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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4347 Data: 14 de janeiro
de 2014
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UM RÁDIO MEMÓRIA ENDIABRADO
Logo após o “muitíssimo bom-dia” do
Jonas Vieira com o Sérgio Forte, a dupla, em festa, anunciou a presença do
Luzer, que é muito citado como violinista da OSB, mas, agora, com um acréscimo:
médico, como o Fernando Borer.
Luzer também foi identificado como
rubro-negro e o Peter, operador de áudio, como agnóstico, segundo o Sérgio Fortes,
por não torcer por time algum. Bem, segundo o João Saldanha, todos têm um time,
porque ninguém é filho de chocadeira.
Antes de o Luzer abrir, musicalmente, o
programa, Sérgio Fortes se impôs como homem-calendário e disse que, em 12 de
janeiro de 1896, o médico Henry Louis Smith realizou o primeiro exame de Raio-X
examinando o tiro que dera na mão de um cadáver. E pensar que, 5 anos antes, o
presidente dos Estados Unidos James Garfield morreu assassinado porque uma
geringonça que contou com Graham Bell na sua invenção não conseguiu localizar o
local exato da bala que o atingira...
Sérgio Fortes informou
também que era dia de São Modesto. Assim sendo, de todos os convidados para o
Rádio Memória, nesse dia, o Dieckmann seria o menos indicado.
Luzer festejou os 110
anos de Lamartine Babo, ocorrido em 10 de janeiro, escolhendo uma música que,
em matéria de humor, emula com a “Cabritada Mal Sucedida”, “Só Dando Com Uma
Pedra Nela”. Antes, citou os grandes nomes da MPB dos anos 30, para justificar
o porquê de o Lamartine Babo não pontificar entre eles.
O começo do programa
com o humorismo musicado foi um ótimo indício.
Sérgio Fortes, na sua
vez, pediu, para agradar o convidado e os ouvintes, Louis Armstrong com Ella
Fitzgerald, o dois cantariam “Can't We Be Friends”, de Paul Jones e Kay Swift,
com Oscar Peterson no piano, Ray Brown no baixo, Buddy Rich na bateria e Herb
Ellis na guitarra.
Jonas Vieira trouxe de
volta o programa para o Brasil, musicalmente falando e, depois de louvar Assis
Valente, pediu o samba dele e do Durval Maia, do carnaval de 1937,
“Alegria”, no primoroso arranjo do
Pixinguinha com o pianista, suspeita o Jonas Vieira, Radamés Gnatalli.
-E o cantor é o Orlando
Silva. - acrescentou.
-E a orquestra do
Pixinguinha era os “Diabos do Céu”.
Essa lembrança do
Sérgio Fortes foi mais do que isso, pois servia para retratar bem o que foi
esse programa: todos estavam angelicalmente endiabrados.
Luzer voltou com Ella Fitzgerald cantando um
dos maiores clássicos já compostos, “Sophisticated Lady”, de Duke
Ellington. Não contente em arrancar
frêmitos do Sérgio Fortes e do Jonas Vieira, anunciou o sexteto que a
acompanhava: Ben Webster no sax, Paul Smith no piano, Stiff Smith no violino,
Barney Kessel na guitarra, Joe Mondragon na bateria e Alvin Stoller no baixo.
Em seguida, foi
anunciado o “intermezzo”, ou seja, a crônica dominical que falaria da “Origem
do Universo” que, segundo o endiabrado Jonas Vieira, contou com a presença do
Fernando Milfond.
-Só a Bíblia e o
Fernando Milfond conhecem o segredo do início do universo. - demonstrou o Jonas
Vieira que, na segunda parte do Rádio Memória, seria mantido o mesmo diapasão.
E a palavra voltou para
o Sérgio Fortes.
-Agora, o momento
clássico: uma opereta.
Com a aprovação de
todos, foi em frente:
-Uma opereta do húngaro
Emmerich Kalman, “Princesa das Czardas”, com a Orquestra Popular da Ópera de
Viena.
Depois das notas
musicais e do ritmo que caracterizam a belle époque, voltaram com
o samba “Meu Romance”, e o compositor, exaltado pelo Jonas Vieira, agora, era
J. Cascata. Ele, no entanto, foi mais veemente quando aludiu ao intérprete da
gravação que escolhera.
-Marcos Sacramento é o
maior cantor brasileiro da atualidade, mas como não tem mídia, não tem um
empresário por trás para promovê-lo, poucos o conhecem.
E prosseguiu:
-Esse clássico do J.
Cascata foi gravado inicialmente, com grande sucesso pelo Orlando Silva. Artur
da Távola dizia que “Meu Romance” era um tratado sociológico.
Empolgado, Jonas Vieira
trauteou alguns versos, mas nada que igualasse a sua interpretação de Lili
Marlene, no idioma de Goethe, num Rádio Memória de 2012.
Depois da audição do
“Meu Romance”, que me obrigou a consultar o Google para saber o que significava
“chinelo charlotte”, mesma dúvida que me assaltou quando ouvi “sandália currulepe”,
na voz de Luiz Gonzaga, vieram as considerações do Luzer.
-Muito bom cantor,
afinadíssimo.
E por minutos, o clima
descontraído do programa cedeu lugar a uma revelação do titular do programa:
-Esse último sucesso do
Roberto Carlos, “Este cara sou eu” nada mais é do que “I'm a Guy”, de 1972, do
Elvis Presley.
-Mas isso pode dar
processo porque Elvis não morreu. - apesar da observação jocosa do Sérgio
Fortes, ele sabia que o assunto era sério.
Será mesmo plágio?...
Eis um caso para ser examinado com muito cuidado.
-Esta é para ouvir e se
emocionar.
Com estas palavras, o
violinista da Orquestra Sinfônica Brasileira anunciou “Pra Que Mentir”, de
Vadico e Noel Rosa.
E uma branda polêmica
(como se fosse possível, mas foi) se deu entre o Luzer e o seu anfitrião; este
dizia que a primeira gravação foi com o Sílvio Caldas, e Jonas Vieira, com a
Araci de Almeida.
Mas esse clássico foi
ouvido na voz do Paulinho da Viola, que nos traz uma tranquilidade budista,
acompanhado pelo violão de César Faria.
-Essa gravação tem uma
carga de emoção porque o pai do Paulinho da Viola, César Faria, morreria pouco
depois.
-Paulinho é a pessoa
elegante por excelência. - manifestou-se o Sérgio Fortes.
-Ele é cantor, poeta,
instrumentista, compositor, arranjador; joga nas cinco. - vibrou o Jonas
Vieira.
Na vez de o Sérgio
Fortes, apresentar a próxima gravação, ele se reportou a um compositor que vive
escondido em Belo Horizonte, mas que foi descoberto por um jazzista americano,
Cliff Korman, professor da Manhattan
School of Music.
-Quem será essa pérola
brasileira. - perguntei-me.
-Pacífico Mascarenhas –
veio a resposta – e a música era “Amo Você” (For You to Know), gravação de 2001
com Cliff Korman Quartet.
-Pacífico Mascarenhas
parece que tem alguma coisa com a Bossa Nova. - disse o Luzer. (*)
-Isso. - confirmou o
Jonas Vieira e, como estava com a corda toda, como admitira minutos antes,
acrescentou:
-Ele é um dos
culpados...
-Belo programa. - fez o
Sérgio Fortes o elogio de corpo presente.
Sim, um belo programa
que se encerrou com um demorado abraço.
(*) O
conhecimento maior que o Sergio Fortes e o Distribuidor do seu O BISCOITO
MOLHADO têm do Pacífico Mascarenhas decorre dele ser também colecionador de
automóveis antigos. A coleção dele é de carros clássicos, embora o estado dos
carros não seja o de zero quilômetro, como são os carros dos milionários.
Pessoa de
ótimo trato, mineiro de quatro costados, o Pacífico sempre reserva ao
interlocutor uma simpatia e humildade cativantes, em contraste com sua vasta
obra musical, cujo maior fã é o Cliff Korman – depois do Dieckmann e do Sergio Fortes,
necessariamente nessa ordem.
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