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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5022 Data: 11 de janeiro de
2014
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AURORA DO ANO 2015, COM O ORLANDO, NO R.M.
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-Rádio Memória iniciando o ano novo,
Sérgio.
-Verdade; ano novinho em folha,
reluzente.
-Segundo os místicos, o ano é
favorável, ao contrário do que muitos dizem, pois somando os algarismos de 2015
dá 8.
Na matemática – interrompemos nós o
Jonas – o 8 deitado representa o infinito.
-O 8 está próximo da transcendência,
que é o 9, acrescentou o Jonas, referindo-se, certamente, ao 8 de pé.
-Sei... sei... sei... Um amigo meu,
Jonas, que entende de horóscopos, diz que o ano vai ser bom por causa da
interseção de Saturno com Plutão.
E não resistiu ao trocadilho com o
astro que, depois de rebaixado, foi promovido (é mais um prêmio de consolação)
a planeta anão.
-Mas se Plutão ficar meio Plutão, a
coisa pode não funcionar bem.
Jonas interveio com algum desdém:
-Não é por aí, por horóscopo, isso é
outra corrente. Mas 2015 começou bem, com um atentado na França. Isso é humor
negro.
A palavra veio para o Sérgio.
-Esse atentado serviu para mostrar a
falta que faz o ensino do francês nas escolas, porque os nossos jornalistas não
conseguiam pronunciar corretamente nem o nome do jornal: “Charlie Hebdo”.
Ontem, uma jornalista disse que a perseguição era perto do Centro “Pompido”.
Ela não estava mencionando o presidente Pompidou, ela mencionava o meio de
campo do Boca Junior chamado Pompido.
Adendo nosso: a Praça Manet, de Del
Castilho, virou Praça Mané; deixou, assim, de homenagear o pintor Edouard Manet
e agora celebra todos os manés do Brasil.
Jonas Vieira aludiu às estagiárias que
teve de cortar por causa da retirada do idioma francês do currículo escolar e
pediu, logo em seguida, o calendário.
-Vamos começar pelos eventos históricos
como nas outras vezes. - disse o Homem-Calendário.
E sonorizou a voz:
-Em 11 de janeiro de 630, o profeta e
fundador do Islamismo, Maomé, destrói os ídolos do santuário da Kaaba em Meca.
Voltou-se, em seguida, para o titular
do programa:
-Jonas, entenderam tudo errado; não é
para destruir os idólatras e sim os ídolos, que não são de carne e osso.
-Serginho, a figura admirável de Mahatma
Gandhi lia a Bíblia, o Corão e os ensinamentos budistas.
-Em 1689, o Parlamento da Inglaterra
depõe o rei Jaime II. Repara, Jonas, que, cem anos depois, houve a Revolução
Francesa com uma carnificina generalizada o que não ocorreu na Inglaterra.
-O rei Carlos I que o diga... a rainha
Maria Stuart, a rainha Ana Bolena e outras esposas do Henrique VIII com as
cabeças decepadas... mas é verdade, na Inglaterra não se matou tanto como na
França.
-Em 1916, os russos conquistaram
Erzurum, capital da Armênia Turca. Isso, Jonas, foi durante a Primeira Guerra
Mundial.
-Se não me engano, foi a última
conquista territorial da Rússia sob os czares, Sérgio.
-Em 1922, pela primeira vez, a insulina
é utilizada em humanos para o tratamento de diabetes. O paciente foi um
canadense de 14 anos.
-Um avanço, Sérgio.
-Em 1935, Amélia Earhart é a primeira
pessoa a fazer um voo solo do Havaí a Califórnia.
-Puxa!... Uma mulher, e que coragem!
-Pois é, Jonas, já estava com o nome da
história. Todavia, não sossegou o facho e acabou desaparecendo num desses voos
solitários. Há até um filme sobre essa história.
-Enquanto no Brasil tudo acaba em
pizza, nos Estados Unidos tudo acaba em filme. - concluiu o Jonas Vieira.
-Em 1942, durante a Segunda Guerra
Mundial, o Japão declara guerra aos Países Baixos. Acharam que iam se dar bem.
-Os Países Baixos eram altos. - disse o
Jonas Vieira.
-Em 1954, há a primeira reunião entre
soviéticos e americanos para a proibição de armas atômicas. Não chegaram a uma
conclusão.
De lá até o fim da União Soviética, fabricaram
mais alguns milhares de ogivas nucleares.
-Jonas, esta lhe interessa: em 1963, a
primeira discoteca do mundo foi inaugurada nos Estados Unidos com o nome
“Whisky a Go Go”.
-O que me interessa aí é o “Whisky”,
mas sem “Go Go”; prefiro puro.
-Em 1966, começa no Rio de Janeiro uma
chuva que dura 72 horas ininterruptas. A cidade fica em estado de calamidade
pública e 200 pessoas morreram.
-Uma coisa horrível que nós
vivenciamos, Jonas. Você, que morava nas Laranjeiras, pertinho de onde
aconteceu a queda daquele edifício....
-Ah, sim.
-Morreram mais de 200 pessoas.
-De um tempo para cá, eu fui morar onde
ocorreu a tragédia.
-O terreno continua vazio, Jonas.
-Eu fui morar ao lado.
-Aquele acontecimento me marcou muito,
Jonas, porque meu tio-avô, Paulo Barata Ribeiro era Secretário da Saúde e
passou três ou quatro dias, na rua, sem botar o pé em casa.
Também marcou muito este escriba,
Sérgio, porque um nosso amigo da Rua Chaves Pinheiro, que, na época, se
encontrava sem trabalho, foi para o local da tragédia e atuou incansavelmente
no resgate das vítimas; o seu nome saiu nos jornais como autoridade de méritos
relevantes do governo do Estado da Guanabara.
-Eu fui testemunho daquilo tudo. Eu era
repórter da Última Hora e cobri todos aqueles acontecimentos. - disse o Jonas
Vieira e prosseguiu:
-Há um caso impressionante: um cara
desceu do prédio para comprar cigarros, chegou no bar, ainda tomou um café e quando voltou para a
casa...
-A família estava toda morta; o prédio
onde residia desmoronou. - concluiu o Sérgio, que se lembrava desse caso.
Mais um parêntese nosso.
Como se São Sebastião fosse um
terrorista, muitos disseram que o santo castigou o Rio de Janeiro porque o
prefeito Negrão de Lima retirara o feriado que comemorava o seu dia; por vias
das dúvidas, 20 de janeiro voltou a ser, de novo, dia de celebrar o santo, de
não se ir para o trabalho.
Deixando de lado o clima pesado da
consternação, foram adiante com o calendário.
-Em 1985, é lançado o “Rock in Rio” com
término no dia 20 de janeiro. O evento reuniu em média 200 mil pessoas por dia
na Cidade do Rock desenvolvida especialmente para o evento.
-Não é a minha enfermaria, Sérgio.
-O Carlos Nascimento, do Biscoito
Molhado, conta que, na ocasião, esbarrara com um vizinho, levando o filho num
carrinho de bebê, que lhe garantiu entrar na justiça para impedir o “Rock in
Rio”, alegando que a AIDS seria disseminada pelo país, e, assim, colocaria em
risco a vida do seu filho no futuro.
-Que coisa!
-Em 1994, com o fim do Pacto de
Varsóvia e a fusão da OTAN, em reunião havida em Bruxelas, governos envolvidos
criaram a Associação pela Paz que integraria os países do extinto Pacto de
Varsóvia. Bem, Jonas, assim acabou a guerra fria.
-Sim, mas as guerras quentes
continuaram.
-Nascimentos. - impostou a voz.
-Em 1755, Alexander Hamilton, militar e
político norte-americano.
-Só militar e político?... - estranhou
o Sérgio Fortes e prosseguiu:
-Alexander Hamilton, Jonas, foi uma
personalidade de suma importância. Como Primeiro Secretário do Tesouro dos
Estados Unidos da América, estabeleceu o First Bank of The United States e
influenciou marcantemente as bases do capitalismo americano. Ele substituiu o caótico sistema financeiro
da Era da Confederação e firmou definitivamente o Dólar, que havia surgido em
1786.
-Sérgio, eu só discordo de uma coisa
dele: sobretaxou o uísque.
-Em 1859, nascia Francisco d' Andrade,
barítono português.
-Este á da enfermaria do seu pai.
-Jonas, Francisco d' Andrade, é o
grande nome da ópera de Portugal nos países europeus. Ele obteve retumbantes
triunfos, principalmente nos teatros da Alemanha e da Áustria. Apesar do seu
imenso repertório, destacou-se mais como Don Giovani de Mozart, e, caracterizando
esse personagem, serviu de modelo para um quadro de Max Slevogot.
-Puxa! - exclamou o Jonas Vieira.
-Em 1864, Augusto Severo de Albuquerque
Maranhão, aviador brasileiro, um dos primeiros homens a voar num balão.
-Em 1890, Oswald de Andrade, escritor
modernista brasileiro.
-Em 1923, Stanislaw Ponte Preta (Sérgio
Porto) escritor brasileiro. Uma figura que me é caríssima. Que falta faz.
-Um gênio. Eu tive o prazer de trabalhar com ele. -
registrou o Jonas Vieira.
-Em 1941, Gérson de Oliveira Nunes, o
Canhotinha de Ouro.
-Em 1957, Reinaldo, ex-futebolista
brasileiro, um craque.
-Em 1964, Patrícia Pilar, atriz
brasileira.
-Em 1985, este é da minha enfermaria, o
piloto japonês de Fórmula 1, Kazuki Nakajima. Ele é filho de Satoru Nakajima,
mais conhecido como Satoru Cata-Grama.
-Tal pai, tal filho. - não perdeu o
Jonas a piada.
-Falecimentos. Em 1801, morria Domenico
Cimarosa, compositor italiano. Escreveu a ópera “Matrimônio Secreto”, entre
outras criações suas.
-Este é da sua enfermaria, Jonas, morreu
em 1941, Emanuel Lasker.
-Grande enxadrista, Sérgio. Fez grandes
partidas com Bobby Fischer, mas perdia todas.
-Em 1971, Zé Arigó, médium brasileiro.
-Em 2010, Miep Gies, mulher que
escondeu o “Diário de Anne Frank” durante a Segunda Guerra.
-Você vê, Sérgio, que o “Diário de Anne
Frank é ainda um dos livros mais lidos do mundo.
O Homem-Calendário se voltou mais uma
vez para o titular do programa.
-Jonas, vou escalar um time para você:
Tenório, Sávio, Honorata, Teodósio e
Vital.
Pela escalação, parecia o “W” do
esquema tático “WM”, lançado pelos ingleses na primeira metade do século XX,
mas antes de o Jonas Vieira se pronunciar, Sérgio Fortes se antecipou:
-São os santos do dia, agarre-se a um
deles.
-Depois, você me passa a lista, Sérgio.
Nesse clima jocoso, encerrou-se o
calendário de 11 de janeiro.
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