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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

2540 - de Yoko para vocês



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4340                         Data: 02 de janeiro  de 2014
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CARTAS DOS LEITORES

-Por que o Sabadoido, inspirado no Sabadoyle - este aconteceu 1708 vezes - de 1964 a 1998, acabou? Foi por que não seguiu as regras do evento original de evitar discussões sobre religião, política e futebol? Yoko
BM: Pois é, minha cara Yoko, o Sabadoyle durou mais do que a ditadura militar e ainda existia no primeiro governo do Fernando Henrique Cardoso.
Sim, debatíamos política, futebol e religião, mas, apesar de um ou outro integrante do Sabadoido sair da modulação, as armas permaneciam sempre ensarilhadas.
O Sabadoido endoideceu de vez por causa de uma discussão sobre uma música que, diga-se de passagem, era bem chinfrim. Foi, então, por isso que o Sabadoido chegou ao fim? Não; o Sabadoido fechou as suas portas porque não seguiu uma norma do Sabadoyle: servir apenas guaraná.

-O Biscoito Molhado repercutiu várias vezes o programa dominical Rádio Memória, mas não faz o mesmo com a Rádio OSB, cinco horas depois do programa citado, que também conta com a presença do Sérgio Fortes, diretor da Orquestra Sinfônica Brasileira Ópera e Repertório.
Por coincidência, dois domingos atrás, a gravação de “Os Quindins de Iaiá”, do Ary Barroso, foi tocada no Rádio Memória, no deslumbrante arranjo do maestro Radamés Gnatalli e, poucas horas depois, agora na Rádio MEC, Sérgio Fortes apresentava o Concerto para Violino e Orquestra do mesmo maestro, assinalando que ele elaborou por volta de dez mil arranjos na música popular brasileira, o que não o impediu de compor. Eu até faltei a uma reunião de colecionadores de Jaguar para ouvir Rádio OSB. Por que o Biscoito Molhado não volta a sua atenção também para esse programa? Dieckmann.
  BM: Às vezes você tem razão, Dieckmann. Lembra-se quando o Sérgio Fortes inventou uma falsa polêmica entre nós: eu preferia “Summertime” com Kiri Te Kanawa, e você com a Renée Fleming? Pura blague do nosso amigo, que sabe perfeitamente que você considera a interpretação do “Summertime” pelo Paulo Francis definitiva. Nessa ocasião, Serginho Strongs (para os mais íntimos), realizava o programa “As Melhores Vozes do Mundo”, que ele abandonou quando o Artur da Távola deixou de ser o diretor da Rádio Roquette Pinto.
No Rádio OSB, como já foi registrado aqui, divulga-se as performances da Orquestra Sinfônica Brasileira, o que obriga o Sérgio Fortes a pronunciar nomes que travam a língua como a dos maestros Yeruham Scharovsky, Roberto Minczuk, Eugen Szenkar, que foi o seu primeiro diretor artístico em 1940; sem falar nos nomes dos solistas convidados, como a violinista Mayuko Kamio, entre outros. 
O consolo do Sérgio Fortes é não ter sido comentarista de política internacional na época da presidência do Jimmy Carter, pois teria de pronunciar o nome do seu Conselheiro de Segurança Nacional: Zbigniew Brzezinski.
Mas deixamos de lado as brincadeiras; o descontraído Sérgio Fortes do Rádio Memória é extremamente formal no programa semanal que merece uma hora da nossa atenção, o que nós fazemos, mesmo na nossa hora da sesta, pois o gravamos no MP 4.
Falando em descontração, o apresentador dos Concertos OSESP, que substituiu Arthur Nestrovski, na Rádio Cultura, consegue arrancar risadas dos ouvintes. Ele, cujo nome me escapa, alcançou o seu ápice quando comentou a “Sinfonia Doméstica”, de Richard Strauss. Referiu-se à desfaçatez do compositor alemão ao colocar em música a sua relação sexual com a esposa, com direito a orgasmo, o que exigiu um esforço sobrenatural dos naipes das cordas, dos sopros e de todos os demais instrumentos da orquestra. Não satisfeito, segundo o apresentador da Rádio Cultura, Richard Strauss deu uma importância de deuses do Walhalla as traquinagens do seu filhinho Buby (deve ser apelido e, certamente, não é escrito assim).
Como crítica a Arthur Nestrovski e ao seu sucessor Carlos Rainer (lembrei-me do nome) fica o fato de os dois louvarem exageradamente a maestrina Marin Alsop; até parece que ela é a Herbert von Karajan de saias. Percebo agora que a minha comparação foi infeliz, pois ela só rege de calças compridas.
Voltando ao Sérgio Fortes, o seu programa de que mais sinto falta é o Clube da Ópera, na Rádio MEC, que teve o seu desfecho quando o Lula assumiu o governo em 1º de janeiro de 2003.
O maior encanto do Clube da Ópera era reviver os anos áureos das temporadas líricas do Teatro Municipal do Rio de Janeiro com artistas daquela época e com os “loucos líricos” - expressão de Artur da Távola – que presenciaram aqueles espetáculos.
Eu, em casa, adolescente, grudado no rádio ouvia as transmissões de todas as récitas operísticas pela Ministério da Educação e Cultura.
A “Tosca”, cantada pelo Ferruccio Tagliavini, com bis no “E lucevan le stelle” existiu mesmo? E a alta voltagem emocional da interpretação da Magda Olivero na ária “L´altra notte in fondo al mare”, do Mefistófoles, que provocou a saída do enciumado baixo Cesare Siepi  do Brasil, ocorreu mesmo? Passados 50 anos, tudo já me parecia uma peça da minha imaginação até que surgiu o Clube da Ópera, com as pessoas que testemunharam ao vivo aqueles momentos mágicos, e eu certifiquei-me que não fora um sonho.

-Não me veja derrotada, continuo lutando. Talvez me deva comparar ao Chaplin no “Tempos Modernos”, fui sugada pela engrenagem. Não há verba para serviçais, aumentar-me-iam os problemas sem vantagens. De certo modo, fui uma vitoriosa entre as mulheres da família. Mãe, irmãs e sobrinha não viveram com a intensidade que, mesmo aos trancos e barrancos, a pulso e a canelão, eu vivi e ainda vivo durante alguns minutos, alguns dias na semana. Rosa
BM: Rosa, como você já assinalou em cartas pretéritas, os melhores momentos vividos por você foram na Bélgica. Por isso e pelo fato de ter vivido com intensidade, a entrevista com o líder estudantil da época da ditadura militar, Vladimir Palmeira, a que assisti ontem, na TV Cultura, ocorreu-me ao lê-la agora.. 
As intensidades das suas vidas foram bem diferentes, ele viveu muito tempo no fio da navalha, teve de ir para Cuba, exilado, em 1969, e hoje confessa que a centralização militar da ditadura de Fidel Castro o incomodou sobremaneira, que ele preferia Paris. O melhor que ele conseguiu, como exilado, foi viver em Bruxelas onde, segundo suas palavras, trabalhou durante seis anos como peão.
Vladimir Palmeira não desfrutou as belezas da cidade como você; cultura ele possuía, isto é inegável, mas quem mandou se influenciar pelos ideólogos errados, não é mesmo, Rosa? A primeira vez que vi o Vladimir Palmeira foi mijando ao meu lado, no mictório do Cine Catete (ou Cine São Luiz, não sei bem) em 1985, que colocara em cartaz “O Cidadão Kane”. Depois, eu soube que, trepado num banquinho da Rua São José, todas as sextas-feiras, ele prestava contas do que realizara na Câmara Federal como deputado constituinte e muitas vezes fui ouvi-lo. Ele já estava escarmentado, mas ainda levou pancadas do seu partido, o PT, mesmo depois de ter contribuído com uma substanciosa parte da quantia que ganhara na Mega Sena. Enriquecendo-o ainda mais.
Hoje, inegavelmente, ele seria uma ótima pessoa para conversar, presumo.
Percebo que pouco falei da sua carta, Rosa, fica para outra vez.

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