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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4328 Data: 14 de
dezembro de 2013
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CARTAS DOS LEITORES
-Bom texto, muito bom,
bem rodriguiano mesmo. Elio
BM: Elio, alude, generosamente, ao momento em que o
Biscoito Molhado tentou ser parecido com “A Última Hora”, de Samuel Wainer na
coluna “A Vida Como Ela É”; e, acima de tudo, homenagear Nélson Rodrigues.
Ele é lido por nós
desde quando nos encontrávamos na flor da idade. Aqui, pedimos licença ao
escritor José de Alencar para utilizarmos uma expressão da sua preferência.
Aliás, os primeiros romances que lemos
foram dele, influência da minha mãe: “O Guarany”, “Til”, “O Tronco do
Ipê”, “Senhora”, “Iracema” e “A Pata da Gazela”.
O vocabulário do
escritor cearense não era tão rebuscado quando o do português Camilo Castelo
Branco, mas requeria um dicionário por perto. O meu pai tinha apenas um
vocabulário com milhares de páginas, ou seja, as palavras lá estavam, mas não
os seus significados. Contudo, as tramas elaboradas do José de Alencar me
prendiam de tal forma que, mesmo não entendendo o que diziam certos verbetes,
eu seguia a leitura até o ponto final.
Concomitantemente, meu
pai me trazia livros do Alexandre Dumas, e fui devorando todos um por um. Pouco
depois, me veio com outros, de capa e espada, do Michel Zevaco, um escritor que
nasceu na mesma cidade de Napoleão Bonaparte, Ajaccio e seguiu a trilha do seu
mestre misturando ficção com a história da França desde a era medieval, (o
protagonista de várias histórias suas era Pardaillan, homenagem ao herói de “Os
Três Mosqueteiros”.
No meio de todos esses
livros, eu nunca deixei de lado as crônicas esportivas do Nélson Rodrigues. Não
cheguei a ler, nessa época, “A Vida Como Ela É”, apesar de ela ser publicada
até 1961, no Diário da Noite de Assis Chateaubriand, porque meu pai só trazia
para casa O Globo, que ele dizia ser sua cachaça, e o Diário de Notícias, onde
trabalhava. Foi em 1962 que eu travei conhecimento com os textos sobre futebol
do Nélson Rodrigues, ano do seu retorno ao jornal do Roberto Marinho, e os
acompanhei, com as posteriores “Confissões”, diariamente até sua morte em 1980.
“A Vida Como Ela É” me
chegou através de um livro de um sebão, no Centro da cidade, que reunia algumas
dezenas dos mais de mil contos que criou. Saí à cata de outros livros, mas
encontrei apenas um.
Certa vez, vi, numa
entrevista, o Nélson Rodrigues Filho revelar que seus colegas do Colégio
Militar, que liam o seu pai na Última Hora, lhe perguntavam se ele batia mesmo
na mulher.
Como não poderia deixar
de ser, o grande escândalo que ele provocou foi escrever que mulher gosta de
apanhar e declarar isso em alto e bom som na televisão, TV Rio e TV Globo. Os
estudiosos da mente humana, Freud e Jung lidaram, desde o início do século XX
com mulheres que gostavam de apanhar. Uma das primeiras psicanalistas, talvez a
primeira, a russa Sabina Spielrein, que foi paciente dos dois, sentia prazer em
levar umas porradas. Freud explicou o porquê, mas não vamos no deter nisso.
Nélson Rodrigues
trouxe, simplesmente, para o subúrbio esses casos que não ficavam restritos à
Europa da Belle Époque.
Na Rua Chaves Pinheiro,
nos anos 70, tínhamos um vizinho que sabia agradar as mulheres, haja vista o
grande número de namoradas que levava para a sua casa de solteiro. Uma delas
era brutalmente espancada pelos gritos que dava, de acordar qualquer um. Certa
vez, a pancadaria foi tal que (não exagero) o motorista do Méier-Maria da Graça
parou o ônibus no ponto, que havia na rua, para saber o que estava acontecendo.
No dia seguinte a esse
caso, eu estava lavando a varanda, lá pelas 8h da manhã, quando agressor e
agredida saíram de casa e passaram por mim de mãos dadas, parecendo dois
pombinhos.
“Era a Vida Como Ela
É”, que Nélson Rodrigues retratou tão bem.
-Se vai ser assim,
daqui por diante precisaremos de uma Distribuidora que aja, e não de uma
terceira pessoa. Roberto Dieckmann.
BM: A reação do Dieckmann, diante do BM que homenageou o
Nélson Rodrigues, pelo que vemos, foi inteiramente oposta à do Elio (*). Foi bom sabermos disso, pois, com a
proximidade do Natal, não sabíamos que presente dar ao Distribuidor do Biscoito
Molhado, agora sabemos: a coletânea de 100 contos de “A Vida Como Ela É”
lançada pela editora Nova Fronteira pela efeméride do centenário de nascimento
do Nélson Rodrigues.
-Fiquei estupefato ou
acachapado, como diz o Jonas Vieira, quando soube por ele que o grande
compositor Ary Barroso vendeu os direitos de “O Tabuleiro da Baiana” e “Na
Baixa do Sapateiro” ao Andre Kostelanetz, depois arrependeu-se amargamente
devido ao sucesso que essas duas composições obtiveram. Pelo menos, Ary Barroso
não vendeu os direitos de autor. Graças a Deus. Fã do Ary
BM: Meu caro leitor e ouvinte do Rádio Memória,
acreditamos que não devemos fazer uma leitura superficial sobre isso, é forçoso
refletir.
O êxito obtido por “Na
Baixa do Sapateiro” e “O Tabuleiro da Bahiana” levaram o compositor brasileiro
a se arrepender da venda dos direitos sobre essa música, eis um fato. No entanto,
essas músicas conseguiriam o sucesso que alcançaram porque Andre Kostelanetz as
divulgou com sua orquestra, pois ele tinha admiradores em quase todo o mundo,
entre eles o próprio Jonas Vieira. Ele tinha um público cativo.
Ary Barroso obteve
grande sucesso internacional com “Aquarela do Brasil”, o que não significava
igual êxito com outras composições suas, ainda que fossem mais inspiradas.
Guardei na retentiva
uma crônica de uns vinte anos atrás do José Ramos Tinhorão sobre a ida de Ary
Barroso a Hollywood e a proposta dos estúdios Disney de ele ficar por lá
compondo. Segundo o polêmico estudioso da música popular brasileira, a sua
recusa se deu, na realidade, pelo fato de ele não saber ler partituras o que
era imprescindível. E acrescentou o José Ramos Tinhorão que o grande sucesso da
“Aquarela do Brasil” se deve, em grande parte, ao arranjo elaborado por Radamés
Gnatalli.
Nesse ponto, eu tendo a
concordar com José Ramos Tinhorão, há arranjadores que também deveriam ser
denominados de parceiros de tanto que enriquecem o que os compositores lhe
entregam como matéria bruta.
Sintetizando: sem Andre
Kostelanetz, cremos que “Na Baixa do Sapateiro” e “O Tabuleiro da Bahiana” não
alcançariam a mesma repercussão internacional.
-A sua cunhada Gina
recebeu o livro que lhe dei de presente de Natal? Rosa
BM: Ela já está lendo, Rosa.
(*) O
Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO afirma que a reação não é oposta e sim
síncrona, por mais estranho que isso possa parecer, em se tratando de uma
opinião do Elio. E agradece, desde já, o presente que vier, mesmo que seja
recebido pelo Dieckmann.
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