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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4029 Data: 16 de
setembro de 2012
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O SABADOIDO DOS
1001 E DOS 10 MAIORES DE TODOS OS TEMPOS
-Chega você, daqui a uma hora o Vagner e
o Luca. - disse meu sobrinho enquanto franqueava o portão da casa para mim.
-Você falou no Vagner e me ocorreu um
perigo que passei.
-Quem não passou por um perigo,
Carlão?... A defesa do Fluminense vive passando por perigo... de gol.
-Foi em 1977.
-Se você lembra até o ano, a coisa é
séria.
-Eu trabalhava no Jornal do Brasil,
naquele prédio da Avenida Brasil nº 500. Houve um período em que o meu horário
de serviço era das 18 às 22 horas.
-Que moleza!
-Rapaz, apesar do horário curto, nunca
derramei tanto suor. Eu era estagiário.
-Você correu o perigo de ficar
desidratado?
-Não; deixe-me contar. Ao sair de casa,
na Rua Chaves Pinheiro, o Vagner, que ia para o Centro, no seu fusquinha,
ofereceu-me uma carona.
-E você aceitou, Carlão?
-Na década de 70, o Vagner era o
especialista da rua em automobilismo, apesar de os três melhores motoristas,
concordando com o Claudio, serem o Luca, o Julinho e o Tonico português.
-Ele bateu com o carro nessa carona?
-Não, Daniel, Vagner me deixou onde eu
pedi para parar e, em seguida, seguiu em frente.
-E o perigo, Carlão?
-Fui apresentado ao perigo cinco
segundos depois de saltar do carro do Vagner; eu tinha de atravessar a Avenida
Brasil no trecho em que fiquei. Os veículos passavam voando.
-Não havia uma passarela por perto?
-Não vi passarela alguma, Daniel.
Fiquei, durante dez minutos, hesitante; era hora ou não de passar para o outro
lado.
-Eu o imagino como um daqueles fiscais de
linha que tem de atravessar a pista do autódromo no meio da corrida.
-Era pior, Daniel, mas, ou eu tentava ou
não sairia mais dali. Decidido, corri de os calcanhares baterem no meu
traseiro.
-Como você está aqui, conseguiu alcançar
a outra calçada.
-Escapei porque fui aluno de Educação
Física do Admildo Chirol. Nunca mais. -
desabafei quando senti que estava vivo.
-Nunca mais pego uma carona com o Vagner.
- mudou meu sobrinho minhas palavras com o seu jeito brincalhão.
Esse diálogo, que se iniciara no portão,
terminou na cozinha. Lá, estava o Claudio, que acabou de ler o Globo, que se
encontrava meio desarrumado sobre a mesa. Ele apontou para a primeira página do
Segundo Caderno e se voltou para mim.
-O Luca não vai gostar, um inglês que
escreveu as “1001 músicas para ouvir antes de morrer”, não incluiu nenhuma do
Chico Buarque.
-Pixinguinha, Ernesto Nazaré, Jacó do
Bandolim, certamente estão. - afirmei.
-Carlinhos, o tal inglês só colocou sete
canções brasileiras; três do Tom Jobim e três do Jorge Ben, a outra eu nem
conheço.
-Carlão, é melhor ler o caderno de esporte.
- aconselhou o Daniel.
Meu irmão prosseguiu:
-A gravação de “O Sole Mio”, do Caruso,
de 1916, está na relação.
-Entendo, porque o Caruso, com o
vozeirão dele, popularizou a indústria dos discos, mas com gravações bem anteriores
a 1916 - manifestei-me.
-Há gente aqui elaborando uma versão
brasileira das “1001 músicas para ouvir antes de morrer”. - informou.
-Cláudio, será tão polêmica quanto essa
versão inglesa. - previ.
Com a ida do meu irmão ao quintal, com o
objetivo de alimentar as rolinhas, reportei-me à festa de 1 ano de uma
sobrinha-neta, que também contou com a presença do Daniel.
-Muito bom o aniversário, o animador do
clube conseguiu colocar os adultos para brincar como crianças.
-Eu tive de dançar música da Xuxa com o
filho da Roberta, o Luquinha.
-O animador soube fazer, com muita
competência, a transição de brincadeira infantil para adulta. Começou com a
adivinhação das músicas que eram tocadas no computador, “Pica-Pau”, “A Pequena
Sereia”...
-A música do “Shrek, o Luquinha acertou,
porque a Roberta (sua mãe) soprou para
ele. - aparteou o Daniel.
-Depois, o animador passou para a
adivinhação de vinhetas e de filmes. Daniel, se tocassem trechos do
“Casablanca”, “Lawrence da Arábia”, “Era uma vez no oeste”, “Psicose”, “E o
Vento Levou”, todos os filmes de Fellini, eu acertava. Mas tocaram esses filmes
de hoje...
-E aquela vinheta que todo o mundo dizia
“Plantão”, mas ninguém completava, até que o pai daquelas menininhas gêmeas
decifrou: “Plantão Urgente” da TV Globo.
-Tocassem a vinheta das gotinhas da
Esso, cantada pelo tenor Assis Pacheco e eu acertaria de batepronto. - garanti.
-Carlão, eu vou caminhar, antes, porém,
deixarei por escrito todos os passos que você deve dar para inserir fotos no
Facebook. - reportou-se a um pedido que eu lhe fizera no meio dessa festa.
Logo depois, a Gina aparecia e o Claudio
retornava do quintal.
-A Jura se lembrou do animador da festa
de ontem de um aniversário de anos atrás em outro clube; falou com ele, que
confirmou. A Jura tem uma memória fotográfica. - referiu-se a Gina à irmã.
Depois, perguntou-me como eu estava.
-Apesar de dormir um pouco além da hora,
por causa da noite de ontem, caminhei cedo e já tomava o café da manhã no meio
do horário político.
-Você escuta o horário político,
Carlinhos? Eu perco a fome, se escuto.- disse a Gina.
-Agora que a irmã do Chico Buarque toma
a sua melhor decisão como ministra da cultura, tem de dar o cargo para a Marta
Suplicy. - criticou o Claudio.
-Claudio, se o Chico Buarque, em vez de
cantar no Rio de Janeiro pela candidatura do Freixo, do PSOL, cantasse em São Paulo pela
candidatura do Fernando Haddad, do PT, a Ana de Holanda seria mantida no cargo,
com toda certeza. - comentei.
-Como o Lula a tirou do caminho, para colocar
o candidato dele, ela recebeu o Ministério da Cultura como compensação. -
afirmou o Claudio de acordo com os observadores da cena política nacional.
-É tudo uma podridão. - resumiu minha
cunhada.
-Cláudio se reportava, agora, aos dez
maiores faroestes de todos os tempos.
-”Era uma vez no oeste” ficou em segundo
lugar, “Shane”, em terceiro. (*)
-Como não se lembrasse do primeiro
colocado, aventei duas hipóteses, ambas dirigidas pelo mestre John Ford:
-”O homem que matou o facínora”?...
“”Rastros de Ódio”?...
-Estão entre os dez maiores, mas não em
primeiro lugar.
-Qual a colocação de “O Bom, o Mau e o
Feio”? - quis saber.
-Nono lugar.
-A música é ótima. - interveio a Gina.
-Começa com o tema do uivo do coiote.
Essa composição do Ennio Morricone tem de estar entre as 1001. - afirmei.
-Carlão, o computador está à sua
disposição. - anunciou o Daniel.
(*) Certas
escolhas são gozadíssimas. É como o concurso de imitar de Chaplin em que o
próprio tirou 3º lugar. Western é uma criação americana, você pode fazer um bang-bang
italiano, ou espanhol, mas não é western. Não adianta quererem fazer do Sergio
Leone um diretor clássico, que, por este Distribuidor, não passa. E o Ennio
Moricone é músico de um instrumento só. Também não emplaca. Que vá assoviar na
Calábria.
Rastros de
Ódio é um saco para se rever, mas é um western de mão cheia. Big Country e O
Facínora são Cult movies, o Distribuidor, humildemente, como é sua
característica mater, recomenda assistir.
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