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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4222 Data: 04 de
julho de 2013
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O TRIO DO RÁDIO MEMÓRIA RIDES AGAIN
PARTE II
Depois da pausa para a meditação, Jonas
Vieira recomeçou a segunda parte do Rádio Memória referindo-se ao Dieckmann e
sua “queridíssima esposa, Dona Branca”. Sérgio Fortes aproveitou o momento para
espicaçar seu colega de Veteran Car Club e, agora, de Rádio Roquette Pinto:
-Dieckmann alcançou a categoria de
arroz de festa.
E arroz Brejeiro. - pensei logo no
antigo anúncio da televisão.
-Quero dizer que tenho o imenso prazer
de estar aqui. - devolveu.
-Dieckmann, qual é a próxima música? - apressou-o
o Jonas Vieira.
-”Pelo Telefone”, do Donga. É o
primeiro samba gravado, em 1916...
-Há polêmica. - aparteou o Sérgio
Fortes.
Jonas Vieira, com o seu vasto
conhecimento de música popular, interveio:
-É a primeira gravação a falar em
samba, mas, na verdade, é um maxixe. O samba, com a sua cadência, surgiu em
1929, no Estácio. “Pelo Telefone” é um samba amaxixado.
Dieckmann exaltou o cantor da gravação
que ouviríamos, Almirante. E quando o Marco das carrapetas colocou o “Pelo
Telefone” para tocar, lembrei-me do meu pai que volta e meia cantava o trecho:
“Chefe da polícia pelo telefone manda me avisar, que na Carioca tem uma roleta
para se jogar”.
Acionado, o Departamento de Pesquisas
do Biscoito Molhado disse que o maxixe se originou no Rio de Janeiro em 1870,
era dançado em ritmo veloz de compasso 2/4, gênero musical que foi influenciado
pelo lundu, a polca e a habanera. O
maior nome em composição de maxixe foi a maestrina Chiquinha Gonzaga. Quanto ao
samba, consolidou-se com seu formato definitivo nos morros e subúrbios
cariocas, a partir de 1929, afastando-se de gêneros como as marchinhas e
maxixe, despontando, com os compositores, Sinhô, Ismael Silva, Noel Rosa, Ary
Barroso e muitos outros.
Ouvido o último tilintar do telefone do
Donga e do Mauro de Almeida, Dieckmann explicou que o cantor recebera o apelido
de Almirante porque servira na Marinha de Guerra.
Jonas Vieira retornou ao Frankie Laine.
Reportou-se ao grande êxito que obteve como cantor de baladas nos anos 50 e
citou um clássico do cinema, de 1952, High Noon (Matar ou Morrer).
-Assisti a esse filme recentemente. -
afirmou o Dieckmann, desmentindo aqueles que dizem que, de western, ele só vê
“O Homem Que Matou o Facínora”. (*)
E, sempre brincalhão, lembrou que o
drama psicológico “Matar ou Morrer” recebeu, no Brasil, com Oscarito e Grande
Otelo, uma versão intitulada “Matar ou Correr.”
Depois dos risos, Jonas Vieira trauteou
o início da balada High Noon e o anunciado e festejado Frankie
Laine?... Ouvíamos o disco e nada de a voz do cantor soar, nem a gravação era a
do filme. Errou o titular do programa, ou o Marco das Carrapetas?... Contudo, a
música instrumental que chegava aos nossos ouvidos era bem inspirada e já nos
encantou em anos pretéritos.
No fim, a nossa dúvida foi desfeita:
-Desculpem-me, senhores ouvintes, mas
eu não escutava esse disco há algum tempo. Essa é a única faixa que não é
cantada pelo Frankie Lane, apenas atua a orquestra de Buck Clayton, foi essa.
-Mas ouvimos a sua voz. - brincou o
Dieckmann.
Bem, parece-me que o Jonas Vieira errou
para melhor.
Em seguida, ele anunciou mais uma vez o
Rádio Memória e convocou o Sérgio Fortes ao trabalho.
-As
Times Goes By por Henry Mancini.
O “c” de Mancini foi pronunciado, a meu
ver, como o “t” do idioma de Dante Alighieri, mas, para o Dieckmann, aquele “t”
era do idioma de Al Capone.
-Você pareceu mafioso, Sérgio. Em toda
a minha vida, eu pronunciei ManCine... Vou me corrigir e falar Henry ManTchine.
-Ele era americano? - interrompeu-o o mafioso.
-Sim, era descendente de italianos como…
E Jonas Vieira citou outro nome, este,
sim, ligado à máfia: Frank Sinatra.
-Temos também o Tony Bennett, na
verdade, Anthony Benedetto.
-Vamos lá que a música é lindíssima. -
interrompeu-os o Jonas Vieira.
As Times Goes By deflagrou a nossa memória afetiva, que Marcel Proust
esmiuçou como ninguém nas suas longas frases.
Ouvimos primeiramente o piano, que não
era do Sam; em seguida, retorna o piano com o segundo tema e assim foi. No final da música, eu disse: Play it
again, Sam, imaginando que os três diriam algo parecido: Play it again, Mark.
-Mancini é o máximo. - vibrou o Jonas
Vieira.
-E Casablanca é insuperável. -
completou o Dieckmann.
O momento de deleite não se prolongou
porque o Dieckmann citou com deferência o Ratinho, seu colega de Colégio
Militar, evitando o diminutivo.
-O Rato estudou comigo. Ele é um
sujeito insuportável, mas adora o Jonas Vieira.
Depois de ouvi-lo cantar o início de Lili
Marlene, imaginei que essa adoração aumentaria ainda mais.
E Dieckmann prosseguiu:
-Um dia, o Rato virá aqui. Ele quer
Noel Rosa. Reclama que não tocamos Noel Rosa.
-É o Rato feroz. - interveio o Sérgio
Fortes.
-Faremos um programa só com o Noel
Rosa. - prometeu o titular do programa.
-O Rato virá aqui e colocaremos umas
ratoeiras. - não perderam a piada.
-Ratinho, recordo-me bem, foi
correspondente internacional do Biscoito Molhado por ocasião do atentado
terrorista às torres de Nova York, e também acompanhou a morte de Muammar Al-
Kadhafi no Líbano.
-É você agora, Dieckmann?- mostrou-se
dubitativo o Jonas Vieira.
-Surpreendentemente, sou eu. E vamos
tocar Carmem Miranda.
-Até que enfim uma música brasileira. -
exaltou o Jonas Vieira.
-A minha cantora preferida. - acrescentou.
-A nossa cantora preferida. A música
que vamos ouvir não é tão brasileira, South
American Way.
Ao citar o nome do autor da letra
trocou o Aloysio de Oliveira pelo Aloysio de Azevedo, o que nós, que trocamos
Jonas Vieira pelo Jonas Resende, compreendemos muito bem.
-Aloysio de Oliveira era do Bando da
Lua, Carmem Miranda foi apaixonada por ele, que fugiu do casamento até o fim. -
disse o Jonas Vieira.
-E casou com um tal de Sebastian. -
interferiu o Sérgio Fortes.
-Ele era um escroque, que explorou a
Carmem Miranda o quanto pôde. - foram unânimes.
Depois da sua buliçosa interpretação,
Jonas Vieira anunciou, para finalizar, uma pérola, segundo suas palavras:
Placido Domingo cantando com a orquestra de Bert Kaempfert.
-O cantor, a orquestra... passamos para
outra esfera. É uma epifania. - completou.
Havia muitas coincidências: tenor
espanhol, domingo, dia da decisão Brasil e Espanha. Assim. Rádio Memória se
encerrou com todos falando de futebol.
(*) “Histórias
de biscoito murcho”, afirmou o Dieckmann a este Distribuidor do seu O BISCOITO
MOLHADO. E continuou: “Só porque eu não acho Shane a oitava maravilha do mundo
cinematográfico, esse teu redator fica me perseguindo; e olhe que sou fã
incondicional do gênero, quando bem aplicado, como no filme mencionado e em Da Terra Nascem os Homens (Big
Country)”.
E não largou
a cátedra: “Ainda há clássicos como No Tempo das Diligências (Stage Coach) onde
a bandeira da cavalaria foi filmada do avesso pela primeira vez. Isso é igual
foto de Mercedes com todas as estrelas das rodas apontadas na mesma direção –
todos os diretores sempre filmaram as bandeiras do lado certo, teve que
aparecer um iconoclasta como o John Ford para acabar com um mito idiota”.
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