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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4997 Data: 04 de dezembro de 2014
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RÁDIO MEMÓRIA DIA 30 DE NOVEMBRO
PARTE II
Falando sobre o filme argentino
“Relatos Selvagens”, Sérgio Fortes foi chamado pelo titular do Rádio Memória de
volúvel. Ele, como se estivesse no palco do Teatro Municipal e não no Estúdio
Jonas Vieira, pôs-se a cantar a ária mais famosa do Rigoletto, de Verdi:
“La dona é mobile
qual piuma ao vento,
muta d' accento e de pensiero.”
A tradução simultânea saía da boca do
próprio tenor, o que comprova o que dizem seus amigos: possui talento
multifacetado. (*)
-A mulher é mutável como uma pluma ao
vento, muda de ideia, de pensamento...
Um pouco mais adiante, quando o Jonas
Vieira revelou que a Doris Day era a sua cantora preferida, ele devolveu:
-Jonas, eu tenho aqui um levantamento
do que você disse sobre os seus favoritos: cantoras são 126, e cantores, 132.
Há entre esses dados e os colhidos pelo
instituto de pesquisas Data Biscoito uma pequena discrepância; são 543 as suas
cantoras preferidas, e 87, os cantores.
Esquecemos, mas nunca é tarde para
acertar as coisas, o Homem-Calendário informou que 30 de novembro é o Dia do
Síndico.
-Do cínico?!...
Bem, se o síndico também foi eleito com
a propina da Petrobras, o Jonas Vieira não ouviu mal.
A primeira atração musical desse
domingo coube ao Sérgio Fortes que, antes de soar a primeira nota de “The Way
You Look Tonight”, de Dorothy Fields e Jerome Kern, enalteceu o Fred Astaire.
-É o supercantor entre os não cantores;
afinadíssimo, uma voz peculiaríssima.
Sérgio Fortes teria usado mais
superlativos do que José Dias, personagem do Dom Casmurro, de Machado de Assis,
se o Peter não tivesse movido as carrapetas e colocado a gravação no ar.
Embevecido, Jonas Vieira traduziu
trechos da letra.
-O Jerome Kern mostrou à Dorothy Fields
a música que havia colocado na sua letra e ela chorou copiosamente. -
manifestou-se o Sérgio Fortes.
Jonas Vieira escolheu a segunda
atração:
-Hermínio Bello de Carvalho uniu Sílvio
Caldas e Elizeth Cardoso, e nós vamos ouvir com eles, de Ataulfo Alves
“Tristezas Não Pagam Dívidas”.
Desculpem a nossa falha técnica. -
diria o Cid Moreira - mas não era ele, e sim o Jonas Vieira, quem pediu
desculpas pela troca do Sílvio Caldas pelo Ismael Silva.
-Na empolgação, eu me enganei. A
gravação é de 1971, feita na Avenida Rio Branco; foram dois CDs maravilhosos do
Sílvio Caldas com a Elizeth Cardoso.
Sérgio Fortes voltou, musicalmente
falando, para os Estados Unidos.
-Jonas, quando lançaram o disco “Duetos”
do Frank Sinatra, eu entortei o nariz, pensei que fosse uma coisa meio
comercial... Vamos ouvir primeiramente ele com a Natalie Cole em “They Can´t
Take That Away From Me”.
Peter acionou as carrapetas e veio a
música anunciada.
-Jonas, o Frank Sinatra já havia
morrido quando fizeram este CD de duetos. Eles juntaram as gravações; não é a
mesma orquestra, os músicos não são os mesmos... Fizeram uma mixagem em que
você não percebe as emendas.
-Muito depois da morte do Nat King Cole
saiu uma gravação da Natalie Cole cantando com o pai. - lembrou o Jonas.
Em seguida, saiu do terreno musical
para entrar nas páginas policiais:
-Um absurdo: a casa do Zelito Viana foi
outra vez assaltada.
Sérgio Fortes aparteou e falou de um
amigo, já falecido, que morava em frente da casa do cineasta, que lhe dizia,
vinte anos atrás, que assaltaram a casa do Zelito Viana. Quando Sérgio Fortes
revelou o nome desse amigo, Skipper, lembrei-me logo dele e do seu pseudônimo,
Tio Frank (**). Ele enviava mensagens eletrônicas para nós, seus sobrinhos, às
vezes com conselhos, como, para exemplificar,
o e-mail com a notícia que o leite de soja provocava danos à
masculinidade. “Sobrinhos, cuidado com o leite de soja. Tio Frank”.
Jonas Vieira investiu contra a
estrutura da sociedade brasileira em que os assaltantes presos logo são soltos
por advogados de porta de xadrez, por chicaneiros.
-Eles são soltos para assaltar de novo
e matar; e os policiais, que são mal vistos, ficam enxugando gelo. - bradou.
Voltou para a música.
-Se alguém ouviu falar em Francisco
Matoso...
Esperei que Jonas Vieira dissesse “eu
dou um doce”, mas ele parou a frase no meio.
-Sei que é cantor de uma seresta do
disco do meu pai.
-O Francisco Matoso é um emérito
compositor que deu ao Sílvio Caldas uma das coisas mais lindas do cancioneiro
do Brasil.
E prosseguiu:
-Mente ao Meu Coração”, que o Sílvio
regravou com a Elizeth. Escutem.
Depois da audição, declarou:
-Isso é do tempo em que havia cantores
no Brasil, porque músicos, têm.
Antes da “Pausa para Meditação” do
Fernando Milfont, Jonas Vieira agradeceu o presente que recebeu do cronista:
-Depois de anos e anos de pão-durismo,
ele me deu um presente: uma garrafa de uísque; e não foi só isso, um chá de
hortelã inglês.
-Foi um projeto integrado: hortelã
depois do uísque.
E acrescentou o Sérgio Fortes:
-Uísque tomado de uma talagada só.
Jonas Vieira, dizem os seus
companheiros de copo, citados quando o convidado do programa foi o Jorge
Coutinho, não bebe uísque como os cowboys do cinema, degusta. Mais uma
prova que, nesse domingo, Sérgio Fortes estava com a veia satírica estufada.
Meditou-se, pela locução do José
Maurício, sobre a alma e o espírito, o que levou o Jonas Vieira, na hora dos
comentários após a pausa, a citar “A Alma Imortal”, do rabino Nilton Bonder,
livro que considera fundamental.
Volta a parte musical tão ansiada pelos
ouvintes, ainda mais que a cantora era a Kiridinha Te Kanawa do Sérgio Fortes.
-Trago um disco em que Kiri Te Kanawa
interpreta músicas de Michael Legrand. É um compositor razoável esse tal de
Michael Legrand; obra pequena, apenas 200 trilhas sonoras para o cinema;
canções?... poucas, acima de 1000.
-Um compositorzinho. - concordou o
Jonas.
-”I Will Say Good Bye”, uma música
linda que a Kiri abraçou e passou a cantar sistematicamente, porque ela está
deixando a carreira, e esta música é uma síntese da artista.
A voz melíflua da Kiridinha de todos
nós reinou absoluta naquela manhã.
-E você, Jonas?
Jonas Vieira escolheu o bolero “Quizás,
Quizás, Quizás”, de Osvaldo Farrés, com um cantor mexicano que nem o Google
sabe quem é. Assim sendo, só Deus sabe, mas Deus se encontrava em Búzios
cometendo infrações no trânsito e a nossa reportagem não pôde consultá-lo. Mas
passemos a palavra para o titular do Rádio Memória.
-Vamos ouvir esse bolero com o cantor
mexicano, desconhecido no Brasil, José Mijares.
Após a audição, Jonas Vieira
prosseguiu:
-Hoje, amanheci com vontade de ouvir
“Quizás, Quizás, Quizás”, ouvi, então, em casa, com a Doris Day.
Sérgio Fortes citou a gravação do Nat
King Cole, que todos conhecem. Com todo
o espanhol macarrônico do cantor de técnica insuperável, é bem melhor do que
“Perhaps, Perhaps, Perhaps”. Depois, anunciou a sua escolha:
-Para não dizerem que não apresentei
Cole Porter, “Easy To Love”, com a orquestra de Ray Noble.
Agora, o Jonas Vieira:
-Eu tenho duas cantoras preferidas:
Carmen Miranda e a deusa Doris Day. Ela vai cantar “Corcovado”, de Tom Jobim.
Um paradoxo: Doris Day, que sofreu o
diabo com a neurastenia dos seus maridos (foram quatro), possuía uma das vozes
mais relaxantes da história da música, voz de acalmar até os crocodilos do
Nilo. Seus maridos deveriam ter ouvido seus discos.
-Ela
é a sua queridinha, não é, Jonas?
-Fico todo escamado. - brincou.
-Eu vou de Gregorio Barrios: “Mira Que
Luna”.
Depois de os ouvintes mirarem a lua,
Jonas Vieira se desgarrou do campo musical.
-Dormir nu faz bem a saúde. Eu descobri
isso há uns meses, e, agora, os cientistas confirmaram com um estudo que diz
fazer bem ao coração e trazer outros benefícios.
Sérgio Fortes, que é um radical,
aparteou:
-Vou passar a andar nu pelas ruas.
Pelo menos com uma folha de parreira,
Sérgio.
-Para encerrar o programa de hoje:
Doris Day.
-É uma paixão. - provocou o Sérgio
Fortes.
-”Insensatez”,
de Tom Jobim, na voz da nossa deusa, encerrou o Rádio Memória do dia 30 de
novembro de 2014.
(*) O
Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO informa: o próprio Sergio Fortes, em
atividade literária, antes dessa fase radiofônica, cunhou a frase – talentos multifacetados
terão sérias contas a ajustar no Juízo Final. Credo!
(**) Trata-se
de um caso extremamente peculiar: o pseudônimo do pseudônimo. Praticamente um
pseudônimo neto, ou sua derivada segunda. Que coisa!
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