--------------------------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4053 Data: 30 de outubro de 2012
-------------------------------------------------------------------------------
SABADOIDO DE CONTRADITÓRIOS
-O que me irrita extremamente é o
esquecimento a que relegaram o governo Itamar Franco. Não houve um só caso de corrupção; quando
acusaram o Henrique Hargreaves de corrupção com os anões do orçamento, Itamar
Franco o afastou do ministério da Casa Civil e o recebeu de volta quando ele
provou a sua inocência. O Plano Real saiu porque, como presidente da República,
colocou a assinatura lá. Enfrentou a oposição raivosa do PT que até expulsou a
Luiza Erundina do partido porque aceitou ser sua ministra. E mais: assumiu a
presidência num momento complicadíssimo que foi o impeachment do Collor. Por que então esqueceram o governo Itamar
Franco?
A indignação que o Claudio extravasava
talvez antecipasse o clima de debates do último sabadoido do mês de outubro –
pensei comigo mesmo.
-Creio que depois dos quatro anos do
FHC, Itamar, querendo retornar ao cargo...
Mu irmão cortou a minha fala no meio.
-Carlinhos, o Itamar era uma pessoa
ligada ao povo. Gostava de fusquinha, enquanto o Lula quis logo um avião novo.
-Mesmo o Fernando Henrique, com o seu
jeito de intelectual aristocrático, viajava no Sucatão. - acrescentei.
-O Lula, enquanto isso, elege um
Fernando Haddad em São
Paulo.
-Mas Claudio, ele não tem a popularidade
de antes.
-Sei não. - mostrou-se cético.
-Claudio, ele teve de recorrer à
popularidade da Dilma, que desceu da
posição dela para subir em palanque de candidato a prefeito. Com tudo isso, o
José Serra venceu a eleição no primeiro turno e o que o derrotará no segundo
turno será a rejeição. Grande parte do eleitorado paulista não suporta mais os
políticos profissionais: José Serra, Marta Suplicy, Aloizio Mercadante. Lula,
não se pode negar, sabe como ninguém no PT para onde o vento eleitoral sopra e
impôs o nome do Fernando Haddad, como imporá outro nome novo para o governo do
Estado de são Paulo.
-Em Recife, ele quebrou a cara; tirou o
prefeito paulista que pretendia se reeleger, impôs o candidato dele, o
ex-ministro Humberto Costa, que não passou do terceiro lugar nas eleições.
E antes que eu falasse alguma coisa, ele
concluiu:
-Falam que o Brizola era ditador dentro
do PDT, mas o Lula é muito mais.
-Ele se deu mal em Recife, como em
outras cidades nordestinas, porque, como já disse, a popularidade dele não é a
mesma. - observei com serenidade.
-Sei não. - expressou de novo seu
ceticismo.
Como só as nossas vozes eram ouvidas na
casa, transcorrida meia hora a que lá cheguei, fiz uma pergunta:
-Cadê o Daniel?
-Foi levar a mãe de carro para o
supermercado.
-Caramba, como desempenhei esse papel.
-O carro da Jura quebrou, e ela se
recusou a dirigir o carro do Daniel, então, ele levou mãe e tia ao
supermercado.
Não voltará tão cedo. - previ com os
meus botões.
Aproveitei que o meu irmão passou a
reclamar da entrega do Globo, que não acontecia, apesar de ser quase 9h, para
tirar a política, por momentos, de foco.
-Claudio, soube pela mamãe que, ontem, a
reportagem da TV Recorde apareceu na Escola Manoel Bomfim.
-Denunciaram a diretora de obrigar os
alunos a limparem as salas antes da saída. - informou.
-Dou razão a ela, porque essa garotada
tem de aprender a não sujar tudo por aí, principalmente o lugar onde estuda.
-Como foi a TV Recorde, eu creio que
essa denúncia partiu de algum fiel da Igreja do bispo Macedo. - cogitou.
-É bem possível.
E o Claudio retornou à política.
-Você viu o Fernando Haddad dizendo que,
para o Aécio Neves ser presidente da República, precisa ler um livro por
semana? Só depois, ele percebeu que o Lula estava ao seu lado. A gafe já tinha
sido cometida.
-O Lula se orgulha de nunca ter lido um
livro na vida. - acrescentei.
Subitamente, mais de uma voz, um coro,
chamou por meu irmão.
-São os peões do “Parques e Jardins” que
estão arrancando a árvore. Eles querem água. - explicou, enquanto abria a
geladeira para pegar uma garrafa.
-Claudio, não é preconceito, mas separa
os copos em que eles beberem.
-Vou separar, a Gina, antes de sair já
me tinha dado essa ordem, embora esses camaradas tenham mais saúde do que nós.
-Nunca se sabe.
Quando veio de volta com a garrafa d'
água vazia, eu lhe perguntei se cortavam a árvore ainda mais.
-Carlinhos, eles estão arrancando pela
raiz. Essa árvore está condenada.
Depois de colocar os copos sobre a pia,
vociferou:
-E o Globo ainda não chegou.
Depois, voltou-se para mim:
-Se você quiser usar o computador do
Daniel, pode ir em frente.
Foi o que fiz. Diante da tela do
computador, acessei o novo vídeo que o Dieckmann instalara, mas não consegui
vê-lo por causa da exigência de senha. (*)
-Dieckmann teme a crítica e, por isso,
age como a Cristina Kirchner na Argentina. - murmurei.
Passei, então, para o filme de um menino
de 5 anos, de expressão oriental, que tocava no piano Bach e era aclamado pelos
internautas como gênio. Que não se torne um Lang Lang quando crescer.
Lembrei-me, então, do comentário de um musicista da Rádio MEC comentando a
apresentação do superestimado pianista chinês, no Brasil Disse ele que Lang
Lang apressava um movimento de uma sonata e ralentava outro, tornando a peça
pianística disforme, um “frankenstein”.
Depois de acessar mensagens eletrônicas,
ouvi vozes que vinham de fora; não eram dos trabalhadores sedentos, nem do
Daniel e família vindo das compras; identifiquei que eram do Vagner, do Luca,
do meu irmão mais novo e do Claudio. A sessão do Sabadoido já se iniciara.
Quando lá cheguei, o Lopo ocupava a
minha cadeira, então, tive de me sentar num banco sem encosto que, para piorar,
girava, ameaçando de jogar-me ao chão.
Luca expunha uma opinião com veemência,
enquanto eu avistava sobre a mesinha uma página da Folha de São Paulo sobre o
juiz do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Luca, num telefonema dois
dias antes, me dissera que levaria ao conhecimento do Claudio o fato de o
Joaquim Barbosa ter passado na prova do Itamaraty e ser barrado na entrevista,
o que constava nessa reportagem. Ao terminar de lê-la, senti dores nas costas.
-Vou me levantar como o ministro revisor
do mensalão devido às dores na coluna. - anunciei.
(*) O
Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO procurou o Dieckmann, chamando-o de
Cristina, tendo como retorno uma sonora vassourada perpassada pela Branca,
guardiã do varão da Triumpho 30 Produções, acompanhada de indagações repetidas:
“Quem é essa Cristina? Que Cristina é essa? Sai já pra lá!!” – e tome
vassourada.
Ante o
berreiro e splafts da piaçava, fui acudido pelo acusado. Após um copo d’água
com PH 7,0, o Dieckmann esclareceu que os vídeos de família são protegidos por
senha e só aparecem para aqueles que a quem é endereçado o ‘link’. A senha é
sempre a mesma “barafunda” e é sempre declarada no e-mail que encaminha o link.
Por alguma distração e, possivelmente, uma desconexão com o mundo cibernético,
o redator bobeou e deixou a poeira do tempo acumular no link. Mas nada que o
Dieckmann quisesse esconder, ou não lhe teria enviado o tal link.
Nenhum comentário:
Postar um comentário