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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4354 Data: 28 de
janeiro de 2014
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AS QUERIDINHAS NO RÁDIO MEMÓRIA
Jonas Vieira deu ao Sérgio Fortes a
incumbência de abrir musicalmente o Rádio Memória e ele optou pelo tenor
Placido Domingo. Antes de a gravação de “Solamente una vez” (amé en la
vida), de Agustin Lara ser tocada, Sérgio Fortes fez algumas considerações
sobre Plácido Domingo. Disse que,
sabendo tocar piano e reger uma orquestra sinfônica, resumindo, por conhecer
música, ele soube preservar a voz e até hoje canta. Citou Pavarotti que, nos
últimos anos de palco, já apresentava deficiências vocais, o mesmo acontecendo
com José Carreras. No caso deste último, um devastador câncer no sangue,
leucemia, a que sobreviveu, já lhe havia retirado o esmalte da voz, uma das
mais belas já ouvidas.
Lembro-me que o Mário Henrique Simonsen,
na época, crítico musical e até presidente de júri de concurso de canto, nutria
nítida preferência por Plácido Domingo, mas diante da maior popularidade de
Luciano Pavarotti, disse, certa vez, na televisão, que as vozes deles eram duas
pérolas que não se podia comparar.
Sérgio Fortes insistiu na longevidade
vocal do tenor espanhol, que também canta no registro de barítono. Na época do seu programa “Clube da Ópera”,
afirmava-se que o tenor sueco Nicolai Gedda era o detentor do mais vasto
repertório do mundo lírico, mas que poderia perder esse galardão. Quando Plácido
Domingo cantou, em 2008, no Metropolitan Opera House, uma ópera chinesa (“Tan
Tun, the First Emperor”), eu não tive mais dúvidas de que ele superara a todos,
inclusive Nicolai Gedda.
Jonas Vieira abriu a sua participação no
Rádio Memória com Dolores Duran, ressaltando que ela não era apenas uma inspirada
compositora, mas também cantava maravilhosamente e pediu a gravação da Dolores
Duran da música da sua autoria “Fim de Caso”.
Embevecido, depois de ouvi-la, Sérgio
Fortes, para realçar o acerto do Jonas Vieira, citou a frase de um amigo
economista, Roberto Gamboa, que, igual a ela, morreu prematuramente: “Não foi
um tiro na mosca, foi um tiro no nariz da mosca”.
-E agora, Sérgio? - cobrou-lhe o titular
do programa a próxima atração musical.
-É com Kiri Te Kanawa, a minha
queridinha, segundo o Carlos Nascimento do Biscoito Molhado.
Não, Sérgio, a minha mãe, que, indignada
por você colocar no ar muitas gravações da soprano neozelandesa e poucas da
Mirella Freni, no seu programa “As Melhores do Mundo”, bradou:
-Kiri Te Kanawa é a queridinha dele.
Quanto a mim, fiquei ressabiado quando
assisti ao Tributo de Gala aos 100 anos de morte de Tchaikovsky em que o Plácido
Domingo regeu a Royal Opera House na “Abertura Festiva 1812” com os demais
artistas interpretando criações do grande compositor romântico russo, até que
apareceu a Kiri Te Kanawa, sob uma chuva de aplausos, evidentemente, e cantou...
“A Valsa da Musetta”, da ópera” La Boheme” de Puccini. Por que não cantou Tchaikovsky?...
Não terá ela momentos de pestinha, como a Kathleen Battle?... - pergunto-me
agora.
Hoje, no mundo lírico, creio que a
queridinha de todos, ou quase todos, é a soprano russo Anna Netrebko. Quando constatei que ela não era uma baleia
com um rouxinol na garganta, pelo contrário, a sua plasticidade física nos
magnetizava, além da voz e da simpatia e, mais ainda, ao saber que ela fora
faxineira, tornou-se a minha queridinha; a do crítico da Folha de São Paulo,
Irineu Franco Perpetuo também; eis o que ele escreveu no dia 6 de janeiro deste
ano:
-”A melhor voz de soprano lírico e ligeiro
das últimas duas décadas encaminha-se para virar a melhor de soprano dramático
das próximas duas. Ao encarnar Leonora na ópera “Il Trovatore”, de Verdi, a
russa Anna Netrebko, 42, está dando uma inflexão decisiva a sua carreira”.
No parágrafo seguinte, escreveu:
-”Netrebko estreou no papel no final de
novembro, em Berlim, com Plácido Domingo, que será seu parceiro na mesma ópera
na edição deste ano do Festival de Salzburgo, entre julho e agosto”.
Com 73 anos de idade, mesmo sendo um
fenômeno, Plácido Domingo sabe que ficaria longe das suas atuações pretéritas
no papel de Manrico, por isso, canta agora no registro de barítono, encarnando
o Conde de Luna.
Prossegue mais adiante o crítico da
Folha de São Paulo:
-”Com uma performance incandescente, a
soprano mostrou estar com a voz na plenitude: agudos fáceis, região central
sólida, ressonância nos graves – qualidades que a credenciam plenamente para as
outras incursões dramáticas previstas para a temporada: “Manon Lescaut”, de
Puccini (Roma, em fevereiro e março) e “Macbeth”, de Verdi (Munique, em
julho).”
-”A tendência, assim, é que saiam
gradualmente de seu repertório os papéis leves, cheios de coloratura, que a
catapultaram para a fama”.
Voltemos à queridinha do Sérgio Fortes,
ele pediu a gravação de “All The Things You are”, de Jerome Kern e Oscar
Hammerstein II.
Jonas Vieira voltou com a inesquecível
Dolores Duran, cantando um baião, “A Fia de Chico Brito”, de Chico Anísio. E
não se pode falar dela sem a lamentação da sua morte tão prematura.
-Morreu com 29 anos... barbitúricos...
-Sim, Jonas, mas ele tinha sérios
problemas de saúde. - acrescentou seu parceiro.
Na vez do Sérgio Fortes, ela prosseguiu
com as vozes operísticas e solicitou a interpretação do barítono galês Bryn Terfel da canção “On
The Street Where You Live” do musical “My Fair Lady”, de Frederick Loewe e Alan
Jay Lerner.
Veio a “Pausa para Meditação”, crônica
do Fernando Milfond que, nesse domingo, foi sobre “A Origem da Roda”. Depois da
pausa, vêm as piadas. Sérgio Fortes disse que ouvimos as lembranças de infância
do cronista, mas Jonas Vieira, que não estava endiabrado como nos domingos
passados, o poupou da sua mordacidade.
Demonstrando a incrível versatilidade da
Dolores Duran, Jonas Vieira pediu agora a gravação, de 1958,de My Funny
Valentine”, alertando os ouvintes que ela nada fica a dever às melhores
cantoras americanas que gravaram essa canção
de Richard Rodgers e Lorenz Hart,
Com o “Momento Cole Porter”, Sérgio
Fortes deixou o canto lírico, mas não inteiramente, pois se tratava de Tony
Bennett, e ele cantaria “I Concentrate on You”.
-Ao ouvir, no hospital, Frank Sinatra
declarar que Tony Bennett era o maior cantor do mundo, a sua mãe ficou boa e
foi para casa. - ilustrou a sua escolha com a narrativa desse caso.
Quando parecia que Jonas Vieira iria
continuar com a queridinha de todos nós, ele elogiou Paulo Tapajós e a sua
composição “Quero Beijar-te Ainda”, na interpretação definitiva de Orlando
Silva (da segunda fase).
Em seguida, os dois enviesaram pelas
fases do Orlando Silva, afirmando o Sérgio Fortes que gostava de todas.
-Ele só perdeu para si próprio. -
atalhou o Jonas Vieira.
Rádio Memória fala também de literatura,
e foram indicados dois livros do médico psiquiatra Augusto Cury: “O Código da
Inteligência” e “O Segredo do Pai-Nosso”.
Sérgio Fortes não esqueceu a sua
queridinha que, agora, cantaria em dueto com o meio-soprano Tatiana Troyanos,
“I Have a Love”, do musical West Side Story, de Leonard
Bernstein.
Jonas Vieira relembrou Lúcio Alves, que
cantou “A Vizinha do Lado”, de Dorival Caymmi, do filme homônimo.
Sérgio Fortes encerrou o Rádio Memória
com “Yesterday”, de Jerome Kern, que, para nós, é superior ao “Yesterday”, de
Paul McCartney. A cantora? Ah, sim: Kiri Te Kanawa.
A música da Dolores Duran é "Fim de Caso", e não "Fim de Tarde",
ResponderExcluircomo está no texto.