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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4052 Data: 28 de outubro de 2012
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CARTAS DOS LEITORES
CONTINUAÇÃO
-“Como o metrô é assunto rotineiro do
Biscoito Molhado, permito-me encaminhar e-mail ao departamento Carta dos
Leitores. Salvo engano, ainda não li uma linha sobre os novos trens chineses do
metrô – mais claros, com menos bancos, amplos e com os vagões se comunicando
internamente, possibilitando passar de um vagão para o outro.” Carlos
Alberto Torres
BM. : Meu caro Carlos Alberto Torres (não é o capitão da
Copa de 70), apesar de andarmos de metrô duas vezes por dia de trabalho, só
viajamos uma vez no trem chinês. Assinalamos que ao passarmos pela estação de
Cidade Nova, sempre vemos algumas dessas composições importadas, recentemente,
no depósito. Por que não as colocam para trafegar?
Com uma só viagem temos, é verdade,
algumas considerações a fazer. Como não existe apito que avise o fechamento da
porta, uma voz pede cuidado aos passageiros. Como essa voz se repete a cada
estação, torna-se irritante, mesmo que fosse da Iris Lettieri. Há também no trem o que se chama popularmente
de chupeta (*), o que me reportou ao ano de 1976, quando o meu meio de
transporte era o trem da Central do Brasil.
Quanto às qualidades apontadas pelo CAT,
só temos a concordar. São mais claros, sem muitos bancos, que ocupam mais
espaço espremendo a maioria que está de pé – são amplos. A comunicabilidade
interna entre os vagões tira a sensação claustrofóbica dos velhos trens. Como
disse o engraçadinho do Elio Fischberg: “Agora, eu posso ir de vagão em vagão
vendendo bala”.
Aproveito a oportunidade para me referir
ao filme a que assisti recentemente “Adorável Pecadora”, de George Cukor, ano
1960. Nos bastidores, Yves Montand traía a mulher, Simone Signoret, e Marilyn
Monroe traía o marido, Arthur Miller. Mas não era do adultério dos dois atores
que eu queria falar e sim de uma cena da fita em que Yves Montand ,
representando dois personagens, Alexandre Dumas e Jean-Marc Clément, imita um
passageiro no metrô de Nova York. Pelo excesso de gesticulação na mímica, nós
podemos garantir que isso é impossível aqui, pois seja o trem chinês ou
francês, não dá para o passageiro se mexer.
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-O carro DKW, que foi chamado de Das
Kleine Wunder, “A Pequena Maravilha”, no Biscoito Molhado, não tinha, na
realidade essa denominação, era uma jogada de marketing. DKW significa Dampf
Kraft Wagen Dieckmann
BM: Há quem imagine que os asteriscos do Dieckmann nas
edições do Biscoito Molhado, representem uma espécie de voto do revisor
contrapondo-se ao voto do relator. Ledo engano: nós dois, normalmente,
convergimos em termos ideológicos, em outros assuntos há algumas discordâncias.
Nesta carta, ele se reporta ao Biscoito
Molhado em que o Paizão, sob um dilúvio, narrou parte da sua saga de motorista.
Agora, precisamente há dois dias, sob sol ardente, Paizão retomou a sua história.
Contou ele que dirigiu o DKW, como taxista, de 1968 a 1970, passando para o
modelo da Volkswagen que era conhecido como “Caixotinho” (**). Passou depois
para o TL e, em seguida, envolveu-se na compra de uma oficina, servindo de
intermediário de um português endinheirado. As coisas não correram bem e ele
foi dirigir caminhão. Segundo suas palavras, virou um cigano, rodando até nas
estradas da Bahia.
-Foi a época da minha vida em que mais
trabalhei e recebi menos dinheiro. - disse.
O próximo capítulo ficou para a ocasião
em que eu pegar o seu táxi de novo. Mas antes de encerrarmos, um fato dessa
corrida merece ser reproduzido. Quando ele dirigia pela Rua Domingo de
Magalhães, uma moça, com passos de cágado e a cabeça na lua, pôs-se a
atravessar a pista. Ele parou o carro e esperou. Eu o provoquei dizendo que ela
merecia uma buzinada bem estridente. Ele, então, buzinou, a dona, na mesma
passada, se virou para ele e disse um monte de impropérios. Paizão, rindo,
comentou que ela ainda se achava certa. Logo, veio-me à mente o 017, que
chamamos de Dedão do Arqueiro Inglês, que se estressa até com olhares
supostamente debochados, e concluí que ele, que tem uns 50 anos, não chegará
aos saudáveis 76 anos do Paizão.
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-”No BM 2248, que alude à visita que o
grande empresário Frederico Figner, há referências às benemerências do
compositor de óperas Giuseppe Verdi como benfeitor. Ele doou mesmo uma Casa de
Repouso para os artistas? Luciano Pinto.
BM: Com os êxitos das suas óperas, Verdi ganhou uma
razoável fortuna. Ao contrário de outro grande operista, Wagner, que só pensava
em si mesmo, Verdi era altruísta, Vendo o lastimável estado a que chegavam
cantores e músicos depois do esplendor, mandou construir, em Milão, a Casa
di Riposo Giuseppe Verdi, que é sustentada até hoje com os proventos
dos direitos autorais do compositor, o que não é pouco. Mas não foi só isso: ele construiu e equipou
o Hospital de Villanova.
Viva Verdi.
-”Coloquei a Dilecta na pista da poesia
“Caminhos do vale em monte, caminhos do monte em serra, como vos sei passo a
passo, caminhos da minha terra.” Suponho que seja de A.Correia de Oliveira;
fico alucinada sem saber onde encontrar. Quero os 20 000 livros do papá de volta!
Do poema, segui para o trem da Central,
ficava tanto tempo na estação, quando havia música de propaganda, que decorei
várias: “O que é bom não se mistura, Moselito é uva pura”; “Moreno dengoso, não
seja maldoso, seja mais sensato, quem foi que lhe disse que fiz tolice com
outro mulato?” E uma que era cantada na maior rapidez não sei por quem:
“Enquanto canto meu sambinha batucada a turma fica animada com a bossa que eu
traço canto e não me embaraço ponho (meto) o contratempo dentro do compasso
quem não tiver o ritmo na alma nem cantando com mais calma faz o que eu faço
samba-canção samba de breque e batucadas isso pra mim não é nada o que vier eu
traço.” Não coloquei pontuação para
destacar que não era trauteado, era corrido a galope mesmo.
O almoço de 5ª feira, como há onze dias,
era sopa de legumes com macarrão.”
R
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BM:
Depois de se reportar às
raízes populares, Rosa encerra com o seu cotidiano, quando é obriga a ingerir
uma comida de dieta. No início da sua carta, ela se reporta a uns versos cujo
autor lhe escapou da prodigiosa memória e, com isso, ela amarga uma dúvida: era
de A. Correia de Oliveira, ou não?
O Departamento de Pesquisas do Biscoito
Molhado saiu em campo e descobriu que Adriano Correia de Oliveira foi
intérprete de fados, vivendo de 9 de abril de 1942 a 16 de outubro de 1982.
Morreu de hemorragia no esôfago.
Os quatro versos citados são,
possivelmente, de um fado, mas não conseguimos localizá-lo.
Encerramos aqui com esse enigma.
(*) O Redator
do seu O BISCOITO MOLHADO deve imaginar que todos os seus leitores andavam de
trem em 1976. Ou explicaria o que vem a ser chupeta de trem.
Este
Distribuidor, ciente das dificuldades dos leitores em entender o que se passa
sobre os trilhos, foi ao Google e voltou com as mãos abanando: Chupeta de Trem
é uma música, possivelmente nada recomendável.
(**) Embora o
VW 1600 (4 portas) parecesse um caixotinho, o apelido que passou para a
posteridade – o apelido sobreviveu em muito ao carro – era Zé do Caixão.
Interessante
ainda neste parágrafo a desfaçatez do Redator, que a pretexto de comentar um
asterisco conta uma história que nada tem a ver com o asterisco e ainda sepulta
sólidas discordâncias, reduzindo para o leitor que não se trata de um duelo
Barbosa-Lewandowsky.
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