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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4351 Data: 22 de
janeiro de 2014
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CARTAS DOS LEITORES
-Quando ouvi, no Rádio Memória, o
Almirante cantando “Pelo Telefone”, logo me recordei do “Na Pavuna” e, em
seguida, da “Noivinha da Pavuna”, que respondia a perguntas com um prêmio em
dinheiro como nos canais de televisão americanos. Eu não deixava de ver os
programas do J.Silvestre na TV e, depois, na TV Tupi. Dieckmann.
BM: Dieckmann, a “Noivinha da
Pavuna” emocionou todo o país porque os patrocinadores do programa souberam,
com muito brilhantismo, criar todo um clima de identificação popular com a
humilde moradora da Pavuna que, noiva, necessitava do prêmio para casar e
adquirir a sua casa. Isso tocou muito emocionalmente mais o povo brasileiro do
que o programa da casa própria do BNH no governo Castelo Branco.
Ela respondia sobre o poeta Guerra
Junqueiro e, ao ser anunciada pelo J.Silvestre, soava a voz do Almirante
cantando com a sua voz possante o samba “Na Pavuna”.
Ela respondia as questões apresentadas
satisfatoriamente, programa a programa, aproximando o seu sonho cada vez mais
da realidade, até que, quando só faltava praticamente o telhado da casa, ela
errou. O choro da “Noivinha da Pavuna” e, certamente da maioria dos
espectadores, além do constrangimento do J. Silvestre, comoveu o Brasil do
Oiapoque ao Chuí. Como você, Dieckmann, já confessou por diversas vezes que
derramou lágrimas copiosas com a morte da mãe do Bambi, creio que lágrimas
correram pela sua face diante da televisão, quando a noivinha errou a resposta.
O presidente dos Estados Unidos, Calvin
Coolidge, disse, na década de 20, que o negócio dos Estados Unidos são os
negócios, também o negócio do Brasil são os negócios e o patrocinador do
programa J. Silvestre, as Casas Sendas, calcularam que perderiam um imenso
público de consumidores, digo, espectadores, se a “Noivinha da Pavuna” não mais
aparecesse; então, como se diz na gíria esportiva, viraram a mesa. Na semana seguinte
à catástrofe, a “Noivinha” reapareceu e J. Silvestre, para a alegria geral,
anunciou que ela continuaria a responder sobre o poeta e que o sonho não
acabara.
Voltamos a ouvir o Almirante a cantar o
samba em que só dá gente “reúna” (Rosa Grieco diria gregária, mesmo sem rimar
com Pavuna).
O final não poderia ser mais feliz: a “Noivinha da
Pavuna” casou no próprio programa. Hollywood não faria melhor.
-Foi mesmo João da Baiana quem
introduziu o pandeiro no samba? Jackson.
BM: Apesar de o pandeiro ser utilizado na ópera Carmen, em composições de
Manuel de Falla, como “El Amor Brujo”, concertos de Prokofiev, era visto como
um instrumento musical de vagabundos, no Brasil, como o violão, nas primeiras
décadas do século XX.
Em seu depoimento ao Museu da Imagem e
do Som, João da Baiana afirmou que sempre se dedicou ao pandeiro porque tinha
amor ao ritmo, que os garotos formavam roda de samba, e era ele quem melhor
tocava esse instrumento.
Em 1908, quando se apresentava na Festa
da Penha, o seu pandeiro foi apreendido pela polícia, e isso o impediu de
participar das reuniões de instrumentistas populares no “palácio” do senador
Pinheiro Machado no Morro da Graça. Ao saber do que acontecera, o senador
deu-lhe um pandeiro de presente com a inscrição “Com a minha admiração ao João
da Baiana – Pinheiro Machado”. Era um salvo-conduto que permitia ao músico se
apresentar onde quisesse, pois Pinheiro Machado era conhecido como o “fazedor
de presidentes do Brasil”, e, na época, a expressão “turma da chaleira”, com o
significado de puxa-sacos, surgiu por causa das pessoas que abasteciam de água
quente o seu chimarrão.
O maior adversário político do senador Pinheiro
Machado foi Ruy Barbosa, que não gostava das manifestações artísticas
populares, haja vista a sua reação ao sarau da Chiquinha Gonzaga no Palácio do
Catete, mas isto é outra história.
-O que o Biscoito Molhado tem a dizer da
declaração pública do Sérgio Fortes de atirar o sapato na televisão indignado
com a estupidez das programações? Elio
BM: Sérgio Fortes não seria o primeiro a recorrer ao sapato como forma de
protesto. Em 1960, numa sessão da ONU, o Premier da União Soviética, Nikita
Krushchev, indignado com o discurso do delegado das Filipinas, descalçou os
sapatos e bateu com ele sistematicamente na mesa como se fosse um martelo. A
sessão se transformou numa balbúrdia incontrolável, e o presidente da
Assembleia teve de dar a sessão por encerrada.
Recentemente, Muntadhar al-Zeidi,
jornalista iraquiano, arremessou dois sapatos
na direção do presidente Bush, filho durante a sua quarta e última
visita surpresa ao Iraque em guerra.
No momento em que ele cumprimentava o Premier
do Iraque, no escritório do líder desse país, na protegida zona verde de Bagdá,
durante uma entrevista coletiva, os dois sapatos voaram, mas o presidente dos
Estados Unidos demonstrou que tinha talento para ser esquivar; pelo menos,
encontramos um talento nele.
Sérgio não foi o primeiro e nem será último a
protestar com o sapato, embora, hoje em dia, quase todo o mundo use tênis.
-Eu li em um Biscoito Molhado sobre a
maneira descontraída com que o apresentador do programa Concertos OSESP, da
Rádio Cultura, anuncia as atividades da orquestra. O que foi mesmo que ele
disse quando foi anunciada a “Sinfonia Doméstica, de Richard Strauss? CAT
BM: Eu contei uma parte, mas aqui vai toda ela, pois esse programa foi
reprisado pela Rádio MEC. E parece que, dessa vez, escreverei corretamente o
nome do descontraído apresentador: Carlos Heid.
Ele disse que Richard Strauss, não
contente em ter composto anteriormente “Vida de Herói”, em que ele é o herói
que luta contra os filisteus, ou seja, os inimigos da sua música, lançou a
“Sinfonia Doméstica”.
-“A maior declaração de autoconfiança
musical que eu conheço.” - disse Carlos Heid.
E prossegue:
-”Coloca 110 músicos, incluindo 8
trompas e 5 saxofones para mostrar as 24 horas da vida mundana de um gênio,
ele, mais a mulher, a geniosa soprano Pauline, e o filho Franz apelidado de
Bubby.”
E
informou que, na estreia vienense, Gustavo Mahler, que regeria a peça, ficou
fulo da vida, quando soube do programa da “Sinfonia Doméstica.”
E acrescentou que o maestro Karl Richter
declarou que a descrição musical do banho do “bebê bávaro” Bubby faz mais
barulho do que todo o cataclisma da queda dos deuses do Walhala.
Depois de o bebê dormir, Richard Strauss
passa para a cena de sexo; o motivo de Pauline fica em cima do seu motivo.
-”Há um clima de diferentes tons para
caracterizar o orgasmo masculino e feminino.”
Caramba, se não fosse o descontraído
apresentador dos Concertos OSESP, eu não saberia de tanto cabotinismo musical.
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