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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4193 Data: 23 de
Maio de 2013
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FRASES E COMENTÁRIOS
“Existem, sem dúvida, certas coisas
à disposição do operário moderno que até mesmo Luís XIV teria se deleitado em
possuir, caso pudesse obtê-las, como por exemplo, os produtos modernos de
higiene dentária.
A frase acima foi dita por Joseph
Schumpeter, economista austríaco que viveu de 1883 a 1950.
Enquanto Karl Marx viu, na sua bola de
cristal, a destruição do capitalismo pelas suas contradições internas, Joseph
Schumpeter se mostrou mais realista, quando formulou a teoria da “Criação
Destrutiva” do capitalismo. Marx tinha a atenuante de ter vivido na época do
capitalismo selvagem, enquanto Schumpeter já pôde observar os fatos que demonstravam
que esse regime econômico sempre sobrevivia aos piores momentos.
O processo de destruição criadora, como
a viu Schumpeter, é básico para se entender o capitalismo. Isto porque o
impulso fundamental que põe e mantém em funcionamento a máquina capitalista
procede dos novos bens de consumo, dos novos métodos de produção em transporte,
dos novos mercados e das novas formas de organização industrial criadas pela
empresa. Há, então, um processo de mutação, o antigo é destruído e são criados
elementos novos.
Debruçando-nos sobre a sua frase, que
alude à falta de higiene na época do reinado de Luís XIV, vale lembrar que o
Palácio de Versalhes, construído por ele, com 2153 janelas, 67 escadas, 352
chaminés, 700 quartos ,
1250 lareiras e 7000
hectares de parque, não tinha um só vaso sanitário.
Schumpeter não queria, com isso,
realçar apena a falta de higiene dos poderosos da antiga monarquia, e sim o
progresso econômico, através do tempo, que trouxe bens e serviços até mesmo
para as pessoas mais humildes.
Sempre que leio, ou alguém me diz, que
Dom Pedro I, quando viajou nove dias do Rio de Janeiro a Santos e bradou pela Independência do Brasil,
transporto logo essa viagem para os dias de hoje e constato que qualquer
pessoa faz essa viagem em cerca de cinco
horas num ônibus de rodoviária (*). De 1822 até agora, muitas “destruições
criativas”, como observou Schumpeter, ocorreram.
Viva o capitalismo, mas não nos esqueçamos
do que disse Winston Churchill:
“A desvantagem do capitalismo é a desigual
distribuição das riquezas; a vantagem do socialismo é a igual distribuição das
misérias.” Winston Churchill também disse que o pior regime econômico que
existe é o capitalismo, excetuando-se os outros.
Boas memórias não têm preço, porque
nada custam ao nosso bolso, ninguém as pode roubar, e nada no mundo poderia
pagar por elas.
Está com a inteira razão a escritora
Lya Luft quando escreveu a frase acima. Devemos cultivar as boas reminiscências
e deletar as más. Sempre procurar cultivar as lembranças, seja conversando,
como no Sabadoido; seja ouvindo, como no Rádio Memória da Rádio Roquette Pinto,
seja lendo, como na leitura do Globo “Há 50 anos”, para citar alguns exemplos.
Se o computador representa o grande
avanço na área tecnológico, nós, como seres humanos, não devemos ficar
ultrapassados e mostrar que temos um excelente “disco rígido”, ou seja, memória
de longo prazo. Sem descuidar da memória RAM, a de curto prazo.
Citei o Globo “Há 50anos”, agora,
porque tenho acompanhado com grande interesse a fracassada excursão brasileira
de 1963 pelo exterior. Os acontecimentos que entesourei na mente afloram de tal
maneira que parece que leio as notícias mais atuais.
O selecionado brasileiro pisa o solo
europeu e, na primeira partida, é derrotado pelo escrete português por 1 a 0. Estavam frescas ainda as
piadas do José Vasconcellos sobre o futebol lusitano em que Portugal fazia um
gol “sem querer”, depois de levar uma enxurrada da seleção da Áustria, e em que
o goleiro jogava de costas: “Era o Costa Pereira.” E ainda havia o Mateus:
“Matateus matatou a bola e já perdeu...”
Mas o fiasco maior nos aguardava no
jogo seguinte: os bicampeões do mundo apanharam de 5 a 1 da Bélgica, menos mal
pois, no primeiro tempo, já perdíamos de 4 a 0. Mendonça Falcão, o folclórico presidente
da Federação Paulista de Futebol, disse que os “belgicanos” jogaram muito.
Otelo Caçador, que era responsável pela coluna humorística “Penalty”, em O Globo , instituiu o
“Caneco Boa Vista” e afirmou que o nosso escrete merecia ganhá-lo. Meu pai, na ocasião,
concordou plenamente. Foi meu pai, aliás, que me chamara a atenção para o Boa
Vista, um time do interior do Brasil que, no início da década de 60,
patrocinado por um empresário para excursionar fora do país, levou goleadas
homéricas.
Da Bélgica, a seleção foi a França e
conseguiu sua primeira vitória, 3
a 2. Em seguida, fomos para a Holanda nos reencontrarmos
com a derrota, 1 a
0. Contra a Alemanha, o Brasil parecia ter se recuperado, ao vencê-la na cidade
em que ela estava invicta há anos, por 2 a 1.
-“Não adianta, por pior que esteja o
Brasil, a Alemanha é freguesa de barba,
cabelo, bigode.” - comentou meu pai.
Por que se dizia naquele tempo “freguês
de barba, cabelo e bigode”? Talvez o Jonas Vieira ou o Sérgio Fortes expliquem
no programa Rádio Memória.
Voltando ao escrete canarinho, a
vitória em campos alemães acendeu a esperança nos patrioteiros que o Brasil se
vingaria da derrota de 4 a
2 para a Inglaterra, em 1956, no estádio de Wembley. Nada, conseguimos, com
muito sacrifício, um empate de 1
a 1.
Depois, veio outra derrota vexatória,
agora para a Itália, 3 a
0.
Não aprendemos com as derrotas e a
derrocada veio na Copa do Mundo de 1966.
O tempo
transformou essas más memórias em boas e, como escreveu Lya Luft, elas não têm
preço.
Há um exagero no Facebook (não fujo das
boas lembranças apesar de essa rede social ser a coqueluche de hoje em quase
todo o mundo). Lá, encontro amigos meus a quem nunca fui apresentado e que
nunca vi mais gordo ou magro. Mas não era disso de que pretendia falar e sim
dos retratos antigos que lá estão postados por parentes, isto é, de um desses
retratos. Trata-se de uma fotografia nas areias da praia de Copacabana, do
início da década de 60, com a irmã mais velha da minha mãe ladeada por dois dos
seus filhos, Brasílio e Fernando. Como essa rede social permite incontáveis
comentários, muitos se lembraram dessa terrível, em matéria de travessuras,
dupla. Minha irmã escreveu que o pai deles, o Tio Eduardo, tentava
discipliná-los com surras de correia que ele chamava de “fio mágico”, mas em
vão, não havia mágica que os tornassem meninos bem comportados.
Em seguida, escrevi meu comentário.
Citei outra dupla que não ficava muito atrás na arte de “enlouquecer” os
adultos, meus irmãos Cláudio e Lopo. O que os dois aprontaram!... Lembrei que
eles, no casarão da minha avó, em 1959, longe dos olhos da minha mãe, que
lutava pela vida no hospital, ficaram mais endiabrados do que eram. Entre
outras coisas, deram banho no gato, e, quando um dos meus tios foi impedir, a
dupla o recebeu com uma chuva de água de borracha. Meus irmãos gostavam do som
metálico da folha de zinco que separava um casarão do outro e, assim, várias
foram as pedradas e os pontapés que desferiram nela. A vizinha reclamava em
altos brados naturalmente e a minha avó levava as mãos à cabeça em desespero:
-Há vinte anos que conheço a Otília e,
até hoje, nunca briguei com ela.
E não brigou, pois meus irmãos foram
exilados numa casa de outros parentes, na Urca, onde para desespero da minha
mãe, que soube quando já estava recuperada, andaram até em garupa de lambreta.
(*)
Disse o Dieckmann ao Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO: “Obviamente esse
seu redator nunca foi a Santos, partindo da rodoviária do Rio de Janeiro. É
viagem de 7 a
8 horas, porque a travessia pela banlieue de São Paulo é morosa, cheia de
esquinas e congestionamentos. E cai na Anchieta, que ainda poderá acrescentar
incontáveis horas à viagem”. Bom, tirado o galicismo dispensável – que serviu
para evitar a menção a Suzano, Mogi das Cruzes e adjacências – não há porque
duvidar da palavra desse santista-carioca, que ainda acrescentou: “ e nem
pensar em ir pela Rio-Santos, é quebra-molas que não acaba mais”. Como não
existem quebra-molas em nenhum lugar do mundo a não ser no Brasil, ficamos
livres de mais um estrangeirismo do Dieckmann.
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