O BISCOITO MOLHADO
Edição 4203 Data: 07 de
Junho de 2013
SOB AS ORDENS DO GENERAL PATTON
Hitler nunca se mostrou tão irado, que até
mesmo sua cadela, que era sempre acariciada por ele, meteu o rabo entre as pernas,
depois de receber um safanão. Eva Braun, quando viu essa cena disse consigo
mesmo que, se Hitler trata assim a Blondi, o que não fará com seus subordinados
e tratou de ficar o mais longe possível do olho do furacão.
Depois de gritar, se esgoelar e xingar
os militares alemães pelo recuo na Rússia e o fracasso na Normandia, ocorrido
três meses antes, exigiu um contra-ataque que abalasse as forças aliadas.
Seu plano era lançar uma arremetida
surpresa sobre as tropas aliadas na Bélgica. O objetivo primordial consistia em
isolar as forças inimigas de sua base de suprimento e capturar o porto de
Antuérpia, que se achava a cerca de 200 km do ponto de partida. O avanço alemão se
daria pelo flanco noroeste através da floresta de Ardenas. Para tanto, foram
organizados quatro exércitos, o 7º, o 5º Panzer, o 6º Panzer SS e o 15º.
Totalizavam 48 divisões empregadas nos estágios iniciais da batalha.
Eu e o Dieckmann nos encontrávamos na
28ª Divisão de Infantaria conversando com alguns soldados americanos sobre as
pernas da Betty Grable e a proximidade do Natal – estávamos no dia 16 de
dezembro de 1944 - quando o terrível som da guerra nos ensurdeceu.
As baixas aliadas foram tamanhas, que
Dieckmann temeu pela própria vida. Lembrei-lhe, como fizera outras vezes nessa
guerra, que ainda não nascemos e, por isso, não poderíamos morrer.
Mas era de assustar: sofremos milhares
de baixas e, no primeiro dia de ofensiva, eles conseguiram abrir uma brecha de 22 km na nossa linha de
frente.
Os aliados mostravam bravura, mas não conseguiam
resistir.
O chefe supremo das forças aliadas na
Europa, o General Eisenhower, no Quartel General, decidiu enviar reforços para
as cidades estratégicas de Bastogne, St Vith e Malmedy e ordenar duas
alternativas para barrar o avanço alemão: minar trechos da estrada e criar
bloqueios estratégicos na rota nazista.
-Olha, Dieckmann: vacas e bois na
estrada.
Mal acabei de falar, e uma pobre
vaquinha foi estraçalhada numa explosão.
-A 1ª Panzer SS está utilizando gado
para limpar os trechos minados da estrada. - explicou.
Dois dias depois da ofensiva, os
principais pontos de resistência já estavam destruídos. Alguns grupos de
soldados americanos se desgarraram de suas unidades.
Na estratégica cidade de Bastogne,
chegou a 101ª Divisão Aerotransportada liderada pelo general Mc Auliffe. Ele
logo tratou de adotar medidas de defesa, pois os alemães não poderiam, de modo
algum, ocupar as sete rodovias e as duas estradas de ferro de lá, seria um
desastre de proporções monumentais: eles teriam acesso aos centros de
comunicações, logísticos e de comando aliado.
Acrescida da 10ª Blindada e do que
restou da 28ª Divisão de Infantaria, eram 18 mil soldados preparados para
defender aquele importante polo rodo-ferroviário.
O confronto foi renhido, mas os alemães
conseguiram romper o flanco e alguns destacamentos aliados tiveram de
recuar. Com o passar das horas, a
situação ficou crítica para as tropas aliadas, estávamos em menor número, além
de necessitarmos de munição, alimentos, suprimentos médicos, cobertores e
combustível.
Chegou, então, ao general Anthony Mc Auliffe,
a proposta do 5º Exército inimigo para que se rendesse.
-Malucos! – foi a resposta do
Comandante.
-Dieckmann, eu julguei que a resposta
dele seria a mesma do general Cambrone na Batalha de Waterloo.
-Conheço bem o Mc Auliffe, ele não é de
falar palavrões. - observou.
De repente, o turbilhão que costuma nos
deslocar no tempo e no espaço, nessas viagens ao passado, nos colocou ao lado
do General Patton, numa reunião do Estado-Maior com o comandante supremo das forças
aliadas na Europa.
-Eisenhower queria saber quem ali se
considerava apto a resgatar as forças aliadas em Bastogne.
-Eu. - vibrou a voz vigorosa do general
Patton.
Houve ceticismo de muitos, pois a
distância das suas tropas até lá era grande, mas ele demonstrava tanta
confiança, que ninguém tentou verbalizar seu pessimismo.
Na véspera de Natal, as coisas ainda
pioraram: as nuvens negras se afastaram, abrindo caminho para a Luftwaffe
atacar. Uma mensagem do General Patton,
já em plena campanha, foi um alento que chegou aos combatentes sitiados:
-“Aos combatentes de Bastogne, Feliz
Natal. Estou a caminho. Mantenham os hunos.”
Eu e Dieckmann seguíamos agora com o 3º
Exército. No início, eu me iludi.
-Dieckmann, agora, nós podemos escutar o
piano do Dave Brubeck.
-Não vai dar; não haverá um minuto para
o lazer, ainda mais com o Patton por perto.
-Reconheço que saí da realidade cruel,
como os poloneses, que enviaram a cavalaria para enfrentar os panzers alemães.
-O General Patton transformou os tanques
Sherman na sua cavalaria. Um tanque desses tem a eficiência de mil cavalos, apesar de serem interiores aos Tiger
e Panther alemães. - assegurou-me o
Dieckmann.
Dave Brubeck nos surpreendeu, pois não
notamos a sua proximidade.
-Ouvi o que vocês falavam. O General, pela sua liderança, pelo seu
conhecimento tático e estratégico, entusiasmou-me de tal maneira que até
esqueço o piano quando estou com uma arma na mão sob o seu comando.
-Entendo; ele acompanha o combate a
pouca distância, o que inflama ainda mais seus liderados. - manifestei-me.
-Patton merece um filme sobre a sua
história.
-Será feito esse filme, Dave. -
disse-lhe o Dieckmann, enquanto o jazzista se afastava correndo para alcançar
seus companheiros que se adiantaram.
-Você ainda tocará com Duke Ellington. -
gritei-lhe sem saber se fui ouvido.
Dieckmann me falava agora em tom
professoral.
-Patton pensa em tudo. Sabe que o
funcionamento do sistema operacional logístico é essencial para o êxito da
campanha. Se não vejamos: um batalhão com 42 tanques Sherman necessita de mais
de 50 mil litros de gasolina para um deslocamento de 260 km, como ocorre agora
com o 3º Exército. Sem falar na munição, que são centenas de milhares de projéteis,
além dos mantimentos.
-Todas as vezes que a força de ataque
estaciona, repõe ao grupo de combate os recursos que faltam. - interferi.
-Isso, quando as colunas aliadas
recomeçam o avanço, já foram municiadas de novo e reabastecidas.
E enfatizou:
-Patton pensa em tudo.
No entanto, a natureza conspirava contra
o General, que não podia perder um segundo; a neve estava alta e o vento e a
chuva fustigante impediam o avanço, sem
falar que a estrada para Bastonge era longa, sinuosa e margeada pela floresta.
Patton convocou o capelão e ordenou que
ele fizesse uma oração aos céus pedindo bom tempo.
A oração foi atendida São Pedro, Patton
condecorou o capelão, enquanto investia sobre o inimigo.
-Nada o deterá, logo as tropas do 3º
Exército resgatarão os soldados sitiados em Bastogne, que terão um Feliz Natal.
- afirmou o Dieckmann.
-Se não pararem o General Patton, ele
chega na jugular do Hitler.
-Não chegará, porque o Eisenhower dá
mais força ao General Montgomery, ainda mais que ele arrumou uma amante inglesa
e faz tudo o que ela pede. - comentou o Dieckmann.
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