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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

2252 - chupeta de trem

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4052                              Data: 28  de outubro de 2012
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CARTAS DOS LEITORES
CONTINUAÇÃO

-“Como o metrô é assunto rotineiro do Biscoito Molhado, permito-me encaminhar e-mail ao departamento Carta dos Leitores. Salvo engano, ainda não li uma linha sobre os novos trens chineses do metrô – mais claros, com menos bancos, amplos e com os vagões se comunicando internamente, possibilitando passar de um vagão para o outro.” Carlos Alberto Torres
BM. : Meu caro Carlos Alberto Torres (não é o capitão da Copa de 70), apesar de andarmos de metrô duas vezes por dia de trabalho, só viajamos uma vez no trem chinês. Assinalamos que ao passarmos pela estação de Cidade Nova, sempre vemos algumas dessas composições importadas, recentemente, no depósito. Por que não as colocam para trafegar?
Com uma só viagem temos, é verdade, algumas considerações a fazer. Como não existe apito que avise o fechamento da porta, uma voz pede cuidado aos passageiros. Como essa voz se repete a cada estação, torna-se irritante, mesmo que fosse da Iris Lettieri.  Há também no trem o que se chama popularmente de chupeta (*), o que me reportou ao ano de 1976, quando o meu meio de transporte era o trem da Central do Brasil.
Quanto às qualidades apontadas pelo CAT, só temos a concordar. São mais claros, sem muitos bancos, que ocupam mais espaço espremendo a maioria que está de pé – são amplos. A comunicabilidade interna entre os vagões tira a sensação claustrofóbica dos velhos trens. Como disse o engraçadinho do Elio Fischberg: “Agora, eu posso ir de vagão em vagão vendendo bala”.
Aproveito a oportunidade para me referir ao filme a que assisti recentemente “Adorável Pecadora”, de George Cukor, ano 1960. Nos bastidores, Yves Montand traía a mulher, Simone Signoret, e Marilyn Monroe traía o marido, Arthur Miller. Mas não era do adultério dos dois atores que eu queria falar e sim de uma cena da fita em que Yves Montand, representando dois personagens, Alexandre Dumas e Jean-Marc Clément, imita um passageiro no metrô de Nova York. Pelo excesso de gesticulação na mímica, nós podemos garantir que isso é impossível aqui, pois seja o trem chinês ou francês, não dá para o passageiro se mexer.
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-O carro DKW, que foi chamado de Das Kleine Wunder, “A Pequena Maravilha”, no Biscoito Molhado, não tinha, na realidade essa denominação, era uma jogada de marketing. DKW significa Dampf Kraft Wagen Dieckmann
BM: Há quem imagine que os asteriscos do Dieckmann nas edições do Biscoito Molhado, representem uma espécie de voto do revisor contrapondo-se ao voto do relator. Ledo engano: nós dois, normalmente, convergimos em termos ideológicos, em outros assuntos há algumas discordâncias.
Nesta carta, ele se reporta ao Biscoito Molhado em que o Paizão, sob um dilúvio, narrou parte da sua saga de motorista. Agora, precisamente há dois dias, sob sol ardente, Paizão retomou a sua história. Contou ele que dirigiu o DKW, como taxista, de 1968 a 1970, passando para o modelo da Volkswagen que era conhecido como “Caixotinho” (**). Passou depois para o TL e, em seguida, envolveu-se na compra de uma oficina, servindo de intermediário de um português endinheirado. As coisas não correram bem e ele foi dirigir caminhão. Segundo suas palavras, virou um cigano, rodando até nas estradas da Bahia.
-Foi a época da minha vida em que mais trabalhei e recebi menos dinheiro. - disse.
O próximo capítulo ficou para a ocasião em que eu pegar o seu táxi de novo. Mas antes de encerrarmos, um fato dessa corrida merece ser reproduzido. Quando ele dirigia pela Rua Domingo de Magalhães, uma moça, com passos de cágado e a cabeça na lua, pôs-se a atravessar a pista. Ele parou o carro e esperou. Eu o provoquei dizendo que ela merecia uma buzinada bem estridente. Ele, então, buzinou, a dona, na mesma passada, se virou para ele e disse um monte de impropérios. Paizão, rindo, comentou que ela ainda se achava certa. Logo, veio-me à mente o 017, que chamamos de Dedão do Arqueiro Inglês, que se estressa até com olhares supostamente debochados, e concluí que ele, que tem uns 50 anos, não chegará aos saudáveis 76 anos do Paizão.
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-”No BM 2248, que alude à visita que o grande empresário Frederico Figner, há referências às benemerências do compositor de óperas Giuseppe Verdi como benfeitor. Ele doou mesmo uma Casa de Repouso para os artistas? Luciano Pinto.
BM: Com os êxitos das suas óperas, Verdi ganhou uma razoável fortuna. Ao contrário de outro grande operista, Wagner, que só pensava em si mesmo, Verdi era altruísta, Vendo o lastimável estado a que chegavam cantores e músicos depois do esplendor, mandou construir, em Milão, a Casa di Riposo Giuseppe Verdi, que é sustentada até hoje com os proventos dos direitos autorais do compositor, o que não é pouco.  Mas não foi só isso: ele construiu e equipou o Hospital de Villanova.
Viva Verdi.
-”Coloquei a Dilecta na pista da poesia “Caminhos do vale em monte, caminhos do monte em serra, como vos sei passo a passo, caminhos da minha terra.” Suponho que seja de A.Correia de Oliveira; fico alucinada sem saber onde encontrar. Quero os 20 000 livros  do papá de volta!
Do poema, segui para o trem da Central, ficava tanto tempo na estação, quando havia música de propaganda, que decorei várias: “O que é bom não se mistura, Moselito é uva pura”; “Moreno dengoso, não seja maldoso, seja mais sensato, quem foi que lhe disse que fiz tolice com outro mulato?” E uma que era cantada na maior rapidez não sei por quem: “Enquanto canto meu sambinha batucada a turma fica animada com a bossa que eu traço canto e não me embaraço ponho (meto) o contratempo dentro do compasso quem não tiver o ritmo na alma nem cantando com mais calma faz o que eu faço samba-canção samba de breque e batucadas isso pra mim não é nada o que vier eu traço.”  Não coloquei pontuação para destacar que não era trauteado, era corrido a galope mesmo.
O almoço de 5ª feira, como há onze dias, era sopa de legumes com macarrão.”
R
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BM:  Depois de se reportar às raízes populares, Rosa encerra com o seu cotidiano, quando é obriga a ingerir uma comida de dieta. No início da sua carta, ela se reporta a uns versos cujo autor lhe escapou da prodigiosa memória e, com isso, ela amarga uma dúvida: era de A. Correia de Oliveira, ou não?
O Departamento de Pesquisas do Biscoito Molhado saiu em campo e descobriu que Adriano Correia de Oliveira foi intérprete de fados, vivendo de 9 de abril de 1942 a 16 de outubro de 1982. Morreu  de hemorragia no esôfago.
Os quatro versos citados são, possivelmente, de um fado, mas não conseguimos localizá-lo.
Encerramos aqui com esse enigma.

(*) O Redator do seu O BISCOITO MOLHADO deve imaginar que todos os seus leitores andavam de trem em 1976. Ou explicaria o que vem a ser chupeta de trem.
Este Distribuidor, ciente das dificuldades dos leitores em entender o que se passa sobre os trilhos, foi ao Google e voltou com as mãos abanando: Chupeta de Trem é uma música, possivelmente nada recomendável.

(**) Embora o VW 1600 (4 portas) parecesse um caixotinho, o apelido que passou para a posteridade – o apelido sobreviveu em muito ao carro – era Zé do Caixão.
Interessante ainda neste parágrafo a desfaçatez do Redator, que a pretexto de comentar um asterisco conta uma história que nada tem a ver com o asterisco e ainda sepulta sólidas discordâncias, reduzindo para o leitor que não se trata de um duelo Barbosa-Lewandowsky.

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