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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

2527 - Maria Manet



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4327                         Data: 12 de dezembro  de 2013
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171ª CONVERSA COM OS TAXISTAS

Entrei no táxi do Albino sabendo que me faria a pergunta com que sempre me recebe:
-E o metrô?
Pensei nas TVs espalhadas pelos vagões que nos distraem da viagem, embora a programação seja a mesma durante algumas semanas.  Hoje, no entanto, eu assistira a algo interessante, que eu desconhecia. Primeiramente, houve uma referência a um famoso bordão, nos Estados Unidos, criado pelo ator Robert De Niro no filme “Taxi Driver”: “You talkin' to me?”. É dito, então, que o diretor Martin Scorsese dera a ele o direito de improvisar na cena em que se olha no espelho. Em seguida, afirma-se que Robert De Niro se inspirou em Marlon Brando na cena do filme “O Pecado de Todos Nós”, em que ele se vê, fardado, diante de um espelho.  Surge, então, na TV do metrô esse momento do filme de John Huston: o ator nada fala, porém muda as feições labiais.
Não, Albino não me parece um adepto dos clássicos do cinema, mas eu queria lhe dizer alguma coisa a que assistira na TV do metrô e me lembrei de algo que, talvez, fosse assunto para uma conversa:
-Eu vi, dia desses na câmera do metrô...
-É uma espécie de televisão? - cortou-me.
Confirmei e prossegui:
-Pelo que foi mostrado nela, o terceiro nome de mulher mais comum no Brasil é Francisca; o segundo, Ana; e o primeiro, Maria.
-Maria ficou em primeiro lugar disparado, aposto.
-Naquela estatística, são 13,5 milhões de Marias e 2,5 milhões de Anas.
-No meu tempo de escola primária, quando a professora fazia diariamente a chamada, ao chegar na letra “m”, nós ficávamos uns dez minutos ouvindo-a chamar: Maria das Dores, Maria da Glória, Maria Auxiliadora, Maria do Socorro, e por aí vai.
Retomei a palavra.
-Era isso mesmo, mas, dizem as professoras e professores de hoje, que eu conheço, que não há mais tantas Marias. Com as novelas da Globo, passaram a surgir nomes menos católicos como Jade, Iasmim...
-Mas pelo que você disse: existem mais de 13 milhões de Marias...
-Digamos que há 100 milhões de mulheres no Brasil, Maria são apenas 13%. Na lista de chamada do Manoel Bomfim, onde fiz o primário, calculo que 30% das alunas eram Maria acompanhada de outro nome, ou, simplesmente Maria. - comentei.
-É verdade. - concordou.
-Você se esqueceu de citar Maria de Fátima da lista de chamada.
Ele sorriu e acrescentou:
-Isso mesmo, nas minhas turmas, sempre havia uma Maria de Fátima.
-O paradoxal é que Fátima era o nome de uma das filhas de Maomé, o nome supremo da religião islâmica.
Fiz essa observação enquanto pagava os 8 reais da corrida.

Eu pensei em falar de como São Pedro tem espremido nuvens sobre Rio de Janeiro, pedindo, antes, licença a Machado de Assis por recorrer a uma imagem sua sobre a chuvarada, quando entrei no táxi do Gaguinho, o 009, mas ele se antecipou:
-O time do meu filho foi campeão.
-Que bom! Venceu a disputa final de handebol do time de Campinas?...
-Coitado! A emoção o levava a gaguejar bem mais do que o normal.
-Não era de Campinas, não. Era um time de Campos.
-De qualquer maneira, foi um campeonato interescolar bem concorrido. - procurei me corrigir.
-Foi; escolas de tudo quanto era lugar.
E o que eu já lhe dissera em corridas anteriores, eu repeti.
-As escolas daqui têm de investir no esporte como se faz nos Estados Unidos.
-Seria sopa no mel. - garantiu.
-Há um filme do Buster Keaton, “Amores de Estudantes”, que é todo feito com competições esportivas numa faculdade. Isso 90 anos atrás.  - eu tinha de falar em cinema.
-O Brasil ganharia mais medalhas nas olimpíadas com essa política. - disse.
-Aqui, o esporte que mais se sobressai é o vôlei, vem dando ao país mais títulos internacionais do que o futebol, porque houve investimentos, embora não fossem da Educação. - comentei.
-No passado, já surgiam bons jogadores como Bebeto de Freitas, Fernandão, William, Xandó...
-Badalhoca. - citei porque a sonoridade do nome ficou na minha retentiva.
-Badalhoca. - acrescentou ele na sua listagem.
-Pois é, bons jogadores de vôlei apareciam, quando veio o dinheiro, o Brasil se tornou campeão olímpico, mundial...
-E o vôlei feminino, então, ganha tudo. - afirmou, gaguejando menos.
-Mas você já viu o Centro de Desenvolvimento de Voleibol de Saquarema? - pus, na minha pergunta, uma ênfase de quem já foi lá, embora nunca tivesse ido.
-Dizem que é uma beleza.
-Até os japoneses, ao conhecê-lo, ficaram maravilhados. - prossegui com a minha ênfase.
-Chegamos. - informou.
Enquanto eu saltava, ele voltou a falar do filho campeão e a gaguejar mais.

Entrei no táxi afobadamente.
-Del Castilho, na altura da sede da Igreja Universal do bispo Macedo.
E sem esperar, acrescentei.
-Quando estivermos perto, eu lhe ensino o caminho.
-Que chuva! - foram as suas primeiras palavras.
-Eu estava no trabalho, quando uma colega me telefonou para avisar que a linha 2 do metrô foi interrompida. Não pensei duas vezes: desliguei o computador, peguei a minha mochila e rumei para o ponto de táxi da Rua da Assembleia. Ainda bem que não precisei andar até lá.
-E ainda vai chover. - previu.
-Essa colega, que mora em Campo Grande, me disse que, no caminho para o Centro, o trânsito deu um nó; nada saía do lugar, enquanto os bolsões d' água se transformavam em lagos com a chuva.
-E os bandidos saíram das tocas para assaltar. - disse ele.
-Ela me contou que apareceram marginais, mas que a polícia logo veio com fuzis nas mãos.
E emendei:
-O medo vinha de todos os lados e também de cima.
-Alguém conseguiu chegar ao seu trabalho vindo pela Avenida Brasil?
-Ninguém, nem o vigilante que sai de casa às 4h da manhã; a chave do cadeado para abrir a repartição fica com ele. Quem veio trabalhar, os colegas da zona sul, só conseguiu entrar às 9h 30min, porque a corrente do cadeado foi serrada.
-E como você chegou?
-Peguei o metrô às 5h 45mim da manhã. Até então, o metrô aguentava firme, mas quando soube, depois, que havia estações inundadas, tratei de voltar para casa mais cedo.
Quando nos aproximamos do viaduto de Del Castilho, eu o orientei a entrar numa das ruas do outro lado da Avenida Suburbana.
-Você mora no IAPC?
-Sim; onde há uma praça.
-Conheço, conheço. Já soltei muitos balões na Praça Mané.
Mais um que chama a Praça Manet de Mané. - pensei como um professor ranzinza que se decepciona com a prova de um aluno que não estudou muito.

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