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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

2236 - Ciao Ciai


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4036                              Data: 28 de setembro de 2012
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69ª VISITA  À  MINHA CASA

-E Tchaikovsky surgiu à minha frente.
-Obrigado pelas suas músicas. Comecei a gostar de concertos, sinfonias, rapsódias, ouvindo a sua obra.
-E as minhas óperas?... Compus dez.
-Iniciei-me no amor pelas óperas ainda garoto, então, as que caiam no meu gosto eram as mais populares, as que tinham árias tocadas até na Rádio Guanabara e cenas mostradas na TV Tupi de década de 50, como “Os Palhaços”, “Carmem”, “Cavaleria Rusticana”...
-Dessas que você citou, só conheci “Carmem”, que eu às vezes tocava no piano por puro deleite. - disse Tchaikovsky.
-Tenho um amigo que levava convidados para comentar óperas no seu programa de rádio. Quando as óperas eram da sua lavra, ele me dizia que tinha que acionar a comunidade ...
-A comunidade gay?... A velha história do meu homossexualismo. - expressou tédio no seu sorriso.
-Um desses comentaristas, um psicólogo que era uma autêntica enciclopédia lírica, afirmou que você sublimou as torturas da sua alma na música da Tatiana da ópera Eugene Onegin.
-Nessa ópera, considerei tão grande o meu atrevimento em colocar notas musicais numa história de Puschkin, que encenei a ópera no conservatório, em vez do teatro.
-Autocrítica despropositada, pois, para mim e muitos outros, você compôs a mais bela ópera russa que existe.
-Dama de Espada talvez supere Eugene Oneguin.
-Na Dama de Espada, você cita Mozart.
-Ninguém alcançou a excelência musical de Mozart. - afirmou.
-Recordo-me que, nos anos 60, do século XX, o jornal O Globo dedicava uma página inteira à música clássica. Certa vez, o tema foi a predileção dos grandes compositores, como você, Brahms, Chopin, Gounod, por Mozart. No seu caso, é transcrito um texto seu em que você estabelece uma comparação entre o gênio de Salzburgo e de Bonn. Você escreveu que a música de Beethoven é como o Deus assustador do Antigo Testamento, enquanto a música de Mozart se ajusta mais a Jesus Cristo, ou seja, é divina sem deixar de ser humana. E finaliza afirmando que Beethoven descambou para o caos.
-Na sua última fase de compositor, a música de Beethoven era o próprio caos. - ratificou.
-Para muitos musicólogos, é o gérmen da música moderna.
-Quando eu era vivo, atribuíam a Wagner essa abertura para a nova música.
-Você foi a Bayreuth, na Alemanha, assistir a Tristão e Isolda.
-Tristão e Isolda é de uma lentidão enfadonha e vaga, destituída de vibração, de vida, incapaz de atrair a atenção do público.” - criticou.
-Sobre a lentidão, Tchaikovsky, o maestro Toscanini disse, referindo-se ao extenso dueto de amor que, se fosse na Itália, eles já estariam com netos; contudo, ele, Toscanini, era o primeiro a exaltar as inovações criadas por Wagner nessa ópera. O pessimismo filosófico de Schopenhauer foi também musicado por Wagner nessa obra.
-Richard Wagner, apesar do seu dom, sua incomparável inteligência, seu talento poético e sua educação esmerada, trouxe à arte, em geral, e à ópera, em particular, apenas momentos negativos.
-Tchaikovsky, seus admiradores, que são muitos, lembram que, dos compositores aclamados, você, como Mozart, sentia-se igualmente confortável compondo óperas, sinfonias, concertos, obras para piano, violoncelo, violino...
-Mas não consegui, como Mozart, elaborar uma obra que deleitasse os apreciadores e os conhecedores mais exigentes de música. Mas quem alcançou o nível de Mozart?
-Tchaikovsky, você era filho de um engenheiro ucraniano de minas e a sua mãe, embora russa, tinha ascendência francesa.
-Sim; interessei-me por música com cinco anos de idade, tocando um velho órgão mecânico ajudado pela minha mãe. Quando eu tinha oito anos de idade, ou seja, em 1848, nós nos mudamos para São Petersburgo. Lá, diversos professores me ministraram aulas de teoria musical.
-Parecia que a sua família o preparava para a carreira dos sons.
 -Mas não foi assim; quiseram-me advogado, e fui matriculado na Escola de Direito de São Petersburgo; mostrei-me um aluno interessado e antes de me formar empreguei-me como funcionário do Ministério da Justiça.
-Nesse ínterim, morreu sua mãe.
-Eu tinha quatorze anos, nunca me recuperei dessa perda.
-Quando você sentiu que não era mais possível abafar a sua vocação?
-Em 1863. Frustrei as expectativas do meu pai e desisti completamente da carreira jurídica. Matriculei-me no Conservatório de São Petersburgo e lá fiquei durante três anos. No Conservatório, aprofundei-me nas obras dos mestres austríacos e alemães, conheci as composições de Franz Liszt, Schumman, Glinka, Meyerbeer.
-Seu professor de orquestração foi Anton Rubinstein, e de composição, Nicolai Zaremba?
-Isso.
-O seu progresso veio aceleradamente, pois o irmão de Anton Rubinstein, Nikolai, diretor do Conservatório de Moscou, convocou-o para dar aulas de Teoria Musical e Composição.
-Sim, fui professor de 1866 a 1978.
-Em 1867, foi designado pelo Conservatório de Moscou para receber Berlioz, que visitava a Rússia.
-Eu apreciava particularmente a Sinfonia Fantástica, que ele compôs em 1830.
-Tchaikovsky, havia sido formado, na Rússia, o Grupo dos Cinco, por Balakirev, César Cui, Mussorgski, Borodin e Nokolai Rimsky-Korsakov.
-Em 1868, eu tive contato com o Grupo dos Cinco.
-E eles não tentaram mudar o nome para Grupo dos Seis?
-Os cinco compartilhavam o ideal de elaborar uma música nacionalista, baseada no folclore russo, insurgindo-se contra a influência das escolas francesa e italiana.
-E a sua música fugia do escopo deles.
-Eu utilizava melodias populares da Rússia, mas eu não conseguiria abandonar os elementos ocidentais da música na hora da criação.
-Há um trecho da sua Quinta Sinfonia que foi inspirado num trecho assoviado por um pintor de paredes, que uma vez você ouviu. - citei.
-Sim; trecho que eu revesti com as influências que recebi da música europeia. A Rússia, afinal, é tão grande que pertence a Europa e a Ásia.
-Assim, você se tornou um nome nacional, para os russos e o mais popular compositor do seu país no mundo ocidental.
E acrescentei:
-Não duvidarei se, de todos os autores clássicos, você seja considerado o mais popular.
-Não se esqueça que, certa vez, um jornal fez uma eleição sobre as três personalidades mais célebres da época; em primeiro lugar ficou a Rainha Vitória, em segundo, o Chanceler Bismark, e, em terceiro, Johann Strauss, da valsa Danúbio Azul. - ponderou.
-Mas prossigamos, Tchaikovsky.

 


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