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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

2530 - o besteirol farináceo



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4330                        Data: 17 de dezembro  de 2013
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RÁDIO MEMÓRIA SEM VISITA DE MÉDICO
PARTE II

Jonas Vieira verbalizou sua revolta com o Brasil de hoje.
-País sem memória; adora um besteirol.
E foi adiante:
-Nos anos 50, o que era importante, era bem tratado respeitado. Exemplo: Maysa, uma grande cantora que também compunha. Ela é uma das minhas saudades. A TV Globo dedicou uma minissérie a ela com erros gravíssimos. A minissérie que realizaram sobre a Dalva de Oliveira e Herivelto Martins foi ainda pior. Para vocês terem uma ideia, o Vicente Paiva apareceu branco.
-Era o Michael Jackson.
Um dos charmes do Rádio Memória é a descontração e Sérgio Fortes sacou logo a piada sobre o branqueamento do pianista, cantor, compositor e maestro feito pela TV Globo.
Descontração e música; e o titular do programa anunciou, da própria Maysa, “Meu Mundo Caiu”.
Músicas pungentes desagradam o nosso amigo Dieckmann, assim como as do Chico Buarque dão urticária no Lobão, como ele revelou em recente entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura. Eu ouvia o sofrimento melódico da Maysa e me recordava de outra música triste: “Ninguém me ama”, de Antonio Maria; ao mesmo tempo me vinham  à mente as reuniões do Sabadoido, antes de endoidecer de vez. Numa delas, o Luca citou uma pergunta que o Oswaldo Sargentelli fez à Sandra Cavalcanti, no seu programa televisivo de perguntas contundentes “Advogado do Diabo.” Era esta a pergunta:
-Antonio Maria a coloca entre as mal amadas do Lacerda; o que você tem a dizer?
-Mas quem compôs “Ninguém me ama” foi ele... - respondeu a Sandra Cavalcanti com uma língua ferina digna do seu mestre.
Mas voltemos ao Rádio Memória.
Depois que o mundo da Maysa caiu, Jonas Vieira frisou que o programa desse dia 15 de dezembro de 2013 era dedicado a Nélson Mandela. E ele, mais o Sérgio Fortes e o Fernando Borer lembraram passagens do grande ser humano.
Em seguida, veio a Pausa da Meditação com a ressalva que foi redigida pelo Fernando Milfond antes do passamento do Mandela, se não o tema seria o estadista.
Bem, pela sonora locução do José Maurício, que não se desgasta com o tempo, escutamos uma espécie de “Tudo o que você gostaria de saber sobre a maconha e tinha vergonha de perguntar.”
A segunda parte do Rádio Memória se iniciou com um comentário do Jonas Vieira sobre a crônica do Fernando Milfond.
-É a erva maldita. Não... a erva maldita é o dinheiro.
E se voltou para o seu parceiro.
-Agora, você, Sérgio Mandela.
-Não, eu sou o papa. - protestou.
Quando Freud criou a associação com nomes como uma das bases da técnica psicanalítica sabia o que estava fazendo: Sérgio Mandela puxou o Papa Sérgio I que, por sua vez, trouxe à tona o Papa Francisco, que foi enaltecido mais uma vez pela sua atuação no pontificado.
Era a vez da escolha musical do Fernando Borer e ele não voltou muito no tempo:
“Senza Fine”, de 1963, de Gino Paoli com a participação também de Ornella Vanoni.
E enveredou pelo conflituoso caso amoroso que uniu neuroticamente o casal redundando na tentativa de suicídio de Gino Paoli.
-Até hoje ele tem a bala no pericárdio. - informou.
Veio-me logo à mente a paixão avassaladora do Frank Sinatra pela Ava Gardner, que o levou ao fundo do poço e também à tentativa de suicídio.
Fernando Borer trouxe a gravação de ”Senza Fine”, de 1980, com Zizi Possi.
-Bela voz. - concordaram todos depois que soou a última nota.
-A gravação é de 1980? - expressou espanto na pergunta o Sérgio Fortes.
Depois de o doutor confirmar, Sérgio Fortes continuou assombrado:
-Já se passaram 33 anos!...
Jonas Vieira, mais preocupado com os minutos que faltavam para o fim do programa, o apressou:
-E agora, Sérgio?
-Eu trouxe uma cantora extraordinária: Jessye Norman.
-A minha preferida.
É verdade que o Jonas Vieira diz isso para todas, mas no caso da Jessye Norman, nós acreditamos. Se o legendário tenor Giacomo Lauri-Volpi fosse do tempo dela, colocaria Jessye Norman no seu livro “Vozes Paralelas” entre aquelas que foram incomparáveis.
A composição era de Richard Rodgers  e Lorenz Hart, “With a song in my heart”, do musical “Spring is here”, de 1929.
-Orquestra de Boston Pops, regida por John Williams.
E concluiu o Sérgio Fortes:
-Melhor do que isso só no céu.
As exclamações de encantamento de todos se encerraram com a vez de o Jonas Vieira fazer a sua escolha musical.
-Sou fã do Andre Kostelanetz.
O que ouviríamos com a orquestra do seu ídolo? - perguntamo-nos todos, enquanto ele prosseguia:
-Chopin só compôs para o piano. Entre as coisas maravilhosas do Chopin está a “Fantasia Improviso”. É sobrenatural o arranjo que o Andre Kostelanetz fez. Vejam.
Bem, nós do Biscoito Molhado consideramos um sacrilégio o fato de o Vinícius de Moraes ter pego a Cantata 147, de Bach, “Jesus, alegria dos homens”, e ter transformado na marcha “Rancho das Flores”, mas temos de admitir que o  arranjador e maestro  Andre Kostelanetz foi bastante criativo na leitura que fez de uma das mais populares peças do gênio polonês.
Com o Fernando Borer, veio a canção de 1957 do filme “The Joker is Wild” (“Chorei por você”):
-”All The Way”, que Frank Sinatra tornou definitiva. A orquestra que o acompanha é de Nelson Riddle.”
O filme é alusivo à vida do comediante e cantor, atração das casas noturnas, Joe E. Lewis.  Na biografia do Frank Sinatra, que foi o protagonista do filme e exigiu que todas as cenas musicais fossem ao vivo, ele escreveu:
-”Quando eu apresento um número e alguém tosse, eu gosto. Gosto do barulho do arrastar das cadeiras. Você pega o sentimento que envolve a atmosfera do lugar. Eu sempre achei que Lewis era um dos quatro ou cinco maiores artistas deste século, outro deles era Al Jolson...”
Cabia agora ao Sérgio Fortes apresentar a próxima atração.
-Vamos ouvir o baixo-barítono galês Bryn Terfel no “Camelot”, de Alan Jay Lerner e Frederick Loewe, musical de 1967.
Outra voz privilegiada, presença frequente no seu programa de dez anos atrás, “As Melhores Vozes do Mundo.”
Foi lembrado por Fernando Borer a citar maestro e orquestra:
-Regente Paul Daniel, English Northern Phylharmonia.
Depois, Jonas Vieira nomeou mais uma das suas saudades: Dolores Duran. A música interpretada por ela foi composta por João do Vale e Luiz Vieira, “Na Asa do Vento”.
O “demorado abraço” de todos os domingos do Jonas Vieira encerrou mais um Rádio Memória.



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