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quarta-feira, 17 de julho de 2013

2420 - Ecos acadêmicos



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4220                                   Data:  30 de  junho de 2013
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SABADADOIDO FORA DE MODULAÇÃO

Gina se mostrou apreensiva:
-Esse negócio de a corrupção ser crime hediondo... Vamos dizer que você pague a cervejinha do guarda...
-Eu?!!? - representou o Daniel o papel de vítima de uma comédia.
-Pode ser o Carlinhos, mas ele não dirige mais, eu também, não. Bem, Daniel, o único motorista em ação aqui, atualmente, é você.
Conformado, ele tomou a palavra:
-Está bem; eu cometo uma infração de trânsito, pago a cervejinha do policial, e eu e ele cometemos um crime hediondo.
-É o me parece com essa lei que aprovaram por causa do clamor das ruas.
-Esse ato do Daniel, meu, seu e de quase todos os que guiam automóveis não contribui para o mau atendimento hospitalar, para o ensino público caótico no Brasil. - argumentei.
-Mas no exemplo que dei estão o corruptor e o corrupto. - retorquiu minha cunhada.
-Recebi nesta semana um e-mail do Sérgio Fortes em que um articulista, que sabe usar as palavras, enumera deslizes como esses, tão comuns, e pergunta se não é uma hipocrisia ir para as ruas com faixas contra a corrupção.
-E não é, Carlinhos?
-Não, pelo motivo que já expus. Não sou advogado, mas creio que é o Princípio da Bagatela que versa sobre os casos em que não se deve julgar igualmente réus, ou lá o que seja, diferentes. Quanto eu fiscalizo uma empresa de navegação pequena, não sou tão rigoroso quando a empresa é grande.
Meu irmão, que vinha do quintal para a cozinha, ouviu minhas últimas palavras e interveio:
-O cachorrinho do PT, o Ricardo Lewandowski, ao mesmo tempo em que absolvia os ladrões do mensalão, condenava um pescador que pegou 12 camarões.
-Eu me lembro, Claudio, mas ele foi voto vencido.
-Esse Ricardo Lewandowski foi condecorado pela Dilma pelos bons serviços prestados como juiz do Supremo Tribunal Federal ao PT. - voltou a indignar-se.
E a palavra voltou para mim.
-Deixo bem claro que sou inteiramente contrário a esses pequenos malfeitos que as pessoas do povo cometem. O diabo é que o exemplo vem de cima, se colocarem os corruptos na cadeia, a sociedade, de uma maneira geral, seguirá as leis.
-E vão colocar na cadeia, Carlinhos?... - mostrou-se a Gina cética.
-Prenderam um deputado federal agora.
-Esse é boi de piranha para os outros passarem incólumes. - continuou cética.
-A corrupção dolosa é que é crime hediondo. - enfatizou meu irmão.
-Por causa dos cartuchos da minha impressora estragados, eu imprimia uma e outra coisa no trabalho, mas me sentia desconfortável. Comprei, então, na última terça-feira, uma impressora a laser.
-Carlão, você gastou mais de mil reais?!... representou o Daniel, agora, um personagem assombrado.
-Eu sou amarrete, como o Fernando Henrique Cardoso.
-O que é amarrete? - quis ele saber.
-Quando FHC era presidente da República, ele disse que não gostava de gastar dinheiro, que era amarrete e explicou que se tratava de um vocábulo que aprendeu no Chile, quando estava exilado.
-Certamente, ele jantou com alguns chilenos e, na hora da conta, não se coçou e os chilenos o chamaram dessa palavra que você disse.
Nesse instante, o telefone tocou. Daniel atendeu, era o Vagner.
Quando foi a vez do Luca telefonar, meu sobrinho fez a festa.
-Como, Luca?... Voltou a ficar com a perna ruim?... Não pode andar?... Já sei: quer colinho. Eu já lhe dei colo uma vez, mas dou outro.
-Ele engessou a perna? - atrapalhei o Daniel, que ainda estava ao telefone.
-Você não pode demorar por causa da festa junina da Dona Zita?... Eu avisarei.
Com sua voz estentórica, não precisava avisar mais, ainda assim o fez quando desligou. Voltei a fazer a pergunta anterior.
-Não, ele ainda vai engessar a perna.
-Pouco depois de o Luca receber alta do hospital, eu telefonava para a casa dele e, quase sempre, tinha que falar com a Carolina, que dizia que era o momento da sintonia fina no tratamento da perna acidentada, momento de ficar quieto, mas ele ia para rua. - observei.
-A idade chega, e temos de diminuir o ritmo. Luca vinha jogando não sei quantas partidas de pingue-pongue por semana e não duvido que ainda praticava caminhadas. - disse o Claudio, voltando para a cozinha depois de fortificar as rolinhas com painço.
Vagner foi o primeiro a chegar, meu irmão o recebeu, minutos depois, Gina e Daniel fizeram companhia aos dois. Demorei mais um tempo para segui-los porque um artigo do Cristóvão Buarque de Holanda, publicado no Globo daquele sábado, me interessara, sem falar no noticiário sobre as manifestações públicas que espocam por todo o Brasil.
Daqui a pouco, será na Argentina, com esses descalabros cometidos pela Cristina Kirchner - previ.
De repente, um rumor vindo do local da sessão do Sabadoido desviou minha atenção do Globo. Era o Luca que chegava.
-Se alguém tem de falar alguma coisa, fale rápido, porque, depois, não conseguirá. - pilheriou o Vagner antes da aparição do amigo.
Daniel recepcionou o Luca do seu jeito sempre brincalhão e ruidoso:
-Luca, eu estou endiaaaaaaaaaaabrado no volante.  Não há espaço pequeno em que não eu estacione. Não dou folga a ônibus e a caminhões.
E repetiu as palavras, que decorou, do Galvão Bueno na narrativa de uma vitória do Aírton Senna.
-Dou show no seco, no molhado, no talento, na estratégia, no arrojo, na perseverança...
Luca o interrompeu para falar das imitações da sua neta, mas como ela não é desinibida, não se pode pedir a ela imitações diretamente.
-Deixa comigo. - disse meu sobrinho.
E eu imaginei o Daniel conversando com ela como Maluf, e a Kiara como o apresentador da Record cujo nome não me ocorre.
Em seguida, Daniel saiu com o carro e o Luca falou da entrada do Fernando Henrique Cardoso na Academia Brasileira de Letras.
-Não entendo porque o Ariano Suassuna se absteve.
-Foi para evitar o que disse Nélson Rodrigues, toda unanimidade é burra. - pensei sem me manifestar.
-Ele foi o único candidato?
-Não, Luca, quatro ou cinco concorreram, mas não obtiveram um voto. - esclareci.
-Fernando Henrique não é literato, mas isso não importa; pessoas notáveis devem ir para a Academia Brasileira de Letras. Quando o Machado de Assis apontou o Barão do Rio Branco para a Academia, alguém perguntou o que ele escrevera. “O mapa do Brasil” - respondeu o Machado. (*)
-Fernando Henrique é o primeiro ex-presidente da República a ser eleito. Prosseguiu depois de uma pausa.
Claudio interveio:
-Getúlio Vargas entrou para a Academia em 1941, quando era ditador, José Sarney em 1980, quando era presidente do PDS, partido do governo do General Figueiredo.
-Fernando Henrique foi o primeiro político da oposição a ser eleito para a Academia Brasileira de Letras. - declarei.

(*) Ontem almocei com um bisneto de um dos fundadores da ABL – unha e carne com o Machadão –  que garantiu que a instituição segue os mandamentos da academia francesa, onde a literatura tem vez, mas, igualmente, personalidades de destaque.
Assim, podemos esperar que a Dilma e o Lula pudessem ser eleitos sem que se ferisse qualquer detalhe do estatuto, só que, felizmente, eles não são assinantes do seu O BISCOITO MOLHADO e nem devem desconfiar dessa possibilidade.

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