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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4047 Data: 19 de outubro de 2012
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CARTAS DOS LEITORES
“Consegui achar uma foto da capa da
revista Amiga com o Toni Tornado. Seria o Tio Rei lá no fundo, ao lado de um
sujeito com barba estilo Fidel Castro?” Tereza Luz.
BM: Tereza Luz, filha da irmã mais velha do Luca, é
correspondente do Biscoito Molhado na cidade de Ourinhos. Nesta carta, ela se
reporta ao exemplar intitulado “De Mangaratiba para o Sabadoido” em que o Luca
declara que o seu tio Reinaldo (Rei) saiu na capa da citada revista com o Toni
Tornado na ocasião em que ele venceu a fase brasileira do V Festival da Canção
com BR-3.
Tereza Luz desencavou a capa da edição
da “Amiga” de 3 de novembro de 1970, em que aparecem o performático intérprete
(cantou e dançou como o James Brown) com um punhado de pessoas no palco e, em
seguida, a escaneou no seu computador.
Na carta, transparece a dúvida, que foi
reforçada pelo Luca, comigo ao telefone: “Sei não, Carlinhos, aquelas crianças
junto com o Toni Tornado...”
Acionado o Reinaldo, em pleno trabalho
na Petrobras (isso aconteceu na manhã de segunda-feira), as dúvidas
persistiram.
Nesse mesmo dia, meu irmão Lopo apareceu
e eu tratei de explorar a sua memória.
-Lopo, você esteve com o Reinaldo no
Festival em que o Toni Tornado ganhou com BR-3?
-Claro que estive. Apesar de não ser o
Festival Universitário de Música Brasileira, transmitida pela TV Tupi, o
Reinaldo tinha um crachá do MAU – Movimento Artístico Universitário – que lhe
dava livre trânsito pelos bastidores do Maracanãzinho. Eu estava com ele, que
me disse que iria tentar me colocar lá dentro. Demos sorte, pois ele achou um
crachá do MAU perdido e passou para mim, que tratei de o pendurar no pescoço.
-Vocês circularam, então, entre os
artistas?
-Não só circulamos, como participamos do
coquetel.
Meu irmão falou muitas vezes desse
coquetel porque se deparou com o Peixoto, conhecido como prefeito da rua
Americana, no início dos anos 60, trabalhando como garçom. Ele, Peixoto, ganhou
esse apelido porque não podia ver uma obra na rua sem abordar os trabalhadores
com sua opinião, e também pelo fato de levar candidatos a cargos eletivos para
discursar, transformando a frente da sua
casa em palanque.
-Quando eu vi o Peixoto com uma bandeja
de salgadinhos, aproximei-me, percebi o impacto que ele sentiu ao se deparar
comigo, e, depois de pegar um salgadinho, eu lhe disse: obrigado. - não perdeu
a oportunidade de narrar mais uma vez o caso.
-Lopo, o Luca ficou em dúvida por causa
daquelas crianças juntas ao Toni Tornado.
-É o Trio Esperança. - afirmou com
veemência.
E apontou uma menina que afirmou ser a
Evinha, intérprete celebrada pela canção “Casaco Marrom”.
-Eu vou pôr o zoom nessa foto
escaneada pela Tereza...
Enquanto a imagem crescia, meu irmão se
fixava na pessoa que estava ao lado de alguém que a Tereza comparou a aparência
com a do Fidel Castro.
-É o Reinaldo, sem a menor dúvida.
E acrescentou:
-Eu estava um pouco à direita dele.
-Essa história de ele abraçar o Toni
Tornado?...
-Exageros, Carlinhos, mas o resto é
verdade.
Acreditamos que depois desse depoimento
de uma testemunha ocular, o caso está esclarecido. Obrigado, Tereza, que nem
nascida era, nessa época, pela ajuda prestada.
“Duas vezes acertei no Grande Prêmio
Brasil, sem ter apostado nada em
ambos. Nas vitórias de Duraque, com Antonio Ricardo e de
Bowling, com Juvenal Machado da Silva.” - Elio Fischberg.
BM: Com 15 anos de idade eu já não frequentava bookmaker
e, consequentemente não apostava mais nos cavalos, mas a vitória do Duraque no
Grande Prêmio Brasil de 1967 foi inesquecível para mim, não pelo cavalo em si,
mas pelo jóquei que o conduziu, Antônio Ricardo.
Luís Rigoni e Francisco Irigoyen gozavam
da fama de mestres entre os jóqueis, mas dizia-se que Antônio Ricardo só nos os
superava porque usava, vez ou outra, de meios ilícitos, como “puxar o cavalo”.
De tão bom que era, não conseguiam provar nada contra ele. - afirmavam muitos
turfistas.
Nesse Grande Brasil de 1967, o favorito
era o argentino Tagliamento, que venceu o Grande Prêmio São Paulo, para nós,
cariocas, uma prévia da corrida do
primeiro domingo de agosto, no Hipódromo da Gávea, para os paulistas, o
verdadeiro Grande Prêmio Brasil.
Duraque, até então, não se mostrava um
craque, seu retrospecto na pista de grama, também de areia, tinha sido
modesta. Assim sendo, era um azarão.
Dada a largada, o que se viu foi a
maestria do jóquei Antônio Ricardo tirando forças insuspeitadas do seu cavalo.
Muitos se esqueceram que apostaram no Tagliamento, e vibraram com o primeiro
lugar da criação nacional.
O ceticismo tinha sido tão grande que
Duraque pagou, na ponta, 367 cruzeiros para quem apostou 10, e 170 no placê.
No dia seguinte, li na coluna do Zózimo
que a Condessa Pereira Carneiro, do Jornal do Brasil, havia acertado no cavalo.
Logo depois, o dono do cavalo anunciou
que o vencedor do Grande Prêmio Brasil participaria da maior prova do turfe argentino,
o Grande Prêmio Carlo Peregrino. Lá, Duraque se excitou, derrubou Antônio
Ricardo e disparou pela pista, saltando a cerca e alcançando as ruas próximas
ao hipódromo. Uma lástima.
Dez anos depois, 1977, quando eu fazia
estágio no Jornal do Brasil, o chefe da seção de pesquisa de mercado de rádio e
televisão, fanático por turfe, reportou-se a essa corrida:
-”Antônio Ricardo sabia que não teria a
menor chance com o cavalo, para não desvalorizá-lo, engendrou todo aquele drama
de o cavalo o atirar ao chão e disparar sem rumo.”
Terá sido Antônio Ricardo tão diabólico
assim? O que é certo é que seu filho, J. Ricardo, tornar-se-ia o maior
recordista de vitórias do turfe nacional e da América do Sul; ainda assim,
adepto algum dos puros-sangues afirmará que ele foi tão bom quanto o pai.
Quanto à vitória de Bowling, também
prevista pelo Elio Fischberg, garantem as testemunhas que veio numa atropelada
avassaladora anunciada pela metralhadora vocal do locutor Ernani Pires
Ferreira, quando disparou o bordão; “Lá vem o Juvenal.” E Bowling, montado por
Juvenal Machado da Silva passou Brown Tiger de Gabriel Menezes, Bat Masterson
de J. Ricardo, Grimaldi de I.Quintana e, finalmente, Larabee do Goncinha, para
vencer por um corpo de vantagem.
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E as outras cartas ficam para outra
edição.
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