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terça-feira, 25 de junho de 2013

2403 - a amante




O BISCOITO MOLHADO
Edição 4203                            Data:  07  de Junho  de 2013


SOB AS ORDENS DO GENERAL PATTON

Hitler nunca se mostrou tão irado, que até mesmo sua cadela, que era sempre acariciada por ele, meteu o rabo entre as pernas, depois de receber um safanão. Eva Braun, quando viu essa cena disse consigo mesmo que, se Hitler trata assim a Blondi, o que não fará com seus subordinados e tratou de ficar o mais longe possível do olho do furacão.
Depois de gritar, se esgoelar e xingar os militares alemães pelo recuo na Rússia e o fracasso na Normandia, ocorrido três meses antes, exigiu um contra-ataque que abalasse as forças aliadas.
Seu plano era lançar uma arremetida surpresa sobre as tropas aliadas na Bélgica. O objetivo primordial consistia em isolar as forças inimigas de sua base de suprimento e capturar o porto de Antuérpia, que se achava a cerca de 200 km do ponto de partida. O avanço alemão se daria pelo flanco noroeste através da floresta de Ardenas. Para tanto, foram organizados quatro exércitos, o 7º, o 5º Panzer, o 6º Panzer SS e o 15º. Totalizavam 48 divisões empregadas nos estágios iniciais da batalha.
Eu e o Dieckmann nos encontrávamos na 28ª Divisão de Infantaria conversando com alguns soldados americanos sobre as pernas da Betty Grable e a proximidade do Natal – estávamos no dia 16 de dezembro de 1944 - quando o terrível som da guerra nos ensurdeceu.
As baixas aliadas foram tamanhas, que Dieckmann temeu pela própria vida. Lembrei-lhe, como fizera outras vezes nessa guerra, que ainda não nascemos e, por isso, não poderíamos morrer.
Mas era de assustar: sofremos milhares de baixas e, no primeiro dia de ofensiva, eles conseguiram abrir uma brecha de 22 km na nossa linha de frente.
Os aliados mostravam bravura, mas não conseguiam resistir.
O chefe supremo das forças aliadas na Europa, o General Eisenhower, no Quartel General, decidiu enviar reforços para as cidades estratégicas de Bastogne, St Vith e Malmedy e ordenar duas alternativas para barrar o avanço alemão: minar trechos da estrada e criar bloqueios estratégicos na rota nazista.
-Olha, Dieckmann: vacas e bois na estrada.
Mal acabei de falar, e uma pobre vaquinha foi estraçalhada numa explosão.
-A 1ª Panzer SS está utilizando gado para limpar os trechos minados da estrada. - explicou.
Dois dias depois da ofensiva, os principais pontos de resistência já estavam destruídos. Alguns grupos de soldados americanos se desgarraram de suas unidades.
Na estratégica cidade de Bastogne, chegou a 101ª Divisão Aerotransportada liderada pelo general Mc Auliffe. Ele logo tratou de adotar medidas de defesa, pois os alemães não poderiam, de modo algum, ocupar as sete rodovias e as duas estradas de ferro de lá, seria um desastre de proporções monumentais: eles teriam acesso aos centros de comunicações, logísticos e de comando aliado.
Acrescida da 10ª Blindada e do que restou da 28ª Divisão de Infantaria, eram 18 mil soldados preparados para defender aquele importante polo rodo-ferroviário.
O confronto foi renhido, mas os alemães conseguiram romper o flanco e alguns destacamentos aliados tiveram de recuar.  Com o passar das horas, a situação ficou crítica para as tropas aliadas, estávamos em menor número, além de necessitarmos de munição, alimentos, suprimentos médicos, cobertores e combustível.
Chegou, então, ao general Anthony Mc Auliffe, a proposta do 5º Exército inimigo para que se rendesse.
-Malucos! – foi a resposta do Comandante.
-Dieckmann, eu julguei que a resposta dele seria a mesma do general Cambrone na Batalha de Waterloo.
-Conheço bem o Mc Auliffe, ele não é de falar palavrões. - observou.
De repente, o turbilhão que costuma nos deslocar no tempo e no espaço, nessas viagens ao passado, nos colocou ao lado do General Patton, numa reunião do Estado-Maior com o comandante supremo das forças aliadas na Europa.
-Eisenhower queria saber quem ali se considerava apto a resgatar as forças aliadas em Bastogne.
-Eu. - vibrou a voz vigorosa do general Patton.
Houve ceticismo de muitos, pois a distância das suas tropas até lá era grande, mas ele demonstrava tanta confiança, que ninguém tentou verbalizar seu pessimismo.
Na véspera de Natal, as coisas ainda pioraram: as nuvens negras se afastaram, abrindo caminho para a Luftwaffe atacar.  Uma mensagem do General Patton, já em plena campanha, foi um alento que chegou aos combatentes sitiados:
-“Aos combatentes de Bastogne, Feliz Natal. Estou a caminho. Mantenham os hunos.”
Eu e Dieckmann seguíamos agora com o 3º Exército. No início, eu me iludi.
-Dieckmann, agora, nós podemos escutar o piano do Dave Brubeck.
-Não vai dar; não haverá um minuto para o lazer, ainda mais com o Patton por perto.
-Reconheço que saí da realidade cruel, como os poloneses, que enviaram a cavalaria para enfrentar os panzers alemães.
-O General Patton transformou os tanques Sherman na sua cavalaria. Um tanque desses tem a eficiência de mil  cavalos, apesar de serem interiores aos Tiger e Panther alemães.  - assegurou-me o Dieckmann.
Dave Brubeck nos surpreendeu, pois não notamos a sua proximidade.
-Ouvi o que vocês falavam.  O General, pela sua liderança, pelo seu conhecimento tático e estratégico, entusiasmou-me de tal maneira que até esqueço o piano quando estou com uma arma na mão sob o seu comando.
-Entendo; ele acompanha o combate a pouca distância, o que inflama ainda mais seus liderados. - manifestei-me.
-Patton merece um filme sobre a sua história.
-Será feito esse filme, Dave. - disse-lhe o Dieckmann, enquanto o jazzista se afastava correndo para alcançar seus companheiros que se adiantaram.
-Você ainda tocará com Duke Ellington. - gritei-lhe sem saber se fui ouvido.
Dieckmann me falava agora em tom professoral.
-Patton pensa em tudo. Sabe que o funcionamento do sistema operacional logístico é essencial para o êxito da campanha. Se não vejamos: um batalhão com 42 tanques Sherman necessita de mais de 50 mil litros de gasolina para um deslocamento de 260 km, como ocorre agora com o 3º Exército. Sem falar na munição, que são centenas de milhares de projéteis, além dos mantimentos.
-Todas as vezes que a força de ataque estaciona, repõe ao grupo de combate os recursos que faltam. - interferi.
-Isso, quando as colunas aliadas recomeçam o avanço, já foram municiadas de novo e reabastecidas.
E enfatizou:
-Patton pensa em tudo.
No entanto, a natureza conspirava contra o General, que não podia perder um segundo; a neve estava alta e o vento e a chuva fustigante  impediam o avanço, sem falar que a estrada para Bastonge era longa, sinuosa e margeada pela floresta.
Patton convocou o capelão e ordenou que ele fizesse uma oração aos céus pedindo bom tempo.
A oração foi atendida São Pedro, Patton condecorou o capelão, enquanto investia sobre o inimigo. 
-Nada o deterá, logo as tropas do 3º Exército resgatarão os soldados sitiados em Bastogne, que terão um Feliz Natal. - afirmou o Dieckmann.
-Se não pararem o General Patton, ele chega na jugular do Hitler.
-Não chegará, porque o Eisenhower dá mais força ao General Montgomery, ainda mais que ele arrumou uma amante inglesa e faz tudo o que ela pede. - comentou o Dieckmann.

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