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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4334 Data: 24 de
dezembro de 2013
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RÁDIO MEMÓRIA NATALINO
PARTE II
Jonas Vieira, logo
depois que a Rita deixou de ser tocada, desejou um Feliz Natal para o Biscoito
Molhado, sendo, em seguida, acompanhado pelo seu parceiro e convidado. A
redação, em festa, agradece penhoradamente e retribui sem esquecer o operador
de áudio Peter e o locutor José Maurício, que já trabalhou sob a chefia do
Humberto Reis e também participou, neste ano, de um programa sobre a história
da Rádio Tamoio com o Dieckmann. Vale registrar que uma hora antes, José
Maurício contou a sua própria história na radiofonia brasileira no programa Almanaque,
quando soubemos da sua passagem pela Rádio Relógio. Você sabia?... Falta agora
a história do Jonas Vieira, vamos aguardá-la.
-O Biscoito Molhado
funciona como o nosso superego. - observou o doutor Fernando Borer
freudianamente.
Então, o titular do
Rádio Memória anunciou a “Pausa para Meditação”, crônica do Fernando Milfond
sobre a festa de 25 de dezembro.
-Uma festa que, hoje em
dia, é comercial. - comentou o Jonas Vieira logo em seguida.
E pensar que, há pouco
mais de cem anos, Machado de Assis já perguntava se mudou ele ou o Natal. Seus
versos merecem ser relembrados nessa época em que o comércio transformou o
Papai Noel em protagonista e o menino Jesus em coadjuvante.
-”Um homem, - era
aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do
Nazareno, -
Ao relembrar os dias de
pequeno,
E a viva dança, e a
lépida cantiga,
Quis transportar ao
verso doce e ameno
As sensações da sua
idade antiga,
Naquela mesma velha
noite amiga,
Noite cristã, berço do
Nazareno.
Escolheu o soneto... a
folha branca
Pede-lhe a inspiração;
mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao
gesto seu.
E, em vão lutando
contra o metro adverso,
Só lhe saiu este
pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou
mudei eu?”
Mas estamos narrando o
Rádio Memória, onde a poesia só entra se estiver acompanhada pela música, lá
existe essa exigência que não houve na mitologia grega, pois Apolo era, ao
mesmo tempo, deus da música e da poesia, além de deus de outras coisas, pois
ele acumulava cargos. Assim, passemos para a próxima atração musical.
Como o que é bom não
satura, Jonas Vieira insistiu no compositor e arranjador Oliver Nelson e na
orquestra de Countie Basie. Agora, com a faixa do disco que juntou os dois
artistas em “Kilimanjaro”.
Essa gravação foi muito
tocada na Rádio Jornal do Brasil. - aludiu à refinada emissora do tempo da
atuação do Simon Khoury.
A palavra voltou para o
Fernando Borer que, dessa vez, não optou pela música popular brasileira.
“Stranger on the
Shore.” - “Estranho na Praia” – peça para clarinete composta por Acker Bilk que
a dedicou à sua filha Jenny. A gravação é de 1962, e vocês vão se lembrar.
Lembramos, até mesmo
eu, que musicalmente falando, vivia mais colado na Rádio Ministério da
Educação, tão logo soaram as primeiras notas do clarinete.
Acionado o Departamento
de Pesquisas do Biscoito Molhado, ficamos sabendo que a criação de Acker Bilk e
Robert Merlin se chamou, inicialmente, “Jenny”, depois, passou a ser o tema
musical de um seriado televisivo da BBC, de Londres, intitulado “Stranger on
the Shore.”, e, assim, a filha do compositor foi destituída. Esperamos que ela
não tenha ficado traumatizada.
No Brasil, “Estranho na
Praia”, no início da década de 60, obteve um grande êxito na voz de Roberto
Audi e o disco deve ter sido muito tocado no “Peça Bis pelo Telefone”, da Rádio
Mayrink Veiga, programa esse que me assombrava pelo número de telefonemas –
superior aos de Nova York e Londres somados.
Voltando à gravação que
o Peter colocou no ar, “Stranger on the Shore.”, ela é, a nosso ver, bem
superior ao “Strangers in The Night”, que desagradava Frank Sinatra; talvez por
causa do “du bi du bi du”, que ele inseriu no seu final, o que levou os
gozadores a dizerem que ele se referia ao cachorro de desenho animado Scooby
Doo.
Enquanto eu me
reportava à Mayrink Veiga, Borer citava a Rádio Tamoio como a emissora que
divulgou muito a música que escolhera, na versão instrumental, naturalmente.
Notei, nesse momento,
que o Sérgio Fortes não agiu como o homem-calendário. Para preencher essa
lacuna, acessamos o Google e soubemos que 22 de dezembro é o Dia da Consciência
Ecológica, tributo ao seringueiro Chico Mendes que foi assassinado no Acre.
Rádio Roquette
Pinto, 94.1. Programa Rádio Memória.
E o titular do programa
surpreendeu a todos, principalmente aos que o ladeavam, com uma pergunta que
nada tinha a ver com melodia, harmonia, ritmo e vozes canoras.
-Borer, qual a sua
grande lembrança deste ano?
Borer titubeou, talvez
porque esperasse essa pergunta no dia 29
de dezembro de 2013, a data do último Rádio Memória do ano, mas se refez e
respondeu:
-A vinda do papa ao
Brasil. Representou muito para mim a presença do Papa Francisco entre nós.
Sergio Fortes, que
posou de Papa Sérgio I, na semana passada e até hoje não sabemos se se despiu
das vestes papais, concordou. Pesa também o fato de ele ter sido aluno do
Colégio Santo Inácio como o saudoso Mário Henrique Simonsen, que, por sinal, tinha
uma gula de abade.
Julguei que o Jonas
Vieira desse uma resposta não muito católica para a sua pergunta e citasse a
prisão dos mensaleiros (o primeiro acontecimento de 2013 que me ocorreu), mas me
enganei.
-O que mais me marcou
este ano foram os amigos que perdi: Luiz Paulo Horta, Maurício Azedo, Luiz
Claudio, mais recentemente. No mais, o ano foi bom.
-Sim, foi um bom ano. -
disseram os três.
Mas o tempo urgia, e o
Sergio Fortes foi apressado a revelar a próxima atração musical, e pôs as mãos
à obra.
-Quando Jerome Kern morreu, Irving Berlin foi
convocado a compor um musical. Ele relutou alegando que não entendia disso.
-Imagine se entendesse.
- interveio o Jonas Vieira.
Depois desse breve
aparte, Sergio Fortes prosseguiu:
-E Irving Berlin
escreveu “Annie Get Your Gun”, de onde destacamos o dueto “An Old Fashioned
Wedding”, com Kim Criswell e o barítono Thomas Hampson.
Existiu de fato Annie
Oakley, uma cowgirl (cowboy é que não era), cuja serelepe vida, pensou-se na
Broadway, poderia ser transformada em musical. Jerome Kern, encarregado em
musicar a letra de Dorothy Fields faleceu e a tarefa foi passada para Irving
Berlin, que fez tudo sozinho: letra e música, não precisava de parceiros, como
Cole Porter, tão criativo que era. Só na Broadway, houve 1147apresentações
seguidas.
Jonas Vieira voltou com
Oliver Nelson e Countie Basie, agora na faixa que também primou pela qualidade,
“Afrique”.
Fernando Borer, que
estava bem nacionalista, nesse domingo, pediu “Os Quindins de Iaiá”, gravação
de 1954, com Emilinha Borba e César de Alencar, Jonas Vieira fez considerações
sobre César de Alencar, desviando-se da mancha que há em sua biografia. O
arranjo de Radamés Gnatalli transformou a iaiá em rainha.
Coube ao Sergio Fortes
o encerramento musical e ele escolheu uma gravação de 1935, do filme Picolino,
com Fred Astaire cantando e dançando: “Top Hat, White Tie And Tails.”
O demorado abraço do
Jonas Vieira fechou o Rádio Memória.
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