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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

2263 - e o Obama não entrou

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O BISCOITO MOLHADO
                          Edição 4063                                Data: 14  de novembro de 2012
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SABADOIDO SEM  BARACK OBAMA
PARTE I     

O assunto era a política e eu pretenda falar da eleição do Barack Obama, mas o meu irmão tinha a palavra.
-Com o desenrolar da CPI do mensalão, amadureceu o impeachment do Lula, como o do Collor, lembra-se disso?
-Claro que sim, ficou maduro e a oposição não colheu o fruto porque imaginou que o Lula sangraria até o final do mandato.
-Lula não sangrou por muito tempo, o povo brasileiro esqueceu, como sempre e teve agora a sua memória refrescada pelo julgamento do mensalão. - comentou.
-Claudio, eu ouvi as considerações do Fernando Henrique Cardoso, um ano antes desse julgamento do STF...
-E o que ele disse? – quis saber o meu irmão, que já não expressa a má vontade de antes, quando eu citava o ex-presidente.
 -Ele afirmou que um impeachment do Lula, naquela época, pararia o país acarretando sérios prejuízos. Considerou certa a atitude da oposição de não chegar ao extremo.
-E se o Lula saísse, entraria o vice José Alencar.
-Aí é que estava o grande perigo, Claudio. O vice do Lula criticava, quase que obsessivamente, a política de juros altos. Se ele se tornasse presidente, interviria no Banco Central, reduziria os juros, a inflação voltaria e o Plano Real escoaria pelo ralo.
-Eu sei, Carlinhos, que, no mandato do Lula, ele não mexia em nada, praticamente, do que o FHC deixou. Lembro-me que lançaram aquele filme “O homem que copiava” e o pessoal dizia que esse homem era o Lula.
-Ele escreveu a carta aos brasileiros, comprometeu-se a manter os três pilares legados pelo Fernando Henrique Cardoso: o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a flutuação do câmbio; o FHC, em contato com o presidente Clinton, deu o seu aval.
-O vice José de Alencar não se comprometeu a nada.
-Por isso, embora o FHC não tenha dito claramente, o Brasil corria um sério risco de ver sua economia degringolar com o impeachment do Lula.
-A Dilma, Carlinhos, está baixando os juros e a inflação não está descontrolada.
-A conjuntura é outra, mas ela despiu um santo para vestir outro; os juros baixaram, mas para a inflação não subir mais, ela segurou o preço dos combustíveis, o que fez a Petrobras andar para trás.
Eu queria falar mesmo era de política internacional, da eleição do Barack Obama, mas a Gina entrou na cozinha, onde eu e meu irmão estávamos, falando do aniversário da minha sobrinha.
-Você vai ao churrasco, Carlinhos?
-Vou, Gina, mas avisei para reservarem uma garrafa de mineral para mim, porque não posso, por enquanto, beber álcool. Quanto ao refrigerante, larguei há algum tempo, como já tinha feito com o cigarro aos 18 anos de idade.
-É no dia 14.
-Pois é, Gina, no mesmo dia do aniversário do Dieckmann. Caso ele me convide para o almoço, como costuma acontecer, não poderei ir, pois vou embora do trabalho mais cedo.
-Vai aos dois. - incentivou-me o Claudio.
-Esses almoços costumam ocorrer no “Japonês”, perto do Paço Imperial. A comida é muito boa, a melhor que conheço com comidas do Japão, mas não dá mesmo para ir. - justifiquei-me.
-Qual o nome desse restaurante?- perguntou apenas por cacoete  interrogativo a minha cunhada, pois dificilmente aparece no Centro da cidade.
-Não sei.
Depois da minha resposta, veio-me surpreendentemente o nome à cabeça.
-Hachiko.
-Sabe ou não sabe o nome?
-Engraçado, Gina, o Elio me enviou um e-mail, com a intenção de sabatinador, em que pedia para eu indagar do Lopo sobre o nome do professor de violino do Bolinha. Disse comigo mesmo que eu não sabia, mas em menos de um minuto me veio o nome, Léo. Eu estava tão convicto que nem confirmei no Google.
-E o Lopo acertou?- demonstrou curiosidade.
-Gina, ele lembrou  de como era chamado o avô do Carequinha, a professora, o caça-gazeteiros, o detetive personificado pelo Bolinha, os pais   da Luluzinha, etc, mas não lhe vinha por nada à memória o nome do professor de violino. Fui, dessa vez, ao Google e lhe disse que era Léo Rabeca.
Agora, era o meu sobrinho que irrompia pela cozinha.
-Daniel, o Fluminense já está com a taça na mão.
-Em 2005, o Fluminense perdeu os últimos cinco jogos e o Abel era o técnico. - arrefeceu o entusiasmo que lancei no ar.
-Vamos calçar a sandálias da humildade, como preconizava o Nélson Rodrigues, mas sem exageros. - retorqui.
-O Fluminense não perdeu para o último colocado? - avolumou a Gina o pessimismo tricolor.
-Como escreveu o Tostão, na Folha de São Paulo: o Fluminense sabe o caminho.
-Eu que não coloco a faixa de “Campeão brasileiro de 2012”, porque dá azar. - precaveu-se.
-Na política americana, existe a superstição que todo o candidato que coloca cocar de cacique na cabeça perde a eleição.
-Falei isso e pensei no Barack Obama reeleito, mas o assunto era futebol.
-Daniel citou algumas perdas surpreendentes de equipes favoritas, do passado, até que o Claudio reapareceu com O Globo na mão.
-Enfim, o entregador veio com o meu jornal. - desabafou.
-Sei que você gosta de ler aqui... - disse, enquanto me levantava.
-Já pode ir para o computador, Carlão. - deu o Daniel o sinal verde.
Vi o quarto do Daniel, bem arrumado e o comparei com o meu, uma barafunda que derrota quaisquer faxineiras; me lembrei da frase do Paul Claudel citada pela Rosa Grieco: “A ordem é o prazer da razão, e a desordem é a delícia da imaginação.”
Diante do computador do meu sobrinho, busquei o noticiário sobre a reeleição do Barack Obama, obteria, assim, mais informações para embasar os meus argumentos quando a sessão do Sabadoido começasse.
Depois, busquei os vídeos que não consigo acessar em casa por causa da banda larga ser, na verdade, estreita, e no trabalho, sempre bloqueada e também devido ao serviço que surge e não deve se acumular. Procurei, então, o filme do Dieckmann em que havia senha de acesso a qual ele me revelou, Não o encontrei no meio do cipoal de mensagens eletrônicas. Deparei-me, no entanto, com um vídeo de um coral russo que o remetente prometia ser imperdível. Lá se foram uns dez minutos vendo e ouvindo músicas folclóricas russas, como Kalinka e outras que, de tão populares, receberam dos brasileiros paródias mais insólitas possíveis, como a do Dori Caymmi, num programa de televisão, que até incluiu o nome da tenista tcheca Martina Navratilova.
Lembrei-me, em seguida, do e-email que o Luca me reenviou com a poesia do Drummond da pedra no meio do caminho recitada em vários idiomas e dialetos, inclusive tupi-guarani. Procurei, procurei, até que vozes robustas me chegaram aos ouvidos. Iniciara-se mais uma sessão do Sabadoido.



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