvimos o Frankie Lane
e o Jonas Vieira. - informou o Dieckmann, frustrando a nós, do outro lado, que
não escutamos o Jonas Vieira cantando.
Dieckmann, não contente, lançou outra
piada:
-A família Laine é fantástica. Teve
Virgínia Lane...
Estivesse lá o Simon Khoury e logo
contaria uma história da Virgínia Lane com o presidente Getúlio Vargas. - imaginei.
Jonas Vieira desfez a descontração do
programa para fazer as suas críticas recorrentes sobre a atual conjuntura
brasileira.
-O brasileiro vive a discutir o sexo
dos anjos. - esse é o mote para ele desancar os absurdos que se vê no nosso dia
a dia.
Dieckmann entrou no clima.
-O Sérgio Cabral recebe uma comissão
que protestava à frente da sua casa e eles não sabem expressar o que
reivindicam.
-É o cúmulo. E são estudantes.
-Não se fazem mais estudantes como
antigamente, como no nosso tempo. - manifestou-se o Sérgio Fortes.
-Estudantes do primário, ginásio,
científico... - acrescentou o Dieckmann.
-Sérgio, a sua vez. - retomou o Jonas
Vieira às rédeas do programa.
-Eu vou pedir o grande sucesso da Segunda
Grande Guerra Mundial, Lili Marlene.
-Essa música agradou os dois lados.
Dieckmann poderia dizer gregos e troianos,
mas, no caso específico, eram alemães e aliados.
Dessa vez, Sérgio Fortes recorreu à
língua alemã para identificar os autores, mas também poderia recorrer ao
inglês, para citar o nome dos autores da versão.
Antes de a gravação ser tocada, Sérgio
Fortes informou que a orquestra era do Lew Diamond. Enquanto se ouvia a Lili
Marlene, a atriz e cantora Marlene Dietrich veio, inevitavelmente, às
nossas mentes.
Como não tem Marlene Dietrich, eu canto
para vocês. E assim, Jonas Vieira pôs-se a cantarolar:
Vor der kaserne,
Vor dem groben tor,
Stand
eine Laterne,
Und
steht sie noch davor
Todos ficaram acachapados com a
interpretação germânica do Jonas Vieira que, talvez, não agradasse o General
Rommel, mas agradou aos ouvintes do Rádio Memória.
Depois, ele anunciou a pausa para
meditação.
(*) O leitor
já sabe, é o Marco das carrapetas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário