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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4028 Data:
14 de setembro de 2012
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O SABADOIDO PÓS-INDEPENDÊNCIA
PARTE III
-Xi, Luca,
esqueci de colocar gelo no seu uísque. - desculpou-se o Claudio movimentando-se
para retornar a cozinha.
-Deixe como
está, Claudiomiro.
Eu, juntamente
com o Vagner, bebia o copo d' água que a Gina trouxe.
-Você recebeu
o e-mail que lhe enviei sobre o Freixo? - dirigi-me ao Luca.
Depois de ele
confirmar, eu disse que desistira de votar nele porque se mostrou favorável à
liberação dos bailes funks, a trilha sonora do inferno.
-Pois eu falei
justamente nisso quando você estava lá dentro. - afirmou o Luca.
Claudio, nesse
instante, interveio:
-Vocês não
leram o artigo do Rodrigo Constantino no Globo de terça-feira?... Ele meteu o
pau na esquerda caviar: Chico Buarque, Walter Moreira Sales e irmãos e outros.
Nos outros, encontrava-se
o Leonel Brizola, mas meu irmão o omitiu, seguindo adiante:
-O eleitor
carioca tem essa mania de acolher esquerdistas que aparecem como salvadores da
pátria, como a Heloísa Helena, esse Freixo...
-A Marina
Silva.
Não apresentei
a minha discordância do Luca sobre a Marina Silva porque não cabia uma
discussão política.
-O Dieckmann
vai votar no Paes. - disse, já que encaminhara o e-mail do nosso amigo sobre a
eleição de outubro deste ano aos integrantes do Sabadoido.
-O Dieckmann
vai votar no Freixo. - corrigiu o Luca para, em seguida, dizer que votaria
também nele.
-Eu anularei o voto. - rezingou meu irmão.
-O Paes vai
ganhar de qualquer maneira. - mostrou-se a Gina realista.
-Vocês viram o
discurso do Bill Clinton na convenção do Partido Democrata? – indaguei.
-Vimos.
-Não há
necessidade nem de se saber inglês para constatar o brilhantismo da sua fala;
as ênfases, as pausas, o domínio pleno que ele teve sobre o público, que foi ao
delírio.
-Carlinhos,
ele defendeu o emprego da mulher. – aludiu o Luca ao fato de Hillary Clinton
ser a secretária de Estado.
Meu irmão
interveio:
-Arnaldo Jabor
tem três grandes paixões: Nélson Rodrigues, Fernando Henrique Cardoso e Barack
Obama.
-Carlinhos,
você escreveu uma coisa de Marx que eu até concordo...
A Gina rumou
para dentro de casa e eu me preparei para aguardar em que questão, tratada em
três números do Biscoito Molhado, o Luca se referia. Ele se pôs, porém, a falar
do programa do Jô Soares.
-Ontem, foi ao
Jô Soares uma moça muito bonita. Ela se apresentou bastante nervosa e o Jô
perguntou se queria uma bebidinha pra se acalmar. Ela pediu Tequila e ele
acompanhou. Ela bebeu num trago só.
-Bebeu à
cowboy.- interferi na narrativa do Luca, que prosseguiu:.
-Ela pediu
outra Tequila e o Jô acompanhou. De novo, a moça bebeu num só trago.
-À cowboy.-
ratifiquei.
-Na terceira
pedida dela, o Jô Soares não acompanhou. Em seguida, a entrevistada imitou várias cantoras americanas. Uma
beleza!
-Que cantoras
americanas? - perguntaram em uníssono o Claudio e o Vagner.
-Cantoras americanas.
- foi a resposta vaga.
-Ora, Luca,
como eu posso elogiar se não conheço as cantoras imitadas? - cobrou o Claudio.
-Assim não
vale, Luca. - ironizou o Vagner.
-Ella Fitzgerald?... Billy Holiday? ? Sara Vaughn???- tentavam adivinhar.
-E o Karl
Marx? - pensei, mas nada disse.
Luca passou,
então, para outro entrevistado do programa do Jô Soares.
-Sabia que o
Carlos Vereza toca flauta e aprendeu com o Altamiro Carrilho? Ele tocou, na entrevista, com o Derico.
-Derico é um
bom flautista. - assinalei.
-Eu vi. –
disse o Daniel que passava pela sessão do Sabadoido nesse momento.
-Você viu? –
entusiasmou-se o Luca.
-A televisão
estava ligada na Casa da Moeda e, antes de eu dar uma dormidinha, assisti
alguma coisa do Jô. – disse ele que, no telefone, se despede sempre de mim com
“Um beijo do gordo”.
E finalmente
Luca entrou no tema Karl Marx.
-Carlos Vereza
disse que Karl Marx era uma pessoa bondosa, que conheceu Allan Kardec.
-Bem, Luca,
Karl Marx viveu um período da vida em Paris e foi contemporâneo do criador da
doutrina espírita.- manifestei-me.
-O Carlos
Vereza disse que eles se conheceram, que Marx não era esse ateu que propagaram
por aí.
Acionado o
Departamento de Pesquisas do Biscoito Molhado, soubemos que o Kardecista Clóvis
Nunes especula sobre a amizade que teria juntado Karl Marx a Allan Kardec e
sobre a ligação do criador do comunismo com o pensamento espírita. Essa
ligação, segundo Clóvis Nunes, é provada em trechos como o que se segue:
-“O Senhor
M..., que assistia a essa reunião, era um jovem comprometido nos assuntos
políticos, e que era obrigado a não se colocar muito em evidência. Crendo
num transtorno próximo, se preparava para nele tomar parte, e combinava os seus
planos de reforma; era, de resto, um homem agradável e inofensivo.” (Kardec
Allan, Obras Póstumas: Primeira Revelação da Minha Missão).
De repente,
passou-se a falar de tênis.
-Quais são
mesmo os torneios do Grande Slam? – hesitou o Luca.
-O torneio da
Austrália, Rolland Garros, Wimbledon e o Aberto dos Estados Unidos. - esclareceu
meu irmão.
-Então, SLAM
não significa cada um desses torneios?...
Como julgou
que significava uma sigla ou um acrônimo, dissemos que não, era uma palavra da
língua inglesa.
-O que
significa slam? – insistiu.
Daniel foi
encarregado de catar o significado da palavra no google, mas, segundos após,
ouvimos soar uma música dos Beatles no
teclado.
-Eu vou ver. –
disse a Gina.
Minutos
depois, voltava ela para esclarecer que o termo slam chegou ao tênis
vindo do jogo de bridge. Como ninguém
ali sabia jogar bridge, continuamos na mesma ignorância.
E falou-se,
então, de música.
-Não conseguiu
tocar o CD, Claudiomiro?...
-Não. –
respondeu meu irmão retirando-o do seu aparelho de som.
Como aquele
CD, trazido pelo nosso amigo, era novidade para mim, imaginei que trataram dele
enquanto eu estava no computador assistindo ao vídeo em que o Sérgio Strongs
falava do Levy e do Roniquito, enquanto aparecia o Puma do Vicente, exibido num
travelling de câmera.
-No rádio do
meu carro, eu toco para o Carlinhos e o Vagner ouvirem. – prometeu.
Vagner falou
“Trenzinho Caipira”, e o meu irmão corrigiu:
-“Trenzinho do
Caipira.”
-Sei que é uma
das partes das Bachianas nº 2 do Villa Lobos. – intervim.
Na hora de ir
embora, Luca parou o carro na Rua Chaves Pinheiro, em frente à casa do Vagner e
cumpriu o prometido; colocou o CD para tocar. Soaram, então, as notas de Summertime, ária da ópera Porgy and
Bess de Gershwin.
-Ninguém tem
coragem de modificar nessa introdução.
As palavras do
Luca foram abafadas pelo magnífico solo de piston do Louis Armstrong. Em
seguida, entrou a voz legendária de Ella Fitzgerald para, logo depois, Louis Armstrong
também fazer uma participação vocal.
Luca apertou
um botão, antes que a música se encerrasse, para que fosse ouvido “Urubu
Malando”, de Pixinguinha, tocado por instrumentistas de primeira qualidade.
-Olha, como
eles brincam com o ritmo, Carlinhos e Vagner. – empolgou-se.
Não era para
menos, dois dos maiores músicos do século XX, Pixinguinha e Louis Armstrong
tinham mesmo de empolgar a todos que tem gosto apurado.
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