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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5018 Data: 05 de janeiro de 2014
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CARTAS DOS LEITORES SOBRE LILLIAN GISH
Na visita da Lillian Gish à redação do
Biscoito Molhado, falou-se pouco da infância da atriz. Ela também foi uma
criança sofrida como nos filmes do Griffith, principalmente. Donatelo
BM: É verdade. O seu pai, abandonou a família quando ela era muito
criança; sua mãe, então, se tornou o arrimo da família. Elas se mudaram, em
consequência, para uma cidade de Illinois, onde viveram algum tempo com Henry e
Rose McConnell, tio e tia da Lillian. Lá, sua mãe abriu um estabelecimento com
o pomposo nome de Majestic Candy Kitchen, onde Lillian e sua irmã Dorothy
vendiam pipocas e doces para os donos do Majestic Theater localizado na
vizinhança. Enquanto isso, as duas irmãs
frequentaram o St. Henry's School onde atuaram em peças escolares
As meninas voltaram para Ohio, mas a
cidade, agora, era Massilon, e foram viver com outros tios. Lillian soube,
então, pela sua tia Emily, que o pai se encontrava gravemente doente em Shawnee,
cidade de Oklahoma. Ela, que mal o conhecera, não guardou ranror, e viajou para
lá, onde o reviu no Oklahoma City Hospital. Lillian passou a viver, dessa
vez, com outros tios, Alfred Grant e
Maude Gish, em Shawnee, e frequentou a escola de lá. Lillian, sempre muito
ligada à irmã Dorothy, escreveu-lhe que pretendia prosseguir os estudos por lá.
Seu pai, no entanto, não viveu muito, e ela teve de sair de Oklahoma e retornar
a Ohio. Daí, foram para Nova York. Sua mãe se tornaria atriz, ela e Dorothy também...
Essa parte foi bem resumida por ela quando nos visitou.
-O redator do Biscoito Molhado disse que
o filme falado, com a Lillian Gish, que mais o marcou foi “O Mensageiro do
Diabo”, de 1955, dirigido pelo Charles Laughton e protagonizado pelo Robert Mitchum.
Concordo com ele; eu não esqueço aquele pastor assassino com os nós dos dedos
tatuados com as palavras “amor” e “ódio” e da velhinha, que era a Lilian Gish,
com uma Bíblia e uma espingarda, defendendo a vida das crianças. Num evento em
que a legendária atriz foi homenageada, Robert Mitchum fez um depoimento que
deixou todos emocionados, inclusive ela, que continuava bonita perto dos 80
anos. Rafael
BM: Nós temos esse depoimento nos nossos alfarrábios e vamos
transcrevê-lo.
-”Há uns 30 anos, quando eu estava sem
fazer nada em casa, em um domingo à tarde, o telefone tocou, eu atendi e uma
voz disse: “Robert, é Charles Laugton; vou mandar um livro para você ler que
tem um personagem desprezível, um vilão completo. Era um presente para mim, e
me envolvi na produção. Na discussão, perguntei sobre Rachel, a árvore com
muitos galhos para muitas pessoas. Eu imaginei uma mulher grandalhona que
estávamos acostumados a ver em muitos faroestes americanos. Ele disse: “Lillian
Gish”. Eu respondi: “Mas ela é como a
decoração no alto de uma árvore de Natal. Ela tem certa fragilidade e sorri
como um anjo”. Charles Laughton disse: “Vou mostrar a fragilidade dela”. Ele me levou até o estúdio e exibiu
“Horizonte Sombrio”. Ela estava em uma placa de gelo. Pelo que me lembro, me
parecia o Rio Niágara. Na cena seguinte, apareceram as cataratas e ela estava
lá. Não havia nenhum efeito especial. A menos que a puxassem com uma corda pelo
pescoço, ela ia cair. Não é o tipo de coisa que eu faria. Fiquei impressionado,
e ela chegou para as filmagens. Ela era a essência da graciosidade e sorria
como um anjo. Lillian Gish era a cola que segurava a coisa toda. É um filme com
uma cena que será lembrada para sempre, e isso se deve, em grande parte, à
chama interna e a determinação que está na personagem da Senhorita Gish. É um
prazer e um orgulho estar aqui e poder falar da minha admiração por ela.”
-Como foi Lillian Gish do cinema mudo ao
falado passando pelo teatro? Leonardo
BM: Aqui vai uma rápida pincelada. Lillian Gish atuou em vinte e cinco
curtas-metragens nos dois primeiros anos da sua carreira no cinema. Ela logo se
tornaria uma grande estrela, ficando conhecida como “A Primeira Dama da Tela
Silenciosa - “The First Lady of the Silent Screen”. Ela apareceu em pródigas produções,
frequentemente baseadas em obras literárias como “Scarlet Letter”, filme de
1926 que receberia nova versão em 1995, com Demi Moore no lugar da Lillian
Gish. A MGM lançou, com ela, em 1928, o filme “The Wind” que fracassou nas
bilheterias, mas, com o passar dos anos, recebeu o destaque merecido, além de
ela ser reconhecida como uma das suas melhores atuações.
Quando
ainda fazia dupla com David Griffith, ela dirigiu, em 1920, “Remodeling Her
Husband”, “Aperfeiçoando Seu Marido”, seria a tradução mais correta, ao novo
ver. Griffith disse a ela que pensava que um elenco dirigido por uma mulher
trabalharia mais duro, mas não foi o que aconteceu, e ela decidiu nunca mais
dirigir um filme. “Dirigir fitas é trabalho de homem” - disse ela em 1920.
Com o advento do cinema falado, o
sucesso de Lillian Gish passou a ser discreto. Ela foi, então, para o teatro,
onde trabalhou de 1930 até os primeiros anos da década de 1940. Lá, atuou em
variados papéis, foi Ofélia, em Hamlet, uma produção de 1936, que contou com
John Gielgud e Judith Anderson. Também personificou “Marguerite” em “A Dama das
Camélias”. Orgulhava-se da sua atuação como Ofélia dizendo que representou uma
Ofélia lasciva.
Em 1946, voltando ao cinema, Lillian
Gish foi indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo sua atuação no filme
“Duelo ao Sol”. Ela faz uma personagem doente que, mais tarde, morre; parece
que a intenção era evocar a memória dos filmes silenciosos em que Lillian Guish
tanto se destacou.
Até o resto da sua vida quase
centenária, atuou esporadicamente no cinema, como, em 1955, “Night oh de
Hunter”, “O Mensageiro do Diabo” a que já nos referimos.
Lillian Gish, depois de representar no
cinema e teatro, rumou a sua carreira para a televisão, onde ficou, grosso
modo, da década de 1950 a 1980. Obteve sucesso nessa nova fase, principalmente
na produção de 1953, “Trip to Bountiful”.
Na Broadway, foi aclamada no musical
“Anya”, de 1965.
Incansável, viajou e fez palestas sobre
as grandes obras do cinema que surgia com a sétima arte.
Em 1980, Lillian Gish foi entrevista
para o documentário televisivo, de 1980, “Uma Celebração do Filme Silencioso
Mudo”.
A sua última aparição no cinema se deu
em 1987, “The Whales of August” - As Baleias de Agosto”, com Vincent Price,
Bette Davis e Ann Sothern; tinha 93 anos de idade. E, como artista no teatro, a
sua última aparição foi na produção de 1988 de “Show Boat” de Jerome Kern,
estrelado por Frederica von Stade e Jerry Hadley.
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