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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4318 Data: 26 de novembro
de 2013
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ASSOBIOS NA MANHÃ
Jonas Vieira deu início
aos trabalhos do Rádio Memória, depois de saudar os ouvintes e seu parceiro,
anunciando algo extraordinário...
-Incrível, Fantástico,
Extraordinário. - aludiu Sérgio Fortes ao macabro programa da Rádio Tupi criado
pelo Almirante.
Enquanto o Jonas Vieira
concluía informando que o Simon Khoury participaria também, eu me recordava
que, lá em casa, nós fomos ouvintes assíduos do “Incrível, Fantástico,
Extraordinário” até que passamos a escutar pedradas no nosso telhado durante a
dramatização dos casos macabros desse programa.
Os espíritos ficavam assanhados?... Não sabemos, na dúvida, meu pai deu a ordem que o rádio fosse desligado, e as pedras pararam de chover sobre nós.
Simon Khoury, depois de
dizer um rotundo NÃO ao que julgou ser uma cantada do Jonas Vieira (excessos de
elogios a ele), deixou o ouvinte ciente que obtivera gravações de cento e vinte
e oito belíssimas músicas assobiadas.
Agora, eu era conduzido
a um documentário que vi na TV a cabo, e gravei, uns dez anos atrás, sobre o
Concurso Internacional de Assobio, em Louisburg, Carolina do Norte.
Espetacular, quase tão instigante quanto um concurso internacional de piano; infelizmente,
copiado por mim em fita VHS, não durou muito. Outra lembrança que me veio à
mente foi de um desenho do Charles Brown quando, num momento de terrível
tensão, Woodstock, o passarinho do Snoopy, assovia magistralmente “Oh mio
babbino caro” para Bete Pimentinha patinar no gelo e tudo se harmonizou.
Depois da primeira
audição assoviada, Sérgio Fortes compara esse som emitido pelos lábios com a
flauta doce. Ele não se reportou à ópera Mefistófeles, de Arrigo Boito, em que
a o demo assovia em algumas cenas; som, que eu julgo, é tirado com o arco do
violino, tocando as cordas pelo lado do avesso. Com a palavra o Luzer,
violinista da OSB.
A música seguinte era
do filme “Cúmplice”, que teve como um dos atores Gerard Depardieu:
-Ele fez xixi no avião
e foi aplaudido pelo seu bilau de princesa. - disse o Simon Khoury antes de
entrar a música do filme cuja resenha ficou a cargo do Sérgio Fortes.
Depois, Jonas Vieira se
referiu ao Garoto Assobiador, dos anos 50, que tinha um programa na Rádio
Nacional em que os ouvintes tinham de adivinhar a música que ele assobiava.
Chamava-se Sílvio Silva, que gostava mesmo era de cantar, mas o mercado o levou
a gravar discos de assovios pela Odeon, “Uma voz e um assobio dentro da noite”.
Enveredaram,
generosamente, pelo Biscoito Molhado, e nos felicitaram pelo sucesso que nosso
periódico vem obtendo. Nós só temos a dizer isso: “Te cuida, Paulo Coelho”.
Passava-se agora para o
“Samba do Assovio”, de Luiz Bonfá. Antes, Simon Khoury ressaltou o extremo
sucesso que “Manhã de Carnaval” alcança no exterior, rivalizando com “Garota de
Ipanema” e outros êxitos obtidos por compositores brasileiros, mormente Tom
Jobim.
Vale assinalar também
que Placido Domingo cantou “Manhã de Carnaval” e, posteriormente, foi seguido
por Luciano Pavarotti.
Como a maioria das
músicas era de películas, Sérgio Fortes passou a ler mais uma sinopse, agora,
de “O Pequeno Nicolau”, de 2010, que alcançou grande sucesso.
Depois do sopro
melódico, Jonas Vieira partiu para o tema plágio.
-”Love Story é uma
música nossa...
-Francis Lai assina. -
interveio o Simon Khoury.
-Ele é um grande
compositor, mas o tema musical de “Love Story” foi tirado do “Ontem ao Luar”,
do Catulo da Paixão Cearense (também do Pedro Alcantâra).
Como Catulo da Paixão
Cearense andou roubando composições de João Pernambuco, tratava-se de mais um
caso de ladrão roubando ladrão. - pensei cá comigo.
-Pode ser sem querer. -
contemporizou o convidado do Rádio Memória.
-Mas é muita coincidência.
- frisou o Jonas Vieira.
-Tom Jobim não esconde:
ele compôs “Insensatez” calcado no Prelúdio nº 4 opus 28 de Chopin
E acrescentou o Simon
Khoury:
-Nos Estados Unidos,
“Insensatez” é anunciado como uma adaptação do Prelúdio nº 4 de Chopin.
Não foi citado o
“Samba em Prelúdio”, do Baden Powell, que guarda incrível semelhança com o
Prelúdio da Bachiana nº 4, de Villa Lobos, porque, provavelmente, o tempo para
a próxima atração musical era pequeno.
Jonas Vieira falou da
fita chilena “Morir um poco”, mas logo foi aparteado por um gozador Simon
Khoury:
-Como?!... “Morir um
porco”?
-Eu não disse isso. -
defendeu-se o Jonas com decisão.
-E eles são amigos há
cinquenta anos. - observou o mordaz Sérgio Fortes.
-A música assobiada
“Tomorrow is Love”, de Hugo Montenegro, aquietou todos.
Então, o Jonas Vieira
trouxe à baila o que afirmara no domingo passado, que o Flamengo era um clube
de ricos, argumentando, agora, com a venda de todos os ingressos (44 mil), cujo
preço médio foi mais de 110 reais, para a final desse clube com o Atlético
Paranaense na quarta-feira, dia 27 de novembro.
Para nós,
botafoguenses isentos, a grande maioria da torcida rubro-negra, aquela do
Maracanã de 180 mil torcedores, ficou de fora da festa.
Simon Khoury, num dos
seus raros momentos de seriedade, afirmou que perdeu o gosto pelo futebol
depois que o mesmo se tornou um comércio. Concordamos com ele, acrescentando
que outro motivo da nossa decepção foi a violência das torcidas. Não há mais
aficionados como Jaime de Carvalho, Tarzan, Dulce Rosalina, Ramalho da corneta
de mamona, Juarez e Gravatinha.
E veio a Pausa para a
Meditação com o tema “O que é a feiura”.
Após a meditação e os
reclames comerciais, Simon Khoury fez alguns aditivos ao assunto meditado:
-Para a mamãe, eu me
parecia com o Tyrone Power, fiquei parecido com o Tony Curtis, depois, com o
Ary Fontoura e, agora, com o Jonas Vieira.
E entrou a voz do
Sérgio Fortes falando da música tema do “Arquivo X”, seriado que, segundo ele,
foi ao ar, na televisão, de 1993 a 2002.
Depois, Sérgio Fortes
proclamou uma surpresa: a ária “Caro Nome”, do Rigoletto, de Verdi,
transformada em “Whistle Gilda.”
Bem, esse “Caro Nome”
começa com um rataplã que se assemelha à ”Força do Destino”, até que a música
se torna uma marcha, num coral de assobios, indo para o cacete, assim, a
melodia de uma apaixonada iludida.
Agora, era o Jonas
Vieira que apresentava uma criação de Henry Mancini para o filme “Um Clarão nas
Trevas”.
-Vejam como Mancini
expressa o medo. - alertou o Simon Khoury.
Sim, mesmo Hitchcock
aplaudiria a maestria do compositor e arranjador em retratar o medo e o
suspense em notas musicais.
-Obra-prima. - exultou
o Jonas Vieira.
E veio a Pausa para a
Filosofia, pois os dois amigos de muitas décadas passaram a filosofar sobre a
verdade. Antes que citassem Orson Welles, que disse que a maior questão do
nosso tempo é a pergunta que Pilatos fez a Cristo e não foi respondida - “O que
é a verdade?” - eles passaram para a próxima atração musical.
-Da Alemanha, surgiram
Bert Kaempfert, Werner Muller e Helmut Zacharias. Dos êxitos de Helmut
Zacharias, maestro e grande violinista, destacamos “O Assoviador e seu Totó”. -
anunciou o Sérgio Fortes.
E ouvimos latidos,
solos de violino e assovios de uma música humorística em que faltaram apenas
duas notas: fiu fiu.
-E agora? - apressou-o
o Jonas Vieira.
E Sérgio Fortes
anunciou um clássico, o tema musical “Por Um Punhado de Dólares”.
Depois de uma pequena
divergência daqueles que nutrem uma amizade de 50 anos sobre o primeiro som
emitido pelo homem, assobio ou flato, o titular do programa apresentou uma
criação, de 1944, do seu ídolo (meu também), Duke Ellington: “I'm Beginning to
See the Light”.
E esse foi o último
assovio do Rádio Memória de domingo.
Muito bom.
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