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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

2554 - queridinhas dos queridinhos



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4354                          Data: 28 de janeiro  de 2014
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AS QUERIDINHAS NO RÁDIO MEMÓRIA

Jonas Vieira deu ao Sérgio Fortes a incumbência de abrir musicalmente o Rádio Memória e ele optou pelo tenor Placido Domingo. Antes de a gravação de “Solamente una vez” (amé en la vida), de Agustin Lara ser tocada, Sérgio Fortes fez algumas considerações sobre  Plácido Domingo. Disse que, sabendo tocar piano e reger uma orquestra sinfônica, resumindo, por conhecer música, ele soube preservar a voz e até hoje canta. Citou Pavarotti que, nos últimos anos de palco, já apresentava deficiências vocais, o mesmo acontecendo com José Carreras. No caso deste último, um devastador câncer no sangue, leucemia, a que sobreviveu, já lhe havia retirado o esmalte da voz, uma das mais belas já ouvidas.
Lembro-me que o Mário Henrique Simonsen, na época, crítico musical e até presidente de júri de concurso de canto, nutria nítida preferência por Plácido Domingo, mas diante da maior popularidade de Luciano Pavarotti, disse, certa vez, na televisão, que as vozes deles eram duas pérolas que não se podia comparar.
Sérgio Fortes insistiu na longevidade vocal do tenor espanhol, que também canta no registro de barítono.  Na época do seu programa “Clube da Ópera”, afirmava-se que o tenor sueco Nicolai Gedda era o detentor do mais vasto repertório do mundo lírico, mas que poderia perder esse galardão. Quando Plácido Domingo cantou, em 2008, no Metropolitan Opera House, uma ópera chinesa (“Tan Tun, the First Emperor”), eu não tive mais dúvidas de que ele superara a todos, inclusive Nicolai Gedda.
Jonas Vieira abriu a sua participação no Rádio Memória com Dolores Duran, ressaltando que ela não era apenas uma inspirada compositora, mas também cantava maravilhosamente e pediu a gravação da Dolores Duran da música da sua autoria “Fim de Caso”.
Embevecido, depois de ouvi-la, Sérgio Fortes, para realçar o acerto do Jonas Vieira, citou a frase de um amigo economista, Roberto Gamboa, que, igual a ela, morreu prematuramente: “Não foi um tiro na mosca, foi um tiro no nariz da mosca”.
-E agora, Sérgio? - cobrou-lhe o titular do programa a próxima atração musical.
-É com Kiri Te Kanawa, a minha queridinha, segundo o Carlos Nascimento do Biscoito Molhado.
Não, Sérgio, a minha mãe, que, indignada por você colocar no ar muitas gravações da soprano neozelandesa e poucas da Mirella Freni, no seu programa “As Melhores do Mundo”, bradou:
-Kiri Te Kanawa é a queridinha dele.
Quanto a mim, fiquei ressabiado quando assisti ao Tributo de Gala aos 100 anos de morte de Tchaikovsky em que o Plácido Domingo regeu a Royal Opera House na “Abertura Festiva 1812” com os demais artistas interpretando criações do grande compositor romântico russo, até que apareceu a Kiri Te Kanawa, sob uma chuva de aplausos, evidentemente, e cantou... “A Valsa da Musetta”, da ópera” La Boheme” de Puccini. Por que não cantou Tchaikovsky?... Não terá ela momentos de pestinha, como a Kathleen Battle?... - pergunto-me agora.
Hoje, no mundo lírico, creio que a queridinha de todos, ou quase todos, é a soprano russo Anna Netrebko.  Quando constatei que ela não era uma baleia com um rouxinol na garganta, pelo contrário, a sua plasticidade física nos magnetizava, além da voz e da simpatia e, mais ainda, ao saber que ela fora faxineira, tornou-se a minha queridinha; a do crítico da Folha de São Paulo, Irineu Franco Perpetuo também; eis o que ele escreveu no dia 6 de janeiro deste ano:
-”A melhor voz de soprano lírico e ligeiro das últimas duas décadas encaminha-se para virar a melhor de soprano dramático das próximas duas. Ao encarnar Leonora na ópera “Il Trovatore”, de Verdi, a russa Anna Netrebko, 42, está dando uma inflexão decisiva a sua carreira”.
No parágrafo seguinte, escreveu:
-”Netrebko estreou no papel no final de novembro, em Berlim, com Plácido Domingo, que será seu parceiro na mesma ópera na edição deste ano do Festival de Salzburgo, entre julho e agosto”.
Com 73 anos de idade, mesmo sendo um fenômeno, Plácido Domingo sabe que ficaria longe das suas atuações pretéritas no papel de Manrico, por isso, canta agora no registro de barítono, encarnando o Conde de Luna.
Prossegue mais adiante o crítico da Folha de São Paulo:
-”Com uma performance incandescente, a soprano mostrou estar com a voz na plenitude: agudos fáceis, região central sólida, ressonância nos graves – qualidades que a credenciam plenamente para as outras incursões dramáticas previstas para a temporada: “Manon Lescaut”, de Puccini (Roma, em fevereiro e março) e “Macbeth”, de Verdi (Munique, em julho).”
-”A tendência, assim, é que saiam gradualmente de seu repertório os papéis leves, cheios de coloratura, que a catapultaram para a fama”.
Voltemos à queridinha do Sérgio Fortes, ele pediu a gravação de “All The Things You are”, de Jerome Kern e Oscar Hammerstein II.
Jonas Vieira voltou com a inesquecível Dolores Duran, cantando um baião, “A Fia de Chico Brito”, de Chico Anísio. E não se pode falar dela sem a lamentação da sua morte tão prematura.
-Morreu com 29 anos... barbitúricos...
-Sim, Jonas, mas ele tinha sérios problemas de saúde. - acrescentou seu parceiro.
Na vez do Sérgio Fortes, ela prosseguiu com as vozes operísticas e solicitou a interpretação  do barítono galês Bryn Terfel da canção “On The Street Where You Live” do musical “My Fair Lady”, de Frederick Loewe e Alan Jay Lerner.
Veio a “Pausa para Meditação”, crônica do Fernando Milfond que, nesse domingo, foi sobre “A Origem da Roda”. Depois da pausa, vêm as piadas. Sérgio Fortes disse que ouvimos as lembranças de infância do cronista, mas Jonas Vieira, que não estava endiabrado como nos domingos passados, o poupou da sua mordacidade.
Demonstrando a incrível versatilidade da Dolores Duran, Jonas Vieira pediu agora a gravação, de 1958,de My Funny Valentine”, alertando os ouvintes que ela nada fica a dever às melhores cantoras americanas que gravaram essa canção  de Richard Rodgers e Lorenz Hart,
Com o “Momento Cole Porter”, Sérgio Fortes deixou o canto lírico, mas não inteiramente, pois se tratava de Tony Bennett, e ele cantaria “I Concentrate on You”.
-Ao ouvir, no hospital, Frank Sinatra declarar que Tony Bennett era o maior cantor do mundo, a sua mãe ficou boa e foi para casa. - ilustrou a sua escolha com a narrativa desse caso.
Quando parecia que Jonas Vieira iria continuar com a queridinha de todos nós, ele elogiou Paulo Tapajós e a sua composição “Quero Beijar-te Ainda”, na interpretação definitiva de Orlando Silva (da segunda fase).
Em seguida, os dois enviesaram pelas fases do Orlando Silva, afirmando o Sérgio Fortes que gostava de todas.
-Ele só perdeu para si próprio. - atalhou o Jonas Vieira.
Rádio Memória fala também de literatura, e foram indicados dois livros do médico psiquiatra Augusto Cury: “O Código da Inteligência” e “O Segredo do Pai-Nosso”.
Sérgio Fortes não esqueceu a sua queridinha que, agora, cantaria em dueto com o meio-soprano Tatiana Troyanos, “I Have a Love”, do musical West Side Story, de Leonard Bernstein.
Jonas Vieira relembrou Lúcio Alves, que cantou “A Vizinha do Lado”, de Dorival Caymmi, do filme homônimo.
Sérgio Fortes encerrou o Rádio Memória com “Yesterday”, de Jerome Kern, que, para nós, é superior ao “Yesterday”, de Paul McCartney. A cantora? Ah, sim: Kiri Te Kanawa.

Um comentário:

  1. A música da Dolores Duran é "Fim de Caso", e não "Fim de Tarde",
    como está no texto.

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