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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4206 Data: 11 de
Junho de 2013
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A TAMOIO NA ROQUETTE PINTO
PARTE I
“Bom dia, senhores ouvintes...”
Ao ouvir a voz do Dieckmann anunciando
o início do Rádio Memória desse domingo, não tive dúvidas: deu uma espécie de
golpe de estado e tomou o governo. Não estava sozinho, contou com a ajuda do
José Maurício que, até então, se limitava a ler as crônicas do Fernando Milfont,
na pausa para meditação. O Sérgio Fortes até previra a intenção do Dieckmann
quando disse que ele, já na primeira vez que lá fora como convidado, tentou
assumir o programa.
Os dois golpistas tentaram enganar os
ouvintes, informando que o Sérgio Fortes viajara para Porto Alegre atrás de
cerveja e que o Jonas Vieira estava com problemas de intestino. Eles, na certa,
se encontram presos, incomunicáveis e o Estúdio Jonas Vieira se chama, agora,
Estúdio Dieckmann, com candelas e tudo.
Para mostrar que tudo passaria a ser
diferente, transformaram a Rádio Roquette Pinto em Rádio Tamoio, com o
mérito de não deixarem de incorporar o passado no presente. Cabia ao José
Maurício discorrer sobre os programas da extinta rádio, em que trabalhou e ao Dieckmann falar como ouvinte assíduo dessa emissora.
Evidentemente que ele não se reteve só nisso.
-A Tamoio quebrou um paradigma, arejou
sobejamente a rádio musical.
Às palavras do Dieckmann, José Maurício
informou que o Peter, encarregado de pôr no ar as gravações, estava nas
carrapetas.
-Carrapetas, hoje é deslizante ou outro
nome... - acrescentou.
Em seguida, entrou no assunto Rádio
Tamoio, com mais objetividade, anunciando o programa de domingo à noite, 19
horas, “Boa Noite, Mister Long Playing.” O prefixo era a gravação com a
orquestra de Ray Conniff, The Way you Look Tonight, que nós
escutamos, naquela manhã dominical, depois que o Peter acionou as carrapetas ou
deslizantes, não sabemos.
-Não havia adolescente que não
sintonizasse a Rádio Tamoio. - vibrava o Dieckmann.
-Sérgio Fortes – prosseguiu – viajou
para Porto Alegre, seguindo a minha indicação; foi para o Ponto da Cerveja,
onde fica a Sala Dieckmann.
Sala, estúdio... No seu tempo de
Departamento de Marinha Mercante, criou o Fumódromo Dieckmann, embora só
tivesse fumado lá apenas uma vez, um charuto cubano, quando o seu primeiro neto
nasceu.
José Maurício anunciava agora o
programa “Músicas na Berlinda”. E o prefixo Wedding in Monaco, com a
orquestra de Ray Block, foi ao ar.
-É uma verdadeira operação resgate que
nós estamos fazendo.
Eis uma palavra que o Sérgio Fortes já
frisou que não gosta, quando é usado no sentido de recordação, por considerá-la
inexata, um clichê tão usado atualmente, mas quem mandava agora era o
Dieckmann.
E a operação resgate continuou:
-A Rádio Tamoio, a Rádio Tupi e a TV
Tupi, muitos não sabem, pertenceram aos Diários Associados.
-Isso.
-No mesmo prédio...
Nesse momento, José Maurício interveio:
-As Rádios Tamoio e Tupi sim, ficavam
no mesmo prédio, já a TV Tupi ficava na Urca. Futuramente, a imensa discoteca
da Tamoio foi para o local da TV Tupi. Aquilo era um Maracanã cheinho (sic) de
discos de 10 polegadas
de 78 e 33 rotações por minuto, de 11 polegadas... Não podia haver um arranhão
neles, se houvesse, voltavam ao fabricante.
Para que tudo não ficasse voltado para
a extinta estação de rádio, foi combinado que Dieckmann solicitaria uma e outra
música, e ele pediu, primeiramente, uma marcha do carnaval de 1940: “Aurora”,
de Mário Lago recomendada pelo amigo César Campello.
-A gravação que eu trouxe é com a dupla
Joel e Gaúcho.
E não perdeu a piada:
-Essa dupla é parecida com a outra, Jonas
Vieira e Sérgio Fortes; fazem tudo juntos, até faltam juntos...
Depois, eles traçaram o perfil
psicológico da Aurora.
-Ela poderia ter “madame” antes do
nome... Ar refrigerado!... - ressaltou o Dieckmann as mordomias que Aurora
desprezou para não ser sincera.
-Ar refrigerado em 1940?!...-
mostrou-se dubitativo o José Maurício.
Bem, o calor de janeiro deste ano foi
tão chamuscante, que procurei saber o nome daquele que merecia meus
agradecimentos efusivos e descobri: Willis Carrier, ele inventou o ar
condicionado em 1902. Como o modelo
econômico do Brasil foi retrógrado por décadas e mais décadas, foram poucas as
importações e, por isso, 38 anos depois, o ar condicionado era ainda artigo de
luxo por aqui.
E a programação da Rádio Tamoio voltou,
agora com “Revista Norte-Americana”, programa vespertino de 2ª a 6ª feira. O
prefixo era Música Pan Americana, com a orquestra de Charlie
Burnie.
Em seguida, outro programa, “Bom Mesmo
é Música”. Ouvimos, assim, o prefixo The Strings of my Heart, com o
trompetista Les Elgart e a sua orquestra dançante, Zing Went que, numa tradução
livre do alemão para o português, significa “Fui eletrizado!”. José Maurício
perguntou se a Branca dançou muito com The Strings of my Heart.
-O balanço é tanto, que ela deve ter
rebolado muito. - respondeu.
Depois desse comentário, Dieckmann se
recuperou com o pedido que, para mim, foi o melhor desse domingo sem os
titulares do Rádio Memória: “Chovendo na Roseira”, de Tom Jobim, com o sexteto
BR6, que canta a capela.
-Pertence à Bossa Nova, mas, eu diria
que não é bem Bossa Nova.
De fato, é a composição de Antônio
Carlos Jobim em que ele está mais impregnado da influência de Claude Debussy.
Uma jóia elaborada por notas musicais e palavras.
O sexteto foi tão competente na difícil
missão de interpretá-la, sem ajuda de instrumentos, que Dieckmann nomeou um por
um: Crismarie Hackenberg, Deco Fiori, Marcelo Caldi, Auguste Ordine, Simô e
Naife Simões.
Chegou, então, a “Pausa para
Meditação”, crônica de Fernando Milfond na empostada voz do José Maurício.
-Pausa para meditação como sói
acontecer, diz sempre o Sérgio Fortes. - gracejou o Dieckmann.
O tema a ser meditado era a Teoria da
Relatividade. O próprio Einstein dissera que depois de os matemáticos
explicarem a sua teoria, ele não entendeu mais a sua descoberta. Se Einstein considerou as fórmulas
mirabolantes, imaginem eu. No entanto, na crônica de Fernando Milfont, tudo
parecia simples; era uma espécie de “Tudo o que você gostaria de saber sobre a
Teoria da Relatividade e tinha vergonha de perguntar.”
E o término da crônica, e de qualquer
outra coisa, foi a bomba atômica, porque Einstein demonstrou que a energia é
igual à massa multiplicada pela velocidade da luz ao quadrado: E=MC².
-Sérgio Fortes tem uma excelente piada
com a bomba atômica. Ele contará, quando voltar.
Certamente era humor negro.
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