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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4324 Data: 08 de
dezembro de 2013
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PROVOCAÇÕES NO RÁDIO
MEMÓRIA
Era grande a
responsabilidade do Rádio Memória, pois o programa que o precedeu, Almanaque,
trouxe ao presente dois grandes nomes da música popular e do humorismo, Haroldo
Barbosa e Luiz Reis.
Será que o mesmo
diapasão será mantido? - perguntei-me, quando o Jonas Vieira dizia o seu
habitual “muitíssimo bom-dia” que, inadvertidamente, saiu aqui, na edição
anterior, como “bondíssimo bom-dia”.
Sérgio Fortes logo fez
mostrar o seu desconsolo com a descida do seu Fluminense para a segunda
divisão. O flamenguista Jonas Vieira comentou, com lucidez, o esvaziamento do
futebol carioca sem o Fluminense e o Vasco da Gama na disputa futebolística
principal no Brasil. E concluiu que tal coisa decorre de muita incompetência.
Realmente, uma
derrocada dessas não se improvisa, é um “trabalho” que requer tempo.
Posto de lado o
futebol, Jonas Vieira anunciou a volta do Roberto Dieckmann, que logo o
aparteou, dizendo-se o não-Roberto Dieckmann, que nunca está voltando, ou seja,
sempre está presente.
Dieckmann, na sua
autoapresentação inusitada, entrou logo no assunto musical.
-Primeiramente, vou
falar das duas músicas que não-eu trouxe: uma delas, “Stormy Weather”; mas
depois do temporal de quinta-feira...
-Ia parecer provocação. - interveio o Sérgio
Fortes.
-A outra, com as
compras próximas, com o dia de Natal avizinhando-se, era “O saco cheio de Noel”,
do Gonzaguinha,
que tem uma letra sensacional; as renas são negociadas no final ...
Talvez pelo horário,
Dieckmann evitou dar nome aos bichos, pois, na verdade, são os viados, não as
renas.
E, finalmente, chegou
à música que iria ao ar: “Lady Be Good”, de George e Ira Gershwin, com Benny
Goodman.
-Até o Peter sorriu. -
informou o Dieckmann.
-Não houve
clarinetista como o Benny Goodman; Artie Shaw foi o que chegou mais perto.
Jonas Vieira citou
Artie Shaw e sem muito esforço evocativo logo me veio uma frase sua: “Benny
Goodman faz “swing”, eu faço música.” Cá entre nós, puro despeito dele.
Dieckmann, exegeta que
se ocupa da Segunda Grande Guerra Mundial, voltou-se para o seu colega do
Veteran Car Club:
-”Lady Be Good” também
foi o nome de um “Liberator” B-24D, dos Estados Unidos, que, depois de um
bombardeio em Nápoles, em 1943 (*), desgarrou-se e teve de aterrissar de
barriga, na Líbia. Os aviadores não morreram o pouso e sim depois, pois estavam
espalhados quando seus restos mortais foram localizados, em 1958.
-Que história! -
reagiu o Sérgio Fortes.
A palavra foi para
Sérgio Fortes, que falou do dia 8 de dezembro com um atraso plenamente
justificado.
-É o dia da família, o
dia da mulata, o dia do ciclista, do cronista esportivo,
E passou para o dia 8
de dezembro na história:
-Em 1941, os Estados
Unidos declaravam guerra ao Japão. Em 1942, houve a fusão do Botafogo Futebol
Clube com o Club de Regatas Botafogo e foi criado o Botafogo de Futebol e
Regatas. Em 1980, John Lennon era assassinado em frente ao edifício Dakota.
Nesse instante,
dirigiu-se aos presentes.
-O assassino está
preso há 34 anos; no Brasil, ficaria quantos anos?
-Meses. - respondeu o
Jonas Vieira.
E acrescentou:
-Nos Estados Unidos,
não tem disso; se é um perigo para a sociedade, então fica trancafiado.
Dieckmann concordou;
não se pode deixar fora do xilindró quem representa um perigo aos cidadãos de
bem. (**)
-E agora?
Era a vez de o Sérgio
Fortes pôr de lado o seu talento de homem-calendário, codinome que ele assumiu,
programas atrás, para reverenciar Apolo, o deus grego da música e líder das
musas.
-Vamos ouvir “Meu Caro
Amigo”, do Chico Buarque (****), com o conjunto “Jazz Café Brasil” (***) cujos
componentes eu desconheço, tenho de pesquisar mais.
Dieckmann,
evidentemente, não deixou passar essa revelação sem uma piada.
E, para a alegria do
Luca, admirador empedernido do ex-marido da Marieta Severo, uma música
exclusivamente dele foi ao ar no Rádio Memória. Imagino o meu amigo de décadas
queixando-se, como a minha mãe que, ouvindo “As Melhores Vozes do Mundo”,
irritava-se porque o Sérgio Fortes não punha as gravações da Mirella Freni. -”Só
toca a Kiri Te Kanawa... É a queridinha dele”.
-Esta é a Rádio
Roquette Pinto 94.1 com o programa Rádio Memória.
Palavras acima ditas
pelo Jonas Vieira com a intenção (longe de mim a maldade) de fazer o Sérgio
Fortes decorar e repeti-las algumas vezes, nas eventualidades em que ele se vê
impedido de apresentar o programa. Mas, por um sortilégio da minha imaginação,
vi o Dieckmann como apresentador no lugar do Sérgio Fortes, a dizer:
-Este é o Roberto
Dieckmann, senhores ouvintes.
Frase essa que ele
repetiria umas seis vezes, imagino, durante sessenta minutos.
Mas lá estava, na
liderança, o decano da radiofonia brasileira que, agora, indicava a próxima
atração musical.
-Entre as minhas
saudades está Linda Batista. Se hoje eu falo Linda Batista, vão pensar que se
trata de uma jogadora de vôlei. Neste país, como dizia o Ivan Lessa, de quinze
em quinze anos se esquece de tudo o que aconteceu quinze anos atrás.
A mordacidade amarga
arrancou risos de nós todos, e ele continuou:
-Numa entrevista que
tive com ela, falou de Ary Barroso. É de chorar de rir.
Se essa entrevista
provoca tantos risos, nós imaginamos a que Linda Batista concedeu ao Simon
Khoury.
-Vamos ouvir com Linda
Batista, “Volta”, de Lupicínio Rodrigues.
Quando as primeiras
palavras foram entoadas (“Quantas noites não durmo a rolar-me na cama”),
lembrei-me logo do meu pai, quando ouviu essa canção na voz da Gal:
-”Toma Mandrix”. -
disse ele.
-Isso é que é cantora.
Linda Batista faz bem a saúde. -
entusiasmou-se o Jonas depois de soar a última nota musical de tão privilegiada
garganta.
-Como eram caprichadas
as gravações desse tempo! - exclamou o Dieckmann.
-1957. - identificou o
fã da Linda o ano em que o disco foi lançado.
-Era o tempo dos
arranjos do Radamés Gnatalli. - assinalou o Sérgio Fortes.
Jonas Vieira evocou os
nomes de outros maestros e arranjadores nacionais, porém, ninguém foi tão
integrado à radiofonia brasileira quanto o Radamés Gnatalli.
-Era o tempo em que
muitas emissoras tinham as suas próprias orquestras. - frisou o Sérgio Fortes.
-Hoje, só a Petrobras
tem orquestra. - interferiu o Dieckmann para tornar descontraído aquele momento
de tristes constatações.
(*) O redator
do seu O BISCOITO MOLHADO, desta vez, retratou fielmente o que foi dito pelo
Dieckmann, que, em telefonema, logo avisou que a coisa é um pouco diferente. O
Muricy conhece a história e garante que o bombardeio foi em Ploesti e não em
Nápoles, como ele, Dieckmann, apurara na
wikipedia. O que faz mais sentido, geograficamente falando.
(**) No mesmo
telefonema, Dieckmann disse que pensou em figuras da política brasileira, em
especial, ex-presidentes de memória falível.
(***) O
Departamento de Pesquisas da Distribuição do seu O BISCOITO MOLHADO obteve na
wikipedia, sempre ela, a composição do Jazz Café Brasil, por
músicos
renomados como os irmãos Continentino, Kiko (piano) e Alberto (baixo), Gabriel
Grossi (gaita), Marçal (percussão), Erivelton Silva (bateria), Pascoal Meireles
(bateria), Nelson Faria (guitarra), Vitor Santos, Jorge Helder entre outros.
(****) O que
o Luca não ficou sabendo é que Jonas Vieira e o Dieckmann elogiaram a escolha
de Sergio Fortes, celebrando especialmente por ser ela instrumental, evitando
transmitir a voz do famoso bardo.
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