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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

2227 - organismos vazios

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4027                                        Data: 12 de setembro de 2012
 SABADOIDO PÓS-INDEPENDÊNCIA
PARTE II
Depois de explorar bastante os conhecimentos do meu sobrinho sobre informática, passei a pôr em dia a minha correspondência eletrônica.
Recebi da Candinha, irmã do Reinaldo da Petrobras, minha colega da turma da Dona Arlete e da Dona Eunice, nos terceiro e quarto anos do curso  primário, um texto sobre uma pergunta que acabrunhava os pais: “Como eu nasci?”  Nesse caso, a curiosidade do menino é satisfeita na  linguagem que eles entendem, nesta primeira década  do século XXI, que vale a pena ser reproduzida:
-“Entramos escondidos numa lanhouse e o papai introduziu o seu Pendrive na entrada USB da mamãe. Quando começou o download dos arquivos, nós nos demos conta que tínhamos esquecido o software de segurança e que não tínhamos Firewall. Já era tarde demais para cancelar o download e impossível apagar os arquivos. Depois de nove meses, apareceu o vírus.”
Catei o último lançamento cinematográfico do Dieckmann, mas, infelizmente, ele não tem sido tão prolífero quanto o Woody Allen; nada apareceu. Revi, então, o filmete em que aparece o Puma do Vicente, amigo do cineasta de Santa Teresa e saí para fora. (*)
Na sessão do Sabadoido, exercitava-se a memória com os nomes das emissoras de rádio de outrora.
-Carlinhos, você quer que eu fale o nome ou a estação radiofônica?- propôs-me o Luca de supetão.
-O nome.
-Carlos Palut.
-Repórter da Rádio Continental. - respondi sem pestanejar.
-Nunca ouvi falar. – bradou a Gina.
-Carlinhos sabe que ele fazia reportagens sangrentas no fim dos anos 50 e início dos anos 50. - retrucou o Luca.
-Eu o conheci mesmo como repórter esportivo.
Foi instigante a lembrança do nome do radio jornalista pelo Luca, pois o Departamento de Pesquisas do Biscoito Molhado foi acionado e nos trouxe dados que devemos conhecer.  Dizem os mesmos que houve alterações acentuadas nos jornais falados quando a Rádio Continental do Rio de Janeiro se tornou a primeira emissora brasileira especializada em reportagens externas, cujo criador foi Carlos Palut.  Operadores e radio repórteres saíam juntos para as tarefas e a primeira providência era a instalação de microfones nos locais dos eventos. Carlos Palut levantava os assuntos, realizava as gravações que, posteriormente, eram repercutidos no “Jornal da Reportagem”, desde 1958.
Feito esse parêntese bem resumido, prossigamos com a nossa narrativa.
-Existiu  também a TV Continental.- acrescentei.
-Isso eu sei; era o canal 9. - falou a Gina (como diria o taxista da Metrô táxi)  fora da modulação.
Eu pretendia citar o empresário e político que chefiava aquela organização, mas o nome Rubens Berardo me fugiu; citei, então, o Clóvis Filho, como ótimo locutor esportivo que morreu prematuramente.
-Clóvis Filho... - puxou meu irmão pela memória.
-O Seu Amaury – referiu-se o Luca ao meu pai – é que falava nos jornais que saíam sangue quando espremidos.
-Do meu jornal sai farelo. - pensei, emudecido.
-O Dia, A Notícia. - citou a Gina.
-Houve um pior. - interveio o Luca.
-A Hora do Povo” .
A Hora do Povo, eu sabia que era capitaneado por um repórter policial atraído pelo sangue das vítimas, que se tornou personagem, sem pseudônimo do Nélson Rodrigues, na peça “O Beijo no Asfalto”,  mas o nome Amado Ribeiro  não me veio na hora certa, por isso, não me manifestei.
-Havia fotógrafos que pagavam os funcionários do IML para tirar fotos dos defuntos. - garantiu o Claudio.
Luca e Vagner concordaram imediatamente.
-Existe gente degenerada que gosta de ver desgraça no jornal, por isso, eles fazem isso. - disse  a Gina.
-Eu vejo o telejornalismo da TV Bandeirante, porque não mascara a realidade. – afirmou meu irmão com a pronta aquiescência do Vagner.
-A TV Globo, nas suas reportagens, procura não chocar o público com imagens agressivas. – ponderou o Luca.
-Em seguida, a Globo mostra putaria nas novelas. - aparteei.
-E Big Brother Brasil. – acrescentou o Claudio
-Não gosto do Anselmo Goes quando estampa fotografia de mulheres e escreve “Leva eu... Gosta de eu...” e outras baboseiras.
-É um velho babão. - diagnosticou o Gina.
Como disse certa vez o Dieckmann, Anselmo Goes é uma azêmola.- pensei sem me manifestar.
Luca retrocedeu no tempo, citando os cronistas que sucederam o Ibrahim Sued, no Globo, e se deteve no Ricardo Boechat.
-O problema do Ricardo Boechat  é que ele plantava notícias. Certa vez, ele noticiou que o Unibanco seria vendido, com isso, retransmiti o que lera aos meus colegas. Não é que uma dona lá do banco pretendeu me demitir por espalhar boatos?... Tive vontade de esfregar o jornal na cara dela. Quem espalhou boato foi o Ricardo Boechat, não eu.
-Dizem que houve outros casos.
-Sim, Claudiomiro. O Boechat plantava notícias na coluna dele, pelo que diziam, para mexer nos preços das ações e lucrar. Foi, por isso, demitido do Globo. Outro que recorria ao mesmo expediente era o Hélio Fernandes na Tribuna da Imprensa.
Lembrei-me que, quando o veterano jornalista pretendeu um cargo político, seus adversários citaram suas falcatruas e ele devolveu prontamente: “Todos aqui têm um cadáver escondido no seu armário.” Mas não era caso para ser trazido à baila e por isso, o Ricardo Boechat continuou na berlinda.
-Eu sintonizo a Rádio  Bandeirante às 7 horas da manhã e ouço a voz do Boechat que dá início ao programa dele de telejornalismo. Zapeando os canais da TV a cabo, às 19 horas, deparo-me muitas vezes com o mesmo Boechat informando e comentando as notícias do dia.
-Ele fica além das 9 horas da noite na TV Bandeirantes. - interferiu o Claudio.
 -Admiro a capacidade de trabalho que ele possui. - enfatizei.
-Ele deve embolsar um bom dinheiro para trabalhar tanto. - deduziu minha cunhada.
-Ele ficou uma semana fora de combate, um ano e meio atrás mais ou menos. Eu o ouvi no dia em que ele retornou, às 7 da matina, na Band News. Ele contou que, dentro do carro, parado, logicamente, começou a suar frio e apagou. Levado para o hospital, passou por uma bateria de exames, mas nada foi encontrado no seu organismo. (**)
E concluí:
-Tenho certeza que o organismo dele reagiu a tanto trabalho. 
-Mas ele não tomou jeito. - disse o Claudio.
Luca, enquanto isso, se inteirava dos acontecimentos familiares pelo celular.
-Vou pegar as bebidas. - ergueu-se meu irmão da cadeira.
-Claudiomiro, antes, você pode trazer um copo d’ água para mim? – solicitou o Vagner.
-Eu trago. – prontificou-se a Gina.

(*) A sorte do redator do seu O BISCOITO MOLHADO é que tem muito Puma e há Vicentes em número suficiente para serem, ao mesmo tempo, proprietários e amigos do mencionado Dieckmann. Como já contado, o Puma que aparece no filme https://vimeo.com/49512511 era um Porsche - o que demonstra o baixíssimo conhecimento automobilístico do redator – porém outro Vicente amigo do Dieckmann comprou, certa vez, um Puma Conversível.
Fez uma reforma absolutamente completa, instalando apenas componentes zero quilômetro e foi conversar com o Dieckmann. Este o ouviu pacientemente, como é seu hábito e concluiu: - Vicente, Puma é uma merda!
Terminada a reforma, o Vicente dirigiu o carro, concordou com o Dieckmann e colocou-o à venda. Por felicidade, vendeu-o por uma fortuna para um australiano, recuperando-se do investimento com folga.

(**) O Redator e o Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO dificilmente concordam em alguma coisa. Em análise sobre veículos concorrentes, como o jornal O GLOBO e a TV Bandeirantes, eles, entretanto, concordam, baixando o pau, seja em quem for, doa em quem doer. Mas daí a declarar que nada foi encontrado no organismo do Boechat, quer parecer um exagero anatômico da parte do Redator e este Distribuidor vai tirando o corpo fora, desde já.

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