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O
BISCOITO MOLHADO
Edição
5214 Data: 20 de
outubro de 2015
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211ª CONVERSA COM OS TAXISTAS
Dia 8 de outubro eu estava em casa. Meus cinco
derradeiros dias de férias eram, por escolha minha, na semana do meu aniversário;
mas eu teria de me encontrar com colegas de trabalho para um almoço
comemorativo na Rua do Ouvidor. Não só eu seria celebrado, também uma colega
que nasceu no mesmo dia e mês, a diferença se achava nos anos, 14 em meu
desfavor. Eu teria de ir por ela e por mim.
Tracei o meu plano: sairia de casa às 11h para pegar o
primeiro táxi que encontrasse, saltaria na estação de Maria da Graça, de lá,
pegaria o trem do metrô e, por volta de 11h 45min, eu pisaria o chão da Rua
Uruguaiana no mais tardar. Mas – lembrando o Garrincha – esqueci-me de combinar
com os russos.
Saí de casa e não andei 100 metros quando vi um táxi
da Coopnorte no ponto da Rua Renoir.
-Estação do metrô de Maria da Graça.
-Vamos lá. - animou-se o taxista, um moço de uns 30
anos, que, pelo jeito, aguardava horas por um passageiro.
Desceu a rua e perdeu alguns minutos na espera de um
espaço para entrar no fluxo do trânsito da Avenida Suburbana. Fluxo?... Se
podemos chamar essa avenida de artéria, ela estava enfartada, tantos eram os
veículos parados.
-Seria bem melhor se você fizesse o caminho alternativo.
- observei, e ele me ouviu calado.
Agora, era tarde; já estávamos na Suburbana na agonia
daquele congestionamento.
-Táxi para a Modigliani 97. - ouviu-se uma voz de
mulher; ele deixara o rádio da central da cooperativa ligado.
-É onde eu moro. - disse-lhe.
A voz da mulher prosseguiu:
-Para Dona Hedwiges.
-É a minha mãe. Minha irmã foi visitá-la e está
voltando para casa agora. Vou avisá-la para não deixar o taxista entrar de
jeito nenhum na Suburbana.
Disse-lhe essas palavras, enquanto acionava o celular.
A ligação caiu na caixa postal.
Pelo fato de o rádio do seu carro estar ligado, ele
sabia, com toda certeza, que o tráfego da metade do Rio de Janeiro entrara em
colapso, há algum tempo, devido a um acidente na Avenida Brasil na altura de Benfica.
-Vou fazer uma coisa que é ruim para mim, mas boa para
o senhor: vou deixá-lo na estação do Nova América, que é mais perto.
Era o mínimo que ele poderia fazer por mim depois
dessa lambança. - pensei, mas nada disse.
Logo que desceu o Viaduto de Del Castilho, ele
manobrou perigosamente o carro para fugir do engarrafamento; para tanto, subiu a
estreita calçada que divide as duas pistas do viaduto em busca da Avenida
Martin Luther King Júnior onde o tráfego fluía.
Deixou-me na estação do metrô de Del Castilho, sem antes xingar de “motorista
profissional de merda” o condutor de um caminhão que o obrigou a frear para que
o abalroamento fosse evitado.
De Del Castilho até a Uruguaiana, em toda a parte em
que o metrô é de superfície, eu vi o trânsito parado e ouvi xingamentos ao
prefeito Eduardo Paes.
No meu retorno do almoço, a coisa normalizara. Voltei
às 3h da tarde, quando o corpo do policial militar, atropelado por um ônibus na
contramão, já havia sido retirado e todo o acidente periciado – o transtorno
que afetou o transporte da metade da cidade fora devido à demora de 1h 35min da
perícia para chegar ao local.
Saltei na estação de Maria da Graça e o táxi que
ponteava a fila do ponto da Domingo de Magalhães era o do 017.
Puxei conversa.
-A Fernanda Torres, na sua coluna na VEJA, escreveu
que foi à Praça Mauá e ficou maravilhada com o que viu. Disse que sentiríamos
saudades do Eduardo Paes.
-Pois sim. - grasnou.
-Na semana seguinte, uma leitora, revelando-se
admiradora dos textos da filha da Fernanda Montenegro, criticou-a pela
exaltação ao prefeito, pois ele largou de mão os hospitais e as escolas.
Fernanda Torres, quando voltou à sua crônica, fala do puxão de orelha que levou
dessa leitora e reconheceu que exagerara nos elogios.
-Esse cara não faz nada pela saúde e educação. -
exaltou-se o 017.
-O PMDB quer lançar um candidato a Presidente da
República, em 2018 e o nome cogitado é o do Eduardo Paes, pois os políticos de
destaque do partido, sem exceção, têm problemas com a Justiça.
-E ele não tem?
-Nessas obras para as olimpíadas, não se fala em
superfaturamento...
-Por enquanto. - cortou-me.
-Sim, por enquanto, mas, enquanto eram feitas as obras
para a Copa do Mundo, já havia mil denúncias de superfaturamentos.
-Esse Eduardo Paes é outro safado. Veja a ponte
Hercílio Luz, uma vergonha! O que se gastou...
-Ela não fica em Santa Catarina? - intervim com
ironia, que, acredito, imperceptível para ele.
-É... fica lá no sul. (*)
Sem tomar fôlego, sacou outra ação vergonhosa.
-E o superfaturamento do Engenhão?... Um material
vagabundo que pôs em risco a vida dos torcedores, se o estádio desabasse.
Dessa vez, fui mais direto.
-Isso é com o César Maia.
-Ele foi prefeitinho do César Maia.
-A presidente Dilma disse que o Eduardo Paes é o
melhor prefeito da galáxia, que não é a Via Láctea.
-Ela é maluca.
Chegamos a um acordo neste ponto e também à Rua
Modigliani.
No dia seguinte, havia vários taxistas no ponto da
Domingo de Magalhães, formando um grupo de conversadores, com seus respectivos
carros enfileirados. O único que se achava no seu posto de motorista era o
Albino, talvez porque o seu táxi ponteasse a fila, mas logo constatei que o
motivo era outro.
-Ficam jogando conversa fora...
-A turma ali?- indaguei.
-Não se aproveita nada do que falam, por isso, eu
quero distância.
-Ontem mesmo, na corrida com um deles, eu me arrependi
de ter puxado assunto sobre política.
Como ele nada disse, eu acrescentei:
-Falei-lhe sobre o artigo da Fernanda Torres louvando
o Eduardo Paes pelas obras, enquanto a educação e os hospitais ficam
esquecidos.
-Sim; mas ele está reformulando a cidade.
-Não nego, mas o Carlos Lacerda fez obras
importantíssimas e não deixou de construir milhares de escolas e fundar
hospitais, como o Salgado Filho.
-As obras do Eduardo Paes são também muito importantes.
- argumentou.
-Paulo de Frontin abriu a Rio Branco, na época,
Avenida Central, derrubando cortiços que eram propagadores de peste bubônica,
febre amarela, o diabo. – contra-argumentei.
-Sim, mas só a derrubada da perimetral foi um grande
feito do prefeito.
E discordando, às vezes concordando, chegamos a
Modigliani.
(*) A ponte pode ficar no Sul, mas os
paesxulecos estão mais ao Norte, na Conexão Panamá.
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