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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

2522 - O Fla x Flu de 63



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4322                  Data: 04 de dezembro  de 2013
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RÁDIO MEMÓRIA NO INÍCIO DO MÊS DE DEZEMBRO

Com o seu costumeiro “bondíssimo bom-dia, senhores ouvintes”, Jonas Vieira abriu o primeiro Rádio Memória do último mês do ano, saudou o Sérgio Fortes e, em seguida, anunciou uma homenagem.
Então, fez-se ouvir uma valsa entoada por uma canora voz que, pela beleza, só poderia ser de um cantor de tempos idos e vividos.
-Luiz Claudio de Castro, falecido nesta semana, mais uma das minhas perdas recentes.
E prosseguiu:
-Luiz Cláudio, um dos dez maiores cantores do Brasil para mim.
-Já esteve no nosso programa. - lembrou o Sérgio Fortes.
Jonas Vieira citou seus amigos queridos que se foram neste ano, e Sérgio Fortes não se esqueceu d' “A Enciclopédia” do futebol, que partira há três dias.
-Conheci Nílton Santos e Garricha no Diário da Noite, conversávamos enquanto o jornalista Sandro Moreira não aparecia. Garrincha, nessas horas, bebia cachaça numa xícara de café. - recordou o Jonas Vieira.
Como o programa é descontraído mesmo nos momentos de tristeza, daí, o seu valor, Sérgio Fortes tirou dos escaninhos da sua memória um jogo, em General Severiano, entre o Botafogo e a Portuguesa em que o Nílton Santos ria com a pancadaria de que era vítima o ataque botafoguense.
-Aquela defesa batia tanto que, de tão impressionado, guardei o nome dos espancadores: Bruno, Luizão, Reginaldo e Tião.
Inevitavelmente, fui conduzido às histórias do futebol que meu pai me contava.
-”Carlinhos, no início dos anos 40, o Botafogo tinha uma linha média que batia de sair faísca; Zezé Moreira, Martim e Canalli, ou Zezé Moreira, Martim e Canalha. Essa linha média era também chamada de “Cavalaria Rusticana”.
Jonas Vieira trouxe de volta à conversação o seu homenageado, dizendo que Luiz Claudio veio de Belo Horizonte, estreou na Rádio Nacional com 20 anos de idade e obteve logo êxito como cantor.
E espanou a poeira da gravação feita por ele de “Não morro sem ver Paris”, de Alcyr Pires Vermelho, Arlindo Marques e Roberto Roberti.
A francesinha Suzete foi tão citada que desconfiei que a minha irmã recebera esse nome por causa dessa canção, desconfiança que se desfez quando, depois da audição, Jonas Vieira informou que a música era de 1956, ou seja, dez anos depois do nascimento da brasileirinha Suzete.
Com atraso plenamente justificável, Sérgio Fortes se reportou aos acontecimentos do dia 1º de dezembro. Um deles se apossou da minha atenção:
-Em 1902, era publicado o livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha.
Segundo o pai da Rosa, o crítico Agripino Grieco, depois de “Os Sertões”, não se escreveu mais uma grande obra literária no Brasil.- disse comigo mesmo.
Fazia-se mister ouvir mais músicas e a vez da escolha era do Sérgio Fortes.
-Vamos ouvir Adelaide Hall, com a orquestra de Bert Käempfert, “I can't give you anything, but love”, de Jimmy Mc Hugh e Dorothy Fields, do musical “Blackbirds”.
Musical exitoso com as suas 518 apresentações seguidas na Broadway.
Jonas Vieira prosseguiu na merecida homenagem póstuma ao Luiz Cláudio e, falando de um LP apenas de cantigas do cantor, escolheu a gravação de “Mucama”, de Gonçalves Crespo.
Sérgio Fortes alardeou a qualidade da gravação e o titular do programa fez o registro: já havia gravações em som estéreo na época da “Mucama”.
“Pausa para a meditação”, cujo tema foi “A mulher de hoje”.
Início do 2º ato.
Apesar da exuberância sonora da Royal Philharmonic Orchestra, a música popular ainda persistiu no Rádio Memória com o pedido do Sérgio Fortes: “Vozes da Primavera”, de Johann Strauss Jr.
Era a vez agora da pausa para o futebol.
Jonas Vieira, tomado pela paixão pelo Flamengo, que se exacerbou com o título da Taça Brasil, voltou a dizer que o seu time de coração é de ricos, razão de uma renda de 9 milhões de reais, ou seja, quase 3 milhões de euros, que nem o Barcelona alcança, segundo ele.
Sérgio, embora tricolor, não fez ressalva alguma, mas nós, com todo o respeito, temos de fazer.
Os três clubes que obtiveram as maiores médias de público, em 2011 foram, em ordem decrescente, Borussia Dortmund, Manchester United e Barcelona; com número de torcedores que o Maracanã padrão FIFA não comporta mais. O jogo que deu o título ao Flamengo e que contou com um público de quase 69 mil pagantes, bem abaixo das médias citadas acima, é, para citar uma metáfora geométrica de um ministro do STF: “um ponto fora da curva”. E rendas de 3 milhões de euros não são raras na Europa, onde o poder aquisitivo é bem maior do que a nosso, mesmo com toda a crise econômica que grassa por lá.
Jonas se referiu ao flamenguista cego que foi a essa partida com um radinho de pilha. Foi inevitável, para mim, a lembrança da decisão do campeonato carioca de 1963, com 177 mil pessoas, onde, na geral do Maracanã, um crioulo retinto, perto de mim, completamente embriagado, gritava Flamengo de costas para o gramado enquanto durou o jogo.
E voltaram as notas musicais naquela manhã chuvosa de domingo. O titular do Rádio Memória ia, agora, do Luiz Cláudio a outro grande cantor: Jorge Goulart. E o samba de José Toledo e Jean Manzon, no arranjo e orquestra do mestre Radamés Gnatalli foi ao ar.
Logo após, a expressiva  voz do Agostinho dos Santos foi ouvida na canção “Manhã de  Carnaval”, de Luiz Bonfá e Antônio Maria.
Os dois falaram, inevitavelmente, da morte do cantor no acidente de avião em Orly.  Foi em 1973, naquele ano, não tão distante, meus amigos lamentavam:
-Se acontecesse apenas com o Filinto Müller seria ótimo.
Duas grandes admirações do Jonas Vieira foram citadas, em seguida, por ele: Ataulfo Alves, pelas composições, e Orlando Silva, pela voz.
Até mesmo as dificultosas notas graves de “Exaltação à cor” foram emitidas sem dificuldade pelo Cantor das Multidões, o que foi assinalado, com toda justiça, pelo seu fã e biógrafo.
A palavra passou para o Sérgio Fortes:
-Arthur da Távola dizia que ele e eu sabíamos tocar rádio. A música que vou pedir é uma homenagem ao rádio: o prefixo do programa do Gilberto Alves na Rádio Tupi: “Algum dia te direi”, de Gilberto Alencar e Felisberto Martins.
O Rádio Memória foi encerrado musicalmente com mais uma homenagem ao Luiz Cláudio; cantou a canção “Viola Enluarada”, dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle.
-Um demorado abraço”.- disse o Jonas Vieira quando as luzes se apagaram.





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