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sexta-feira, 7 de junho de 2013

2394 - paciência de Jó


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4194                                  Data:  25 de  Maio de 2013
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SABADOIDO FECHADO PARA BALANÇO

Sim, há leitores que gostam de saber das peripécias do Sabadoido, poucos, mas há, como a Rosa Grieco. Por isso, cartas chegam à redação com a pergunta sobre o que aconteceu; um leitor até especulou que o Biscoito Molhado trocou o sábado pelo domingo, que desprezou o Sabadoido pelo Memorioldominical (Rádio Memória da Roquette Pinto). Calma, pessoal: este periódico, por não ter anunciantes, fica com espaço para falar de todos os dias da semana.
Acontece que o local onde se reúnem os frequentadores do Sabadoido está fechado para obras; a garagem que acolhia o fusquinha da Gina terá condições de receber, futuramente, até carro importado do ano, mas não veremos isso. Ainda bem...
Com a Gina que, além de colocar a mão na massa (de concreto), ser a mestre de obra e, principalmente, cuidar do orçamento, a obra do Sabadoido terminará no tempo determinado e sem superfaturamento. Aguardem.
Tentando matar as saudades desses poucos leitores, formaremos uma espécie de patchwork, que no idioma de Machado de Assis, significa algo parecido com colcha de retalhos. Para isso, cerziremos as conversas (verídicas ou prováveis, é bom frisar) que foram travadas com os membros  das reuniões, nestes dias da obra, e juntaremos tudo numa manhã de sábado, teremos, espero, um Sabadoido com cheiro de tinta além de,  não posso perder o trocadilho, bem concreto.
Vamos lá.
-Claudiomiro, eu telefonei no dia do seu aniversário, e ninguém atendeu.
-Agradeço, embora eu saiba que foi a Glória que lembrou a data exata.
-A Glória, Claudiomiro, lembrou-se até do dia do aniversário do Elio Fischberg. Mesmo o Carlinhos, que foi um dos vinte participantes do nababesco almoço que ele patrocinou, quando completou 60 anos de idade, se esqueceu.
-A Jurinha também tem uma memória de elefante para essas datas. - interveio o Vagner, aludindo à irmã da Gina.
Se a memória delas é de elefante, a de muitos homens, nessa questão, é de peixe. - pensei sem me manifestar.
-E, com toda certeza, a Glória dirá qual o dia do seu aniversário. Eu sei que é por esses dias. - disse o Claudio.
-Dia 24 de maio, e espero presentes. - manifestou-se  com um sorriso travesso.
-O Gordo...
-Já sei, Luca, você o esquartejou na mesa de pingue-pongue. - interrompeu-o meu irmão com conotação irônica na voz.
-Não, ele me inscreveu, à minha revelia, num torneio importante. Disse para ele que já estou com 68 anos de idade (faltam 7 meses), que jogo depois de me besuntar com pomadas de anti-inflamatórios mais o spray, que coloco flexores nos joelhos, nas canelas...
-O que não o impede de derrotar o Gordo. - interveio o Claudio de novo.
-Tenho ganhado dele, algumas vezes, mas ele joga mais do que eu. Quando o Gordo está mal das partidas, começa a se cobrar: “braço preso... estou com o braço preso.”.
-Ele enfia a raquete com vontade?
-É só porrada, Carlinhos, embora ele coloque muito efeito nas raquetadas. Vou agora para Ourinhos, visitar o Zé da Luz e trazer raquetes de boa madeira e o acolchoado importados, isso é de vital importância. Tenho jogado com um acolchoado que já está sem textura. Quanto à madeira... 
E eu aprendi que, para o mesatenista, a madeira das raquetes tem quase a mesma importância que Stradivarius dedicava aos violinos quando os fabricava.
-O Gordo já tem isso tudo? - indagaram.
-Tem, mas repito que ele é melhor, no tênis, do que eu.
-Luca, o e-mail enviado por você, “Quem são esses jovens?” repercutiu bastante entre os internautas.
-Carlinhos, eu não identifiquei quase ninguém...
-O Dieckmann me escreveu revelando que só conseguiu descobrir o casal Clinton quando eram hippies.
-E você?
-A minha maior surpresa foi o Stalin, mais pela mudança na sua fisionomia com o correr do tempo do que pelo fato de ele ter sido ladrão de bancos, quando jovem.
Cláudio se movimentou para trazer os copos de bebida da cozinha.
-Como a Rosa Grieco disse: eu inundo.
Com essas palavras, levantei-me da cadeira, mas o Luca me fez testar meu esfíncter uretral.
-Carlinhos antes que me esqueça... A Rosa mandou  que eu lhe entregasse   um livro sobre cerimonial. Como você sabe, ela foi do Itamaraty...
-Fico agradecido a ela e depois eu me detenho sobre o presente.
Saindo do banheiro, esbarrei com meu sobrinho.
Daniel, há meses que a minha impressora emperra. São os cartuchos. Com isso, sou obrigado a imprimir páginas de assuntos particulares  no trabalho.
-Isso é peculato, Carlão.
-Sei disso; eu até repunha as folhas A4 que tenho em casa, porque lá não tem serventia alguma. Um colega,quando viu isso, disse que eu não me preocupasse, pois já viu gente lá dentro imprimindo o Vade Mecum...
-Por que você não compra uma impressora a laser?... É um toner  em vez de cartucho, que reproduz milhares de páginas até você precisar de outro toner. Dura à beça a não ser que você pretenda imprimir o Vade Mecum.
-Não sou advogado. –frisei.
Dei dois ou três passos rumo à assembléia do Sabadoido e lhe dirigi   uma pergunta que eu mesmo responderia.
 -Sabe o que quer dizer Vade Mecum em Latim?...Vem comigo.
-Não vou, não, mas foi.
Ao retomar o meu assento, a palavra estava com o Luca.
-São nove horas daqui a Ourinhos. Não tenho pique para dirigir esse tempo todo, Pedro (seu filho) vai revezando comigo no volante.
-Vai quando e retorna quando? - quis saber o Vagner.
-A Kiara tem Conselho de Classe, vou aproveitar e partir nesse dia, e pretendo voltar no domingo. Vamos, eu, Glória, Kiara e Pedro.
-Com todo o equipamento do pingue-pongue importado, você vai ficar mais ainda endiabraaaaaaado.
-Você se cuida, garoto. - fingiu o Luca que o alertava seriamente.
-E o carro, Daniel?
Claudio não deu tempo de o Daniel satisfazer a curiosidade do Vagner, e disse exaltadamente.
-Ele só dirige por aqui. Eu, logo que tirei carteira, fui pela Avenida Brasil pegar o Augustinho (seu sogro) no trabalho,
-O Daniel, desde menino, nos jogos de fliperama, demonstrava um reflexo de piloto de Fórmula 1. Isso é virtual, mas é um indicativo. - frisei.
-Fala com a Gina. - grunhiu o Claudio voltado para mim.
-Eu aprendi muito com o Seu Amaury (Amaury F. de Almeida, autor de vários livros sobre marcas de carros). Sempre que eu cometia o menor deslize, ele dizia que sentia a dor na própria carne. - recordou o Luca.
-A Gina teme as barbeiragens dos outros motoristas, não as do Daniel. - tentaram justificar a sua apreensão.
-Pensando assim, ninguém sai de casa. - bradou o Claudio,
Daniel, com a paciência bíblica que o caracteriza, ouviu tudo silenciosamente e voltou para o seu quarto. Minutos depois, vinham até nossos ouvidos as notas do seu teclado.
  

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