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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4330 Data: 17 de
dezembro de 2013
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RÁDIO MEMÓRIA SEM VISITA DE
MÉDICO
PARTE II
Jonas Vieira verbalizou
sua revolta com o Brasil de hoje.
-País sem memória;
adora um besteirol.
E foi adiante:
-Nos anos 50, o que era
importante, era bem tratado respeitado. Exemplo: Maysa, uma grande cantora que
também compunha. Ela é uma das minhas saudades. A TV Globo dedicou uma
minissérie a ela com erros gravíssimos. A minissérie que realizaram sobre a
Dalva de Oliveira e Herivelto Martins foi ainda pior. Para vocês terem uma
ideia, o Vicente Paiva apareceu branco.
-Era o Michael Jackson.
Um dos charmes do Rádio
Memória é a descontração e Sérgio Fortes sacou logo a piada sobre o
branqueamento do pianista, cantor, compositor e maestro feito pela TV Globo.
Descontração e música; e
o titular do programa anunciou, da própria Maysa, “Meu Mundo Caiu”.
Músicas pungentes
desagradam o nosso amigo Dieckmann, assim como as do Chico Buarque dão
urticária no Lobão, como ele revelou em recente entrevista ao Roda Viva, da TV
Cultura. Eu ouvia o sofrimento melódico da Maysa e me recordava de outra música
triste: “Ninguém me ama”, de Antonio Maria; ao mesmo tempo me vinham à mente as reuniões do Sabadoido, antes de
endoidecer de vez. Numa delas, o Luca citou uma pergunta que o Oswaldo
Sargentelli fez à Sandra Cavalcanti, no seu programa televisivo de perguntas
contundentes “Advogado do Diabo.” Era esta a pergunta:
-Antonio Maria a coloca
entre as mal amadas do Lacerda; o que você tem a dizer?
-Mas quem compôs
“Ninguém me ama” foi ele... - respondeu a Sandra Cavalcanti com uma língua
ferina digna do seu mestre.
Mas voltemos ao Rádio
Memória.
Depois que o mundo da
Maysa caiu, Jonas Vieira frisou que o programa desse dia 15 de dezembro de 2013
era dedicado a Nélson Mandela. E ele, mais o Sérgio Fortes e o Fernando Borer
lembraram passagens do grande ser humano.
Em seguida, veio a
Pausa da Meditação com a ressalva que foi redigida pelo Fernando Milfond antes
do passamento do Mandela, se não o tema seria o estadista.
Bem, pela sonora
locução do José Maurício, que não se desgasta com o tempo, escutamos uma
espécie de “Tudo o que você gostaria de saber sobre a maconha e tinha vergonha
de perguntar.”
A segunda parte do
Rádio Memória se iniciou com um comentário do Jonas Vieira sobre a crônica do
Fernando Milfond.
-É a erva maldita.
Não... a erva maldita é o dinheiro.
E se voltou para o seu
parceiro.
-Agora, você, Sérgio
Mandela.
-Não, eu sou o papa. -
protestou.
Quando Freud criou a
associação com nomes como uma das bases da técnica psicanalítica sabia o que
estava fazendo: Sérgio Mandela puxou o Papa Sérgio I que, por sua vez, trouxe à
tona o Papa Francisco, que foi enaltecido mais uma vez pela sua atuação no
pontificado.
Era a vez da escolha
musical do Fernando Borer e ele não voltou muito no tempo:
“Senza Fine”, de 1963,
de Gino Paoli com a participação também de Ornella Vanoni.
E enveredou pelo
conflituoso caso amoroso que uniu neuroticamente o casal redundando na
tentativa de suicídio de Gino Paoli.
-Até hoje ele tem a
bala no pericárdio. - informou.
Veio-me logo à mente a
paixão avassaladora do Frank Sinatra pela Ava Gardner, que o levou ao fundo do
poço e também à tentativa de suicídio.
Fernando Borer trouxe a
gravação de ”Senza Fine”, de 1980, com Zizi Possi.
-Bela voz. -
concordaram todos depois que soou a última nota.
-A gravação é de 1980?
- expressou espanto na pergunta o Sérgio Fortes.
Depois de o doutor
confirmar, Sérgio Fortes continuou assombrado:
-Já se passaram 33
anos!...
Jonas Vieira, mais
preocupado com os minutos que faltavam para o fim do programa, o apressou:
-E agora, Sérgio?
-Eu trouxe uma cantora
extraordinária: Jessye Norman.
-A minha preferida.
É verdade que o Jonas
Vieira diz isso para todas, mas no caso da Jessye Norman, nós acreditamos. Se o
legendário tenor Giacomo Lauri-Volpi fosse do tempo dela, colocaria Jessye
Norman no seu livro “Vozes Paralelas” entre aquelas que foram incomparáveis.
A composição era de Richard Rodgers
e Lorenz Hart, “With a song in my heart”, do musical “Spring is here”,
de 1929.
-Orquestra de Boston
Pops, regida por John Williams.
E concluiu o Sérgio
Fortes:
-Melhor do que isso só
no céu.
As exclamações de
encantamento de todos se encerraram com a vez de o Jonas Vieira fazer a sua
escolha musical.
-Sou fã do Andre
Kostelanetz.
O que ouviríamos com a
orquestra do seu ídolo? - perguntamo-nos todos, enquanto ele prosseguia:
-Chopin só compôs para
o piano. Entre as coisas maravilhosas do Chopin está a “Fantasia Improviso”. É
sobrenatural o arranjo que o Andre Kostelanetz fez. Vejam.
Bem, nós do Biscoito
Molhado consideramos um sacrilégio o fato de o Vinícius de Moraes ter pego a
Cantata 147, de Bach, “Jesus, alegria dos homens”, e ter transformado na marcha
“Rancho das Flores”, mas temos de admitir que o
arranjador e maestro Andre
Kostelanetz foi bastante criativo na leitura que fez de uma das mais populares
peças do gênio polonês.
Com o Fernando Borer,
veio a canção de 1957 do filme “The Joker is Wild” (“Chorei por você”):
-”All The Way”, que
Frank Sinatra tornou definitiva. A orquestra que o acompanha é de Nelson
Riddle.”
O filme é alusivo à
vida do comediante e cantor, atração das casas noturnas, Joe E. Lewis. Na biografia do Frank Sinatra, que foi o
protagonista do filme e exigiu que todas as cenas musicais fossem ao vivo, ele
escreveu:
-”Quando eu apresento
um número e alguém tosse, eu gosto. Gosto do barulho do arrastar das cadeiras.
Você pega o sentimento que envolve a atmosfera do lugar. Eu sempre achei que
Lewis era um dos quatro ou cinco maiores artistas deste século, outro deles era
Al Jolson...”
Cabia agora ao Sérgio
Fortes apresentar a próxima atração.
-Vamos ouvir o
baixo-barítono galês Bryn Terfel no “Camelot”, de Alan Jay Lerner e Frederick
Loewe, musical de 1967.
Outra voz privilegiada,
presença frequente no seu programa de dez anos atrás, “As Melhores Vozes do
Mundo.”
Foi lembrado por
Fernando Borer a citar maestro e orquestra:
-Regente Paul Daniel, English Northern Phylharmonia.
Depois, Jonas Vieira
nomeou mais uma das suas saudades: Dolores Duran. A música interpretada por ela
foi composta por João do Vale e Luiz Vieira, “Na Asa do Vento”.
O “demorado abraço” de
todos os domingos do Jonas Vieira encerrou mais um Rádio Memória.
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