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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

2524 - o bardo de fora




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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4324                            Data: 08 de dezembro  de 2013
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PROVOCAÇÕES NO RÁDIO MEMÓRIA

Era grande a responsabilidade do Rádio Memória, pois o programa que o precedeu, Almanaque, trouxe ao presente dois grandes nomes da música popular e do humorismo, Haroldo Barbosa e Luiz Reis.
Será que o mesmo diapasão será mantido? - perguntei-me, quando o Jonas Vieira dizia o seu habitual “muitíssimo bom-dia” que, inadvertidamente, saiu aqui, na edição anterior, como “bondíssimo bom-dia”.
Sérgio Fortes logo fez mostrar o seu desconsolo com a descida do seu Fluminense para a segunda divisão. O flamenguista Jonas Vieira comentou, com lucidez, o esvaziamento do futebol carioca sem o Fluminense e o Vasco da Gama na disputa futebolística principal no Brasil. E concluiu que tal coisa decorre de muita incompetência.
Realmente, uma derrocada dessas não se improvisa, é um “trabalho” que requer tempo.
Posto de lado o futebol, Jonas Vieira anunciou a volta do Roberto Dieckmann, que logo o aparteou, dizendo-se o não-Roberto Dieckmann, que nunca está voltando, ou seja, sempre está presente.
Dieckmann, na sua autoapresentação inusitada, entrou logo no assunto musical.
-Primeiramente, vou falar das duas músicas que não-eu trouxe: uma delas, “Stormy Weather”; mas depois do temporal de quinta-feira...
 -Ia parecer provocação. - interveio o Sérgio Fortes.
-A outra, com as compras próximas, com o dia de Natal avizinhando-se, era “O saco cheio de Noel”, do   Gonzaguinha,  que tem uma letra sensacional; as renas são negociadas no final ...
Talvez pelo horário, Dieckmann evitou dar nome aos bichos, pois, na verdade, são os viados, não as renas.
E, finalmente, chegou à música que iria ao ar: “Lady Be Good”, de George e Ira Gershwin, com Benny Goodman.
-Até o Peter sorriu. - informou o Dieckmann.
-Não houve clarinetista como o Benny Goodman; Artie Shaw foi o que chegou mais perto.
Jonas Vieira citou Artie Shaw e sem muito esforço evocativo logo me veio uma frase sua: “Benny Goodman faz “swing”, eu faço música.” Cá entre nós, puro despeito dele.
Dieckmann, exegeta que se ocupa da Segunda Grande Guerra Mundial, voltou-se para o seu colega do Veteran Car Club:
-”Lady Be Good” também foi o nome de um “Liberator” B-24D, dos Estados Unidos, que, depois de um bombardeio em Nápoles, em 1943 (*), desgarrou-se e teve de aterrissar de barriga, na Líbia. Os aviadores não morreram o pouso e sim depois, pois estavam espalhados quando seus restos mortais foram localizados, em 1958.
-Que história! - reagiu o Sérgio Fortes.
A palavra foi para Sérgio Fortes, que falou do dia 8 de dezembro com um atraso plenamente justificado.
-É o dia da família, o dia da mulata, o dia do ciclista, do cronista esportivo,
E passou para o dia 8 de dezembro na história:
-Em 1941, os Estados Unidos declaravam guerra ao Japão. Em 1942, houve a fusão do Botafogo Futebol Clube com o Club de Regatas Botafogo e foi criado o Botafogo de Futebol e Regatas. Em 1980, John Lennon era assassinado em frente ao edifício Dakota.
Nesse instante, dirigiu-se aos presentes.
-O assassino está preso há 34 anos; no Brasil, ficaria quantos anos?
-Meses. - respondeu o Jonas Vieira.
E acrescentou:
-Nos Estados Unidos, não tem disso; se é um perigo para a sociedade, então fica trancafiado.
Dieckmann concordou; não se pode deixar fora do xilindró quem representa um perigo aos cidadãos de bem. (**)
-E agora?
Era a vez de o Sérgio Fortes pôr de lado o seu talento de homem-calendário, codinome que ele assumiu, programas atrás, para reverenciar Apolo, o deus grego da música e líder das musas.
-Vamos ouvir “Meu Caro Amigo”, do Chico Buarque (****), com o conjunto “Jazz Café Brasil” (***) cujos componentes eu desconheço, tenho de pesquisar mais.
Dieckmann, evidentemente, não deixou passar essa revelação sem uma piada.
E, para a alegria do Luca, admirador empedernido do ex-marido da Marieta Severo, uma música exclusivamente dele foi ao ar no Rádio Memória. Imagino o meu amigo de décadas queixando-se, como a minha mãe que, ouvindo “As Melhores Vozes do Mundo”, irritava-se porque o Sérgio Fortes não punha as gravações da Mirella Freni. -”Só toca a Kiri Te Kanawa... É a queridinha dele”.
-Esta é a Rádio Roquette Pinto 94.1 com o programa Rádio Memória.
Palavras acima ditas pelo Jonas Vieira com a intenção (longe de mim a maldade) de fazer o Sérgio Fortes decorar e repeti-las algumas vezes, nas eventualidades em que ele se vê impedido de apresentar o programa. Mas, por um sortilégio da minha imaginação, vi o Dieckmann como apresentador no lugar do Sérgio Fortes, a dizer:
-Este é o Roberto Dieckmann, senhores ouvintes.
Frase essa que ele repetiria umas seis vezes, imagino, durante sessenta minutos.
Mas lá estava, na liderança, o decano da radiofonia brasileira que, agora, indicava a próxima atração musical.
-Entre as minhas saudades está Linda Batista. Se hoje eu falo Linda Batista, vão pensar que se trata de uma jogadora de vôlei. Neste país, como dizia o Ivan Lessa, de quinze em quinze anos se esquece de tudo o que aconteceu quinze anos atrás.
A mordacidade amarga arrancou risos de nós todos, e ele continuou:
-Numa entrevista que tive com ela, falou de Ary Barroso. É de chorar de rir.
Se essa entrevista provoca tantos risos, nós imaginamos a que Linda Batista concedeu ao Simon Khoury.
-Vamos ouvir com Linda Batista, “Volta”, de Lupicínio Rodrigues.
Quando as primeiras palavras foram entoadas (“Quantas noites não durmo a rolar-me na cama”), lembrei-me logo do meu pai, quando ouviu essa canção na voz da Gal:
-”Toma Mandrix”. - disse ele.
-Isso é que é cantora. Linda Batista faz bem a saúde.  - entusiasmou-se o Jonas depois de soar a última nota musical de tão privilegiada garganta.
-Como eram caprichadas as gravações desse tempo! - exclamou o Dieckmann.
-1957. - identificou o fã da Linda o ano em que o disco foi lançado.
-Era o tempo dos arranjos do Radamés Gnatalli. - assinalou o Sérgio Fortes.
Jonas Vieira evocou os nomes de outros maestros e arranjadores nacionais, porém, ninguém foi tão integrado à radiofonia brasileira quanto o Radamés Gnatalli.
-Era o tempo em que muitas emissoras tinham as suas próprias orquestras. - frisou o Sérgio Fortes.
-Hoje, só a Petrobras tem orquestra. - interferiu o Dieckmann para tornar descontraído aquele momento de tristes constatações.

(*) O redator do seu O BISCOITO MOLHADO, desta vez, retratou fielmente o que foi dito pelo Dieckmann, que, em telefonema, logo avisou que a coisa é um pouco diferente. O Muricy conhece a história e garante que o bombardeio foi em Ploesti e não em Nápoles, como ele,  Dieckmann, apurara na wikipedia. O que faz mais sentido, geograficamente falando.

(**) No mesmo telefonema, Dieckmann disse que pensou em figuras da política brasileira, em especial, ex-presidentes de memória falível.

(***) O Departamento de Pesquisas da Distribuição do seu O BISCOITO MOLHADO obteve na wikipedia, sempre ela, a composição do Jazz Café Brasil, por músicos renomados como os irmãos Continentino, Kiko (piano) e Alberto (baixo), Gabriel Grossi (gaita), Marçal (percussão), Erivelton Silva (bateria), Pascoal Meireles (bateria), Nelson Faria (guitarra), Vitor Santos, Jorge Helder entre outros.

(****) O que o Luca não ficou sabendo é que Jonas Vieira e o Dieckmann elogiaram a escolha de Sergio Fortes, celebrando especialmente por ser ela instrumental, evitando transmitir a voz do famoso bardo.




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