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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

2549 - a felicidade não se compra



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4349                          Data: 18 de janeiro  de 2014
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NAS ÁGUAS DA INTERNET

Esta piada foi postada no Facebook: São Pedro na porta do paraíso recebendo duas pessoas angelicais, haja vista as asas às costas: “Bem-vindos ao céu onde não há hospitais, escolas, empregos e nem dinheiro”. Um dos justos se manifesta: “Nossa, igual ao Brasil!”.
Não consigo precisar quando, talvez até antes do advento do computador pessoal, contaram-me esta anedota.  Não sei se como piada com cubanos, com venezuelanos, com argentinos ou mesmo com brasileiros. Não importa, a piada serve para esses povos e muitos outros.
Digilitarizaram um artigo do Carlos Alberto Sardemberg e o colocaram na Internet. Fizeram bem, pois merece leitura e reflexão.
Nesse artigo que intitulou “Vã Filosofia”, o jornalista faz considerações sobre a última edição do Barômetro Global de Otimismo realizado pelo Ibope Inteligência em parceria com a Worldwide Independent Network of Market Research (WIN; foi avaliado o grau de felicidade dos habitantes de 65 países.
Primeiramente, Carlos Alberto Sardemberg compara os franceses com os brasileiros, cujos dois primeiros parágrafos reproduzimos textualmente:
“Os franceses obviamente vivem melhor que os brasileiros. Têm mais renda, empregos bem remunerados, boas aposentadorias, saúde e escola pública de qualidade, transporte público entre os melhores da Europa e, pois, do mundo, belas estradas. Além disso, os franceses inventaram e cultivam com cuidado e inovação algumas das melhores coisas da vida: a velha e a nova cozinha, os vinhos, os queijos, a moda e o estilo das mulheres. Em resumo: civilização, arte e cultura.”
 “Mas em todas as pesquisas sobre felicidade pessoal – o modo como cada um percebe sua vida e seu futuro – o francês aparece no fim da lista. Declara-se infeliz e, não raro, muito infeliz. Já os brasileiros aparecem nas primeiras colocações.”
Tudo colocado em números por essa pesquisa, descobre-se que, na França, 25% dos entrevistados se declaram felizes; 33% se consideram infeliz; quanto aos demais 42%, nem uma coisa nem outra.
E no Brasil, 71% se proclamaram felizes.
Avaliando o mau-humor como sintoma de infelicidade, o mau-humor do francês é um fato incontestável, basta pisar o solo de Paris, por exemplo, e perguntar ao primeiro parisiense “Do you speak english?”, que logo se constatará que não há exageros nessa afirmação.
Revisitando a história desse país, perguntamos: havia necessidade de separar tantas cabeças dos corpos para derrubar a monarquia? Talvez, para alguns nobres a guilhotina se fizesse necessária, mas guilhotinarem-se entre si?... Como sabemos, também perderam a cabeça muitos revolucionários que lutaram contra a nobreza e o clero que exploravam os pobres. Se o povo francês fosse mais feliz, acreditamos que não correria tanto sangue na sua história.
E no Brasil há tanta felicidade como indica essa pesquisa que motivou o Carlos Alberto Sardemberg a redigir um artigo merecedor da nossa leitura e reflexão?
Lá está repercutido o resultado encontrado por esses pesquisadores: 71% dos brasileiros se declaram felizes. São felizes mesmo? (*)
O jornalista responde essa questão sob o prisma econômico e, sem se ater ao Brasil, especificamente, coloca os países emergentes num mesmo saco, porque os colombianos, os argentinos, os mexicanos, indianos e indonésios também se acham, na sua maioria, muito felizes. E como os habitantes das nações ricas, como a França, atravessam uma crise econômica, ficaram (agora a palavra é nossa) tristinhos.
A dedução de Carlos Alberto Sardemberg não me satisfaz. Concordo com uma antropóloga que, entrevistada numa estação de rádio, sobre essa bem-aventurança dos brasileiros apresentou os seguintes argumentos: O Brasil é o país do mundo que mais consome anti-depressivos, ansiolíticos e outras substâncias do gênero. E conclui com uma pergunta:
-Estamos felizes ou dopados?
No que me concerne, quando vejo um grupo de pessoas muito alegres nas ruas, trato de passar longe, se não for possível, lamento que não esteja vestido com uma armadura do tempo medieval. O mesmo ocorreria se eu estivesse nas ruas colombianas, argentinas, mexicanas ou dos demais países emergentes citados.
A felicidade brasileira não passa pelo teste do bafômetro.
Depois, ainda na internet, topo com um texto de Diogo Costa, professor do curso de Relações Internacionais do Ibmec, intitulado “Fundamentalismo do Investimento e as Armadilhas da Caridade.” O primeiro parágrafo, como um bem elaborado lead jornalístico nos levou a ler o texto até o fim.
“Quer me empobrecer? Dê-me uma Ferrari. Sério. Só não me deixe vendê-la ou trocá-la. As despesas com impostos, seguro, revisão, peças e manutenção generalizada seriam tão altas que limpariam minha conta bancária.”
Em seguida, o professor cita o primeiro país africano que alcançou sua independência do Reino Unido, Gana, em 1957.
Os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido despejaram dinheiro lá para a construção de uma hidrelétrica que iria prover energia suficiente para movimentar toda uma indústria de alumínio. Quinze anos depois, em 1982, não existia mais mina de bauxita, nem refinaria de alumínio, nem planta de soda cáustica, nem ferrovias.
E diz mais adiante que os investimentos não são iguais, que umas das tragédias do século XX foi a quantidade de ajuda externa desaguada na África subsaariana, enquanto a região ficava mais e mais pobre.
É evidente que não estamos lendo Luís Fernando Veríssimo que, quando se arvora em redigir sobre economia é um desastre, a ponto de escrever, recentemente, que os países são pobres porque há países ricos.
Diogo Costa conhece a matéria, e da sua escrita pinçamos estas palavras:
“Crescimento econômico depende da acumulação de capital, é verdade, mas adicionar aviões sem aumentar o número de pilotos não aumenta o poder de uma força aérea. Pode até enfraquecê-la se, para evitar a depreciação das aeronaves, aumentam-se os gastos com manutenção.”
Encerrada a leitura desse artigo, nós nos reportamos aos ensinamentos do criador da ciência econômica, Adam Smith, que dizia que a riqueza das nações se dá com a aplicação dos fatores da produção, ou seja, terra, trabalho e capital, neste incluindo técnica e tecnologia. Se não houver capital, ou seja, máquinas e equipamentos, sem trabalhadores capazes de operá-los, de nada adiantará. É simples assim.
A Espanha e Portugal se abarrotaram do ouro das colônias, eram países mercantilistas; despencaram economicamente diante da Inglaterra e de outras nações europeias porque o dinheiro, apenas, nada produz.

(*) enquanto Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO, tenho minha opinião a respeito. O brasileiro é feliz por dois motivos:
1) é mal informado, possivelmente, em mais de 71%;
2) sendo o Brasil um dos recordistas mundiais de homicídios por mil habitantes, só o fato de estar vivo na hora de responder à pesquisa, já dá uma felicidade autêntica.

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