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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5204 Data: 06 de
outubro de 2015
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4 DE OUTUBRO NO RÁDIO MEMÓRIA
O dia era 4 de outubro, mas o Jonas Vieira estava
inteiramente voltado para o dia anterior, 3 de outubro de 2015, quando Orlando
Silva faria 100 anos de idade. Um ano antes, no Rádio Memória, depois de
criticar duramente, mas com justiça, a mídia, por deixar em brancas nuvens os
centenários de grandes artistas do passado, declarou, com veemência, que os 100
anos do Orlando Silva não seriam esquecidos. “Eu não vou deixar.” Nem esperou
2015 chegar, arregaçou as mangas e promoveu um evento, na ABI, se a memória não
me trai, sobre o cantor da sua predileção e de todos aqueles que têm os ouvidos
apurados para o canto.
Nada mais compreensível, agora, que ele transformasse
o dia 4 em dia 3, o domingo em sábado, embora a sua apreensão, que citamos, não
se confirmasse. José Serra, Ancelmo Góis, João Máximo, Ruy Castro, Ricardo
Cravo Albim, José Ramos Tinhorão - este, como o Jonas Vieira, considera Orlando
Silva o maior cantor do mundo de todos os tempos – foram alguns dos
orlandófilos que trombetearam as façanhas do seu ídolo e impediram que a data
passasse em brancas nuvens.
Mas houve um momento, nesse programa do último domingo,
na segunda parte, que Jonas Vieira não pôs mais uma gravação do Orlando Silva
para o deleite dos ouvintes porque atendeu o telefone. Era o Sérgio Fortes. Desaparecido
desde que o titular do Rádio Memória anunciou a sua mudança, Sérgio Fortes
tratou de se pronunciar para que dúvidas não pairassem no ar.
-Jonas, você disse aos ouvintes que estou de
mudança... no mundo em que vivemos, eu fico preocupado. Quero deixar claro que
não há nenhuma conotação sexual...
Depois dos risos, ele prosseguiu:
-O meu abraço a todos os ouvintes do Rádio Memória. Eu
confirmo que continuo muito enrolado com a minha mudança. Eu acho que mudança
tem limite de idade; deve ser feita até os 29 anos, depois de velho é terrível.
-Pior do que mudança, só uma mala. - observou o Jonas
Vieira com sutileza.
-É mesmo. - concordou o Sérgio Fortes e, com ele, 90%
dos brasileiros.
Sérgio expressou preocupação pela sua ausência física
em dois programas seguidos e pediu para dar as coordenadas no calendário.
-O que você acha?
-Eu acho ótimo, Sérgio. Vamos lá.
Como se ouvisse um diapasão imaginário, Sérgio Fortes aprimorou
a voz.
-Dia 4 de outubro.
Em seguida, baixou uma oitava:
-Em 1942, o Cruzeiro é instituído como a moeda oficial
do Brasil por Getúlio Vargas.
-Exatamente, Sérgio.
-Depois disso, houve grandes transformações. Esse
negócio de mudança de moeda... Eu, uma vez, fiz uma aplicação num plano de
capitalização de 10 anos. Eu apliquei, na época, uma quantia em torno de 3
salários mínimos, quando fui resgatar, tinha direito a um Eskibon. Olha, eu
cuspi maribondos...
Gargalhadas sádicas do Jonas Vieira foram captadas,
-Em 1957, é
lançado ao espaço o primeiro satélite artificial, o Sputnik 1.Foi uma comoção,
Jonas. Muita gente pensou que íamos ser atacados a qualquer momento. Lembra
isso?
-Eu lembro demais.
-Em 1970, uma overdose de heroína mata a cantora Janis
Joplin aos 27 anos.
-Quantos artistas se envolveram com drogas?... Eu acho
– comentário meu – que carregar o andor divino, que é a arte, é muito difícil.
-É mesmo, Jonas.
Jonas prosseguiu com o seu raciocínio.
-Vamos pegar o Orlando Silva, que também se envolveu
com drogas, mas, felizmente a Lourdes (sua esposa) o salvou. O que acontece?...
Você tem de cantar praticamente as mesmas coisas, enquanto é assediado por
compositores, por fãs, etc. Mesmo dormindo mal, você tem de estar sorrindo.
-É verdade.
-E o peso da música que você carrega... Rapaz, tem de
ser muito forte para isso.
Mais uma vez o Sérgio Fortes concordou com o seu
parceiro.
-Ainda em 1970, Émerson Fittipaldi, correndo pela
Lotus, vence sua primeira corrida como piloto de Fórmula 1, no circuito de
Waltkins Glen, nos Estados Unidos. Foi a primeira vitória brasileira na
categoria. Foi uma comoção.
-Certamente, Sérgio, para o Brasil.
Também para a Suécia, pois, com essa vitória, Jochen
Rindt se tornaria campeão mundial póstumo da Fórmula 1 de 1970.
Dos eventos históricos, Sérgio Fortes passou para os
nascimentos.
-Em 1841, nascia Prudente de Morais, que viria a ser o
primeiro presidente civil do Brasil.
-Em 1959, Clóvis Beviláqua, autor do Código Civil
Brasileiro de 1916.
-Em 1891, nascia uma figuraça: Assis Chateaubriand.
-Esse foi mesmo uma figura. Eu o conheci pessoalmente.
- manifestou-se o Jonas Vieira.
-Jonas, ele fechava a gaveta e deixava a chave dentro.
Dava nó em pingo d’ água.
Jonas Vieira retomou a palavra para contar uma
história que ilustrava bem a “figura”, antes, porém, fez uma pequena introdução.
-Ele dava
presentes para muitas mulheres, dava presentes para reis, rainhas... pensando mais
em se promover; enquanto isso, os salários das suas várias empresas estavam
sempre em atraso. Na rádio Tupi, por exemplo, ele perguntava ao tesoureiro
quanto dinheiro havia. “Tem tanto”. “Me dá”. Não ficava nada.
-Caramba! – abismou-se o Sérgio Fortes.
-Certa vez, na Rádio Tupi, ele chegou lá uma hora da manhã
com vários convidados. Ele pretendia entrar e mostrar a rádio a todos. Foi
barrado pelo porteiro. “Eu sou Assis Chateaubriand”. “Eu não conheço o senhor
pessoalmente”. “Eu garanto que sou”. “Não, senhor, não pode entrar”. “A ordem é
que só pode entrar quem se identificar”. Ele foi barrado e, no dia seguinte, o
porteiro foi demitido.
-É claro. - disse o Sérgio pensando na ordem natural
das coisas.
Mas a história não terminava aí.
-Pois o Assis Chateaubriand chamou o porteiro e lhe
disse: “Parabéns”.
Era, agora, a vez do Sérgio Fortes.
-Também conheço umas histórias. Meu avô conviveu com
ele, no Recife. Contou que o Assis Chateaubriand era um garoto, tinha acabado a
faculdade de Direito, ainda inexperiente e se meteu a concorrer a uma cátedra
da Faculdade de Direito de Recife com um luminar, um sujeito qualificadíssimo.
Chance zero. Como esse garoto tem essa petulância?... Para se ter uma ideia,
Jonas: ele ganhou.
E completou:
-Imagina, Jonas, o que ele fez por baixo dos panos.
Mas ganhou.
O calendário seguiu adiante.
-Jonas, em 1895, nascia Buster Keaton, ator,
realizador, roteirista e produtor do cinema americano.
-Grande ator! vibrou o Jonas.
-Em 1948, nasce uma atriz brasileira que eu coloquei
aqui porque conheci o seu pai, um pintor muito competente, muito talentoso,
Lúcia Alves. Ela anda sumida.
-Realmente.
-Eu não sei quais são os regulamentos, principalmente
da Rede Globo... É um tal de determinarem quem some, quem aparece. Deve haver,
Jonas, muita coisa que a nossa vã filosofia não alcança.
-Só o futuro dirá.
-Jonas, em 1956, nasceu um ator austríaco... não sei
se você viu algum filme dele, o cara é inacreditável: Christoph Waltz. Ele fez os
filmes “Bastardos Inglórios” e “Django Livre”. Guardem o seu nome, embora
muitos já o conheçam: Christoph Waltz. Que ator! (*)
Agora, o Homem-Calendário passava para os
falecimentos.
-Em 1669, Rembrandt, pintor neerlandês.
-Em 1904, Frédéric Auguste Bartholdi, escultor
francês. A importância dele é ter esculpido a Estátua da Liberdade.
-Nossa! – exclamou o Jonas Vieira.
-Em 1947, morria Max Planck, físico alemão,
considerado o pai da Teoria Quântica. Eu imagino que ele sabia tudo sobre
Teoria Quântica.
-Imagina, rapaz... moderníssimo.
-Jonas, em 1982, morre um pianista incrível, bem
doido, mas, ainda assim, incrível: Glenn Gould.
-Esse era fantástico, Sérgio.
-Você sabe, Jonas, que era uma dificuldade louca fazer
gravações com Glenn Gould?... Sabe por quê? Ele tinha o hábito irremovível de
ir tocando e cantarolando. Estragava as gravações todas.
-Exatamente.
-Em 2009, morre Mercedes Sosa, cantora argentina.
-Em 2014, um ator brasileiro importante: Hugo Carvana,
também cineasta.
E prosseguiu:
-Hoje é o Dia Mundial dos Animais; é o Dia da
Natureza.
-Olha só.
-Nós falamos, Jonas, tanto de santos do segundo time,
mas hoje é dia de um santo importante: São Francisco de Assis.
-Este é santo mesmo.
-Vale a pena se agarrar com ele.
-Sem dúvida, Sérgio.
-Nos dias atuais, Jonas, ele deve estar com a agenda
carregada. Um assessor está distribuindo senhas de atendimento.
Assim, o Sérgio Fortes deu por encerrado o calendário
e a voz do Orlando Silva voltou a imperar.
(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO
MOLHADO concorda e avisa: ele será o vilão Franz Oberhauser, chefe máximo da
Spectre, que ameaçará o mundo tal como o conhecemos, no próximo James Bond. E,
se não bastasse, continuará vilão no próximo Tarzan que virá por aí.
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