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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

2528 - Rodrigues agradou e bateu na mulher



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4328                        Data: 14 de dezembro  de 2013
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CARTAS DOS LEITORES

-Bom texto, muito bom, bem rodriguiano mesmo. Elio
BM: Elio, alude, generosamente, ao momento em que o Biscoito Molhado tentou ser parecido com “A Última Hora”, de Samuel Wainer na coluna “A Vida Como Ela É”; e, acima de tudo, homenagear Nélson Rodrigues.
Ele é lido por nós desde quando nos encontrávamos na flor da idade. Aqui, pedimos licença ao escritor José de Alencar para utilizarmos uma expressão da sua preferência. Aliás, os primeiros romances que lemos  foram dele, influência da minha mãe: “O Guarany”, “Til”, “O Tronco do Ipê”, “Senhora”, “Iracema” e “A Pata da Gazela”.
O vocabulário do escritor cearense não era tão rebuscado quando o do português Camilo Castelo Branco, mas requeria um dicionário por perto. O meu pai tinha apenas um vocabulário com milhares de páginas, ou seja, as palavras lá estavam, mas não os seus significados. Contudo, as tramas elaboradas do José de Alencar me prendiam de tal forma que, mesmo não entendendo o que diziam certos verbetes, eu seguia a leitura até o ponto final.
Concomitantemente, meu pai me trazia livros do Alexandre Dumas, e fui devorando todos um por um. Pouco depois, me veio com outros, de capa e espada, do Michel Zevaco, um escritor que nasceu na mesma cidade de Napoleão Bonaparte, Ajaccio e seguiu a trilha do seu mestre misturando ficção com a história da França desde a era medieval, (o protagonista de várias histórias suas era Pardaillan, homenagem ao herói de “Os Três Mosqueteiros”.  
No meio de todos esses livros, eu nunca deixei de lado as crônicas esportivas do Nélson Rodrigues. Não cheguei a ler, nessa época, “A Vida Como Ela É”, apesar de ela ser publicada até 1961, no Diário da Noite de Assis Chateaubriand, porque meu pai só trazia para casa O Globo, que ele dizia ser sua cachaça, e o Diário de Notícias, onde trabalhava. Foi em 1962 que eu travei conhecimento com os textos sobre futebol do Nélson Rodrigues, ano do seu retorno ao jornal do Roberto Marinho, e os acompanhei, com as posteriores “Confissões”, diariamente até sua morte em 1980.
“A Vida Como Ela É” me chegou através de um livro de um sebão, no Centro da cidade, que reunia algumas dezenas dos mais de mil contos que criou. Saí à cata de outros livros, mas encontrei apenas um.
Certa vez, vi, numa entrevista, o Nélson Rodrigues Filho revelar que seus colegas do Colégio Militar, que liam o seu pai na Última Hora, lhe perguntavam se ele batia mesmo na mulher.
Como não poderia deixar de ser, o grande escândalo que ele provocou foi escrever que mulher gosta de apanhar e declarar isso em alto e bom som na televisão, TV Rio e TV Globo. Os estudiosos da mente humana, Freud e Jung lidaram, desde o início do século XX com mulheres que gostavam de apanhar. Uma das primeiras psicanalistas, talvez a primeira, a russa Sabina Spielrein, que foi paciente dos dois, sentia prazer em levar umas porradas. Freud explicou o porquê, mas não vamos no deter nisso.
Nélson Rodrigues trouxe, simplesmente, para o subúrbio esses casos que não ficavam restritos à Europa da Belle Époque.
Na Rua Chaves Pinheiro, nos anos 70, tínhamos um vizinho que sabia agradar as mulheres, haja vista o grande número de namoradas que levava para a sua casa de solteiro. Uma delas era brutalmente espancada pelos gritos que dava, de acordar qualquer um. Certa vez, a pancadaria foi tal que (não exagero) o motorista do Méier-Maria da Graça parou o ônibus no ponto, que havia na rua, para saber o que estava acontecendo.
No dia seguinte a esse caso, eu estava lavando a varanda, lá pelas 8h da manhã, quando agressor e agredida saíram de casa e passaram por mim de mãos dadas, parecendo dois pombinhos.
“Era a Vida Como Ela É”, que Nélson Rodrigues retratou tão bem.

-Se vai ser assim, daqui por diante precisaremos de uma Distribuidora que aja, e não de uma terceira pessoa.  Roberto Dieckmann.
BM: A reação do Dieckmann, diante do BM que homenageou o Nélson Rodrigues, pelo que vemos, foi inteiramente oposta à do Elio (*).  Foi bom sabermos disso, pois, com a proximidade do Natal, não sabíamos que presente dar ao Distribuidor do Biscoito Molhado, agora sabemos: a coletânea de 100 contos de “A Vida Como Ela É” lançada pela editora Nova Fronteira pela efeméride do centenário de nascimento do Nélson Rodrigues.

-Fiquei estupefato ou acachapado, como diz o Jonas Vieira, quando soube por ele que o grande compositor Ary Barroso vendeu os direitos de “O Tabuleiro da Baiana” e “Na Baixa do Sapateiro” ao Andre Kostelanetz, depois arrependeu-se amargamente devido ao sucesso que essas duas composições obtiveram. Pelo menos, Ary Barroso não vendeu os direitos de autor. Graças a Deus. Fã do Ary
BM: Meu caro leitor e ouvinte do Rádio Memória, acreditamos que não devemos fazer uma leitura superficial sobre isso, é forçoso refletir.
O êxito obtido por “Na Baixa do Sapateiro” e “O Tabuleiro da Bahiana” levaram o compositor brasileiro a se arrepender da venda dos direitos sobre essa música, eis um fato. No entanto, essas músicas conseguiriam o sucesso que alcançaram porque Andre Kostelanetz as divulgou com sua orquestra, pois ele tinha admiradores em quase todo o mundo, entre eles o próprio Jonas Vieira. Ele tinha um público cativo.
Ary Barroso obteve grande sucesso internacional com “Aquarela do Brasil”, o que não significava igual êxito com outras composições suas, ainda que fossem mais inspiradas.
Guardei na retentiva uma crônica de uns vinte anos atrás do José Ramos Tinhorão sobre a ida de Ary Barroso a Hollywood e a proposta dos estúdios Disney de ele ficar por lá compondo. Segundo o polêmico estudioso da música popular brasileira, a sua recusa se deu, na realidade, pelo fato de ele não saber ler partituras o que era imprescindível. E acrescentou o José Ramos Tinhorão que o grande sucesso da “Aquarela do Brasil” se deve, em grande parte, ao arranjo elaborado por Radamés Gnatalli.
Nesse ponto, eu tendo a concordar com José Ramos Tinhorão, há arranjadores que também deveriam ser denominados de parceiros de tanto que enriquecem o que os compositores lhe entregam como matéria bruta.
Sintetizando: sem Andre Kostelanetz, cremos que “Na Baixa do Sapateiro” e “O Tabuleiro da Bahiana” não alcançariam a mesma repercussão internacional.

-A sua cunhada Gina recebeu o livro que lhe dei de presente de Natal? Rosa
BM: Ela já está lendo, Rosa.

(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO afirma que a reação não é oposta e sim síncrona, por mais estranho que isso possa parecer, em se tratando de uma opinião do Elio. E agradece, desde já, o presente que vier, mesmo que seja recebido pelo Dieckmann.




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