Total de visualizações de página

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

2537 - frases, elogios e confete



--------------------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4337                           Data: 29 de dezembro  de 2013
----------------------------------------------------------------------
                                           
XIII FRASES ORIGINAIS E COMENTÁRIOS

“Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z; o trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada.”

A frase acima, enunciada matematicamente, é de Albert Einstein. O grande gênio também disse que depois de os matemáticos se meterem a explicar a sua Teoria da Relatividade, ele nunca mais a entendeu. Era mais uma “boutade”, como dizem os franceses, pois ele, embora físico, recorria sistematicamente à ciência dos números. E o resumo de toda a sua Teoria se acha na equação E=MC².
Na equação que encima esse despretensioso texto, Einstein observa o comportamento humano, não o comportamento dos astros, que são quase sempre previsíveis ao contrário dos humanos.
 Albert Einstein não se enquadrava no velho truísmo “faça o que digo, mas não faça o que faço.” Ele trabalhou muito, as suas obras estão disponíveis aos estudiosos do mundo inteiro, ressaltando-se que ele não ganhou o Prêmio Nobel da Física de 1921 pela Teoria da Relatividade, ainda objeto de polêmica, e sim pela sua explicação do efeito fotoelétrico.
Lazer... Que lazer o gênio fruía? Não frequentava o cinema nem o teatro, segundo dados que escarafunchamos, mas se avistava com os expoentes dessas artes, como Charles Chaplin e Bernard Shaw em encontros descontraídos.  Quando caminhou lado a lado com Charles Chaplin, houve aplausos delirantes do público e o cineasta lhe disse nessa ocasião: “eles aplaudem a mim porque me entendem e a você porque não lhe entendem”.
Acreditamos que o lazer de Albert Einstein era tocar Mozart, principalmente, no violino. Possuidor de uma inteligência inigualável, o seu lazer tinha de ser refinado.
Manter a boca fechada... Alguém conhece um disparate dito por ele?... E temos de registrar que também grandes vultos da intelectualidade, no correr dos séculos, não escaparam de momentos de apedeutas.  Voltaire teve o seu momento de não Voltaire quando afirmou que “Hamlet” era uma peça de um bardo selvagem e bêbado. Tolstoi também viveu o seu momento de não Tolstoi quando, escrevendo ou falando, negava valor ao mesmo Shakespeare.
Citamos dois exemplos de muitos que se encontram expostos nas bibliotecas. Isso, no entanto, não pôs a equação de Einstein de pé quebrado (ou pôs?) e, Voltaire e Tolstoi não deixaram de obter êxito até hoje no mundo cultural.
Quem conseguiu o maior sucesso, nos últimos anos, neste vasto mundo?  Não temos dúvidas em afirmar que foi o quarteto de Liverpool, os Beatles. Eles trabalharam? As incontáveis canções que compuseram e gravaram, além das exibições por todo o canto deste mundo respondem a esta pergunta. Desfrutaram momentos de lazer? John Lennon, convocando Paul McCartney, disse-lhe: “Paul, vamos compor uma casa com piscina?” Onde muitos viram interesse mercadológico nessa frase, nós também vislumbramos que, depois do trabalho, um bom mergulho era ótimo para relaxar os nervos e revigorar as forças.
E os Beatles mantiveram a boca fechada?... Os fãs amnésicos dirão que eles nunca falaram bobagens, porém, numa entrevista a uma revista americana, John Lennon disse textualmente: “Hoje, nós somos mais famosos do que Jesus Cristo”. Depois da reação contrária, inclusive com a queima dos seus discos em praça pública, John Lennon teve de fazer contorcionismos verbais para mudar o significado do que dissera. Os Beatles foram perdoados pelos seus admiradores cristãos e o sucesso persistiu mesmo depois da ruptura do quarteto.

“O homem nunca encontrou uma definição para a palavra liberdade.”

Esta frase é do grande presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln.  Ele, que obteve a abolição da escravatura através da 13ª Emenda à Constituição, expressou o quanto a liberdade é complexa.
Para os políticos, longe da grandeza do estadista, liberdade é o que o seu governo proporciona ao povo, mesmo que seja ditatorial.
Para as pessoas mais simplórias, o ato de sair de casa e dar uma saidinha até o cinema significa liberdade. Nesse caso, um comentário do cineasta Alfred Hitchcock vem a calhar:
-”A televisão é como a invenção das instalações sanitárias dentro da casa. Ela não mudou os hábitos das pessoas. Ela apenas as manteve dentro de casa”.
Cecília Meireles, no “Cancioneiro da Inconfidência”, colocou magnificamente em versos o sentimento que Lincoln e as demais pessoas sentiram ao tentar definir a liberdade.
-Liberdade – essa palavra,
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda.”

“Está morto: podemos elogiá-lo à vontade.”

 Assim escreveu Machado de Assis, observador atento da conduta humana.
O elogio é um remédio que cura, mas, as pessoas, na sua grande maioria, só o ministram aos mortos.
Certa vez, encontrei-me no elevador de Departamento da Marinha Mercante com o Dieckmann, distribuidor deste periódico, e perguntei-lhe se gostara de um dos meus textos.
-O que você quer?... Confetes? - respondeu-me rispidamente, honrando o apelido que seus amigos lhe deram de “Troglodieck”.
Mas eu logo percebi que ele me elogiava por caminhos oblíquos e me senti mais motivado a escrever.
O cronista e poeta Paulo Mendes Campos, por outro lado, sofria sérios problemas de autoestima. Pouco antes de morrer, escreveu poemas que receberam elogios até do Millôr Fernandes. O poeta Geraldo Carneiro conta que se encontrou com o escritor mineiro e o encheu de confetes, referindo-se à destreza da sua mão para os poemas que vinha criando e Paulo Mendes Campos reagiu de uma maneira surpreendente: “Não adianta, eu não gosto de mim.”
É evidente que há um limite perigoso para os elogios, que o Padre Vieira percebeu logo, dizendo preferir a crítica que o corrige ao elogio que o corrompe. Isso não quer dizer, acreditamos, que o Antônio Vieira não se sentisse estimulado na redação dos seus sermões quando louvado.
 A frase de Machado de Assis se encontra até na música popular brasileira e na letra de um dos maiores, se não, o maior letrista, Noel Rosa:
“Quando eu morrer
------------------------
Meus inimigos,
que hoje falam mal de mim,
vão dizer que nunca viram
uma pessoa tão boa assim.”

Com Machado de Assis começamos e, com ele, vamos encerrar essa história de elogios:
“Eu não sou um homem que recuse elogios. Amo-os, eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado.”





Nenhum comentário:

Postar um comentário