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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5208 Data: 11 de
outubro de 2015
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SABADOIDO
2ª Parte
-O Globo chegou cedo?- perguntei a meu irmão, que se
acomodara na sua cadeira de descascar laranja, para chupá-la.
-Chegou às 5 horas da manhã.
-Naquele dia em que a mamãe foi levada ao hospital, eu
só atinei, no meio da confusão, às 11 horas da manhã, que o Globo não havia
sido entregue.
-Depois, eles nos enchem o saco para renovar a assinatura.
- grasnou.
-É... eles tem essa pachorra. Liguei para a central de
atendimentos, e eles enviaram, meia hora depois, o jornal dentro do prazo de 90
minutos que me prometeram.
-Já acabou de reler “Crime e Castigo”?
-Claudio, trata-se de um livro que deve ser lido
vagarosamente. Cheguei à pagina 250, quase a metade do volume.
-A Roberta me deu o livro. Eu tenho de reler também.
-Creio que autor algum se aprofundou tanto na alma
humana como Dostoievski.
-Dizem que Freud e Nietzsche não só leram, como foram
influenciados pelo “Crime e Castigo”.
-Note a coincidência: antes de cometer o assassinato,
Raskolnikov tem um pesadelo: um garoto desesperado com o sofrimento de uma
pangaré baia que foi flagelada até a morte por populares ensandecidos;
Nietzsche, por outro lado, quando se afundou na loucura, também se agarrou a um
cavalo, em Turim, na Itália, que estava sendo cruelmente espancado por um
camponês. Raskolnikov mergulhou na
loucura, mas veio à tona, Nietzsche, não. – tagarelei.
-A Clarice Lispector revelou que teve febre quando
leu, pela primeira vez, “Crime e Castigo”.
-Não era para menos, Claudio, Dostoievski escrevia com
muita intensidade.
-Você tem lido os intelectuais petistas que se queixam
do ódio da direita?
-Claudio, quem deu o pontapé inicial, quem fez o
discurso do nós contra eles, foi o Lula.
-O Lula, Carlinhos, não deu a mínima para o Papa,
quando aqui esteve e pregou a união em todos os sentidos. Mas o Lula só ouve,
ou melhor, só bebe, a cachaça São Francisco.
-O filho do Érico, por exemplo, se queixa do ódio nas
confrontações políticas atuais, Logo ele que comparou os manifestantes, nas
ruas de quase todo o Brasil, contra a corrupção, com cachorros vadios que
correm, latindo, atrás dos carros. – lembrei.
-O Aldir Blanc também se queixou do ódio da direita,
mas escreve salivando ódio.
-Este, Claudio, perdeu a qualidade de vida com o
avanço do tempo e tem colocado a sua bílis no papel quando escreve sobre
política. Ele compôs a letra do “Resposta ao Tempo”, mas quem ficou com a
última palavra foi o tempo. Ele está envelhecendo mal.
-Muita gente se esquece de que ele atacou a Dilma, na
campanha eleitoral de 2014, porque ela substituiu a Ana Buarque de Holanda pela
Marta Suplicy no Ministério da Cultura.
-De onde se deduz que ele pode ter perdido alguma
vantagem com essa mudança. O que não quer dizer que eu ache a Marta Suplicy à
altura do ministério ou de qualquer outro cargo importante.
-O problema, Claudio, é essa dependência do dinheiro
público no Brasil. Muitos intelectuais ficam, então, de rabo preso, cerceados
na hora de colocar os seus neurônios para funcionar, pois é impossível que
alguém, com o mínimo de inteligência, não veja os descalabros cometidos pelo
Lula e pela Dilma Rousseff. Nem com o saque da Petrobras, eles veem o óbvio
ululante como dizia o Nélson Rodrigues.
-Ferreira Gullar, Fernando Gabeira, Hélio Bicudo, para
citar apenas três, viram o óbvio ululante.
-E o Chico Buarque? – indagou com um sorriso maroto.
-Claudio, é o que eu falava antes... o pai dele, o
historiador Sérgio Buarque de Holanda, que nada teve a ver com marinha mercante,
construção naval, é nome de um dos maiores petroleiros do Brasil. A Maria
Amélia Buarque de Holanda, que não foi ligada à medicina, é nome de hospital...
-Alto lá,
Carlinhos! O Chico Buarque revelou que é torcedor do Fluminense porque foi
influenciado pela mãe mesmo quando eles moravam em São Paulo. Memélia merecia ser nome de hospital. -
brincou.
-A irmã dele se tornou Ministra da Cultura. Tudo isso
depois de o Chico Buarque negociar o seu apoio à candidatura da Dilma em 2010.
-Sei; foi na festa dos 100 anos da Dona Memélia,
quando o Lula compareceu com o seu poste. E este apoio, de que você falou, se
deu com um discurso do Chico em louvor à Dilma no Teatro Casa Grande onde a
classe artística se reuniu.
-Concluindo, Claudio, fica difícil para ele, agora, ir
contra o PT com todas as barbaridades cometidas.
-Vão dizer que ele está cuspindo no prato em que
comeu.
-Certa vez, o pai da Rosa Grieco, quando o governador
da Guanabara, Negrão de Lima, quis dar o seu nome ao viaduto do Méier...
-O Viaduto Castro Alves?...
-Sim. O Agripino Grieco não aceitou, disse ao
governador que ninguém passaria por cima dele enquanto vivesse. Ele não se
alimentava de vaidades frívolas.
-Depois, ele já estava bem morto, deram o nome do Agripino
Grico a uma praça no Méier.- assinalou;
-Nada como você ser livre para falar o que quiser. -
declarei.
-E o Eduardo Cunha, quando vai cair? Ele disse, aos
mais chegados, que a Dilma cai antes dele.
-Escreveram no Facebook, que a mulher do Eduardo Cunha
aprendeu a jogar tênis nos Estados Unidos, mas só sacava na Suíça.
-Boa piada. - riu.
-Apesar de todas as suas ardilezas, muitos deputados o
apoiam.
-São trapaças de todos os lados. – revoltou-se.
-Quando a Inglaterra se aliou à União Soviética,
depois de ter sido bombardeada incessantemente pelos aviões da Luftwaffe,
movidos com combustível russo, Churchill declarou que se aliaria até ao demônio,
caso Hitler invadisse o inferno (*). No caso, o inimigo maior é o PT.
-Carlinhos, eu acho que você exagerou na comparação.
-Exagerei?!... Vamos mudar, então. Quando o Franklin
Delano Roosevelt foi eleito, ele criou a SEC, um órgão para moralizar as
compras e vendas de ações em Wall Street e colocou para presidi-la o patriarca
dos Kennedy, Joseph Kennedy, conhecido como um dos maiores trampolineiros da
Bolsa de Valores. Criticado, Roosevelt se defendeu: “É fogo contra fogo”. Ele
quis dizer que só quem conhece as manobras ilícitas pode combatê-las.
-Você quer dizer que o Eduardo Cunha enfrentando o PT
é fogo contra fogo? Ainda não é uma boa comparação, porque o Eduardo Cunha não
vai combater as manobras ilícitas.
-Tem razão, Claudio.
-O jeito é esperarmos o que vai sair dessa briga de
cachorros grandes e ladrões.
(*) Churchill fez a aliança com Stalin,
mas jamais confiou nele, e vice-versa. Sempre com um pé atrás, ele discutia com
Roosevelt – com quem se entendia à perfeição – o tamanho da ajuda direta
americana, que não podia deixar de privilegiar o front ocidental. E ele
conseguiu manter o conta-gotas e Stalin sabia disso. Sorte dos alemães, que
ficaram divididos e não completamente soviéticos, graças a isso.
Isto vale em termos de guerra, quando a
instituição é o país e vida ou morte têm o exato significado que as palavras
contêm. No caso brasileiro, tem que se fazer as instituições funcionarem,
independentemente de cronogramas de quem sai primeiro, ou de como ficará o país
depois. Esse negócio de ruim com ele, pior sem ela, funciona para núcleos
familiares e orçamentos de mesada. Câmaras, Procuradorias e Ministérios têm que
funcionar por si, como instituições, esteja quem estiver dependendo, ou
comandando. Parece estranho, mas é assim em boa parte do mundo. Por coincidência,
na parte boa do mundo.
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