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quarta-feira, 5 de junho de 2013

2401 - Hortelino vai à guerra


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4201                             Data:  04  de Junho  de 2013
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RÁDIO MEMÓRIA
ANTES TARDE DO QUE NUNCA
1ª PARTE

O início do Rádio Memória desse primeiro domingo de junho deu a impressão que trocaria a música pelo futebol, isso porque o Sérgio Fores, na sua primeira intervenção, confessou que estava combalido por causa da derrota do Fluminense para um time paraguaio (provavelmente falsificado)  há quatro dias. Disse que o futebol brasileiro não anda bem das pernas, e quando se referiu à derrota recente do Vasco da Gama por cinco gols, Jonas Vieira, como bom vascaíno interrompeu o tema futebolístico.
Ora, o titular do programa tinha carradas de razão, pois, sendo o espírito do programa incorporar as coisas boas do passado no presente, Sérgio Fortes teria de citar o Expresso e Expressinho do Vasco, que no treino jogava e no jogo treinava, e de falar em Barbosa, Augusto e Rafanelli, Eli, Danilo e Jorge, Tesourinha, Lelé, Ademir, Ypojucan e Chico. Mas não, seu companheiro de programa lembrou o Vasco de Pedro Ken, Abuda, Tenório e quejandos. Citasse o Botafogo de Nílton Santos, Garrinha, Didi, Amarildo e Zagalo e até eu aceitaria de bom grado a troca da música pelo futebol durante aquela hora de domingo.
-O que vamos ouvir, Sérgio?
Enquanto o Jonas Vieira fazia essa pergunta, eu me surpreendia com o fato de ali não estar um convidado, fosse ele o Dieckmann, o Luzer, a Branca, o Fernando Borer ou outra pessoa, pois os repórteres do Biscoito Molhado colheram a informação que o novo formato do Rádio Memória seria com uma terceira pessoa, ou seja, um ouvinte escolhendo a gravação a ser tocada.
Antes de responder, Sérgio Fortes aludiu ao CD com 150 músicas que recebeu de presente daquele que dá nome ao estúdio da Rádio Roquette Pinto com suas candelas. Seria, certamente, uma caixa de CDs ou um caixote. A música era At Last do filme Orchestra Wives, de George Montgomery...
Nesse momento, Sérgio Fortes pediu para que tudo fosse deletado. A derrota do Fluminense embaralhara os seus pensamentos e ele trocara o protagonista do filme pelo autor da canção. Refeito, prosseguiu:
-Música de Mack Gordon e Harry Warren, os atores de  Orchestra Wives são George Montgomery e Anne Ruthford. A orquestra é de Ray Anthony.
Ao nome de Ray Anthony, todos ficaram encantados, e ele prosseguiu:
-Ray Anthony foi trompetista da orquestra de Glenn Miller, depois, organizou a sua própria.
Como o tempo era escasso, a gravação foi ao ar.  Dispusesse de mais minutos, nosso amigo falaria, provavelmente, que Ray Anthony tocou com Glenn Miller entre 1940 e 1941, quando se alistou na Marinha para lutar contra as forças do eixo. Glenn Miller também participou da guerra com a sua orquestra militar, e tudo acabou tragicamente; o avião em que se encontrava com os seus músicos foi abatido, talvez pelo fogo amigo, sobre o Canal da Mancha.
-Parece que ouvimos Glenn Miller. - manifestou-se o Jonas Vieira depois que soou a última nota de At Last.
Sérgio Fortes concordou e enalteceu os metais, a perícia dos instrumentistas que lidam com os instrumentos de sopro.
Era a vez agora do titular do programa indicar a  próxima atração. Tratava-se de uma parceria do Vinícius de Moraes com o Pixinguinha.  Bem, se nem Bach escapou das letras do Vinícius, não seria o Pixinguinha, por maior que fosse a sua genialidade, que escaparia.
Os dois se uniram para criar a trilha sonora do filme de Alex Viana, “Sol sobre a lama”. A canção solicitada pelo Jonas Vieira era “Mundo Melhor”. Ficamos sabendo, então, (eu, pelo menos) que a primeira a gravá-la foi Elizeth Cardoso. Tratando-se da Elizeth, como foi acentuado, parece que a gravação é definitiva, mas, garantiu o Jonas Vieira, a Elza Soares não ficou atrás, ainda mais que a acompanhava a Orquestra Sinfônica da Petrobras.
-Notem como combinam bem a voz roufenha da Elza Soares com a sinfônica.
E estava ele coberto de razão. 
A bola voltou ao tricolor que me surpreendeu com Mozart. Pode música clássica?- perguntei-me. Em seguida, veio-me à mente o prelúdio da ópera Traviata, de Verdi, pedida pelo Fernando Borer, semanas antes.  O filho do Paulo Fortes (não posso esquecer o grande barítono) queria que se tocasse o minueto do Divertimento K.334.  Altamiro Carrilho gravou essa joia no CD “Clássicos Em Choro”, mas ele pediu outro flautista, um norte irlandês.
-Para não escolher o Altamiro Carrilho, o flautista tem de ser excepcional. - pensei.
E era; pois a gravação foi feita com James Galway que, não foi à toa, recebeu o título de “O Homem da Flauta de Ouro.”
Na vez do Jonas Vieira, foi lembrada a Mireille Mathieu na interpretação de “La Dernière Valse”. Excelente pedida.
Ele, então, enveredou pela biografia daquela que foi considerada a sucessora de Edith Piaf e até recebeu condecoração com a Legion d' Honneur.
-Era filha de um operário que teve 14 filhos.
-Ele faltava muito ao trabalho. - deduziu o Sérgio Fortes maliciosamente.
-Estava sempre comparecendo...
Não ao trabalho, como já foi dito. - acrescentei sem nenhum interlocutor para rir da minha piada.
Jonas Vieira, depois de ser interrompido, prosseguiu com a  biografia da baixinha (sua altura era 1,53 cm).
-Ela nasceu em 1947.
-É uma menina.
Com as palavras do Sérgio, eu me considerei um menino, pois também nasci nesse ano.
Depois do encantamento trazido pelo timbre raro da Mireille Mathieu, Sérgio Fortes, sem sair do ambiente franco-brasileiro, aludiu a um amigo, sumidade em pneus, chamado Claude Fondeville. Em seguida, penitenciou-se publicamente de apelidá-lo, com a sua turma, de Cláudio Fundo de Quintal.
Jonas Vieira, aproveitando esse gancho, trouxe-se à baila “O Peru Molhado” e os comentários sobre o programa. Sérgio Fortes aparteou prontamente:
-Não! É o Biscoito Molhado!...
Bem que o apresentador do Rádio Memória sabia diferenciar nosso periódico, que é vegetal (trigo) do outro, que é animal, mas pretendia se vingar porque o chamei de Jonas Resende. No parágrafo que se segue, vai a minha defesa:
Jonas, meu apelido, junto às pessoas mais íntimas, é Hortelino Troca-Nomes, uma paródia do famoso personagem de gibi Hortelino Troca-Letras. Para que o amigo tenha uma ideia dessa minha deficiência, chamei um chefe que atendia pelo nome de Danton das Couves de Danton Jobim, o senador do Rio de Janeiro na época. Meu consolo era o governador de São Paulo, Franco Montoro, que chamava o jornalista Jânio de Freitas de Jânio Quadros.
Caso eu me torne reincidente, prometo escrever mil vezes Jonas VIEIRA, creio que neste texto, já escrevi umas cem vezes.
Sem sair da riqueza musical francesa, Sérgio Fortes solicitou a música de Michel Legrand para o filme “Houve uma vez um verão” ou “Verão de 42.”
Caramba!... Antes de lançarem esse filme no Brasil, eu li o livro. Tudo estava em inglês e o meu conhecimento do idioma, na época,  não ia além do book on the table, mas a história me prendeu de tal maneira que, com inúmeras consultas ao dicionário, cheguei até a última página.
O filme é ainda mais emocionante devido às notas musicais pungentes e belíssimas de Michel Legrand. No momento em que a melodia que ouvimos nesse domingo foi tocada no filme, precisamente na cena em que a moça recebe a carta lhe informando da morte do marido na guerra e dança com o adolescente que a amava, toda a equipe de filmagem chorou. É o que dizem, e eu acredito, enquanto enxugo uma furtiva lágrima.
Jonas Vieira pediu, então, uma pausa para uma choradinha... digo, para meditação. Era o intermezzo para a segunda parte.

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