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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4339 Data: 01 de
janeiro de 2014
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CARTAS DOS LEITORES
-Li a edição do
Biscoito Molhado em que é transcrita a observação do Roger Vadim sobre a sua
então esposa Brigitte Bardot, que transcrevo: - “Possuía um dom para a
infelicidade, mas sempre sofria quando estava de caso com mais de um homem ao
mesmo tempo”.
É isso mesmo? Não
houve erro na tradução? Jean-Louis
BM: Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. O dom da atriz de “E Deus criou a mulher” era
para a infidelidade. Senti-me um traidor de pensamentos alheios ao me deparar
com essa palavra no texto do blog divulgado pelo Bob Dieckmann (xará do Bob
Zagury, outro marido da atriz, que a trouxe para Búzios cinquenta anos atrás).
Acessei, então, os
comentários do blog para publicar a autocrítica, como a do Luiz Garcia no
Globo, mas não consegui, sou da geração da máquina de escrever com esfera. Meu
sobrinho me ensinou o caminho das pedras, e a errata foi realizada.
Não busco uma
atenuante, mas, prosseguindo na leitura das memórias de Roger Vadim alusivas às
três cobiçadas estrelas do cinema, suas esposas, constatei que a Brigitte
Bardot também possuía o dom para a infelicidade. Por isso, atrevo-me a
reproduzir outra página do seu ex-marido que, por ter sido também roteirista,
escrevia bem:
-”A beleza e a franca
sensualidade de Brigitte são completamente conhecidas. Ele simbolizava todo o
erotismo e o amor à vida de uma época. Entretanto, pouco se conhece das
angústias, dos medos e do talento para a infelicidade que várias vezes a levou
à beira da tragédia.”
“Os amantes que
passeiam e se beijam sob o luar prateado nunca pensam no lado sombrio da lua,
que jamais vê a luz do sol. O mesmo acontece com Brigitte: apenas um de seus
lados é conhecido.”
“Quem era, realmente,
a pessoa que se escondia por detrás da imagem radiante do último dos símbolos
sexuais?”
Logo após essa
leitura, saíram-me dos porões da memória as tentativas de suicídio do Brigitte
Bardot.
-Na entrevista que
Ernest Hemingway concedeu ao Biscoito Molhado, cinquenta e um anos depois de
morto, ele passou ao largo da política, no entanto, lutou na guerra civil da
Espanha do lado dos comunistas. José Millán
BM: Muitos
estrangeiros, ou seja, não espanhóis, se envolveram nessa guerra civil do lado
dos republicanos porque viam o General Francisco Franco como a representação do
mal que atormentava a Europa nos anos 30: o fascismo da Itália e o nazismo da
Alemanha. Românticos que eram, muitos deles, não enxergaram o outro mal, este
aliado a eles: o comunismo.
No meio de toda aquela
mortandade, os mais lúcidos, como o escritor americano John dos Passos,
perceberam que os oficiais soviéticos, no meio dos republicanos, traçando
rumos, não melhorariam a nação espanhola em nada. É sabido que Ernest Hemingway
tachou o seu, até então, amigo, John dos Passos, de traidor, que teve de fugir
da Espanha.
O caráter de Ernest
Hemingway levanta sérias dúvidas, visto sob as lentes dos estudiosos, que
afirmam que ele era dono de um temperamento projetista, de projetar a culpa
sempre nos outros, que ele tinha o hábito de arranjar culpados para todos os
seus dramas pessoais. John dos Passos foi uma das suas vítimas.
Sabemos que foi
realizado pelos americanos um documentário sobre essa guerra civil, que serviu
de laboratório para a Segunda Grande Guerra Mundial, Nesse documentário, cabia
ao jovem prodígio Orson Welles ser o locutor do filme, mas Hemingway, tomado
pelo estrelismo, se escalou para essa função e os dois quase que saíram no
tapa.
É aconselhável não nos
imiscuirmos muito na vida do Hemingway, se não, vamos gostar menos das suas
obras.
-O temerário Charles
está mandando histórias revistas do Pinto. Está ficando abusado...
Prossigo dolorida com
o martírio do Cipião, 12 anos juntos é muito tempo. Estou lotando o paraíso dos
gatos: o Cysthopodium em 2001, CPI – 2008, CPO-2009 e Cipião em 2003. Ignez quer trazer outro, nem penso nisso,
estou atarefada, vigiando os dois que restaram. Rosa
BM: Ao topar com o primeiro parágrafo da missiva da Rosa,
fui conduzido logo à edição do Biscoito Molhado em que Truman Capote foi
entrevistado. Explico-me: há questão de um ano, ou menos, a Rosa citou um livro
de casos inusitados com celebridades americanas e dele extraiu um trecho
daquelas luxuriosas festas em que o escritor esteve presente. Ela realçou o
caso em que o ator Errol Flynn, para o embevecimento do Truman Capote, tocou
piano com o próprio pênis.
Feita a releitura da
carta, tudo se esclareceu: Pinto é o Luciano da Rocha Pinto, professor de
História, que reuniu excertos de vários colegas seus num livro que, logo que
foi editado, eu adquiri para presentear a minha cara amiga que já me doou quase
uma biblioteca.
Agora, os gatos.
Soube do passamento do
Cipião através do Luca.
-”Não, não envie nada
para ela, que está de luto.” - advertiu-me ele.
Será que nem lendo ela
está? - perguntei-me. Por uma dessas
artimanhas da mente humana, pulou-me da memória um caso ocorrido com um colega
meu da adolescência da rua Americana, no Cachambi: ele jogou bola no dia em que
a mãe morreu. Será que a morte afastou, mesmo por um dia, a Rosa dos livros? O
certo é que o falecimento do Cipião a jogou numa tristeza profunda.
E como ela mesma diz:
lota o paraíso de gatos. Espero que o Cipião seja bem recebido pelo Fluminense
e Peçanha, os dois bichanos inesquecíveis da minha mãe que, de certa maneira,
ficaram incorporados a minha fase infanto-juvenil.
Admiro-me da
imaginação da Rosa para identificar seus felinos: Cysthopodium. Alexandre da Macedônia
precisou ser discípulo de Aristóteles para batizar seu cavalo de Bucéfalo, mas
Rosa, que de Aristóteles só conheceu o Onassis, o superou.
Como a Rosa lidava com
suas peraltices, como subir na estante, derrubar uma teteia e transformá-la em
cacos? “Não faça mais isso, Cysthopodium!” Ou o chamava somente de “Podium”,
que é um apelido mais carinhoso e atlético?
Agora, restam dois
gatos para lhe fazer companhia, um deles é o Calígula, o outro fugiu da minha
memória, mas voltará; os gatos sempre voltam.
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