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O BISCOITO
MOLHADO
Edição 4322 Data: 04 de dezembro de 2013
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RÁDIO MEMÓRIA NO INÍCIO DO
MÊS DE DEZEMBRO
Com o seu costumeiro
“bondíssimo bom-dia, senhores ouvintes”, Jonas Vieira abriu o primeiro Rádio
Memória do último mês do ano, saudou o Sérgio Fortes e, em seguida, anunciou
uma homenagem.
Então, fez-se ouvir
uma valsa entoada por uma canora voz que, pela beleza, só poderia ser de um
cantor de tempos idos e vividos.
-Luiz Claudio de
Castro, falecido nesta semana, mais uma das minhas perdas recentes.
E prosseguiu:
-Luiz Cláudio, um dos
dez maiores cantores do Brasil para mim.
-Já esteve no nosso
programa. - lembrou o Sérgio Fortes.
Jonas Vieira citou
seus amigos queridos que se foram neste ano, e Sérgio Fortes não se esqueceu d'
“A Enciclopédia” do futebol, que partira há três dias.
-Conheci Nílton Santos
e Garricha no Diário da Noite, conversávamos enquanto o jornalista Sandro
Moreira não aparecia. Garrincha, nessas horas, bebia cachaça numa xícara de
café. - recordou o Jonas Vieira.
Como o programa é
descontraído mesmo nos momentos de tristeza, daí, o seu valor, Sérgio Fortes
tirou dos escaninhos da sua memória um jogo, em General Severiano, entre o
Botafogo e a Portuguesa em que o Nílton Santos ria com a pancadaria de que era
vítima o ataque botafoguense.
-Aquela defesa batia
tanto que, de tão impressionado, guardei o nome dos espancadores: Bruno,
Luizão, Reginaldo e Tião.
Inevitavelmente, fui conduzido
às histórias do futebol que meu pai me contava.
-”Carlinhos, no início
dos anos 40, o Botafogo tinha uma linha média que batia de sair faísca; Zezé
Moreira, Martim e Canalli, ou Zezé Moreira, Martim e Canalha. Essa linha média
era também chamada de “Cavalaria Rusticana”.
Jonas Vieira trouxe de
volta à conversação o seu homenageado, dizendo que Luiz Claudio veio de Belo Horizonte,
estreou na Rádio Nacional com 20 anos de idade e obteve logo êxito como cantor.
E espanou a poeira da
gravação feita por ele de “Não morro sem ver Paris”, de Alcyr Pires Vermelho,
Arlindo Marques e Roberto Roberti.
A francesinha Suzete
foi tão citada que desconfiei que a minha irmã recebera esse nome por causa
dessa canção, desconfiança que se desfez quando, depois da audição, Jonas
Vieira informou que a música era de 1956, ou seja, dez anos depois do
nascimento da brasileirinha Suzete.
Com atraso plenamente
justificável, Sérgio Fortes se reportou aos acontecimentos do dia 1º de
dezembro. Um deles se apossou da minha atenção:
-Em 1902, era
publicado o livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha.
Segundo o pai da Rosa,
o crítico Agripino Grieco, depois de “Os Sertões”, não se escreveu mais uma
grande obra literária no Brasil.- disse comigo mesmo.
Fazia-se mister ouvir
mais músicas e a vez da escolha era do Sérgio Fortes.
-Vamos ouvir Adelaide Hall, com a orquestra de Bert Käempfert, “I can't
give you anything, but love”, de Jimmy Mc Hugh e Dorothy Fields, do musical
“Blackbirds”.
Musical exitoso com as
suas 518 apresentações seguidas na Broadway.
Jonas Vieira
prosseguiu na merecida homenagem póstuma ao Luiz Cláudio e, falando de um LP
apenas de cantigas do cantor, escolheu a gravação de “Mucama”, de Gonçalves
Crespo.
Sérgio Fortes alardeou
a qualidade da gravação e o titular do programa fez o registro: já havia
gravações em som estéreo na época da “Mucama”.
“Pausa para a
meditação”, cujo tema foi “A mulher de hoje”.
Início do 2º ato.
Apesar da exuberância
sonora da Royal Philharmonic Orchestra, a música popular ainda persistiu no
Rádio Memória com o pedido do Sérgio Fortes: “Vozes da Primavera”, de Johann
Strauss Jr.
Era a vez agora da
pausa para o futebol.
Jonas Vieira, tomado
pela paixão pelo Flamengo, que se exacerbou com o título da Taça Brasil, voltou
a dizer que o seu time de coração é de ricos, razão de uma renda de 9 milhões
de reais, ou seja, quase 3 milhões de euros, que nem o Barcelona alcança,
segundo ele.
Sérgio, embora
tricolor, não fez ressalva alguma, mas nós, com todo o respeito, temos de
fazer.
Os três clubes que
obtiveram as maiores médias de público, em 2011 foram, em ordem decrescente,
Borussia Dortmund, Manchester United e Barcelona; com número de torcedores que
o Maracanã padrão FIFA não comporta mais. O jogo que deu o título ao Flamengo e
que contou com um público de quase 69 mil pagantes, bem abaixo das médias
citadas acima, é, para citar uma metáfora geométrica de um ministro do STF: “um
ponto fora da curva”. E rendas de 3 milhões de euros não são raras na Europa,
onde o poder aquisitivo é bem maior do que a nosso, mesmo com toda a crise
econômica que grassa por lá.
Jonas se referiu ao
flamenguista cego que foi a essa partida com um radinho de pilha. Foi
inevitável, para mim, a lembrança da decisão do campeonato carioca de 1963, com
177 mil pessoas, onde, na geral do Maracanã, um crioulo retinto, perto de mim,
completamente embriagado, gritava Flamengo de costas para o gramado enquanto
durou o jogo.
E voltaram as notas
musicais naquela manhã chuvosa de domingo. O titular do Rádio Memória ia,
agora, do Luiz Cláudio a outro grande cantor: Jorge Goulart. E o samba de José
Toledo e Jean Manzon, no arranjo e orquestra do mestre Radamés Gnatalli foi ao
ar.
Logo após, a
expressiva voz do Agostinho dos Santos
foi ouvida na canção “Manhã de
Carnaval”, de Luiz Bonfá e Antônio Maria.
Os dois falaram,
inevitavelmente, da morte do cantor no acidente de avião em Orly. Foi em 1973, naquele ano, não tão distante,
meus amigos lamentavam:
-Se acontecesse apenas
com o Filinto Müller seria ótimo.
Duas grandes
admirações do Jonas Vieira foram citadas, em seguida, por ele: Ataulfo Alves,
pelas composições, e Orlando Silva, pela voz.
Até mesmo as
dificultosas notas graves de “Exaltação à cor” foram emitidas sem dificuldade
pelo Cantor das Multidões, o que foi assinalado, com toda justiça, pelo seu fã
e biógrafo.
A palavra passou para
o Sérgio Fortes:
-Arthur da Távola
dizia que ele e eu sabíamos tocar rádio. A música que vou pedir é uma homenagem
ao rádio: o prefixo do programa do Gilberto Alves na Rádio Tupi: “Algum dia te
direi”, de Gilberto Alencar e Felisberto Martins.
O Rádio Memória foi
encerrado musicalmente com mais uma homenagem ao Luiz Cláudio; cantou a canção
“Viola Enluarada”, dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle.
-Um demorado abraço”.-
disse o Jonas Vieira quando as luzes se apagaram.
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