------------------------------ ------------------------------ ------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4333
Data: 23 de dezembro de
2013
------------------------------ ------------------------------ -----
RÁDIO
MEMÓRIA NATALINO
-Muitíssimo bom-dia.
Estava dado o pontapé
inicial do programa natalino.
-Conosco mais uma vez o
Fernando Borer.
-Rouco de tanto cantar
o “Jingle Bell.” - acrescentou o Sérgio Fortes.
Após os cumprimentos de
praxe, foi dado ao convidado o direito de fazer a primeira escolha musical do
dia.
-”O Bonde São
Januário”, de Wilson Batista e Ataulfo Alves.
Com o pontapé inicial dado, falou-se,
inevitavelmente, de futebol.
-Era o bonde que ia até
o estádio do Vasco da Gama que, naquela época era poderoso, era quem mandava os
outros para a segunda divisão.
-O pranteado Vasco da
Gama.- lamentou ou regozijou-se o Fernando Borer, pela entonação da voz não
dava para perceber, enquanto o Sérgio Fortes aludia à queda do clube para a
segunda divisão.
-A gravação de Ciro
Monteiro é de 1940 e a original de
Ataulfo Alves.- frisou o
convidado.
Jonas Vieira, mesmo
dizendo-se admirador de Wilson Batista, foi fiel à história e afirmou que ele
exaltou o trabalho, mas foi um dos maiores vagabundos que existiu.
“O Bonde São Januário”
foi grande sucesso do carnaval de 1941, quando vigia no Brasil a ditadura do
Getúlio Vargas.
Eis alguma coisa que
soubemos sobre esse samba.
A letra original “O
Bonde de São Januário/leva mais um sócio otário/só eu vou trabalhar.” O DIP – Departamento de Imprensa e
Propaganda – determinou que a letra fosse modificada, e ficou: “O Bonde são
Januário” leva mais um operário/ sou eu que vou trabalhar.”
A concretização do
Estado Novo não via com bons olhos a exaltação da boemia, da vagabundagem,
defendia a formação de um homem novo, lutador, trabalhador. A censura do samba
foi provocada por isso e não pelo fato de o Vasco da Gama ter sido ironizado, aliás, nem vascaíno o
Getúlio Vargas era.
Sérgio Fortes conduziu
a parte musical de São Cristóvão para a Broadway, anunciando a cantora Kim
Criswell na música “He's a Right Guy”, de Cole Porter. Trata-se da ária do
primeiro ato do musical “Something
For The Boys”, que abriu a temporada da Broadway de 1943, mas foi lançado antes,
em Boston, Massachusetts, precisamente no dia 18 de dezembro de 1942, no
Schubert Theatre.
-Cole Porter.- ciciou o
Jonas Vieira embevecido.
Quando a bola passou
para ele enalteceu os músicos dos Estados Unidos, fixando-se em Oliver Nelson,
eminente compositor e arranjador. A orquestra que iria executar a sua
composição e do Quincy Jones era do não menos talentoso Countie Basie. E o operador de áudio, Peter, pôs a
música para tocar. Era um caleidoscópio de timbres, com a gaita se destacando
até soarem as primeiras notas do piano de Countie Basie.
Os elogios à gaita
levaram o Jonas Vieira a citar, com muitos elogios, Maurício Einhorn, com a
concordância de todos. Nós, aqui
do Biscoito Molhado, aproveitamos também a oportunidade para falar do Rildo
Hora e do José Staneck, este, integrante da família de uma amiga de algumas
décadas, a quem vi tocando, num casamento, uma das três Gymnopédies compostas
por Eric Satie para o piano que ele, José Staneck, transpôs brilhantemente para
gaita.
Com o doutor Fernando
Borer, retornamos à música popular brasileira.
-A próxima
apresentação é uma obra-prima de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa, “Pra que
Discutir com Madame”.
Depois das referências
à aptidão do Haroldo Barbosa em
vários campos e ao fato de Janet de Almeida ser irmão do cantor e compositor
Joel de Almeida, e também à versão bossa-novista do João Gilberto, chegaram à
pernóstica madame. Magdala da Gama Oliveira, que escrevia sob o pseudônimo de
Mag, no Diário de Notícias, que, nos seus textos, desdenhava o samba.
Guardadas as devidas
proporções, havia uma semelhança com Ruy Barbosa que, senador da República,
proferiu um furioso discurso contra o governo Hermes da Fonseca porque
promoveu, em 1914, um sarau no Palácio do Catete com músicas da Chiquinha
Gonzaga. Sinhô, cinco anos depois, ironizaria o pedantismo do verborrágico
tribuno baiano com a marchinha de
carnaval “Fala, Meu Louro.”
Quando Mag, a madame,
escrevia no Diário de Notícias, o meu pai trabalhava na revisão desse jornal
fundado por Orlando Dantas e, segundo ele, afundado pela viúva.
Recordo-me das
críticas que meu pai fazia à Mag e à Eneida, mãe do jogador do Botafogo, Otávio
de Moraes, que, por sua vez, enaltecia o samba na sua coluna. Meu pai admirava
o Nestor de Holanda e nutria simpatia pelo Ibrahim Sued, amigo de longa data do
meu avô. Contou-me, certa vez, quando o Ibrahim Sued se desentendeu com o
Roberto Marinho, no governo do “Seu Arthur”, o Marechal Costa e Silva, e foi
escrever sua coluna no Diário de Notícias, que ele, num dia, procurou os
revisores e pediu que não corrigissem seus erros de português, pois aquilo era
o seu estilo.
-Acatamos o seu
pedido, mas sal com “c” e cedilha
nós iríamos corrigir. - disse-me meu pai em tom de blague.
“Pra que Discutir com
Madame” foi composto em 1941, mas Fernando Borer optou pela gravação de 1945,
cantado por Janet de Almeida com o conjunto do flautista e parceiro de
Pixinguinha, Benedito Lacerda.
E, para agradar a
todos, principalmente ao Luca, fã do Chico Buarque de Holanda, e a si próprio,
como veremos em seguida, Sérgio Fortes pediu “A Rita”.
-Trata-se de uma
gravação com Mauro Senise no sax alto (sax soprano) e maravilhosos músicos da
Orquestra Sinfônica Brasileira. Deixa-me puxar a brasa para a minha sardinha...
E pôs-se a nomear os
músicos da OSB que participaram do disco:
-Ana de Oliveira,
violinista que foi spalla da orquestra; Ubiratan Rodrigues, violinista; Nairan
Peçanha, violista; David Chew, violoncelo; e o trombone excepcional de Vittor
Santos.
E se detiveram na
violinista:
-Ela não está mais na
orquestra, mas já foi spalla.
-Encontrei-me com Ana
de Oliveira, informou-me que ia à Àfrica.
-Fazer o quê?
-Tocar.
-Ela, na verdade,
rumava para a Ilha da Madeira, que fica a caminho da África. - emendou a sua
informação o Jonas Vieira.
A leitura jazzística
desses notáveis músicos enriqueceram
tanto “A Rita” do Chico Buarque que ela se multiplicou em várias mulheres: Marta. Margarida, Laura, Teresa, etc.
Sérgio Fortes fez uma escolha que
conseguiu a unanimidade de todos, dentro ou fora da Rádio Roquette Pinto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário