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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4337 Data: 29 de
dezembro de 2013
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XIII FRASES ORIGINAIS E
COMENTÁRIOS
“Se A é o sucesso, então
A é igual a X mais Y mais Z; o trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca
fechada.”
A frase acima,
enunciada matematicamente, é de Albert Einstein. O grande gênio também disse
que depois de os matemáticos se meterem a explicar a sua Teoria da
Relatividade, ele nunca mais a entendeu. Era mais uma “boutade”, como dizem os
franceses, pois ele, embora físico, recorria sistematicamente à ciência dos
números. E o resumo de toda a sua Teoria se acha na equação E=MC².
Na equação que encima
esse despretensioso texto, Einstein observa o comportamento humano, não o
comportamento dos astros, que são quase sempre previsíveis ao contrário dos
humanos.
Albert Einstein não se enquadrava no velho
truísmo “faça o que digo, mas não faça o que faço.” Ele trabalhou muito, as
suas obras estão disponíveis aos estudiosos do mundo inteiro, ressaltando-se
que ele não ganhou o Prêmio Nobel da Física de 1921 pela Teoria da
Relatividade, ainda objeto de polêmica, e sim pela sua explicação do efeito
fotoelétrico.
Lazer... Que lazer o
gênio fruía? Não frequentava o cinema nem o teatro, segundo dados que
escarafunchamos, mas se avistava com os expoentes dessas artes, como Charles
Chaplin e Bernard Shaw em encontros descontraídos. Quando caminhou lado a lado com Charles
Chaplin, houve aplausos delirantes do público e o cineasta lhe disse nessa
ocasião: “eles aplaudem a mim porque me entendem e a você porque não lhe
entendem”.
Acreditamos que o
lazer de Albert Einstein era tocar Mozart, principalmente, no violino.
Possuidor de uma inteligência inigualável, o seu lazer tinha de ser refinado.
Manter a boca
fechada... Alguém conhece um disparate dito por ele?... E temos de registrar
que também grandes vultos da intelectualidade, no correr dos séculos, não
escaparam de momentos de apedeutas.
Voltaire teve o seu momento de não Voltaire quando afirmou que “Hamlet”
era uma peça de um bardo selvagem e bêbado. Tolstoi também viveu o seu momento
de não Tolstoi quando, escrevendo ou falando, negava valor ao mesmo
Shakespeare.
Citamos dois exemplos
de muitos que se encontram expostos nas bibliotecas. Isso, no entanto, não pôs
a equação de Einstein de pé quebrado (ou pôs?) e, Voltaire e Tolstoi não
deixaram de obter êxito até hoje no mundo cultural.
Quem conseguiu o maior
sucesso, nos últimos anos, neste vasto mundo?
Não temos dúvidas em afirmar que foi o quarteto de Liverpool, os
Beatles. Eles trabalharam? As incontáveis canções que compuseram e gravaram,
além das exibições por todo o canto deste mundo respondem a esta pergunta.
Desfrutaram momentos de lazer? John Lennon, convocando Paul McCartney,
disse-lhe: “Paul, vamos compor uma casa com piscina?” Onde muitos viram
interesse mercadológico nessa frase, nós também vislumbramos que, depois do
trabalho, um bom mergulho era ótimo para relaxar os nervos e revigorar as
forças.
E os Beatles mantiveram
a boca fechada?... Os fãs amnésicos dirão que eles nunca falaram bobagens,
porém, numa entrevista a uma revista americana, John Lennon disse textualmente:
“Hoje, nós somos mais famosos do que Jesus Cristo”. Depois da reação contrária,
inclusive com a queima dos seus discos em praça pública, John Lennon teve de
fazer contorcionismos verbais para mudar o significado do que dissera. Os
Beatles foram perdoados pelos seus admiradores cristãos e o sucesso persistiu
mesmo depois da ruptura do quarteto.
“O homem nunca
encontrou uma definição para a palavra liberdade.”
Esta frase é do grande
presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln.
Ele, que obteve a abolição da escravatura através da 13ª Emenda à
Constituição, expressou o quanto a liberdade é complexa.
Para os políticos,
longe da grandeza do estadista, liberdade é o que o seu governo proporciona ao
povo, mesmo que seja ditatorial.
Para as pessoas mais
simplórias, o ato de sair de casa e dar uma saidinha até o cinema significa
liberdade. Nesse caso, um comentário do cineasta Alfred Hitchcock vem a calhar:
-”A televisão é como a
invenção das instalações sanitárias dentro da casa. Ela não mudou os hábitos
das pessoas. Ela apenas as manteve dentro de casa”.
Cecília Meireles, no
“Cancioneiro da Inconfidência”, colocou magnificamente em versos o sentimento
que Lincoln e as demais pessoas sentiram ao tentar definir a liberdade.
-Liberdade – essa
palavra,
que o sonho humano
alimenta:
que não há ninguém que
explique,
e ninguém que não
entenda.”
“Está morto: podemos
elogiá-lo à vontade.”
Assim escreveu Machado de Assis, observador
atento da conduta humana.
O elogio é um remédio
que cura, mas, as pessoas, na sua grande maioria, só o ministram aos mortos.
Certa vez,
encontrei-me no elevador de Departamento da Marinha Mercante com o Dieckmann, distribuidor
deste periódico, e perguntei-lhe se gostara de um dos meus textos.
-O que você quer?...
Confetes? - respondeu-me rispidamente, honrando o apelido que seus amigos lhe
deram de “Troglodieck”.
Mas eu logo percebi
que ele me elogiava por caminhos oblíquos e me senti mais motivado a escrever.
O cronista e poeta
Paulo Mendes Campos, por outro lado, sofria sérios problemas de autoestima.
Pouco antes de morrer, escreveu poemas que receberam elogios até do Millôr
Fernandes. O poeta Geraldo Carneiro conta que se encontrou com o escritor
mineiro e o encheu de confetes, referindo-se à destreza da sua mão para os
poemas que vinha criando e Paulo Mendes Campos reagiu de uma maneira
surpreendente: “Não adianta, eu não gosto de mim.”
É evidente que há um
limite perigoso para os elogios, que o Padre Vieira percebeu logo, dizendo
preferir a crítica que o corrige ao elogio que o corrompe. Isso não quer dizer,
acreditamos, que o Antônio Vieira não se sentisse estimulado na redação dos seus
sermões quando louvado.
A frase de Machado de Assis se encontra até na
música popular brasileira e na letra de um dos maiores, se não, o maior
letrista, Noel Rosa:
“Quando eu morrer
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Meus inimigos,
que hoje falam mal de
mim,
vão dizer que nunca
viram
uma pessoa tão boa
assim.”
Com Machado de Assis
começamos e, com ele, vamos encerrar essa história de elogios:
“Eu não sou um homem
que recuse elogios. Amo-os, eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores
digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado.”
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