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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5201 Data: 02 de outubro de
2015
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CARTAS DOS LEITORES
-O redator escreveu sobre a visita que a rainha Maria
I, a Louca, fez a casa dele, mas dedicou apenas dois parágrafos, se tanto, ao
tempo em que ela esteve no Brasil. Identificou as outras que derem origem à
expressão popular “Maria vai com as outras”, Gleisi, Jandira, Ideli, Maria do
Rosário, mas esqueceu a Erenice. Eu gostaria de saber como as perturbações
mentais da Maria I, a Louca, foram tratadas no Brasil. Nada disso foi dito.
Aqui vai esta crítica construtiva. Oduvaldo
BM: Com críticas construtivas como essa, o Biscoito
Molhado chegará, um dia, a New York Times, diria Maria I.
A falta de tempo nos impediu de relatar a estada da
rainha no Brasil, como desejávamos, porém, algumas pesquisas foram feitas pela
nossa equipe sobre o final da sua vida, no Brasil, que escaparam dos
historiadores, e descobrimos algumas coisas. Por exemplo: no desembarque da
Corte Real, no Rio de Janeiro, a rainha teceu os maiores elogios ao vice-rei e
capitão geral do Brasil, Dom Marcos de Noronha e Brito dizendo que ele era um
“vice-rei das galáxias e não é da via láctea, é de uma galáxia especial.”
Dom João, que
trouxera muitos cruzados do Tesouro de Portugal para cá, procurou bons médicos
para a rainha. Estes aconselharam que a paciente se libertasse, por momentos,
da velha e pesada cultura lusitana e arejasse a mente com vistas às
manifestações festivas dos índios; acreditavam eles que essa ligação dela com o
novo, com a natureza em sua exuberância, só lhe faria bem. Então, numa dessas
festas indígenas, Maria I, a Louca, saudou a mandioca, e afirmou que não só
ela, como todas as índias, eram mulheres sapiens.
Quando a missão francesa, com grandes artistas, entre
eles Debret, aportou no Rio de Janeiro, em 26 de março de 1816, ainda
presenciou um deslumbrante foguetório com os populares gritando vivas pelas
ruas. Maria I, a Louca, fazia seis dias, não era mais reverenciada, não porque
renunciara ou sofrera impeachment, simplesmente porque falecera. O
príncipe-regente Dom João se tornava rei.
Na monarquia era assim: morreu o rei?... viva o rei!
(o sucessor, evidentemente).
-O Globo, anos atrás, creio que no início do ano 2000,
apresentou uma lista dos cem maiores brasileiros vivos. O redator do BM soube
dessa lista? Pretende, também, apresentar a sua lista? Waldir
BM: Sim,
passamos a vista por essa pretensiosa intenção do Globo de nomear os melhores,
não vimos o nome do Millor Fernandes que, na época, estava bem vivo e passamos
a ler assuntos sérios.
Millor disse uma frase que, infelizmente, não perde a
sua atualidade ululante, no Brasil: “Desconfio de quem lucra com a sua
ideologia.” Quando os “idealistas” brasileiros – políticos, artistas,
escritores, cineastas, intelectuais em geral – deixarão de lucrar?... Afinal,
nós, como contribuintes, pagamos essa conta.
-“Quantos leitores têm o Biscoito Molhado?”- Doalcei.
BM: Não sei; só garanto que o Dieckmann, distribuidor do
Biscoito Molhado, está mais atento do que eu a esse ponto. Dois anos atrás,
imaginando que aumentaria exponencialmente o nosso número de leitores, lançou o
Biscoito Molhado no Facebook. Foi um fracasso. Cachorros, bichanos, crianças
fazendo gracinhas, exibições da própria privacidade fazem sucesso na rede
social, às vezes, estrondoso; textos, não, a não ser que se limitem a cinco
linhas no máximo. Dieckmann percebeu
isso e desistiu.
No entanto, dois anos atrás, redigimos uma edição
formada por perguntas em que cobrávamos, de algumas celebridades, suas atitudes
em situações específicas. No seu aguardado asterisco, Dieckmann se colocou na
pele dessas personalidades e respondeu, com talento, é inegável, a todos os
questionamentos. Não se conteve e postou tudo no Facebook. Mesmo contando com inúmeros
amigos, poucos curtiram; se tive postado a fotografia de um Gordini dos anos 60
obteria (obteríamos, afinal as perguntas eram minhas) mais repercussão. (*)
Esteve (não sei se ainda está), no Brasil, o escritor
francês Christian Pringent, epígono do escritor, sociólogo, semiólogo, filósofo
Roland Barthes (1915-1980). Ao ser inquirido sobre o pequeno número de leitores
no Brasil, disse que isso é alarmismo, não só no Brasil, como na França e nos
demais países. Assinalou que imaginam que. nas outras épocas, lia-se muito, mas
a verdade não é bem essa. Citou, então, Rimbaud, que teve 20 leitores,
Baudelaire, 100. Palavras textuais suas: “No século XIX, de Balzac e Zola, o
número era infinitamente menor, pois as pessoas não sabiam ler.”
Lembramos que Carlos Drummond de Andrade e Manuel
Bandeira custearam do próprio bolso as edições das suas primeiras obras, que
mal chegavam a 200. O Brasil, naquele tempo, tinha mais de 80% de analfabetos.
Voltando ao escritor francês Christian Pringent e ao
século XIX, chamamos a atenção que muitos livros saíam, nos jornais, sob a
forma de capítulos seriados. A leitura de um capítulo por dia não cansava o
leitor no século XIX, no XX, também, foi o caso de “Giselle, a espiã nua que
abalou Paris” (não discutimos aqui a qualidade dos escritos), cujos 53
capítulos saíram 1 por 1 nas edições do jornal Diário da Noite do Assis
Chateaubriand. (**)
O serviço de rede social fundado por Mark Zuckerberg, Eduardo
Saverin e outros, lançado em 2004, veio mostrar o que já se desconfiava:
Cachorros, bichanos, crianças fazendo gracinhas, atraem a atenção de mais
pessoas do que os livros.
-Falta ao Biscoito Molhado um consultor de atividades
físicas para esclarecer dúvidas dos leitores e zelar pela boa saúde deles. Eu,
por exemplo, tenho uma dúvida: subir e descer escadas é bom para o
condicionamento cardiovascular? José
Carlos
BM: Com a atual crise econômica, estamos
impossibilitados de contratar um articulista dessa matéria, mas recorremos ao
nosso distribuidor que, atualmente, se obriga a dar pelo menos 10 mil passos
por dia, consultando o seu celular, com pedômetro, como um crente consulta a
sua Bíblia. Disse-nos ele que, ao subir os degraus de uma escadaria, os
músculos posteriores das pernas, dos quadris e os glúteos são fortalecidos,
além de ser benéfico para o sistema cardiovascular; porém, o mesmo proveito não
ocorre na descida, pelo contrário, porque as articulações dos joelhos são exigidas
demais.
Isso me faz lembrar as palavras do meu pai num dia em
que desceu um trecho da Rua Honório: “Quem disse que para baixo todos os santos
ajudam? Eles nos empurram, metem o pé na nossa bunda e, se bobearmos, nos jogam
no chão.”
É só, por hoje.
(*) A Distribuição do seu O BISCOITO
MOLHADO informa que já atingimos a marca de 24 mil acessos. É normal haver 20
acessos diários, o que equipara o redator a Rimbaud, mas a contagem diária de
leitores, às vezes dá saltos de 200 ou mais acessos, o que deve significar que
os leitores diários devem ser mais de 20. Pode-se afirmar, com absolutas
segurança e isenção, que O BISCOITO MOLHADO é o maior sucesso literário do
século 19.
(**) Gisele, a espiã nua foi uma aventura criada por David Nasser, de modo que o sucesso atingido pode ter relação com o talento.
Um fato curioso sobre a relação de Nasser com Chateaubriand sobre a
série, foi que o jornalista, contrariado por um salário adicional que
lhe havia sido prometido se a história fosse um sucesso não ter sido
ainda pago, avisou ao chefe que ia matar Giselle num pelotão de
fuzilamento e que já tinha escrito o final. Chateaubriand ficou
apavorado com o possível fim da série que estava fazendo do Diário o mais vendido jornal vespertino carioca no segundo semestre de 1948,[3]
e rapidamente deu a Nasser o dinheiro que desejava. O jornalista,
porém, disposto a acabar logo com a história, disse a Chateaubriand que
não via mais jeito de continuar, pois o último capítulo escrito por ele,
que estava na edição do dia do jornal, terminava com a espiã na frente
do pelotão de fuzilamento e o grito final do oficial nazista comandante
do pelotão de "Fogo!". O capítulo seguinte seria apenas a finalização da
história. Chateaubriand lhe deu então um ultimato: "Se Giselle aparecer
morta amanhã, o senhor acorda desempregado depois de amanhã. O senhor
trate de avisar a este oficial nazista que acaba de chegar uma ordem de Goering desde Berlim mandando suspender o fuzilamento!" [2] :427
E assim Giselle acabou vivendo mais algumas semanas, durou 59 capítulos e em 1952 ganhou uma segunda edição em livro.
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