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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4054 Data: 31 de outubro de 2012
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SABADOIDO DE CONTRADITÓRIOS
2ª PARTE
-Eu fico impressionado com a memória de
vocês que guardam até as pequenas coisas. - manifestou-se o Luca.
-Não é tanto assim. - ponderei.
-É sim; por exemplo, aquele Fla x Flu de
1963 que foi recorde de público na história dos clubes, só o jogo Brasil e
Paraguai, de 1969, superou, mas eram seleções. Eu fui a esse jogo de 1963...
-Eu e Carlinhos também estivemos. -
interveio o Claudio.
-Todo o Rio de Janeiro estava no Maracanã.
- disse o Lopo, meu irmão mais novo.
-Eu nem me lembro do resultado do jogo.
- confessou o Luca.
- 0 a 0, empate que deu o título ao Flamengo. O
Escurinho chutou uma bola na trave...
- Não, Claudio, o Escurinho tentou
encobrir o Marcial, que agarrou a bola. - corrigiu o Lopo, que não assistiu a
essa decisão.
-Na verdade, o ponta-esquerda do
Fluminense podia ter decidido o campeonato em favor do seu clube, mas ele
atrasou a bola para o goleiro com o peteleco que deu. Do lugar em que eu estava, na geral, vi tudo.
- interferi.
-Isso mesmo. - refrescou o Claudio a
memória.
-Um pai colocou o filho no cangote e o
garoto tirou a visão de quem estava atrás. Choveram tantos copos de mate
amassados e pauzinhos de picolé sobre a dupla que o garoto voltou ao chão.
-Mas não houve uma briga com toda aquela
multidão. - seguiram-se as palavras do Luca depois das minhas.
-Os marginais se incorporaram às
torcidas de um tempo para cá. - observou o Lopo.
De repente, gritos que pareciam de
sedentos do deserto nos interromperam:
-Água. Água.
-São os camaradas da árvore. -
aprestou-se meu irmão em servi-los mais uma vez.
-O meu carro está na Chaves Pinheiro. -
pensando que o seu FIAT também sofria com o calor, enquanto ia até o muro que
separava a casa da calçada.
Com essa interrupção, houve algumas
conversas paralelas.
-O bicho no futebol começou no Vasco da
Gama; os dirigentes davam dinheiro aos jogadores, quando venciam, conforme o
número de cada animal no jogo do bicho. - disse meu irmão vascaíno.
-Então, o maior bicho era a vaca. -
disso o Vagner.
-Então, surgiu a expressão fazer uma vaquinha.
- concluiu o Lopo.
Com a volta do Claudio e de Luca, que
atendera o celular, foi reiniciada a sessão do Sabadoido.
-Eu quero saber como o ministro
Lewandowski vai votar amanhã, em
São Paulo , terá de entrar pela porta dos fundos. - disse o
Lopo.
-Mas ele merece, pois, no julgamento do réu
que cometeu a mesma infração quarenta e seis vezes, ele começou com a pena
mínima. - revoltou-se o Claudio.
-Como disse o Joaquim Barbosa não é só o
sujeito que desce o morro dando tiros que comete crimes, quem usa terno também.
- disse o Luca.
-Ele interrompeu um voto da Rosa Weber
para dizer isso. - lembrei.
-O Joaquim Barbosa afirmou que estava
lá, no New York Times, que a justiça do Brasil é risível.
-Em muitos casos, Claudiomiro, é
gargalhante. - disse o Luca.
-Nos Estados Unidos, já jogam a pena lá
em cima.
Interferi na troca de observações dos
dois:
-Nos anos 30, de Al Capone, a justiça
americana era também risível, pois todos sabiam que os mafiosos eram assassinos
e ninguém era preso.
-O Al Capone foi pego pelo imposto de
renda e acabou na cadeia. - retrucou o Claudio.
-Eu falo em termos de Código Penal. Os
Estados Unidos mexeram nas leis punitivas e aquela impunidade acabou. O Brasil
precisa também mexer nas leis, sermos mais rigorosos. - retruquei.
-E aquele que fala da Geisa... - quebrou
o seu silêncio o Vagner.
-É o ministro Marco Aurélio. -
esclareceu o Claudio, que prosseguiu:
-Ele diz que não é o carrasco da Geisa
Dias, mas não pode absolvê-la porque ela que punha em prática as tramoias da
cúpula do Banco Rural.
-E ele está certo. Como ela pode mexer
com tanto dinheiro sem saber de nada. - interveio, meio furioso, o Lopo.
-O Joaquim Barbosa não a condenou? -
perguntou o Luca.
-Condenou, mas retirou o voto de
condenação porque quase todos os seus pares a absolveram. Quem ficou coerente
nessa história foi o ministro Marco Aurélio. - manifestei-me.
Como espocaram nesse momento conversas
paralelas, Claudio, que estava ao meu lado, me disse em surdina.
-Num momento do julgamento, o ministro
Joaquim Barbosa usou o verbo pugnar e disse “puguina”.
-Claudio, ele tem muito crédito, pode
cometer esses erros. - ponderei.
-Quem do Supremo Tribunal Federal não
foi indicado pelo Lula e pela Dilma? - quis saber o Luca.
-O Celso de Melo e o Marco Aurélio.
-Os dois só, Claudiomiro?
-Sim, o Marco Aurélio foi indicado pelo
Collor...
-E o Celso de Melo pelo Sarney. -
atropelei as palavras do Claudio.
-Então, o Celso de Melo se tornou
ministro do STF bem novinho. - concluiu o Luca.
-O ministro Marco Aurélio não participou
do julgamento do Collor porque, sendo parentes, alegou impedimento.
Meu irmão mais novo interrompeu o outro:
-Esse Antônio Dias Toffoli é que é
safado, pois tendo sido advogado do José Dirceu, teve a cara de pau de não se
julgar impedido.
-Aqui, na Folha de São Paulo, está
escrito que Joaquim Barbosa é o primeiro ministro do STF negro, está errado,
pois o Hermenegildo de Barros, rua de Santa Teresa e o Pedro Lessa eram negros.
-Carlinhos, o Joaquim Barbosa será o
primeiro presidente do STF negro.
Calei-me com as palavras do Claudio.
Mais tarde, o Departamento de Pesquisa do Biscoito Molhado colheu os seguintes
dados: Hermenegildo de Barros foi membro do STF de 1919 a 1937, quando foi
obrigado a se aposentar. Em 1931 foi eleito presidente do Supremo Tribunal
Federal e reeleito em 1934. Nuca faltou a uma sessão; não foi ao casamento da
filha porque, na mesma hora, houve uma sessão no STF. Sob a sua presidência, foi instalado o Tribunal
Superior de Justiça Eleitoral, que seria extinto pelo Estado Novo. Hermenegildo
de Barros também presidiu as sessões preparatórias da Assembleia Nacional
Constituinte em 1933 e 1934.
Depois desse parêntese, continuemos com
a sessão do Sabadoido.
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