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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4326 Data: 11 de
dezembro de 2013
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CARTAS DOS LEITORES OU DOS
OUVINTES?
Antes de as cartas
serem divulgadas, expressamos aqui a nossa dúvida: o destinatário é o Biscoito
Molhado ou o Rádio Memória? Como o Jonas Vieira e o Sérgio Fortes não se
pronunciaram até agora, vamos respondê-las.
-Ouvi o Rádio Memória
em que o Simon Khoury encheu o programa de assobios (no bom sentido, é claro) e
ao ler o Biscoito Molhado sobre o mesmo, soube que há assobios na ópera
“Mefistófeles”, de Arrigo Boito. Como eu
estive no Teatro Municipal do Rio de Janeiro na legendária récita dessa ópera,
em 1964, em que o triunfo da Magda Olivero causou tanto ciúme no baixo Cesare
Siepi que ele voltou para casa mais cedo, eu só tenho nos ouvidos a voz da
maravilhosa soprano. Assim sendo, em que trecho da ópera Mefistófeles assobia? Celestino
BM: Meu caro ouvinte e leitor, Mefistófeles assovia no
prólogo da ópera quando, no paraíso, desafia Deus, afirmando que se apoderaria
da alma do velho e estudioso Fausto. E assovia mais ainda quando se apresenta a
Fausto na ária “Sou o espírito que nega” na parte final em que diz: “... mordo,
invischio, fischio! Fischio! Fischio!,,, O velho sábio o chama, então, de
“estranho filho do caos” (strano figlio del caos).
Acredito que, em
muitas encenações dessa ópera, o diabo apite, pois apitar todo o mundo sabe,
assobiar só uns poucos.
-Num dos programas do
Rádio Memória, o Sérgio Fortes listou uma série de palavras e expressões que
sumiram do nosso linguajar. Ele não citou “it”, mas no próprio programa, o
Jonas Vieira colocou para tocar um samba de Ary Barroso, sobre um travesti, em
que essa palavra é usada. Por outro lado, Sérgio Fortes citou “chiquê” que não
encontro em lugar algum. O Biscoito Molhado pode me ajudar? Ataulfo
BM: Meu caro Ataulfo, você pode achar chiquê nas páginas
de “A Vida Como Ela É”, coluna que Nélson Rodrigues redigiu de 1951 a 1961 na
Última Hora”.
Aparece, por exemplo, nessa história com o
ardente nome “Inferno”:
-”Não grite! Está
pensando que eu sou o quê?
-”Grito, pronto,
grito! Não topo chiquê! Comigo, não!”
E na história “A
Humilhada”, a palavra surge neste trecho:
“A princípio,
Guilherme controlou a línguagem. Mas era, por índole e educação, um desbocado.
Acabou explodindo : “Sossega, leoa de chácara! Sou contra chiquê”” Regina
gemeu: “Paciência!`E teve que suportar a gíria deslavada do marido. Por fim,
ela se contagiou e já usava certas expressões, tais como “velhinho”, “De
arder”, “araqueado”, etc,, etc.”
Chiquê e outras
palavras, como detraquê (amalucado), refletiam os estertores da influência
francesa na cultura brasileira; agora, os americanos tomaram conta.
-Numa edição do
Biscoito Molhado sobre o Rádio Memória, está registrado que o Jonas Vieira
inicia o programa dominical com um “bondíssimo bom dia, senhores ouvintes”.
Ora, eu o tenho escutado dizer “muitíssimo bom-dia”. Estarei sofrendo de
alucinação auditiva? Formigão
BM: Você não, nós sim. O nosso consolo é que o erro não
está destacado, o que não ocorreu com coirmãos do Biscoito Molhado como “O
Globo” e o “Jornal do Brasil”.
Certa vez, o Jornal do
Brasil colocou como manchete esta frase: “Geisel não exitará (sic) em usar o AI 5”.
Quando uma égua fugiu
de uma cocheira do Jockey Club e galopou pelas ruas, o Globo publicou a
seguinte manchete:
“Égua cavalga (sic) nove quilômetros pelas
ruas.
O nosso erro, ainda
bem, ficou no meio de um parágrafo sem maiores alardes jornalísticos.
“Dieckmann, na
primeira vez que foi ao Rádio Memória, pediu uma gravação da Lady Gaga e,
agora, solicita a banda de rock “Blood, Sweat and Tears”. Já que ele é adepto
desses ritmos jovens sacolejantes, por que não escolhe, na próxima vez, uma
música da Rita Pavone? Para mim seria bem nostálgico, pois participei daquele
programa televisivo do Carlos Imperial em que foi escolhida, num concurso, a
melhor imitadora da consagrada cantora italiana. Fiquei em terceiro lugar? Isaurinha.
BM: E a Rita Pavone ficou em quarto?... Sabendo que Charles
Chaplin participou, incógnito, de um concurso de imitadores seus, num teatro de
São Francisco e ficou longe dos melhores colocados, não resisti a piada.
Hoje, Rita Pavone é
uma coroa de 68 anos de idade e, pelo vídeo em que a vi cantando, dia desses,
mais enxuta do que quando era brotinho (palavra fora de uso como chiquê).
Caso o Dieckmann tenha
mesmo intenção de pedir ao Peter, o operador de som da Rádio Roquette Pinto,
que acione as carrapetas com uma música cantada pela espevitada italiana, que
fez sucesso nos anos 60 e no início dos 70, que seja “Il ballo del mattone”.
Ele estaria, assim, também homenageando um ótimo filme argentino, “Nove
Rainhas”, de 2003.
-No programa Rádio
Memória que teve o Simon Khoury como convidado, falou-se de plágios; que a
música tema do filme “Love Story” é calcada no “Ontem ao Luar”, que
“Insensatez”, do Tom Jobim é extremamente parecida com o “Prelúdio nº 4 opus 28
de Chopin. É isso ai, os plágios são muitos. Nazareth
BM: Sim, os plágios pululam por todos os lados em todos
os tempos.
O Hino do América, do
Lamartine Babo, é uma cópia descarada da canção Row, Row, Row, de William
Jerome e James Monaco de um show da Broadway, “Ziegfield Follies”, de
1912. Anos depois, os remadores da
Universidade de Oxford a adotaram como hino, o que fazia sentido. Veio mais
tarde o Lamartine Babo e levou a canção da regata para o futebol, o que não
fazia mais sentido.
O hino extraoficial
“Oh Minas Gerias”, que os mineiros cantam com orgulho, é plágio da valsa
italiana “Vieni Sul Mar”.
“Eu nunca mais vou te
esquecer”, uma suposta homenagem ao Garrincha, foi composta em cima da ária da
“Turandot”, “Nessun Dorma”. Esta, para nós, é a que nos desagrada mais, pois é
cantada pelo Moacir Franco.
No cinema, até o
Charles Chaplin cometeu esse pecado; basta comparar as cenas dos operários na
produção em série do filme “A Nós a Liberdade”, de René Clair (1931) com as
cenas do “Tempos Modernos” (1936). A
distribuidora do filme francês entrou com um processo contra a United Artists,
mas René Clair não se envolveu no caso porque preferiu manter a amizade com
Charles Chaplin.
Por outro lado, a peça
de Bertold Brecht, “O Sr. Puntila e seu criado Matti”, guarda muitas
semelhanças com o filme “Luzes da Cidade”, porém, o dramaturgo alemão pediu,
antes, ao Charles Chaplin, permissão para se inspirar em dois personagens seus.
-A música, mesmo a
popular deveria ser matéria escolar? Qual a opinião do Biscoito Molhado? Dircinha
BM: Sim, e vamos contar um caso que tonificará nossa
afirmativa. Quando fazíamos estágio na
Marinha Mercante, um colega com pose de sábio usou a palavra “esmircunfláutico”
numa frase. Depois de virar o Caldas Aulete e o Aurélio pelo avesso, fui até
ele e perguntei que diabo de palavra era aquela.
-”Minha avó a usava
muito; ela caiu em desuso (a palavra, bem entendido), mas devemos
ressuscitá-las porque a língua portuguesa é exuberante.” - foi a sua resposta.
Muitos anos depois,
ouvindo “Mamãe, eu quero”, com o Jararaca, não no Rádio Memória, mas no
programa que o antecede, lá está a palavra, porém dita corretamente, de acordo
com o vernáculo: “circuncisfláutico”.
Aliás, esse rapaz que
“aprendeu” o nosso idioma com a avó era por demais circuncisfláutico, ou seja,
pedante.
Por hoje, é só.
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