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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4060 Data: 10 de novembro de 2012
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SABADOIDO CINEMATOGRÁFICO
Nem política, nem julgamento do
mensalão, nem futebol, a conversa se iniciou, quando mal pisei o chão da casa
do meu irmão para mais um Sabadoido, pelo cinema.
-Claudio, eu consegui, na sexta-feira,
assistir a um filme que eu perseguia há tempo: Carlito' Way.
-Que filme é esse? Eu não guardo nomes
em inglês.
-”O Pagamento Final.”
Respondi e continuei sem perder o
fôlego:
-Eu tinha visto o início dessa fita há
algum tempo, não sei por que cargas d' água, eu não vi a continuação e me ficou
uma frustração...
-Deve ter faltado luz. Na realidade,
está havendo um apagão homeopático. - disse.
-Investiram muito pouco em
infraestrutura neste país. Mas deixe-me continuar.
-Fale.
-O filme é com o Al Pacino. Li, agora,
que ele leu o roteiro e ficou entusiasmado. Convenceu um produtor que, por sua
vez, acionou o Brian de Palma para a direção.
-Brian de Palma é diretor de bons e maus
filmes. “Fogueira das Vaidades”, por exemplo, é horrível com todo Tom
Hanks. - interrompeu-me.
-Ele não queria dirigir mais um filme de
gangster latino. O protagonista do Carlito' way é porto-riquenho.
-Brian de Palma tinha dirigido Scarface com o próprio Al
Pacino. - mostrou o meu irmão o seu conhecimento de cinema.
-Brian de Palma relutou, Al Pacino
insistiu e ele aceitou a direção.
-O filme é bom?
Percebi que, com essa pergunta, ele
pretendia encurtar a minha narrativa.
-Sim; há umas coisinhas inverossímeis,
mas isso é próprio da arte cinematográfica.
E o acalmei prometendo que não contaria
o enredo (por que muitos dos meus interlocutores não fazem isso também?).
-Existe um personagem, Claudio, um
advogado, que conseguiu tirar o Carlito da cadeia, apenado em 30 anos.
-É o personagem que o Marcos Valério
está precisando. - pilheriou.
-Este advogado entrou no tráfico de
cocaína, enquanto o Carlito estava preso. Ele, por ter sido solto, tinha uma
imensa dívida de gratidão sob as suas costas.
-Quem era esse advogado?
-Claudio, era um sujeito escroto,
repulsivo, quase ninguém gostava dele. A gente vendo sentia que era asqueroso.
Depois de assistir ao filme, fui ler a sinopse e levei um susto. Quem fez o
papel desse advogado foi o Sean Penn.
-Sean Penn é um grande ator. -
enfatizou.
-Outras resenhas que eu li dizem que
Sean Penn, fisicamente, está irreconhecível.
E fui adiante:
-Por causa dessa dívida, Al Pacino, que
pretendia se regenerar, se envolve na morte de dois italianos, e o filho e
irmão das vítimas com seus capangas, mata o advogado e persegue o Al Pacino.
Ocorre, então, o clímax do filme que é a perseguição no metrô. Soube que a
sequência demorou três meses para ser rodada, porque o Brian de Palma não
ficava satisfeito e exigia outra tomada.
-Charles Chaplin era o mais exigente de todos.
- aparteou-me.
-O engraçado é que Al Pacino, que tanto
lutou para o roteiro chegar às telas, perdeu a paciência, entrou num metrô e
foi para casa, deixando uns perplexos e outros satisfeitos na filmagem.
-Você recomenda?
-Está passando no telecine cult; não
perca.
-Carlão. - gritou o Daniel com seu jeito
travesso.
-O Fluminense está com a taça na mão? -
quis saber.
-Daniel, quem, atualmente, comenta com
mais sabedoria futebol, para mim, é o Tostão.
-Você não dizia que era o Gérson?-
cobrou.
-O próprio Tostão disse que, dentro de
campo, nos jogos da Copa de 70, Gérson era o cérebro do time. De um tempo para
cá, o Gérson deixa que a paixão distorça a sua análise técnica.
-Ele nem parece que é Fluminense. -
bradou o Claudio.
-Mas você falava no Tostão. - quis o
Daniel que eu retomasse o fio da meada.
-O Tostão escreveu que o Fluminense sabe
o caminho. O time está muito bem armado, oito e até nove jogadores ficam atrás
da linha da bola, diminuindo os espaços e bloqueando as jogadas adversárias.
Disse que o Boca Junior venceu várias “Libertadores da América” jogando assim,
E dessa maneira jogaram a seleção da Inglaterra de 1966 e a brasileira de 1994.
-E do ataque ele falou? - interveio o
Claudio.
-É claro que escreveu que o Fluminense
não é só o sistema defensivo, que sabe sair para o ataque.
-Bem, Carlão, eu vou visitar a minha
avó. O computador está à sua disposição.
Não fui logo para a Lan House e
reiniciei minha conversação com o Claudio.
-A Rosa Grieco me deu de aniversário um
livro chamado “Famílias Que Construíram Roma”. Eram barões medievais que
estavam acima do bem e do mal, abaixo apenas do papa, mas nem sempre.
-Lembro-me que o Luca lhe entregou um
livro de umas 400 páginas, enviado por ela.
-Havia uma poesia popular, recitada no
dialeto local que falava dessas famílias. Pena que não estou com o livro aqui,
pois vale a pena conhecê-la.
Como o citado livro se acha na redação
do Biscoito Molhado, eis a poesia:
Orsini, Colonna, Cenci e Frangipani
Cobram hoje, mas pagam amanhã.
Muito mais do que a peste, o papa e
os imperialistas,
Para Roma eles são mais cruéis e
mortíferos,
Muito piores do que a fome, os
franceses e os aragoneses
São os Savelli, os Orsini, os Cenci e
os Colonna.
Feito esse parêntese, continuemos com o
diálogo.
-Os Cenci, por exemplo, Claudio... havia
a Piazza Cenci, a Via Monte de' Cenci, a Via Beatrice Cenci, a Via dell' Arco
de' Cenci, Piazza Monte de' Cenci, e por aí vai.
-Parece a família Sarney.
E completou meu irmão:
-A diferença é que você disse que essas
famílias construíram Roma, e o Sarney destruiu o Maranhão.
Em seguida, ergueu-se da cadeira
anunciando que ainda não dera o café da manhã das rolinhas e foi pegar um pote
de alpiste. Fui, então, para o computador do meu sobrinho.
Lá, acessei mais uma produção
cinematográfica da Triumpho 30 (endereço do Dieckmann). Nesse vídeo, o cineasta
mostrava a reunião do Clube do Jaguar. Vê-se a turma chegando; nela reconheço o
Sérgio Fortes, esbanjando satisfação, o que demonstra que a apresentação da
Orquestra OSB, na MEC FM, o recompensa.
Depois, surgem umas crianças modestas,
mas bem cuidadas, de 8 a
10 anos que respondem, da maneira própria da idade, perguntas do Dieckmann. Em
seguida, o ecrã do computador é tomado por uma palavra: ANTES. Em seguida,
vê-se o reluzente Jaguar do Dieckmann trafegando. Não aconteceu, como em outro
vídeo, quando apareceram ele e a Branca no carro com os cabelos esvoaçantes;
nesse caso, Dieckmann nos remete a Rick e Ilsa, nos tempos felizes de Paris, do
Casablanca.
Agora, Dieckmann, registra, com uma
legenda, cada local de Santa Teresa, como o Mirante do Rato Molhado. Quando o
Jaguar alcança o Centro, as legendas parecem com o nome da Petrobras, ABI,
Edifício Capanema e assim vai até Botafogo. Esse périplo tem, como músicas de
fundo, sucessos da Bossa Nova e sambas cantados por Mário Reis e Moreira da
Silva.
Chegando às beiras da Marina da Glória,
onde aconteceu a reunião do Clube do Jaguar, o filme se encerra.
Trata-se, como o leitor cinéfilo já
percebeu, de uma narrativa que não é linear, o que demonstra a influência de
Quentin Tarentino de Pulp Fiction
na obra do Dieckmann; só faltaram os assassinatos e as piadas que nos
arrancam um riso nervoso (ainda bem que faltaram). Dieckmann começa pelo fim,
vai até a metade e volta para o início – a saída do carro da garagem com ele e
a Branca.
Cotação do filme: bonequinho pedindo
carona ao Jaguar.
Acessei mais algumas mensagens
eletrônicas até que ouvi as vozes do Vagner e do Claudio, que relembravam o
Cachambi dos anos 60, 70 e 80.
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