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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

2959 - mudança de calendário


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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5209                               Data:  13  de outubro  de 2015

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PELO TELEFONE SÉRGIO FORTES MANDA O CALENDÁRIO

 

Foi depois da Naná, não o romance naturalista de Zola, mas a canção do Custódio Mesquita, na voz do centenário Orlando Silva, que o Sérgio Fortes telefonou para o programa Rádio Memória dando presença de vida e explicando o porquê da sua falta ao emprego pela terceira semana consecutiva: a mudança. Com isso, já há uma bolsa de apostas: O que acontecerá primeiro: o fim do mandato da Dilma, do Eduardo Cunha ou da mudança do Sérgio Fortes? 

Mudança de sexo não é, ele já jurou que não tem perfil algum de personagem de novela da Globo; trata-se mesmo de mudança de residência que, pela demora, está enlouquecendo os funcionários dos Correios, que não sabem para onde vão enviar as correspondências: o apartamento velho ou o novo.

E pensar que o grande compositor Mozart chegou, segundo seus biógrafos, a se mudar nove vezes em um ano. Vemos agora que, nessa questão de mudança, o nosso amigo Sérgio Fortes é exatamente o oposto: leva nove anos para se mudar uma vez.

Ele mesmo (o Sérgio, não o Mozart) brincou com a sua situação:

-Os ouvintes deve estar pensando que se trata da mudança do Ali Khan.

Da família Rothschild, talvez...

-Vamos ao calendário. - pediu o Jonas Vieira.

-11 de outubro – impostou a voz o homem-calendário – em 1968, com a Apolo 7 há a decolagem da primeira missão tripulada do Projeto Apolo. Foi da maior importância; cinco missões depois... sei lá,  o homem chegava à lua.

-Exatamente, Sérgio. – ratificou o Jonas.

Antes do asterisco do Dieckmann, corrigimos para “quatro missões depois”.

-Em 1977, o Papa João Paulo II, em sua terceira e última viagem ao Brasil, permanece 75 horas no Rio de Janeiro. Nesse mesmíssimo dia, Bill Clinton visitou a Mangueira. Lembra isso?

-Claro. - enfatizou o titular do programa.

Segundo o cantor Jamelão, Bill Clinton se sentiu feliz como pinto no lixo.

Após os eventos históricos, o Homem-Calendário passou para as datas natalícias.

-Em1884, nascia Eleanor Roosevelt, esposa do presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt. Era um casal famosíssimo. Todo o mundo falava e, depois, com o passar do tempo, você constata que esse casamento não era um mar de rosas, era meio enrolado.

-Exatamente. - chancelou o Jonas Vieira o comentário do seu parceiro.

Roosevelt teve uma constelação de mulheres ao seu redor, mas sem as estrelas do firmamento do John Kennedy, outro presidente democrata. A sua esposa Eleanor, por outro lado, trouxe as suas amiguinhas lésbicas para perto de si, tudo de comum acordo, bem moderninho.

-Em 1908, nascia o grande compositor brasileiro Cartola.

-Grande Cartola! – vibrou o Jonas Vieira.

Sérgio Fortes, como tricolor, deveria assinalar que Cartola torcia pelo Fluminense, mas, com a cabeça na mudança, omitiu esse ponto de grande relevância para os torcedores do clube das Laranjeiras.

-Em 1928, nascia Alfonso de Portago. Era um corredor, Jonas, um automobilista. Um espanhol, uma cara boa pinta, que começou a fazer sucesso em todos os campos que se metia. Era um bom piloto inclusive. (*)

-Sei.

-Mas naquela famosa corrida italiana Mille Miglia, de 1957, ele se abraçou com uma árvore e não teve jeito.

-Caramba.

-Um grande corredor, um homem muito famoso: Alfonso de Portago. - repetiu.

Chamava-se Alfonso Antonio Vicente Eduardo Angel Blas Francisco de Borja Cabeza de Vaca Y Leighton, Marquês de Portago. Os locutores não diziam o seu nome completo porque temiam que a comida se encerrasse no meio dessa missão. Ele era de família anglo-espanhola, corredor da escuderia Ferrari. Foi um incansável conquistador de mulheres, mas ficou muito aquém do Porfírio Rubirosa, que está para o Tinoco como o Orlando Silva está para o Jonas Vieira: são ídolos.

-Em 1936, nascia Tom Zé, compositor brasileiro.

É isso mesmo: Tom Zé completou, nesse domingo, 79 anos de idade. Tom Zé foi redescoberto pelo artista David Byrne, da banda Talking Heads, que lançou seus discos no exterior, e é, sem a menor dúvida, o compositor de maior bagagem musical do movimento Tropicália.

 -Em 1937, nascia Bobby Charlton, futebolista inglês.

-Olha só... – manifestou-se o Jonas Vieira ao ouvir o nome do craque.

-Lembra?... Um carequinha.... Ele era muito classudo. Jogava muito bem, mas tinha um irmão (Jack Charlton), que derrubava árvores com o pé. Era um troglodita, mas o Bobby Charlton tinha muita categoria.

Ele era o Didi inglês.

-Em 1939, nascia a grande tenista brasileira Maria Ester Bueno. Ela era sensacional.

Como o tempo urgia, não deu tempo para cantar “parabéns pra você” em homenagem a maior tenista brasileira do século XX e, parece, do século XXI também.

-Em 1957, nascia Lobão, músico brasileiro. Eu gosto muito do Lobão, comungo com as posições (políticas) dele, mas não faz o estilo de quem você gostaria que casasse com a sua filha.

Agora, o Homem-Calendário passava para os falecimentos.

-Em 1896, morria o grande compositor austríaco Anton Bruchner.

-Puxa!

-Um grande sinfonista, Jonas. A peculiaridade do Bruchner é que as sinfonias dele, todas elas, depois de apresentadas na estreia, eram revisadas dali a três anos. Era apresentada, então, a nova versão, mas dali a cinco anos, vinha outra versão revisada... Ou seja, eram obras em permanente construção; duravam vinte, trinta anos.

Só a mudança do Sérgio parece que vai durar mais.

-Ele foi o criador de um novo padrão musical, não é isso?- indagou o Jonas Vieira.

-Exatamente. Bruchner era um inovador, sofreu muita influência de Wagner. Ele era um grande músico.

Segundo Otto Maria Carpeaux, na sua “Uma Nova História da Música”, Bruchner era um formidável compositor, mas meio retardado porque teria se ajoelhado para beijar a mão de Wagner, que era gênio, mas canalha.

-Em 1963, falecia Jean Cocteau, escritor e cineasta francês.

-Em 1996, morria Renato Russo, cantor e compositor brasileiro, líder da banda “Legião Urbana”.

-Em 2004, morria Fernando Sabino, escritor e jornalista brasileiro.

-Grande Fernando Sabino! – exclamou o Jonas.

-Em 2011, era a vez de José Vasconcellos.

Não colocaram faixa alguma do LP “Eu Sou o Espetáculo”, para homenageá-lo, porque o tempo era curto.

-É isso, Jonas; não foi um grande calendário, mas tem alguns fatos interessantes.

-Não tem nenhum santo, não?- estranhou o titular do programa.

-Não tem. Eu estou até pensando em me candidatar.

Fernando Milfont que, durante toda a interlocução telefônica, meditava, saiu do seu silêncio.

-Eu vou me candidatar.

Zico talvez se candidatasse também, caso estivesse escutando o Rádio Memória.

-Não existe nenhum São Jonas, é preciso que haja um.

A razão estava com o Jonas Vieira, pois o único Jonas sagrado que se conhece é do Antigo Testamento, engolido por uma baleia.

Assim, com os três lançando as suas candidaturas para santo do dia 11 de outubro, o calendário se encerrou e o Sérgio Fortes voltou a sua atenção para a mudança.

(*) Um asterisco com múltiplos fins; tal como a mudança de Sergio Fortes, que serve de cobertura para o eterno descumprimento da agenda.

O Marquês de Portago era um corredor do time do meio e pagou com a vida a sua teimosia. Como não trocou os pneus na hora recomendada, ficou parecendo que estava muito bem posicionado nessa Mille Miglia de 57. O pneu não estava de acordo, abriu o bico a 70 km do fim e o Marquês saiu da pista, morrendo e ceifando mais 10 vidas. De quebra, encerrou também a continuidade da Mille Miglia, que hoje é uma competição para automóveis fabricados até 1957, conduzidos em velocidade compatível por endinheirados almofadinhas.

A respeito ainda do Marquês, dizia-se que durante sua curta carreira ficou conhecido como o “piloto de dois carros”, tal o número de componentes mecânicos do carro que ele destruía com seu jeito amigável de pilotar. Em outras palavras, uma besta quadrada.

 

 

 

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