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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

2255 - Alceia é a tia da Memeia

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4055                              Data: 02 de novembro de 2012
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SABADOIDO DE CONTRADITÓRIOS
3ª PARTE
-Eu quero fazer uma pergunta sobre os âncoras da TV aberta...
Luca não pôde prosseguir porque espocou uma celeuma entre meus dois irmãos sobre canais de TV a cabo e aberta, sobre TV Recorde e a Bandeirante. Como aquilo já se prolongava, interferi com o penacho de irmão mais velho.
-Deixa o Luca perguntar.
Ele se preparou para abrir a boca, mas um comentário do Lopo sobre canais a cabo que ele vê na TV aberta, reacendeu a polêmica.
-Vamos ouvir o Luca. - pedi, enquanto o Vagner ria da situação,
Transcorridos cinco minutos, enfim, a pergunta foi feita.
-Alguém viu algum âncora, na televisão, comentar as decisões do Mensalão?
E acrescentou enfaticamente:
-Eu não vi um.
-O Bóris Casoy. - respondeu meu irmão mais novo.
-Sim, disse que é preciso passar o Brasil a limpo. - confirmou o Claudio.
-Boechat, William Bonner, Paulo Henrique Amorim e outros, eu não vi emitindo considerações sobre o mensalão. - repetiu o Luca, que, antes, informou que faz tempo que não assiste aos programas em que o Boris Casoy atua como âncora.
-Nos jornais, tenho lido textos e mais textos com pareceres sobre o mensalão. - manifestei-me.
-Quanto à imprensa escrita, perfeito, as opiniões são dadas. - disse o Luca.
-Como eu não tenho paciência para assistir a horas de julgamento diariamente, eu mudo de canal porque sei que, no dia seguinte, o Merval Pereira, no Globo, tocará nos pontos principais do que foi julgado e os analisará.
-Não é só o Merval Pereira, há muitos outros se manifestando sobre o mensalão. - interveio o Claudio.
-Sim, mas o Merval Pereira tem sido, para mim, brilhante. - frisei.
-Tem de colocar toda essa gente na cadeia. - explodiu o Cláudio com a rápida concordância do Lopo.
Tomei a palavra.
-Houve agora um apagão no norte-nordeste e, ontem, eu assisti ao Jornal Nacional. Entrevistado, o responsável por um restaurante disse que mais de trinta pessoas aproveitaram a escuridão para sair sem pagar.
-Ora...Ora...Ora...- disse o Vagner com risos de cúmplice.
-Carlinhos, os restaurantes não são confiáveis quando preparam as comidas. - justificou o Claudio dentro do clima galhofeiro criado pelo Vagner.
Retomei a palavra.
-Evidentemente que não foi só naquele restaurante que aconteceu isso. No Brasil, a desonestidade está entranhada na nossa cultura, e será difícil reverter isso.
-Rui Barbosa já dizia: “De tanto ver agigantar-se o poder na mão dos maus etc,etc,etc, o homem chega a ter vergonha de ser honesto.”
Com a citação do Luca, ainda que incompleta, o clima do Sabadoido se tornou sério. Claudio contou, então, casos em que ele devolveu quantias que poderia guardar para si, sem que nada o incriminasse. Nessa toada, Luca contou um caso que aconteceu com ele, quando era muito jovem e trabalhava para um judeu que se tornaria seu amigo.
-Eu era encarregado de pegar no banco os 1500 cruzeiros com que o judeu pagava seus empregados. Certa vez, cheguei do banco e, quando abri a pasta, não encontrei um centavo.
Nesse momento, Luca reproduziu a reação dele e do dono do dinheiro.
-Você perdeu?
-Não.
-Você foi roubado?
-Não.
-Você esqueceu de pegar o dinheiro?
-Não.
-Então- prosseguiu o Luca – ele removeu a mesa, os móveis, perscrutando toda a sala. Voltou com as perguntas, e depois das minhas negativas, ele sacou 1 500 cruzeiros e pagou todos os funcionários.
Luca notou que prendera a atenção de todos, o que lhe dava a oportunidade de ora acelerar, de ora ralentar as frases da sua fala.
-Ele me disse, depois, umas coisas que me colocavam sob suspeita, reagi com a voz alterada. O que sou hoje, eu era quando garoto. Disse ao judeu que ele teria os 1500 cruzeiros. Em casa, pedi à minha mãe para colocar as joias no prego. Antes de ela levantar o dinheiro, o judeu me chamou para ir ao banco com ele. Logo que entramos, um senhor, que era um dos caixas, veio em minha direção. “Eu estava lhe esperando mesmo. Você deixou cair os 1500 cruzeiros que havia sacado; quando eu vi, você já tinha ido embora”.
E concluiu o Luca:
-Nunca esquecerei o nome dele: Juraci.
-Há ainda homens honestos no Brasil.- concordamos todos.
Nesse instante, sons vindos de fora interromperam a sessão do Sabadoido. Imaginei que fossem os sedentos da árvore pedindo mais água, mas eram a Gina e o Daniel que voltavam das compras.
Depois das saudações habituais, das palavras sobre amenidades, reiniciou-se o Sabadoido, se é que podemos retirar as saudações e as amenidades das atas das  sessões de sábado.
Uma chacota do Claudio com bruxas, aproveitando o dia delas, em 31 de outubro, reportou-nos à Alceia e à Memeia dos gibis da Luluzinha.
-Memeia era a tia da Alceia. - disse o Luca.
Concordei imediatamente. Claudio, porém, foi tão enfático na discordância que se ergueu da cadeira. Lopo se manifestou também:
-O Claudio está certo: Alceia é a tia, e Memeia a sobrinha.
Enquanto o Vagner se abstinha, Luca recorria à memória invejável da Gina.
-Não tenho certeza de quem era tia e de quem era sobrinha. - disse ela.
Luca convocou, então, o Daniel para dirimir a dúvida no Google.
-Eu voto com o relator. - usei as querelas do mensalão como referência, mas não pude verbalizar que estavam Joaquim Barbosa e Luiz Fux de um lado e Ricardo Lewandowski e Antônio Dias Toffoli do outro, porque todas as atenções se voltaram para o Daniel, que empunhava seu celular.
-Você vai ver pelo celular? - expressou-se com ceticismo o  Luca.
-Você não sabe do que esse celular é capaz. - disse meu sobrinho com seu jeito travesso.
Depois de digitar algumas teclas, perguntou:
-Quem disse que Alceia é a tia da Memeia?
-Lopo e Claudio.
-Acertaram. - deu meia volta e retornou para dentro de casa.
-Eu li toda a coleção encadernada de Bolinha e Luluzinha do papai. - manifestou-se o Lopo.
-Eu imaginava a Memeia como tia. - deu o Luca a mão à palmatória e eu também.
-A Luluzinha contava as histórias das bruxas para o Alvinho. - mostrou o Lopo mais conhecimento sobre o gibi da nossa infância.
Quando o Sabadoido se aproximava do seu desfecho, Claudio entoou o trecho de um dos mais populares frevos pernambucanos, o entusiasmo efervesceu o Luca, que por pouco não dançava como os componentes do Vassourinhas de Olinda. Em seguida, Claudio desafiou a todos a adivinhar o compositor da música nordestina que ele ia pôr para tocar.
Ele sempre faz isso para retardar a nossa saída. - disse comigo mesmo enquanto me encaminhava para a cozinha onde estavam minha pochete e sacolas de compra. Quando voltei, Luca reclamava:
-Claudiomiro, ninguém conhece esta música. Coloque alguma coisa que tenha feito sucesso.
-Quem é o compositor? - insistiu.
Luca prosseguiu reclamando, e meu irmão a pedir o nome do autor daquela musiquinha chata.
Saímos de lá, eu, Luca, Lopo e Vagner, temendo que, no próximo Sabadoido, ele repita aquilo e nos sabatine sobre o nome do “bendito” compositor.

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