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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

2544 - Feliz Ano Novo!



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4344                        Data: 07  de janeiro  de 2014
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O PRIMEIRO DO ANO

Com tantos Rádio Amnésia, nada como o Rádio Memória.
Foi o primeiro “muitíssimo bom-dia” do ano 2014.
-Jonas faltam 360 dias para o encerramento do ano. - deu o Sérgio Fortes a essas palavras a mesma entonação do último programa de 2013, quando lembrou que faltavam 9 dias para o seu término e, assim, obteve um efeito hilariante.
No papel de homem-calendário, ele anunciou os santos do dia 5 de janeiro que, por serem muitos, não listaremos aqui, com exceção de São Telésforo, que ensejou uma piada com fósforo a longa distância. Que os jesuítas do Santo Inácio não tenham ouvido o seu ex-aluno.
Sérgio não teve, certamente, tempo para dedicar-se à sua pesquisa, pois não deixaria passar que, no dia 5 de janeiro de 1988, o dono do maior bigode do mundo, 2 metros e 35 centímetros, foi decapitado no estado do Rajastão, na Índia, onde ocorre uma acirrada disputa pelo posto. Ficaria mais à mão, julgamos nós, que ele fosse enforcado no próprio bigode.
Quem ouviu já sabe, mas quem prolongou o sono no primeiro domingo do ano, não sabe: Jonas Vieira estava abrasileirado, e Sérgio Fortes mais americanizado do que Carmem Miranda.
Isso posto, Jonas Vieira anunciou a música a ser tocada.
“Pelo Telefone”, do Donga e Mauro de Almeida, lançado em 20 de janeiro de 1917.
-Falam que é o primeiro samba, mas há muito maxixe nele. O samba com batuque vem do Estácio com Ismael Silva. - sublinhou o Jonas Vieira.
E teceu elogios ao intérprete, Almirante, a maior patente do rádio, além de aludir à irreverência carioca que transformou o chefe da folia em chefe da polícia que avisa que na Carioca  há uma roleta para se jogar. E poderia falar ainda nas rimas ricas como questione/telefone, rapaz/trás.
A sonoridade da voz do Almirante, que torna audíveis todas as sílabas de todas as palavras cantadas, impressionou o Sérgio Fortes que disse ser ele o Pavarotti da MPB.
E pensar que testemunhamos, como espectador de televisão, nos anos 70, o sensacionalista apresentador Flávio Cavalcanti desrespeitá-lo, o que levou o Almirante a agarrar o microfone e não soltá-lo, obrigando a interrupção daquele programa que mais parecia um circo dos horrores filmado por Fellini em “Ginger e Roger”.
Em seguida, Sérgio Fortes conduziu, musicalmente falando, o Rádio Memória para a Broadway, através da canção “I'm Old Fashioned”, de Jerome Kern, com letra de Johnny Mercer, do musical “You Were Never Lovelier”, ano 1942. Transformado em filme, recebeu o nome de “Bonita como Nunca”. A bonita era Rita Hayworth e o seu par foi aquele que tinha todos os ritmos nos pés: Fred Astaire.
Para cantar “I'm Old Fashionad”, Sérgio Fortes anunciou a bela soprano neozelandesa Kiri Te Kanawa:
-Dizem que ela é a minha queridinha.
Sejamos mais específicos: minha mãe disse isso desde o tempo de “As Melhores Vozes do Mundo”, quando ele demonstrava nítida preferência pela Kiri Te Kanawa em detrimento da Mirella Freni, ídolo da minha genitora.
Com Jonas Vieira, a música popular brasileira retornou, agora, na voz inconfundível do Martinho da Vila em “Batuque na Cozinha”, composto por João da Baiana em 1917 e só gravado em 1968.
-Passei a gostar menos do Martinho da Vila quando ele se avermelhou. - observação que provocou risos do Sérgio Fortes.
Martinho da Vila, a nosso ver, tinha uma atenuante: os esquerdistas festivos formavam um lucrativo mercado consumidor, e ele fez, de maneira tênue, o que muitos já faziam: transformar a ideologia em investimento.
Tango. Sérgio Fortes é fiel a esse gênero musical (piadas de argentinos à parte) desde o já citado “As Melhores Vozes do Mundo”, e pediu que tocassem “Don Augustin Bardi”, de Horácio Salgan que, assim, homenageou o seu paradigma, compositor que viveu de 1884 a 1941.  Os intérpretes da gravação solicitada formavam um trio fantástico: Daniel Barenboim, no piano, Rodolfo Mederos, no bandoneón e Hector Console, no contrabaixo.
Luzer, violinista da OSB, informou ao Sérgio Fortes - disse- que Rodolfo Mederos já tocara com a citada orquestra.
Jonas Vieira pediu “Se Você Jurar” e “Pra me Livrar do Mal”, de Ismael Silva, Depois de “Pelo Telefone”, considerando a primeira gravação, de Donga, um maxixe sob o disfarce de samba, veio o autêntico gênero musical com Ismael Silva. Duas ótimas pedidas.
 Jonas Vieira, apesar de abrasileirado, não esquece o pragmatismo dos americanos; e exaltou a liberação da maconha no estado do Colorado, o que neutraliza os traficantes além de render impostos para o governo. Reportou-se à Lei Seca que, ao ser derrubada por Franklin Delano Roosevelt, golpeou duramente a máfia que traficava com bebida alcoólica. Sérgio Fortes, com uma entonação galhofeira na voz, citou a liberação da maconha no Uruguai de José Mujica.
Bem, o presidente José Mujica, comparecendo a solenidades roto e maltrapilho, com sapatos precisando de meia sola, desrespeita a liturgia do cargo que ocupa. Dá a impressão que vive com um baseado nas ideias.
Sobre os malefícios da maconha como droga estupefaciente, eles preferiram não opinar, deixando a cargo do doutor Borer e do Luzer, que também é médico, esclarecerem o assunto posteriormente.
Luzer, além dos conhecimentos de medicina, é músico, priva do mundo das partituras. Louis Armstrong transportava numa pastinha a sua “marijuana”, e, certa vez, Richard Nixon, encontrando-o num aeroporto, fez questão de carregá-la, sem saber, é evidente, o que havia lá dentro. Dizem que “Muggles”, gravação de Louis Armstrong, aludia à “marijuana”.
Voltemos às músicas do Rádio Memória.
Depois da queridinha, veio a pestinha do Sérgio Fortes, Kathleen Battle. Ele não consegue falar dela sem se referir à sua antipatia. A música a ser interpretada era “Melodia Sentimental”, de Villa Lobos, com letra da embaixatriz Dora Vasconcelos.
-Villa Lobos inserira esse tema na “Floresta Amazônica”, escrito para o filme da Metro Goldwin Mayer, “Green Mansions”. Não gostou do que viu na tela e separou essa peça a ser cantada por um soprano, na época, Bidu Saião.
E registrou o Sérgio Fortes que o filme, de 1959,  foi dirigido por Mel Ferrer, estrelando a sua esposa  Audrey Hepburn com  Anthony Perkins.
E a “Melodia Sentimental” calou todo o mundo enquanto foi tocada.
-Que voz! É impressionante a voz dela! - Jonas Vieira ficou tão encantado que, por pouco, a pestinha do Sérgio Fortes não se transformou na queridinha do Jonas Vieira.
Não foi nesse momento, em que o Rádio Memória contornava a curva de chegada e entrava na reta final (não, isso não é um introito para se ouvir “Por Una Cabeza”, de Gardel) e sim minutos depois de iniciado o programa, que veio a fala inusitada. Jonas Vieira lançou uma informação reticente, era algo que os assustava no estúdio.
-”Apertem o cinto, o piloto sumiu.” (*)
Não houve um único ouvinte, desperto às 8h 15 min, que não tenha indagado: “Quem é esse piloto?”
No que nos diz respeito, imaginamos que o Peter, o operador de som, fosse esse piloto presuntivo, mas como ele, pouco depois, foi citado de maneira descontraída, ficou claro que não era ele. Como a dupla não esclareceu nada, fica isso como o primeiro enigma de 2014 do Rádio Memória.
Mas voltemos à música, o mote do programa.
Jonas Vieira continuou com os brasileiros, Geraldo Pereira, autor de “Cabritada Mal Sucedida” em que todos foram presos, inclusive o cabrito; e Sérgio Fortes continuou com os americanos, no caso, Louis Armstrong, com “High Society Calipso”, de Cole Porter.
-Música do filme de 1956, o último da Grace Kelly antes de se tornar princesa, e mais Bing Crosby e Frank Sinatra. - assinalou.
Jonas Vieira pediu o primeiro sucesso de carnaval do Orlando Silva, 1938, “Abre a Janela”, de Marques Júnior, e Sérgio Fortes escolheu “Stomping at the Savoy” com a orquestra de Benny Goodman. Música de Edgard Sampson, que tocou sax alto na Orquestra de Chick Webb, de 1934.
O demorado abraço do Jonas Vieira encerrou o primeiro Rádio Memória de 2014.

(*) Certamente o redator do seu O BISCOITO MOLHADO sucumbiu ao cansaço matutino, talvez da noitada do sábado – quem sabe? e não prestou a devida atenção. Felizmente, para o nosso leitor, este Distribuidor estava sintonizado nesse momento em que os apresentadores do programa lembravam desmandos do atual Governo do Brasil, culminado com a observação do piloto que sumiu, no caso, a Presidenta. Não, portanto, nenhum mistério, a não ser se foi uma mosca tsé-tsé a picar o farináceo redator. Ou terá sido um besouro?

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