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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5023 Data: 13 de janeiro de
2014
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AURORA DO ANO 2015, COM O ORLANDO, NO R.M.
2ª PARTE
-Temos dois aniversários
importantíssimos neste 2015. vamos abrir
o ano com o carnaval de Orlando Silva e também da Aurora Miranda. - salientou o
titular do programa.
-Grande Aurora Miranda! - extasiou-se o
Sérgio Fortes.
-Eu fiz um programa sensacional na
Roquette Pinto com a Aurora Miranda de três horas de duração, infelizmente, a
fita se apagou em grande parte. Ela era uma pessoa simpaticíssima.
-Tinha muita história para contar. -
deduziu o Sérgio Fortes.
-Ela nasceu, em 15 de abril de 1915,
aqui no Rio de Janeiro, era carioca. Cantava muito bem, há quem diga que
cantava melhor do que a própria Carmen.
-Carmen Miranda era um furacão. -
interveio o Sérgio Fortes.
-Primeiramente, nós ouviremos Orlando
Silva cantando do carnaval de 1938, de Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti
“Abre a Janela”.
-Que tal, Sérgio? - buscou a sua
aprovação.
-Jonas, quem tocava essa clarineta?
-Luís Americano; foi o maior
clarinetista do Brasil. Harris James quis levá-lo para os Estados Unidos, mas
ele não foi porque era macumbeiro e não podia fazer macumba lá.
-Aqui, ele era o Pelé. - deduziu o
Sérgio.
Jonas Vieira disse que ele conseguira
tirar do sério uma pessoa tranquila, o Benedito Lacerda, que o agrediu com
fraldadas. E se passou para a irmã da Carmen Miranda.
-Agora, Aurora Miranda cantando do
carnaval de 1934, de Custódio Mesquita, “Se a Lua Contasse”.
-Diga lá, Sérgio?
Enquanto Sérgio Fortes expressava o seu
encantamento, Jonas Vieira informava que o arranjo era do Pixinguinha.
-Vamos voltar com o Orlando Silva,
gravação de 1937, mas lançado no carnaval de 1938, “Alegria”, de um compositor
que prezo muito, Assis Valente.
Soada a última nota do inspirado samba,
entrou a voz do Sérgio Fortes.
-A orquestra é “Diabos do Céu”. Fale um
pouco dessa gravação.
-Orquestra do Pixinguinha, arranjo
dele, direção também...
-E o piano do Radamés. - acrescentou o
Sérgio.
Jonas Vieira, depois de confirmar,
trauteou alguns trechos de “Alegria”.
-É do balacobabo! - exclamou o filho do
barítono Paulo Fortes.
-Agora, no centenário da Aurora
Miranda, teremos ela cantando do seu grande amigo Ary Barroso...
-Ele era amigo da família Miranda. -
interferiu o Sérgio Fortes.
-É uma marcha com Simon Boutman e Sua
Orquestra, gravação da Odeon... Ele era austríaco. “Nosso Ranchinho”, de Ary
Barroso.
-Que arranjo! Que orquestra! - vibrou o
parceiro do Jonas Vieira.
-Simon Boutman marcou época. Eram o
Pixinguinha e o Radamés na RCA Victor, e o Simon Boutman na Odeon.
-Sei... sei... sei... - dizia o Sérgio.
-Nos anos 30, cada qual era melhor do
que o outro. Simon foi um grande músico europeu que aqui chegou e ficou.
Compuseram grandes arranjos ele, Pixinguinha, Radamés Gnatalli.
Sérgio Fortes que, como nós, conhecia
bem mais o xará do austríaco, ou seja, o Simon Khoury, tomou a palavra:
-É interessante a história de músicos
estrangeiros que vêm para o Brasil e convivem muito bem com nossos
músicos. Eu tenho uma história
interessante sobre isso. Rudolf Kroupa, contrabaixista da OSB, nascido em
Viena, mas, para todos os efeitos, é checo... Fiz um programa na Rádio MEC
sobre o compositor importantíssimo da República Checa, Bedrich Smetana, quando
citei nomes de vários músicos checos pronunciando da melhor maneira possível.
Pois um dia, encontrei-me com Rudolf Kroupa; procurando o seu aval, mostrei-lhe
como foi a minha pronúncia desses nomes. Resposta dele: “Não passou nem perto.”
Jonas Vieira gargalhou e, segundos
depois, retornou à liturgia do seu cargo de apresentador do Rádio Memória.
-No carnaval de 1939, o Orlando Silva
gravou dessa dupla maravilhosa formada por Arlindo Marques Júnior e Roberto
Roberti, “O Homem Sem A Mulher Não Vale Nada”.
-Mais um arranjo do Pixinguinha. -
informou depois que a gravação foi ao ar.
Sérgio, inebriado, leu trechos da letra
do samba; em seguida, aludiu a um programa da TV Globo, com cantores, que é
pastiche de um da Inglaterra.
-Parodiando o Orlando Silva: a
televisão sem música não vale nada.
Entrou a “Pausa para Meditação”, e
todos meditaram.
-Primeira crônica do Fernando Milfont
no ano de 2015. Vai sair também um livro sobre a Aracy de Almeida.
Ao ouvir o nome da intérprete de Noel
Rosa, Sérgio Fortes contou um causo que envolveu ela e seu pai.
-”Como vai, Aracy?”
-”Paulinho, eu estou tirando mel de
maribondo.”
-Voltamos com Orlando Silva e Aurora Miranda.
- impostou a voz o apresentador titular.
Depois, falou da dificuldade em achar
um disco gravado pela centenária no meio dos seus arquivos, que chamou de
barafunda.
-Recorre a São Longuinho. - aconselhou
o Sérgio com algum atraso.
-Encontrei disco: “Boa Viagem”, de Noel
Rosa e Ismael Silva.
-Que letra!...
-Também com esses compositores.
E prosseguiu o Jonas Vieira falando que
era o centenário dos dois justamente nos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro.
-Se resistir a estas obras... É um sofrimento. - contrapôs o Sérgio Fortes.
-Carnaval de 1948. Foi um sucesso
inesquecível, “Malquequer”, de Newton Teixeira e Cristóvão de Alencar. -
anunciou aquele que luta para que a memória da música popular brasileira
persista.
-Independentemente da beleza da
gravação, da qualidade da música, do que era o carnaval, podemos nos deter para
analisar os músicos: o arranjo do Radamés Gnatalli, a flauta e o flautim do
Benedito Lacerda...
-Lamentavelmente, Sérgio, isso acabou.
Mas voltemos à Aurora Miranda, agora, cantando de André Filho, “Canto ao
Microfone” com a orquestra de Simon Boutman.
E passou para a próxima atração
musical:
-Temos dedicadas ao Rio de Janeiro
“Cidade-Mulher”, do Noel Rosa; “Alegria”, do Assis Valente; “Cidade
Maravilhosa”, do André Filho; e também “Cidade Brinquedo” do meu querido e
saudoso Silvino Neto, dele e do Plínio Bretas. Quem canta é Orlando Silva.
-Silvino Neto, outro talento
multifacetado.
-Sérgio, tive o privilégio de ter sido
seu amigo.
-Sei... sei... sei...
-Silvino Neto foi atropelado e ficou em
tratamento em casa; não pôde mais sair e era ouvinte assíduo do nosso programa.
Ele telefonava, era um bom papo. Era tricolor, dizia que o Hino do Fluminense
era dele, não do Lamartine.
Jonas Vieira não aludiu ao maestro
Lyrio Panicali, também tricolor, que, segundo muitos, teve importante
participação na feitura do hino do Fluminense.
-Eu sei do vínculo do Silvino Neto com
Portugal, Jonas, meu pai, quando viajava para lá, sempre prestava uns favores
para ele.
-”Cidade Marailhosa”, de André Filho,
com Aurora Miranda cantando em dupla com ele. - soou firme a voz do Jonas
Vieira.
Quem nunca ouviu “Cidade Maravilhosa”?
Até os mais jovens ouviram esse alegre hino que celebra o Rio de Janeiro. Todos
os bailes carnavalescos se encerravam com a orquestra entoando “Cidade
Maravilhosa”. Dizia-se, nas corretoras da Bolsa de Valores que, quando os
novatos entravam no mercado comprando ações, era hora de vender, pois estava sendo
tocada “Cidade Maravilhosa” e só os espertos sabiam disso, que a festa das
ações em alta acabou.
Jonas Vieira, por outro lado, não
encerrou o programa com o hino da cidade, e sim com Orlando Silva cantando, de
Benedito Lacerda e Frazão, “Lero Lero”.
-É uma expressão antiga do que hoje
chamam de papo furado. - explicou.
Essa expressão é, de fato, antiga, mas
nem tanto assim, pois o ex-presidente do Corinthians, Vicente Mateus, trocou o
nome do jogador do seu clube, Biro Biro, por Lero Lero.
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