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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5009 Data: 24 de dezembro de 2014
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RÁDIO MEMÓRIA NATALINO E ATLÉTICO
PARTE II
Na
segunda-feira, ao desejar, com atraso, parabéns ao Luca, pelo seu aniversário,
o assunto foi o Rádio Memória.
-Carlinhos, eu recebi um autêntico
presente de aniversário.
Surpreendi-me, pois o Homem-Calendário
se esquecera de dizer: “21 de dezembro de 1944, nascimento do Luca, também
conhecido como Bigode, popular mesatenista do Unibanco que, ainda hoje, dá as
suas raquetadas.”
-Carlinhos, aquela música de filme de
caubói!... Frankie Laine!... Como eu me lembro!... As músicas dos programas da
Rádio Tamoio!... O quanto eu aprendi com o Humberto Reis... Como eu me
lembro!...
Depois de elogiar a bagagem de música
popular do Jonas Vieira, concluiu:
-Infelizmente, fui convocado para uma
partida do torneio de pingue-pongue e não pude ouvir tudo; mas aguardo a sua
resenha.
Não vamos deixar o aniversariante
setentão esperando, não é mesmo?
A palavra está com o Jonas Vieira:
-Vamos homenagear um cantor romântico
que obteve um extraordinário êxito nos anos 50, mas, antes, comeu o pão que o
próprio demônio se encarregou de amassar (Rosa Grieco diria: “comeu o pão que
Asmodeu amassou”). Ele sofreu demais. Era de ascendência italiana.
Isso é que dá não procurar a proteção
da Máfia, pensei, enquanto o Sérgio Fortes listava alguns cantores de sangue
italiano.
-Frankie Laine. Quando ele aconteceu,
ninguém mais o deteve, mas até chegar ao sucesso... Se eu contar as pessoas vão
chorar.
-Cortou um dobrado, Jonas?
-Dois dobrados.
-Ele obteve seu primeiro triunfo com a
música de um filme que nem foi gravada primeiramente por ele. “Matar ou
Morrer”. Lembra-se desse filme, Sérgio?
Sérgio Fortes poderia evocar a paródia
com Oscarito, Grande Otelo e José Lewgoy, “Matar ou Correr”, mas, no momento,
não estava tão descontraído, limitou-se a dizer que sim. (*)
Jonas prosseguiu após a resposta
monossilábica:
-”High Noon” é o nome do filme, e a
balada se chama justamente “High Noon” ou “Do Not Forsake Me”, “Não Me
Abandone”.
Após a audição, citou os nomes dos
compositores, Dimitri Tiomkin e Ned Washington.
-Essa dupla obteve muitos sucessos.
Depois de citar o protagonista da fita,
Gary Cooper, falou, em poucas palavras, do enredo desse clássico do cinema.
A escolha da segunda atração do Rádio
Memória coube ao Sérgio Fortes.
-Jonas, vamos dar prosseguimento à
seleção de temas da Rádio Tamoio. Agora, a música é “Adios”, gravação com a
orquestra de Don Costa, que abria o programa “O Disco Que Gostamos de Ouvir”.
-Que execução! - vibrou o Jonas Viera
para, em seguida, ir ao próximo número musical.
-Depois do “High Noon”, tudo o que
Frankie Laine gravou vendeu milhões.
-Água de morro abaixo. - comparou o seu
parceiro.
-Todos vão se lembrar de “Jealousy” na
voz de Frankie Laine.
Lembramos. Sérgio Fortes, arrebatado,
comentava que Jonas Vieira, trajado de Papai Noel, distribuía ótimos presentes
para os ouvintes.
-O que vamos ouvir agora, Sérgio?
-Jonas, chegamos ao momento Cole
Porter, uma das sessões mais aguardadas do nosso programa. Vinculado ainda à
programação da Rádio Tamoio o tema de “Seleções Musicais”, “In The Still Of The
Night” com a orquestra de Ray Conniff.
-”Na Quietude da Noite”. Traduziu o
Jonas Vieira.
Na sua vez, continuou com Frankie
Laine:
-Outro extraordinário sucesso, chama-se
”Jezebel” de Wayne Shanklin.
Como esquecer a canção que eu e meus
irmãos endiabrados cantávamos, em meado dos anos 50, na privada, mesmo quando
havia rolo de papel higiênico?
“Jezebel...el...el... el... el... me dá papel el... el... el...el. “
A crônica do Fernando Milfont, na
“Pausa para Meditação”, intitulada “Festa de Natal”, suscitou comentários.
-Uma data extraordinária; se todos os
dias fossem Natal, a humanidade seria outra.
Essas palavras do Jonas Vieira vinham
ao encontro da crônica do Carlos Drummond de Andrade que falava justamente
disso; da solidariedade natalina acontecer todos os dias do ano o que faria o
mundo bem melhor de se viver.
Depois, ele investiu, com veemência,
contra aqueles que estragam tudo. Mais tranquilo, voltou-se para o Sérgio:
-O que temos agora?
-O tema de “Musifone”, da Rádio Tamoio,
“Hot Lips”, de Freddy Martin.
Talvez, os “lábios quentes” tenham
levado o titular do programa a evocar os filmes de antigamente dizendo que eram
proibidos para menores de 14 anos, 18 anos e até maiores de 18 anos. Com uma
fúria de Zola no Caso Dreyfus, como escrevia Nélson Rodrigues, atacou o cinema
e, depois, a televisão, de hoje, que só mostram sexo e violência, “um
estimulante para os débeis mentais”.
Aqui um parêntese: o Canal Curta, no
programa, “Filmes que marcaram época” com “O Império dos Sentidos”, reprisou o
mesmo às 5 horas da tarde na íntegra, sem cortar nem mesmo a cena de felação
pra lá de explícita.
De volta à indignação do Jonas Vieira.
-Os débeis mentais veem tanto sexo e
violência e saem por aí estimulados. Como dizia o Sérgio Poro: “A televisão é
uma máquina de fazer doidos.”
E ninguém melhor do que Fellini, no seu
filme de 1986, “Ginger e Roger”, expôs a loucura na televisão.
-É isso aí, Jonas.
-Voltemos a Frankie Laine. “A Woman in
Love”, “Uma Mulher Apaixonada” é uma das minhas canções preferidas. Diz isso:
“seus olhos são olhos de uma mulher apaixonada”.
-”Your
eyes are the eyes of a woman in love.” - começou a cantar Frankie Laine.
-Gostou, Sérgio?
-Muito. É um círculo virtuoso; depois
da primeira música de sucesso, passa-se a gravar com grandes orquestras,
grandes arranjadores, e se vai subindo como um foguete.
Após esse comentário, passou para a sua
escolha musical:
-Da programação da Rádio Tamoio, “The
Man With The Golden Arms”, com a orquestra de Billy May.
Depois de citar o filme de 1955 “O
Homem de Braço de Ouro”, permaneceu lembrando o cantor de “Do Not Forsake Me”.
-Ouviremos um grande êxito obtido por
ele: “Rose, Rose, Rose, I Love you”.
Por outro lado, Sérgio Fortes não
abandonava a Rádio Tamoio dos velhos tempos:
-Agora, “Summer Place” com a orquestra
de Percy Faith.
-Percy Faith era canadense.
A essas palavras do Jonas, Sérgio
Fortes citou artistas canadenses que se realizaram nos Estados Unidos, Oscar
Peterson, Donald Sutherland, Glenn Ford. Ao citar o ator de “Gilda”, imaginei
que lá, na Rua Triunfo, o Dieckmann torcia o nariz.
Jonas Vieira fechou exemplarmente o
Rádio Memória de Natal com Frankie Laine cantando “That Old Feeling”, jazz com
a orquestra do trompetista Buck Clayton, antes, destacou dois músicos: J.J. Johnson e Karl Winding..
-Um demorado Natal. - desejaram.
De 365 dias por ano como na crônica do
poeta.
(*)
Descontraído, coisa nenhuma; Sergio Fortes, segundo contaram ao Distribuidor do
seu O BISCOITO MOLHADO, detesta filme de caubói, embora não tenha visto nenhum.
Ainda por cima, Matar ou Morrer, que, como a paródia Matar ou Correr, é em
preto e branco...
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