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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5029 Data: 21 de janeiro de
2014
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50 NO SABADOIDO
-Você sabe, Daniel, que 18 de janeiro é
o dia consagrado à Nossa Senhora da Defesa?
-Carlão, ela não atendeu às rezas dos
torcedores brasileiros no jogo contra a Alemanha na Copa do Mundo.
-Foi o que eu disse para o
Homem-Calendário do Rádio Memória.
-Pelo menos com essa derrota
vergonhosa, esqueceram a Copa do Mundo de 1950 com a final Brasil e Uruguai. -
manifestou-se o Claudio.
-Não foi o meu caso, terminei de ler,
ontem, um livro sobre essa Copa, escrita por um uruguaio.
-Por um uruguaio, Carlão?!... -
abismou-se meu sobrinho.
-Atilio Garrido; apesar de ser um bom
pesquisador, ele é patrioteiro. Imagina que afirma que o Uruguai defendeu, na
Copa do Mundo, no Maracanã, o título de tricampeão do mundo,
-Tricampeão do mundo?!... - foi a vez
de o Claudio ficar abismado.
-Ele computou os títulos olímpicos de
futebol de 24 e 28 mais a Copa de 50. - intentei explicar.
-O Brasil não é tricampeão do mundo,
seria se ganhasse o título de 66 na Inglaterra. O Uruguai, então, não é nem que
a vaca tossisse.
-Não use essa expressão, Daniel, que já
ficou desmoralizada pela Dilma.
-Valeu a pena ler o livro?
-Sim, Claudio, algumas coisas foram
novidades para mim, pois ele ainda recua alguns anos no tempo. Por exemplo, o
foguetório para saudar a entrada dos jogadores no gramado começou com a torcida
brasileira.
-Isso é influência das festas juninas
que só existiam no Brasil. - deduziu meu irmão.
-Outra coisa: o William Martinez
integrava o escrete reserva do Uruguai.
-Aquele que, no sul americano de 59,
segundo o Paulo Amaral, ouviu o grito vindo do banco “Aça, el niño”, e partiu
para dentro do Almir?... Os dois se embolaram no chão, veio o Coronel e
desferiu um chute na cabeça que mataria o William Martinez se pegasse de jeito,
pelo que o Paulo Amaral falou.
-Esse mesmo, Daniel, William Martinez
era um ferrabrás que, na véspera do jogo, prometeu quebrar a perna do Pelé, que
não jogou porque estava contundido.
-Essa partida foi boa porque os
brasileiros venceram os uruguaios na bola, 3 a 0, e na porrada.- manifestou-se
o Claudio.
-Ficou aquela lenda que o Brasil perdeu
a Copa de 50, em casa, porque era frouxo. O Mário Filho, o nosso mais destacado
cronista, se portou levianamente ao escrever que o Obdúlio Varella dera um tapa
na cara do Bigode que ressoou na face de toda uma multidão de brasileiros.
-Isso foi mentira. - indignou-se também
o Claudio.
-Segundo o escritor uruguaio, a seleção
mais violenta era a do Brasil, mormente a defesa. Conta ele que Bigode, sabendo
que as jogadas perigosas da seleção adversária partiam de Julio Lopez, deu uma
entrada tão violenta nele, mal começara o jogo, que pensou em ser expulso.
Obdúlio Varella se aproximou do Bigode e lhe disse “Calma, muchacho”,
empurrando-o; não houve nada que se assemelhasse a uma bofetada.
Naquele
tempo, não havia a cobertura televisiva que há hoje, quando se vê até a marca
da cueca dos jogadores, caso houvesse, esses delírios dos jornalistas seriam
logo desmascarados. - acrescentei.
-Eu acho que o Assis Chateaubriand ainda
estava trazendo a televisão para o Brasil.- disse o Claudio.
-Esse escritor uruguaio afirmou que,
caso houvesse as transmissões televisiva, que há hoje, talvez o Barbosa não
levasse o gol do Ghiggia porque ele fez um igualzinho contra a Espanha. O
Ramallets, um dos maiores goleiros do mundo, julgou que o Ghiggia, vindo pela
ponta direita, ia cruzar, mas ele chutou, com pouco ângulo, para as redes.
Contra o Brasil, segundo Atilio Garrido, Miguez entrou pelo meio da área
pedindo que Ghiggia lhe enviasse a bola, o que desviou a atenção do Barbosa.
Gigghia deu, então, aquele fatídico chute esquinado.
-Então, Carlão, você ainda está
remoendo a perda da Copa de 50, mesmo depois da nossa derrota de 7 a 1 para a
Alemanha?
-Daniel, eu gostava de futebol como
apaixonado; porém, de muitos anos para cá, eu gosto apenas como curioso.
-Você falou desse escritor uruguaio; é
estudioso, no entanto, para ele, o Uruguai conquistou 0 tetracampeonato em
1950. - argumentou o Claudio.
-Sim, ele é apaixonado, mas a paixão,
pelo que notei, não embaçou a sua análise sobre os dados apurados. Citei o
William Martinez, pois ele afirma que esse beque não tinha categoria alguma,
matava tão mal a bola no peito que os atacantes adversários aproveitavam e a
enviavam ao gol.
-Ele era só botinudo. - disse o
Claudio.
-Ortuño, futebolista uruguaio, outro
que eu também não sabia que estava na reserva em 1950. Era um negro alto,
fortíssimo que, depois, jogou no Vasco. Vascaíno, jogou um torneio na Espanha,
se não me engano, quando espocou uma briga generalizada em campo; Ortuño
provocou um número elevado de baixas nas linhas adversárias.
-Os brigões da seleção uruguaia de 50
estavam na reserva. - concluiu o Claudio.
-O escritor é um uruguaio apaixonado,
mas não deixou de registrar as lambanças que contribuíram para a nossa
derrocada.
-O Brasil meteu 7 a 1 na Suécia e 6 a 1
na Espanha, enquanto o Uruguai passou por essas duas seleções aos trancos e
barrancos. Criou-se, então, o clima do “Já ganhou”. - disse o Claudio.
-Eles venceram a Suécia por 3 a 2 e
empataram com a Espanha por 2 a 2. - disse o Daniel, que havia devorado uma
publicação sobre as Copas do Mundo que eu lhe dera anos atrás.
-A primeira lambança foi arrancar os
jogadores do tranquilo Joá, numa casa cedida por um milionário e os levar para
a tumultuadíssima concentração de São Januário na semana da decisão.
-Mas por que isso, Carlão?
-Porque haveria eleições dali a três
meses. O candidato do PSD do presidente Marechal Dutra, Cristiano Machado, o
prefeito Mendes de Moraes e outros trataram de explorar o êxito dos jogadores
para serem fotografados com eles.
-O técnico Flávio Costa não seria
também candidato? - interrompeu-me o Claudio.
-Prometeram-lhe o cargo de vereador.
Tudo saiu pela culatra, o Cristiano Machado, candidato do Dutra para a
presidência, no dia 3 de outubro, foi “cristianizado”.
-De qualquer maneira, o uso político do
futebol deu certo, porque o Estado Novo começou com tudo isso e o Getúlio se elegeu.
- manifestou-se meu irmão.
-Deu certo por caminhos enviesados. -
comentei e prossegui:
-Outra lambança foi acordarem os
jogadores às 7 horas da manhã para assistir a uma missa, quando ficaram um bom
tempo de pé. Na igreja Segundo Atílio Garrido, a essa hora, os jogadores
uruguaios descansavam, dormiam.
-Ele não é tão apaixonado assim,
Carlão.
-Ele escreveu que, na estreia da
seleção contra a Bolívia, 8 a 0, computaram, na FIFA, 5 gols para o Schiaffino.
Quando o “Savenco”, da Rússia, meteu 6 gols na República de Camarões...
-Isso foi na Copa de 1994, e ele se
chamava Salenko. - corrigiu-me o Daniel.
-Disseram que o russo batia o recorde
de Schiaffino, o Atilio Garrido estranhou, foi à cata do artilheiro uruguaio,
que lhe revelou que, na verdade, foram apenas 2 os seus gols, e não 5.
-Carlinhos, a Índia não participou da
Copa de 50?
-Que participou o quê, Velho!... - antecipou-se o Daniel.
-Veja na internet. - pediu.
-Esqueceu que estamos sem internet?...
Eu sou o Google: não houve nada de Índia na Copa de 50.- foi taxativo o Daniel.
Quando a internet voltou, horas depois,
soube-se que a Índia se classificara para o grupo da Itália e da Suécia, porém,
não houve dinheiro para os indianos viajarem para o Brasil. Eles tinham se
classificado para a Copa jogando descalços.
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