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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4327 Data: 12 de
dezembro de 2013
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171ª CONVERSA COM OS
TAXISTAS
Entrei no táxi do
Albino sabendo que me faria a pergunta com que sempre me recebe:
-E o metrô?
Pensei nas TVs
espalhadas pelos vagões que nos distraem da viagem, embora a programação seja a
mesma durante algumas semanas. Hoje, no
entanto, eu assistira a algo interessante, que eu desconhecia. Primeiramente,
houve uma referência a um famoso bordão, nos Estados Unidos, criado pelo ator
Robert De Niro no filme “Taxi Driver”: “You talkin' to me?”. É dito, então, que
o diretor Martin Scorsese dera a ele o direito de improvisar na cena em que se
olha no espelho. Em seguida, afirma-se que Robert De Niro se inspirou em Marlon
Brando na cena do filme “O Pecado de Todos Nós”, em que ele se vê, fardado,
diante de um espelho. Surge, então, na TV
do metrô esse momento do filme de John Huston: o ator nada fala, porém muda as
feições labiais.
Não, Albino não me
parece um adepto dos clássicos do cinema, mas eu queria lhe dizer alguma coisa
a que assistira na TV do metrô e me lembrei de algo que, talvez, fosse assunto
para uma conversa:
-Eu vi, dia desses na
câmera do metrô...
-É uma espécie de televisão?
- cortou-me.
Confirmei e prossegui:
-Pelo que foi mostrado
nela, o terceiro nome de mulher mais comum no Brasil é Francisca; o segundo,
Ana; e o primeiro, Maria.
-Maria ficou em
primeiro lugar disparado, aposto.
-Naquela estatística,
são 13,5 milhões de Marias e 2,5 milhões de Anas.
-No meu tempo de escola
primária, quando a professora fazia diariamente a chamada, ao chegar na letra
“m”, nós ficávamos uns dez minutos ouvindo-a chamar: Maria das Dores, Maria da
Glória, Maria Auxiliadora, Maria do Socorro, e por aí vai.
Retomei a palavra.
-Era isso mesmo, mas,
dizem as professoras e professores de hoje, que eu conheço, que não há mais
tantas Marias. Com as novelas da Globo, passaram a surgir nomes menos católicos
como Jade, Iasmim...
-Mas pelo que você
disse: existem mais de 13 milhões de Marias...
-Digamos que há 100 milhões
de mulheres no Brasil, Maria são apenas 13%. Na lista de chamada do Manoel
Bomfim, onde fiz o primário, calculo que 30% das alunas eram Maria acompanhada
de outro nome, ou, simplesmente Maria. - comentei.
-É verdade. -
concordou.
-Você se esqueceu de
citar Maria de Fátima da lista de chamada.
Ele sorriu e
acrescentou:
-Isso mesmo, nas minhas
turmas, sempre havia uma Maria de Fátima.
-O paradoxal é que
Fátima era o nome de uma das filhas de Maomé, o nome supremo da religião
islâmica.
Fiz essa
observação enquanto pagava os 8 reais da corrida.
Eu pensei em falar de
como São Pedro tem espremido nuvens sobre Rio de Janeiro, pedindo, antes,
licença a Machado de Assis por recorrer a uma imagem sua sobre a chuvarada,
quando entrei no táxi do Gaguinho, o 009, mas ele se antecipou:
-O time do meu filho
foi campeão.
-Que bom! Venceu a
disputa final de handebol do time de Campinas?...
-Coitado! A emoção o
levava a gaguejar bem mais do que o normal.
-Não era de Campinas,
não. Era um time de Campos.
-De qualquer maneira,
foi um campeonato interescolar bem concorrido. - procurei me corrigir.
-Foi; escolas de tudo
quanto era lugar.
E o que eu já lhe
dissera em corridas anteriores, eu repeti.
-As escolas daqui têm
de investir no esporte como se faz nos Estados Unidos.
-Seria sopa no mel. -
garantiu.
-Há um filme do Buster
Keaton, “Amores de Estudantes”, que é todo feito com competições esportivas
numa faculdade. Isso 90 anos atrás. - eu
tinha de falar em cinema.
-O Brasil ganharia mais
medalhas nas olimpíadas com essa política. - disse.
-Aqui, o esporte que
mais se sobressai é o vôlei, vem dando ao país mais títulos internacionais do
que o futebol, porque houve investimentos, embora não fossem da Educação. -
comentei.
-No passado, já surgiam
bons jogadores como Bebeto de Freitas, Fernandão, William, Xandó...
-Badalhoca. - citei
porque a sonoridade do nome ficou na minha retentiva.
-Badalhoca. -
acrescentou ele na sua listagem.
-Pois é, bons jogadores
de vôlei apareciam, quando veio o dinheiro, o Brasil se tornou campeão
olímpico, mundial...
-E o vôlei feminino,
então, ganha tudo. - afirmou, gaguejando menos.
-Mas você já viu o
Centro de Desenvolvimento de Voleibol de Saquarema? - pus, na minha pergunta,
uma ênfase de quem já foi lá, embora nunca tivesse ido.
-Dizem que é uma
beleza.
-Até os japoneses, ao
conhecê-lo, ficaram maravilhados. - prossegui com a minha ênfase.
-Chegamos. - informou.
Enquanto eu
saltava, ele voltou a falar do filho campeão e a gaguejar mais.
Entrei no táxi
afobadamente.
-Del Castilho, na
altura da sede da Igreja Universal do bispo Macedo.
E sem esperar,
acrescentei.
-Quando estivermos
perto, eu lhe ensino o caminho.
-Que chuva! - foram as
suas primeiras palavras.
-Eu estava no trabalho,
quando uma colega me telefonou para avisar que a linha 2 do metrô foi
interrompida. Não pensei duas vezes: desliguei o computador, peguei a minha
mochila e rumei para o ponto de táxi da Rua da Assembleia. Ainda bem que não
precisei andar até lá.
-E ainda vai chover. -
previu.
-Essa colega, que mora
em Campo Grande, me disse que, no caminho para o Centro, o trânsito deu um nó;
nada saía do lugar, enquanto os bolsões d' água se transformavam em lagos com a
chuva.
-E os bandidos saíram
das tocas para assaltar. - disse ele.
-Ela me contou que
apareceram marginais, mas que a polícia logo veio com fuzis nas mãos.
E emendei:
-O medo vinha de todos
os lados e também de cima.
-Alguém conseguiu
chegar ao seu trabalho vindo pela Avenida Brasil?
-Ninguém, nem o
vigilante que sai de casa às 4h da manhã; a chave do cadeado para abrir a
repartição fica com ele. Quem veio trabalhar, os colegas da zona sul, só
conseguiu entrar às 9h 30min, porque a corrente do cadeado foi serrada.
-E como você chegou?
-Peguei o metrô às 5h
45mim da manhã. Até então, o metrô aguentava firme, mas quando soube, depois, que
havia estações inundadas, tratei de voltar para casa mais cedo.
Quando nos aproximamos
do viaduto de Del Castilho, eu o orientei a entrar numa das ruas do outro lado
da Avenida Suburbana.
-Você mora no IAPC?
-Sim; onde há uma
praça.
-Conheço, conheço. Já
soltei muitos balões na Praça Mané.
Mais um que chama a
Praça Manet de Mané. - pensei como um professor ranzinza que se decepciona com
a prova de um aluno que não estudou muito.
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