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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4027 Data:
12 de setembro de 2012
SABADOIDO PÓS-INDEPENDÊNCIA
PARTE II
Depois de explorar bastante os
conhecimentos do meu sobrinho sobre informática, passei a pôr em dia a minha
correspondência eletrônica.
Recebi da Candinha, irmã do Reinaldo da
Petrobras, minha colega da turma da Dona Arlete e da Dona Eunice, nos terceiro
e quarto anos do curso primário, um
texto sobre uma pergunta que acabrunhava os pais: “Como eu nasci?” Nesse caso, a curiosidade do menino é
satisfeita na linguagem que eles
entendem, nesta primeira década do
século XXI, que vale a pena ser reproduzida:
-“Entramos escondidos numa lanhouse
e o papai introduziu o seu Pendrive na
entrada USB da mamãe. Quando começou o download
dos arquivos, nós nos demos conta que tínhamos esquecido o software de segurança e que não tínhamos Firewall. Já era tarde demais para cancelar o download e impossível apagar os arquivos. Depois de nove meses,
apareceu o vírus.”
Catei o último lançamento
cinematográfico do Dieckmann, mas, infelizmente, ele não tem sido tão prolífero
quanto o Woody Allen; nada apareceu. Revi, então, o filmete em que aparece o
Puma do Vicente, amigo do cineasta de Santa Teresa e saí para fora. (*)
Na sessão do Sabadoido, exercitava-se a
memória com os nomes das emissoras de rádio de outrora.
-Carlinhos, você quer que eu fale o nome
ou a estação radiofônica?- propôs-me o Luca de supetão.
-O nome.
-Carlos Palut.
-Repórter da Rádio Continental. - respondi
sem pestanejar.
-Nunca ouvi falar. – bradou a Gina.
-Carlinhos sabe que ele fazia
reportagens sangrentas no fim dos anos 50 e início dos anos 50. - retrucou o
Luca.
-Eu o conheci mesmo como repórter
esportivo.
Foi instigante a lembrança do nome do
radio jornalista pelo Luca, pois o Departamento de Pesquisas do Biscoito
Molhado foi acionado e nos trouxe dados que devemos conhecer. Dizem os mesmos que houve alterações
acentuadas nos jornais falados quando a Rádio Continental do Rio de Janeiro se
tornou a primeira emissora brasileira especializada em reportagens externas,
cujo criador foi Carlos Palut.
Operadores e radio repórteres saíam juntos para as tarefas e a primeira
providência era a instalação de microfones nos locais dos eventos. Carlos Palut
levantava os assuntos, realizava as gravações que, posteriormente, eram
repercutidos no “Jornal da Reportagem”, desde 1958.
Feito esse parêntese bem resumido,
prossigamos com a nossa narrativa.
-Existiu
também a TV Continental.- acrescentei.
-Isso eu sei; era o canal 9. - falou a
Gina (como diria o taxista da Metrô táxi)
fora da modulação.
Eu pretendia citar o empresário e
político que chefiava aquela organização, mas o nome Rubens Berardo me fugiu;
citei, então, o Clóvis Filho, como ótimo locutor esportivo que morreu
prematuramente.
-Clóvis Filho... - puxou meu irmão pela
memória.
-O Seu Amaury – referiu-se o Luca ao meu
pai – é que falava nos jornais que saíam sangue quando espremidos.
-Do meu jornal sai farelo. - pensei,
emudecido.
-O Dia, A Notícia. - citou a Gina.
-Houve um pior. - interveio o Luca.
-A Hora do Povo” .
A Hora do Povo, eu sabia que era
capitaneado por um repórter policial atraído pelo sangue das vítimas, que se
tornou personagem, sem pseudônimo do Nélson Rodrigues, na peça “O Beijo no
Asfalto”, mas o nome Amado Ribeiro não me veio na hora certa, por isso, não me
manifestei.
-Havia fotógrafos que pagavam os
funcionários do IML para tirar fotos dos defuntos. - garantiu o Claudio.
Luca e Vagner concordaram imediatamente.
-Existe gente degenerada que gosta de
ver desgraça no jornal, por isso, eles fazem isso. - disse a Gina.
-Eu vejo o telejornalismo da TV
Bandeirante, porque não mascara a realidade. – afirmou meu irmão com a pronta
aquiescência do Vagner.
-A TV Globo, nas suas reportagens,
procura não chocar o público com imagens agressivas. – ponderou o Luca.
-Em seguida, a Globo mostra putaria nas
novelas. - aparteei.
-E Big Brother Brasil. – acrescentou o Claudio
-Não gosto do Anselmo Goes quando
estampa fotografia de mulheres e escreve “Leva eu... Gosta de eu...” e outras
baboseiras.
-É um velho babão. - diagnosticou o
Gina.
Como disse certa vez o Dieckmann,
Anselmo Goes é uma azêmola.- pensei sem me manifestar.
Luca retrocedeu no tempo, citando os
cronistas que sucederam o Ibrahim Sued, no Globo, e se deteve no Ricardo
Boechat.
-O problema do Ricardo Boechat é que ele plantava notícias. Certa vez, ele
noticiou que o Unibanco seria vendido, com isso, retransmiti o que lera aos
meus colegas. Não é que uma dona lá do banco pretendeu me demitir por espalhar
boatos?... Tive vontade de esfregar o jornal na cara dela. Quem espalhou boato
foi o Ricardo Boechat, não eu.
-Dizem que houve outros casos.
-Sim, Claudiomiro. O Boechat plantava
notícias na coluna dele, pelo que diziam, para mexer nos preços das ações e
lucrar. Foi, por isso, demitido do Globo. Outro que recorria ao mesmo
expediente era o Hélio Fernandes na Tribuna da Imprensa.
Lembrei-me que, quando o veterano jornalista
pretendeu um cargo político, seus adversários citaram suas falcatruas e ele
devolveu prontamente: “Todos aqui têm um cadáver escondido no seu armário.” Mas
não era caso para ser trazido à baila e por isso, o Ricardo Boechat continuou
na berlinda.
-Eu sintonizo a Rádio Bandeirante às 7 horas da manhã e ouço a voz
do Boechat que dá início ao programa dele de telejornalismo. Zapeando os canais
da TV a cabo, às 19 horas, deparo-me muitas vezes com o mesmo Boechat
informando e comentando as notícias do dia.
-Ele fica além das 9 horas da noite na
TV Bandeirantes. - interferiu o Claudio.
-Admiro a capacidade de trabalho que ele possui.
- enfatizei.
-Ele deve embolsar um bom dinheiro para
trabalhar tanto. - deduziu minha cunhada.
-Ele ficou uma semana fora de combate,
um ano e meio atrás mais ou menos. Eu o ouvi no dia em que ele retornou, às 7
da matina, na Band News. Ele contou
que, dentro do carro, parado, logicamente, começou a suar frio e apagou. Levado
para o hospital, passou por uma bateria de exames, mas nada foi encontrado no
seu organismo. (**)
E concluí:
-Tenho certeza que o organismo dele
reagiu a tanto trabalho.
-Mas ele não tomou jeito. - disse o
Claudio.
Luca, enquanto isso, se inteirava dos
acontecimentos familiares pelo celular.
-Vou pegar as bebidas. - ergueu-se meu
irmão da cadeira.
-Claudiomiro, antes, você pode trazer um
copo d’ água para mim? – solicitou o Vagner.
-Eu trago. – prontificou-se a Gina.
(*) A sorte
do redator do seu O BISCOITO MOLHADO é que tem muito Puma e há Vicentes em
número suficiente para serem, ao mesmo tempo, proprietários e amigos do
mencionado Dieckmann. Como já contado, o Puma que aparece no filme https://vimeo.com/49512511 era um Porsche -
o que demonstra o baixíssimo conhecimento automobilístico do redator – porém
outro Vicente amigo do Dieckmann comprou, certa vez, um Puma Conversível.
Fez uma
reforma absolutamente completa, instalando apenas componentes zero quilômetro e
foi conversar com o Dieckmann. Este o ouviu pacientemente, como é seu hábito e
concluiu: - Vicente, Puma é uma merda!
Terminada a
reforma, o Vicente dirigiu o carro, concordou com o Dieckmann e colocou-o à
venda. Por felicidade, vendeu-o por uma fortuna para um australiano,
recuperando-se do investimento com folga.
(**) O
Redator e o Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO dificilmente concordam em
alguma coisa. Em análise sobre veículos concorrentes, como o jornal O GLOBO e a
TV Bandeirantes, eles, entretanto, concordam, baixando o pau, seja em quem for,
doa em quem doer. Mas daí a declarar que nada foi encontrado no organismo do
Boechat, quer parecer um exagero anatômico da parte do Redator e este
Distribuidor vai tirando o corpo fora, desde já.
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