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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4063 Data: 14 de novembro de 2012
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SABADOIDO SEM
BARACK OBAMA
PARTE I
O assunto era a política e eu pretenda
falar da eleição do Barack Obama, mas o meu irmão tinha a palavra.
-Com o desenrolar da CPI do mensalão,
amadureceu o impeachment do Lula, como o do Collor, lembra-se disso?
-Claro que sim, ficou maduro e a
oposição não colheu o fruto porque imaginou que o Lula sangraria até o final do
mandato.
-Lula não sangrou por muito tempo, o
povo brasileiro esqueceu, como sempre e teve agora a sua memória refrescada
pelo julgamento do mensalão. - comentou.
-Claudio, eu ouvi as considerações do
Fernando Henrique Cardoso, um ano antes desse julgamento do STF...
-E o que ele disse? – quis saber o meu
irmão, que já não expressa a má vontade de antes, quando eu citava o
ex-presidente.
-Ele afirmou que um impeachment do Lula,
naquela época, pararia o país acarretando sérios prejuízos. Considerou certa a
atitude da oposição de não chegar ao extremo.
-E se o Lula saísse, entraria o vice
José Alencar.
-Aí é que estava o grande perigo,
Claudio. O vice do Lula criticava, quase que obsessivamente, a política de
juros altos. Se ele se tornasse presidente, interviria no Banco Central,
reduziria os juros, a inflação voltaria e o Plano Real escoaria pelo ralo.
-Eu sei, Carlinhos, que, no mandato do
Lula, ele não mexia em nada, praticamente, do que o FHC deixou. Lembro-me que
lançaram aquele filme “O homem que copiava” e o pessoal dizia que esse homem
era o Lula.
-Ele escreveu a carta aos brasileiros, comprometeu-se
a manter os três pilares legados pelo Fernando Henrique Cardoso: o Plano Real,
a Lei de Responsabilidade Fiscal e a flutuação do câmbio; o FHC, em contato com
o presidente Clinton, deu o seu aval.
-O vice José de Alencar não se
comprometeu a nada.
-Por isso, embora o FHC não tenha dito
claramente, o Brasil corria um sério risco de ver sua economia degringolar com
o impeachment do Lula.
-A Dilma, Carlinhos, está baixando os
juros e a inflação não está descontrolada.
-A conjuntura é outra, mas ela despiu um
santo para vestir outro; os juros baixaram, mas para a inflação não subir mais,
ela segurou o preço dos combustíveis, o que fez a Petrobras andar para trás.
Eu queria falar mesmo era de política
internacional, da eleição do Barack Obama, mas a Gina entrou na cozinha, onde
eu e meu irmão estávamos, falando do aniversário da minha sobrinha.
-Você vai ao churrasco, Carlinhos?
-Vou, Gina, mas avisei para reservarem
uma garrafa de mineral para mim, porque não posso, por enquanto, beber álcool.
Quanto ao refrigerante, larguei há algum tempo, como já tinha feito com o
cigarro aos 18 anos de idade.
-É no dia 14.
-Pois é, Gina, no mesmo dia do
aniversário do Dieckmann. Caso ele me convide para o almoço, como costuma
acontecer, não poderei ir, pois vou embora do trabalho mais cedo.
-Vai aos dois. - incentivou-me o
Claudio.
-Esses almoços costumam ocorrer no
“Japonês”, perto do Paço Imperial. A comida é muito boa, a melhor que conheço
com comidas do Japão, mas não dá mesmo para ir. - justifiquei-me.
-Qual o nome desse restaurante?-
perguntou apenas por cacoete interrogativo
a minha cunhada, pois dificilmente aparece no Centro da cidade.
-Não sei.
Depois da minha resposta, veio-me
surpreendentemente o nome à cabeça.
-Hachiko.
-Sabe ou não sabe o nome?
-Engraçado, Gina, o Elio me enviou um e-mail,
com a intenção de sabatinador, em que pedia para eu indagar do Lopo sobre o
nome do professor de violino do Bolinha. Disse comigo mesmo que eu não sabia,
mas em menos de um minuto me veio o nome, Léo. Eu estava tão convicto que nem
confirmei no Google.
-E o Lopo acertou?- demonstrou
curiosidade.
-Gina, ele lembrou de como era chamado o avô do Carequinha, a
professora, o caça-gazeteiros, o detetive personificado pelo Bolinha, os
pais da Luluzinha, etc, mas não lhe
vinha por nada à memória o nome do professor de violino. Fui, dessa vez, ao
Google e lhe disse que era Léo Rabeca.
Agora, era o meu sobrinho que irrompia
pela cozinha.
-Daniel, o Fluminense já está com a taça
na mão.
-Em 2005, o Fluminense perdeu os últimos
cinco jogos e o Abel era o técnico. - arrefeceu o entusiasmo que lancei no ar.
-Vamos calçar a sandálias da humildade,
como preconizava o Nélson Rodrigues, mas sem exageros. - retorqui.
-O Fluminense não perdeu para o último
colocado? - avolumou a Gina o pessimismo tricolor.
-Como escreveu o Tostão, na Folha de São
Paulo: o Fluminense sabe o caminho.
-Eu que não coloco a faixa de “Campeão
brasileiro de 2012” ,
porque dá azar. - precaveu-se.
-Na política americana, existe a
superstição que todo o candidato que coloca cocar de cacique na cabeça perde a
eleição.
-Falei isso e pensei no Barack Obama
reeleito, mas o assunto era futebol.
-Daniel citou algumas perdas
surpreendentes de equipes favoritas, do passado, até que o Claudio reapareceu
com O Globo na mão.
-Enfim, o entregador veio com o meu jornal.
- desabafou.
-Sei que você gosta de ler aqui... -
disse, enquanto me levantava.
-Já pode ir para o computador, Carlão. -
deu o Daniel o sinal verde.
Vi o quarto do Daniel, bem arrumado e o
comparei com o meu, uma barafunda que derrota quaisquer faxineiras; me lembrei
da frase do Paul Claudel citada pela Rosa Grieco: “A ordem é o prazer da razão,
e a desordem é a delícia da imaginação.”
Diante do computador do meu sobrinho,
busquei o noticiário sobre a reeleição do Barack Obama, obteria, assim, mais
informações para embasar os meus argumentos quando a sessão do Sabadoido
começasse.
Depois, busquei os vídeos que não
consigo acessar em casa por causa da banda larga ser, na verdade, estreita, e
no trabalho, sempre bloqueada e também devido ao serviço que surge e não deve
se acumular. Procurei, então, o filme do Dieckmann em que havia senha de acesso
a qual ele me revelou, Não o encontrei no meio do cipoal de mensagens
eletrônicas. Deparei-me, no entanto, com um vídeo de um coral russo que o
remetente prometia ser imperdível. Lá se foram uns dez minutos vendo e ouvindo
músicas folclóricas russas, como Kalinka e outras que, de tão populares,
receberam dos brasileiros paródias mais insólitas possíveis, como a do Dori
Caymmi, num programa de televisão, que até incluiu o nome da tenista tcheca
Martina Navratilova.
Lembrei-me, em seguida, do e-email que o
Luca me reenviou com a poesia do Drummond da pedra no meio do caminho recitada
em vários idiomas e dialetos, inclusive tupi-guarani. Procurei, procurei, até
que vozes robustas me chegaram aos ouvidos. Iniciara-se mais uma sessão do
Sabadoido.
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