O BISCOITO MOLHADO
Edição 4200 Data: 02 de
Junho de 2013
MENSAGENS ELETRÔNICAS ENVIADAS E COMENTADAS
Enviaram-me um e-mail, intitulado
Ricardão, com um vídeo em que o dito cujo desce por uma “teresa” do segundo
andar de um prédio em São
Paulo, onde, na varanda, marido enganado de mulher infiel
discute e o Corpo de Bombeiros espera para agir. Uma pequena multidão a tudo
assiste com gritos e apupos.
A mocidade de hoje, em sua grande
maioria, aponta alguém como Ricardão, mas não sabe que o nome surgiu de um
programa humorístico, “Balança, mas não cai”, criado por Haroldo Barbosa e Max
Nunes. Ricardão era o consolo do “Primo Pobre” pois, enquanto sua mulher,
“Fomizelda”, era fiel, a do “Primo Rico” aprontava mil peripécias com o
“Ricardão”, sob o nariz do marido ingênuo.
“Teresa” é um amarrado de lençóis, que
substitui a corda na falta da mesma, é uma gíria criada nos presídios, o calão
dos presos. O Ricardão do vídeo foi, provavelmente, trancado no quarto pelo
marido traído e, por isso, o jeito que encontrou para sair dali foi amarrar os
lençóis, que alguém dado a literatices diria, “ainda quentes do pecado” e
descer por essa corda improvisada até a
rua. Desceu de cuecas, pois se vê o traído atirando as suas roupas pela
varanda. Para tornar a cena ainda mais grotesca, o fugitivo vestia apenas uma
cueca samba-canção, mas fosse zorbinha e a bufonaria da cena não seria menor.
Para Nélson Rodrigues, não bastaria o
marido atirar as roupas do seu rival pela janela e gritar com a infiel, o
desfecho teria de ser como nas óperas veristas italianas, com um ou dois corpos
ensaguentados. A própria plateia, que também tinha atuação marcante, contribuía
para o clima de pornochanchada ou de comédias do Lando Buzzanca.
-Corno. - gritaram.
-Tarado.
A mulher, pelo que vi e ouvi, foi
poupada dos gritos da multidão.
Houve um coro de “Pula”, quando não
havia mais metros de tereza para ele descer e puser o pé no chão. Escutam-se,
então, gritinhos femininos do público, pois, se ele seguisse o sádico pedido,
se arrebentaria no chão. Foi a vez, então, dos bombeiros agirem, pegaram a cama
elástica, colocaram-na de modo que a queda do sujeito fosse aparada.
A operação resgate alcançou pleno êxito.
Houve aplausos, uns para os bombeiros, outros para o Ricardão. Este, já no meio
da plateia, também foi apupado. Exibindo uma barriga de quem esvazia garrafas
de cerveja, gesticulou pleno de razão contra o rival, que ainda discutia com a
mulher, e contra aqueles que o vaiavam.
-Será que algum gaiato levou-lhe as calças? O vídeo
não mostra isso, contudo o local da traição está por demais evidente. Os dois,
mesmo que permaneçam juntos, devem estar, a esta hora, procurando novo
apartamento.
Há alguns anos, recebi uma mensagem eletrônica
em que aparece a TV Excelsior. Ela desapareceu no meio dos milhares de arquivos
que estão no meu computador e nunca mais a encontrei. Eis que nessa semana, com
o nome de “Presente do Passado”, Dieckmann me envia uma série de fotografias de
tempos idos e lá estava o prédio da TV Excelsior. Eu não podia perder essa oportunidade, tinha
de mostrá-la ao meu irmão que, quando jovem, lá trabalhou. Como ele é avesso ao
computador, eu teria de atraí-lo para frente de um, no caso, o do seu filho,
Daniel.
Assim, no feriado de Corpus Christi,
disse-lhe que tinha algo que ele não poderia deixar de ver, enviado por um
amigo. Não foi apenas ele que ficou diante do monitor de vídeo, a Gina também.
Quando acessei o “Presente do Passado” e as fotografias começaram a surgir, as
reminiscências dos dois afloraram, a minha também.
-Eis o Lido I – indiquei.
-Lembra-se Claudio, quando namorávamos,
que você achou um guarda-chuva quando as luzes do cinema se acenderam?
-A chuva lá fora fez a dona se lembrar,
mas já era tarde, eu não queria me molhar.
-Você disse, na época, que não queria
que eu me molhasse.
-Eu não recordo dessa parte. - afirmou.
-Este aqui é o Metro Copacabana.
-Fui muito a esse cinema com o Dudu, que
morou desde pequeno na Rua Prado Júnior. - referiu-se ele ao nosso primo
predileto, já falecido.
-O Filme em cartaz é “A Violentada”, que
eu não assisti, mas você, sim.
-E prossegui:
-Mesmo não tendo assistido, lembrava-me
da Margaux Hemingway.
-Outra neta do Hemingway também
trabalha...
-Bem, Claudio, só aparecem os nomes no
cartaz da Margaux, da Ann Bancroft e da Chris Sarandon.
Passei para outra foto.
-A Sears. - manifestou-se a Gina.
-Gostava de ir lá fazer compras, pena
que o dinheiro na bolsa era pouco.
-Não sei se a Sears era shopping, mesmo
que fosse, o primeiro do Brasil foi o Shopping do Méier. - falou mais alto o
bairrismo do meu irmão.
-Agora, o Cine Paissandu.
-Nunca fui lá, eu não sofria de afetação
intelectual.
-Nem eu. - corroborou a Gina as palavras
do marido.
-O mais perto que cheguei do Paissandu
foi em 1979, quando fiz um curso de Comércio Exterior no Instituto Bennett, e
esperava o ônibus para ir ao Centro na frente do cinema.
Enfim, chegamos ao prédio da TV
Excelsior.
-Era, antes, o Cinema Astória. -
observou meu irmão.
-Quantas vezes frequentei a TV
Excelsior!... Vi Chacrinha, Os Trapalhões, Dercy Beaucoup, Eliana...
-Que Eliana era essa?- interrompi a
Gina.
-A Eliana Pittman. - respondeu-me.
-Os Trapalhões começaram com Renato
Aragão, Ted Boy Marino, Vanusa e...
-Ivon Curi. - refrescou-me o Claudio a
memória.
-Papai não gostava desse programa porque
você levava pés no peito do Ted Boy Marino.
-Ele só acertava um de nós e todos caíam
como no dominó.
-Lembra-se do Isaque (irmão do nosso
cunhado), que trabalhava na novela “A Ilha do Tesouro”, baseada no romance infanto-juvenil
do Robert Louis Stevenson?
-O que tem?...
-Ele era um dos que cavavam a terra
,quando entrou o comercial Na hora em que a câmera voltou a mostrar a cena,
estavam todos descansando, alguém deve ter acenado porque eles voltaram
correndo para a pá.
-Era tudo feito ao vivo. - disse a Gina.
E surgiu no monitor de vídeo a TV Globo.
-Ficava na General San Martin, muitos de
nós da Excelsior, trabalhávamos na Globo. O humorístico “Bairro Feliz” era
feito por atores da Excelsior.
-Até que houve o acordo com o grupo
Time-Life e a TV Globo se tornou uma potência. - aparteei meu irmão.
-A ditadura militar ajudou a TV do
Roberto Marinho, enquanto acabava com o Panair do Brasil e, consequentemente,
com a TV Excelsior. - esbravejou indignado.
-Há uma foto de um avião da Panair do
Brasil.
-Mario Wallace Simonsen não agradava os
militares, por isso acabaram com tudo o que lhe pertencia.
Compreendi inteiramente a indignação do
Cláudio e completei:
-Anos de chumbo, mas que não apagaram as
boas lembranças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário