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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4194 Data: 25 de
Maio de 2013
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SABADOIDO FECHADO PARA BALANÇO
Sim, há leitores que gostam de saber das
peripécias do Sabadoido, poucos, mas há, como a Rosa Grieco. Por isso, cartas
chegam à redação com a pergunta sobre o que aconteceu; um leitor até especulou
que o Biscoito Molhado trocou o sábado pelo domingo, que desprezou o Sabadoido
pelo Memorioldominical (Rádio Memória da Roquette Pinto). Calma, pessoal: este
periódico, por não ter anunciantes, fica com espaço para falar de todos os dias
da semana.
Acontece que o local onde se reúnem os
frequentadores do Sabadoido está fechado para obras; a garagem que acolhia o
fusquinha da Gina terá condições de receber, futuramente, até carro importado
do ano, mas não veremos isso. Ainda bem...
Com a Gina que, além de colocar a mão na
massa (de concreto), ser a mestre de obra e, principalmente, cuidar do
orçamento, a obra do Sabadoido terminará no tempo determinado e sem
superfaturamento. Aguardem.
Tentando matar as saudades desses poucos
leitores, formaremos uma espécie de patchwork, que no idioma de Machado
de Assis, significa algo parecido com colcha de retalhos. Para isso, cerziremos
as conversas (verídicas ou prováveis, é bom frisar) que foram travadas com os
membros das reuniões, nestes dias da
obra, e juntaremos tudo numa manhã de sábado, teremos, espero, um Sabadoido com
cheiro de tinta além de, não posso
perder o trocadilho, bem concreto.
Vamos lá.
-Claudiomiro, eu telefonei no dia do seu
aniversário, e ninguém atendeu.
-Agradeço, embora eu saiba que foi a
Glória que lembrou a data exata.
-A Glória, Claudiomiro, lembrou-se até
do dia do aniversário do Elio Fischberg. Mesmo o Carlinhos, que foi um dos
vinte participantes do nababesco almoço que ele patrocinou, quando completou 60
anos de idade, se esqueceu.
-A Jurinha também tem uma memória de
elefante para essas datas. - interveio o Vagner, aludindo à irmã da Gina.
Se a memória delas é de elefante, a de
muitos homens, nessa questão, é de peixe. - pensei sem me manifestar.
-E, com toda certeza, a Glória dirá qual
o dia do seu aniversário. Eu sei que é por esses dias. - disse o Claudio.
-Dia 24 de maio, e espero presentes. -
manifestou-se com um sorriso travesso.
-O Gordo...
-Já sei, Luca, você o esquartejou na
mesa de pingue-pongue. - interrompeu-o meu irmão com conotação irônica na voz.
-Não, ele me inscreveu, à minha revelia,
num torneio importante. Disse para ele que já estou com 68 anos de idade
(faltam 7 meses), que jogo depois de me besuntar com pomadas de
anti-inflamatórios mais o spray, que coloco flexores nos joelhos, nas
canelas...
-O que não o impede de derrotar o Gordo.
- interveio o Claudio de novo.
-Tenho ganhado dele, algumas vezes, mas
ele joga mais do que eu. Quando o Gordo está mal das partidas, começa a se
cobrar: “braço preso... estou com o braço preso.”.
-Ele enfia a raquete com vontade?
-É só porrada, Carlinhos, embora ele
coloque muito efeito nas raquetadas. Vou agora para Ourinhos, visitar o Zé da
Luz e trazer raquetes de boa madeira e o acolchoado importados, isso é de vital
importância. Tenho jogado com um acolchoado que já está sem textura. Quanto à
madeira...
E eu aprendi que, para o mesatenista, a
madeira das raquetes tem quase a mesma importância que Stradivarius dedicava
aos violinos quando os fabricava.
-O Gordo já tem isso tudo? - indagaram.
-Tem, mas repito que ele é melhor, no
tênis, do que eu.
-Luca, o e-mail enviado por você, “Quem
são esses jovens?” repercutiu bastante entre os internautas.
-Carlinhos, eu não identifiquei quase ninguém...
-O Dieckmann me escreveu revelando que
só conseguiu descobrir o casal Clinton quando eram hippies.
-E você?
-A minha maior surpresa foi o Stalin,
mais pela mudança na sua fisionomia com o correr do tempo do que pelo fato de
ele ter sido ladrão de bancos, quando jovem.
Cláudio se movimentou para trazer os
copos de bebida da cozinha.
-Como a Rosa Grieco disse: eu inundo.
Com essas palavras, levantei-me da
cadeira, mas o Luca me fez testar meu esfíncter uretral.
-Carlinhos antes que me esqueça... A Rosa
mandou que eu lhe entregasse um livro sobre cerimonial. Como você sabe,
ela foi do Itamaraty...
-Fico agradecido a ela e depois eu me
detenho sobre o presente.
Saindo do banheiro, esbarrei com meu
sobrinho.
Daniel, há meses que a minha impressora
emperra. São os cartuchos. Com isso, sou obrigado a imprimir páginas de
assuntos particulares no trabalho.
-Isso é peculato, Carlão.
-Sei disso; eu até repunha as folhas A4
que tenho em casa, porque lá não tem serventia alguma. Um colega,quando viu
isso, disse que eu não me preocupasse, pois já viu gente lá dentro imprimindo o
Vade Mecum...
-Por que você não compra uma impressora
a laser?... É um toner em vez de
cartucho, que reproduz milhares de páginas até você precisar de outro toner.
Dura à beça a não ser que você pretenda imprimir o Vade Mecum.
-Não sou advogado. –frisei.
Dei dois ou três passos rumo à
assembléia do Sabadoido e lhe dirigi
uma pergunta que eu mesmo responderia.
-Sabe
o que quer dizer Vade Mecum em Latim?...Vem comigo.
-Não vou, não, mas foi.
Ao retomar o meu assento, a palavra
estava com o Luca.
-São nove horas daqui a Ourinhos. Não
tenho pique para dirigir esse tempo todo, Pedro (seu filho) vai revezando
comigo no volante.
-Vai quando e retorna quando? - quis
saber o Vagner.
-A Kiara tem Conselho de Classe, vou
aproveitar e partir nesse dia, e pretendo voltar no domingo. Vamos, eu, Glória,
Kiara e Pedro.
-Com todo o equipamento do
pingue-pongue importado, você vai ficar mais ainda endiabraaaaaaado.
-Você se cuida, garoto. - fingiu o Luca
que o alertava seriamente.
-E o carro, Daniel?
Claudio não deu tempo de o Daniel
satisfazer a curiosidade do Vagner, e disse exaltadamente.
-Ele só dirige por aqui. Eu, logo que
tirei carteira, fui pela Avenida Brasil pegar o Augustinho (seu sogro) no
trabalho,
-O Daniel, desde menino, nos jogos de
fliperama, demonstrava um reflexo de piloto de Fórmula 1. Isso é virtual, mas é
um indicativo. - frisei.
-Fala com a Gina. - grunhiu o Claudio
voltado para mim.
-Eu aprendi muito com o Seu Amaury
(Amaury F. de Almeida, autor de vários livros sobre marcas de carros). Sempre
que eu cometia o menor deslize, ele dizia que sentia a dor na própria carne. -
recordou o Luca.
-A Gina teme as barbeiragens dos outros
motoristas, não as do Daniel. - tentaram justificar a sua apreensão.
-Pensando assim, ninguém sai de casa. -
bradou o Claudio,
Daniel, com a paciência bíblica que o
caracteriza, ouviu tudo silenciosamente e voltou para o seu quarto. Minutos
depois, vinham até nossos ouvidos as notas do seu teclado.
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