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terça-feira, 11 de junho de 2013

2396 - inspiração popular, a burrice


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4196                                  Data:  28 de  Maio de 2013
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FRASES E COMENTÁRIOS

Senti que estava sintonizado com o infinito e não existe emoção comparável.
A frase é de Brahms sobre a inspiração. Quando o mundo musical julgava que a sinfonia chegara ao nível máximo da criação humana com Beethoven, eis que surge Brahms que, se não igualou o mestre de Bonn, nessa forma de composição, chegou perto, tanto que a sua primeira sinfonia foi chamada de “a décima de Beethoven. Portanto, ninguém mais habilitado para falar sobre a inspiração do que ele.
Handel, quando compôs o oratório Messias, julgou ver o céu aberto diante de si e o próprio Deus. Possuído, transformou a epifania em notas musicais de uma só vez, em apenas um dia. Creio que, nesse caso, publicaram a lenda.
Puccini referiu-se a uma das suas óperas como se tivesse sido ditada por Deus.
Eu acolho com muita atenção e respeito as manifestações desses gênios aqui citados, mas dou mais importância ao trabalho duro para que as grandes obras de arte brotem.
Lembro-me, quando adolescente, que muitas horas da programação eram dedicadas a Villa Lobos, na Rádio Ministério da Educação e Cultura. E ouvi, na voz do próprio Villa Lobos, ele dizer que não havia essa história de deixar o cabelo crescer para esperar a inspiração, que arregaçava as mangas e punha mãos à obra.
Na mesma Rádio MEC, agora num programa mais recente, aludiu-se à visita da inspiração. Nessa toada, Mozart, Beethoven, Bach, entre outros, eram constantemente visitados pelas musas (eu diria que elas moravam com eles), e falaram também dos compositores que receberam poucas visitas das musas. Exemplificaram com Paul Dukas, que foi visitado apenas uma vez e compôs o poema sinfônico “O Aprendiz de Feiticeiro”, baseado numa balada de Goethe, que se tornaria mundialmente popular com Mickey Mouse no filme Fantasia de Walt Disney.  Paul Dukas, vale assinalar, sofria de uma autocrítica feroz, que o fazia rasgar várias das suas composições, além de dedicar muito do seu tempo ao ensino de composição e à crítica musical.
Robert Jourdain, no seu instigante livro que me foi presenteado pela Rosa Grieco, “Música, Cérebro e Êxtase”, transcreveu o seguinte comentário de Igor Stravinsky:
“As ideias habitualmente me ocorrem quando estou compondo... Os não iniciados imaginam que se deve esperar a inspiração para criar. Mas se enganam. Longe de mim dizer que não existe isso que é chamado de inspiração; pelo contrário. Nós a encontramos como força propulsora em todo tipo de atividade humana, não sendo, de forma alguma, peculiar aos artistas. Mas essa força só é colocada em ação através de um esforço e o esforço é o trabalho... O sentido musical não pode ser adquirido ou desenvolvido sem exercício. Em música, como em qualquer outra coisa, a inatividade conduz, aos poucos, à paralisia, à atrofia das  faculdades.”
Se sairmos da música para entrarmos nas outras áreas da criação humana, como o teatro, veremos Shakespeare, que escreveu mais de vinte peças em apenas 51 anos de idade, sem falar nos seus 154 sonetos de antologia.
Balzac, que também viveu 51 anos, trabalhou nos seus romances como se estivesse nas galés.  Deixou um monumento literário.
Para mim é isso: a inspiração vem com o trabalho.


A vantagem de ser inteligente é podemos fingir que somos imbecis, enquanto o contrário é completamente impossível.
Foi o que observou o profícuo cineasta Woody Allen.
Para não sairmos do mundo do cinema, lembro a Hedy Lamarr que, explicando o segredo da sua estonteante beleza, disse que era ficar parada e parecer estúpida “to stand there and look stupid.“
A sua inteligência beirava a genialidade; criou um sistema de comunicações para as Forças Armadas dos Estados Unidos e seu invento foi usado na criação da telefonia celular.
Austríaca, casada pela primeira vez com um fabricante de armas, era carregada pelo marido, que tirava partido da sua beleza, para reuniões com Hitler e outros dirigentes nazistas. E ela se fazia de estúpida, pois se exibisse a sua inteligência faria os demais se sentirem imbecis e perderia seu encanto. Enquanto os nazistas babavam com a beleza da “estúpida”, ela imaginava a possibilidade de se bloquear o sinal contínuo usado para o controle dos mísseis.
Ela fugiu para a América, em 1938, e, em Hollywood, durante décadas, participou de incontáveis filmes, digamos, pouco inteligentes com a sua insuperável beleza.
Morreu em 2000 com 86 anos de idade. Hedwig Eva Maria Kiester, a Hedy Lamarr do cinema, me deve uma visita. Vamos aguardar.

Democracia é a forma de governo em que o povo imagina estar no poder.
Carlos Drummond de Andrade, que simpatizou com o comunismo, quando mais jovem, disse a frase acima. O poeta, na verdade, era um humanista e, no cargo de Chefe de Gabinete de um dos mais importantes ministros, Gustavo Capanema, na época em que os comunistas eram perseguidos pelo governo Getúlio Vargas, os ajudou, como, ao meu ver, auxiliaria as pessoas  de outra ideologia.
Sobre o povo no poder, as observações do anarquista russo, Bakunin, no século XIX, são definitivas.
"Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo.  Quem duvida disso, não conhece a natureza humana."
Aqui, no Brasil, quando o Partido dos Trabalhados chegou ao poder, muitos românticos, que desconhecem a natureza humana, pensaram que finalmente as malfadas elites perderiam os seus privilégios e o povo teria quem os representasse.
Bem, os exemplos de que nada disso aconteceu são inúmeros. Citaremos um exemplo mais recente que se deu numa entrevista com uma das mais poderosas ministras, a da Casa Civil, a Gleisi Hoffmann.
O jornalista Alexandre Garcia lhe perguntou por que a Construtora Camargo Correia edificava obras no exterior merecedoras de elogios de todos, enquanto, no Brasil, muito das suas obras não alcançaram o mesmo padrão de qualidade.
A beleza da ministra não mitigou a sua arrogância quando mandou o jornalista fazer essa pergunta à própria Camargo Correia.
-”Não cabe ao governo fiscalizar essas obras? - devolveu.
Cabe, mas as empreiteiras não são contrariadas, o próprio ícone do Partido dos trabalhadores, Lula, transformou-se em lobista delas.
Povo no poder?... Só rindo.




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