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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

2518 - fiu, fi-fi-fi, fi-fiu



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4318                       Data: 26   de novembro  de 2013
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ASSOBIOS NA MANHÃ

Jonas Vieira deu início aos trabalhos do Rádio Memória, depois de saudar os ouvintes e seu parceiro, anunciando algo extraordinário...
-Incrível, Fantástico, Extraordinário. - aludiu Sérgio Fortes ao macabro programa da Rádio Tupi criado pelo Almirante.
Enquanto o Jonas Vieira concluía informando que o Simon Khoury participaria também, eu me recordava que, lá em casa, nós fomos ouvintes assíduos do “Incrível, Fantástico, Extraordinário” até que passamos a escutar pedradas no nosso telhado durante a dramatização dos casos macabros desse programa.  Os espíritos ficavam assanhados?... Não sabemos, na dúvida, meu pai  deu a ordem que o rádio fosse desligado,  e as pedras pararam de chover sobre nós.
Simon Khoury, depois de dizer um rotundo NÃO ao que julgou ser uma cantada do Jonas Vieira (excessos de elogios a ele), deixou o ouvinte ciente que obtivera gravações de cento e vinte e oito belíssimas músicas assobiadas.
Agora, eu era conduzido a um documentário que vi na TV a cabo, e gravei, uns dez anos atrás, sobre o Concurso Internacional de Assobio, em Louisburg, Carolina do Norte. Espetacular, quase tão instigante quanto um concurso internacional de piano; infelizmente, copiado por mim em fita VHS, não durou muito. Outra lembrança que me veio à mente foi de um desenho do Charles Brown quando, num momento de terrível tensão, Woodstock, o passarinho do Snoopy, assovia magistralmente “Oh mio babbino caro” para Bete Pimentinha patinar no gelo e tudo se harmonizou.
Depois da primeira audição assoviada, Sérgio Fortes compara esse som emitido pelos lábios com a flauta doce. Ele não se reportou à ópera Mefistófeles, de Arrigo Boito, em que a o demo assovia em algumas cenas; som, que eu julgo, é tirado com o arco do violino, tocando as cordas pelo lado do avesso. Com a palavra o Luzer, violinista da OSB.
A música seguinte era do filme “Cúmplice”, que teve como um dos atores Gerard Depardieu:
-Ele fez xixi no avião e foi aplaudido pelo seu bilau de princesa. - disse o Simon Khoury antes de entrar a música do filme cuja resenha ficou a cargo do Sérgio Fortes.
Depois, Jonas Vieira se referiu ao Garoto Assobiador, dos anos 50, que tinha um programa na Rádio Nacional em que os ouvintes tinham de adivinhar a música que ele assobiava. Chamava-se Sílvio Silva, que gostava mesmo era de cantar, mas o mercado o levou a gravar discos de assovios pela Odeon, “Uma voz e um assobio dentro da noite”.
Enveredaram, generosamente, pelo Biscoito Molhado, e nos felicitaram pelo sucesso que nosso periódico vem obtendo. Nós só temos a dizer isso: “Te cuida, Paulo Coelho”.
Passava-se agora para o “Samba do Assovio”, de Luiz Bonfá. Antes, Simon Khoury ressaltou o extremo sucesso que “Manhã de Carnaval” alcança no exterior, rivalizando com “Garota de Ipanema” e outros êxitos obtidos por compositores brasileiros, mormente Tom Jobim.
Vale assinalar também que Placido Domingo cantou “Manhã de Carnaval” e, posteriormente, foi seguido por Luciano Pavarotti.
Como a maioria das músicas era de películas, Sérgio Fortes passou a ler mais uma sinopse, agora, de “O Pequeno Nicolau”, de 2010, que alcançou grande sucesso.
Depois do sopro melódico, Jonas Vieira partiu para o tema plágio.
-”Love Story é uma música nossa...
-Francis Lai assina. - interveio o Simon Khoury.
-Ele é um grande compositor, mas o tema musical de “Love Story” foi tirado do “Ontem ao Luar”, do Catulo da Paixão Cearense (também do Pedro Alcantâra).
Como Catulo da Paixão Cearense andou roubando composições de João Pernambuco, tratava-se de mais um caso de ladrão roubando ladrão. - pensei cá comigo.
-Pode ser sem querer. - contemporizou o convidado do Rádio Memória.
-Mas é muita coincidência. - frisou o Jonas Vieira.
-Tom Jobim não esconde: ele compôs “Insensatez” calcado no Prelúdio nº 4 opus 28 de Chopin
E acrescentou o Simon Khoury:
-Nos Estados Unidos, “Insensatez” é anunciado como uma adaptação do Prelúdio nº 4 de Chopin.
Não foi citado o “Samba em Prelúdio”, do Baden Powell, que guarda incrível semelhança com o Prelúdio da Bachiana nº 4, de Villa Lobos, porque, provavelmente, o tempo para a próxima atração musical era pequeno.
Jonas Vieira falou da fita chilena “Morir um poco”, mas logo foi aparteado por um gozador Simon Khoury:
-Como?!... “Morir um porco”?
-Eu não disse isso. - defendeu-se o Jonas com decisão.
-E eles são amigos há cinquenta anos. - observou o mordaz Sérgio Fortes.
-A música assobiada “Tomorrow is Love”, de Hugo Montenegro, aquietou todos.
Então, o Jonas Vieira trouxe à baila o que afirmara no domingo passado, que o Flamengo era um clube de ricos, argumentando, agora, com a venda de todos os ingressos (44 mil), cujo preço médio foi mais de 110 reais, para a final desse clube com o Atlético Paranaense na quarta-feira, dia 27 de novembro.
Para nós, botafoguenses isentos, a grande maioria da torcida rubro-negra, aquela do Maracanã de 180 mil torcedores, ficou de fora da festa.
Simon Khoury, num dos seus raros momentos de seriedade, afirmou que perdeu o gosto pelo futebol depois que o mesmo se tornou um comércio. Concordamos com ele, acrescentando que outro motivo da nossa decepção foi a violência das torcidas. Não há mais aficionados como Jaime de Carvalho, Tarzan, Dulce Rosalina, Ramalho da corneta de mamona, Juarez e Gravatinha.
E veio a Pausa para a Meditação com o tema “O que é a feiura”.
Após a meditação e os reclames comerciais, Simon Khoury fez alguns aditivos ao assunto meditado:
-Para a mamãe, eu me parecia com o Tyrone Power, fiquei parecido com o Tony Curtis, depois, com o Ary Fontoura e, agora, com o Jonas Vieira.
E entrou a voz do Sérgio Fortes falando da música tema do “Arquivo X”, seriado que, segundo ele, foi ao ar, na televisão, de 1993 a 2002.
Depois, Sérgio Fortes proclamou uma surpresa: a ária “Caro Nome”, do Rigoletto, de Verdi, transformada em “Whistle Gilda.”
Bem, esse “Caro Nome” começa com um rataplã que se assemelha à ”Força do Destino”, até que a música se torna uma marcha, num coral de assobios, indo para o cacete, assim, a melodia de uma apaixonada iludida.
Agora, era o Jonas Vieira que apresentava uma criação de Henry Mancini para o filme “Um Clarão nas Trevas”.
-Vejam como Mancini expressa o medo. - alertou o Simon Khoury.
Sim, mesmo Hitchcock aplaudiria a maestria do compositor e arranjador em retratar o medo e o suspense em notas musicais.
-Obra-prima. - exultou o Jonas Vieira. 
E veio a Pausa para a Filosofia, pois os dois amigos de muitas décadas passaram a filosofar sobre a verdade. Antes que citassem Orson Welles, que disse que a maior questão do nosso tempo é a pergunta que Pilatos fez a Cristo e não foi respondida - “O que é a verdade?” - eles passaram para a próxima atração musical.
-Da Alemanha, surgiram Bert Kaempfert, Werner Muller e Helmut Zacharias. Dos êxitos de Helmut Zacharias, maestro e grande violinista, destacamos “O Assoviador e seu Totó”. - anunciou o Sérgio Fortes.
E ouvimos latidos, solos de violino e assovios de uma música humorística em que faltaram apenas duas notas: fiu fiu.
-E agora? - apressou-o o Jonas Vieira.
E Sérgio Fortes anunciou um clássico, o tema musical “Por Um Punhado de Dólares”.
Depois de uma pequena divergência daqueles que nutrem uma amizade de 50 anos sobre o primeiro som emitido pelo homem, assobio ou flato, o titular do programa apresentou uma criação, de 1944, do seu ídolo (meu também), Duke Ellington: “I'm Beginning to See the Light”. 
E esse foi o último assovio do Rádio Memória de domingo.
Muito bom.

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